Estará a caminho uma recuperação económica? Terá havido uma que agora cessou? Estará a nossa actual recessão, parcialmente recuperada, agora a cair outra vez ladeira abaixo numa segunda queda, ou numa dupla recaída em W? Políticos, jornalistas e académicos da corrente dominante estão empenhados em debates aquecidos e intensos acerca de recuperações e duplas recaídas. Mas a realidade económica para a maior parte dos americanos é totalmente diferente.
O Economic Policy Institute (EPI), em Washington, elaborou o gráfico abaixo que podemos utilizar para esclarecer e corrigir a confusão acerca de "recuperação" e de "recessões em W".
O gráfico mostra que o que "recuperou" foram os lucros corporativos, que haviam caído desde o princípio da crise no fim de 2007 até atingirem o fundo no fim de 2008. Depois disso, os lucros corporativos "recuperaram" e elevaram-se em meados de 2010 arrastando o mercado de acções consigo. Após o fim do período indicado no gráfico do EPI, Abril de 2010, esta recuperação de lucros corporativos e preços de acções estagnou e agora ameaça enfraquecer outra vez. Uma segunda baixa de lucros corporativos seria a tal "recessão com dupla recaída" temida por políticos, jornalistas e académicos, os quais de forma reveladora confundem o que acontece aos lucros com o que acontece à economia.
Uma medida melhor das condições económicas é o número de empregos pagos proporcionado pela economia. O gráfico do EPI mostra que o número começou a cair no princípio desta Grande Recessão e continuou a declinar desde então. Desapareceram empregos mesmo quando centenas de milhares de jovens acabaram a sua escolaridade e começaram a procurar trabalho. Ao mesmo tempo, a redução de horas e as licenças involuntárias deterioram as qualidades de muitos dos empregos que não foram eliminados. Assim também o fizeram reduções generalizadas em salários e benefícios (pensões, seguro médico, férias, etc). A insegurança do empregou elevou-se para praticamente todos.
Nunca houve uma "recuperação" para a massa dos americanos. Os negócios tiveram uma recuperação e agora enfrentam uma recaída em W. Para a massa de trabalhadores, não há recaída a enfrentar uma vez que as suas condições económicas nunca se recuperaram. O seu risco é de que as corporações respondessem a uma dupla recaída nos seus lucros com a comutação de ainda mais custos desta crise capitalista para os ombros dos trabalhadores.
[*] Professor de Economia na Universidade de Massachusetts – Amherst e professor visitante na New School University em Nova York. Autor de muitos livros e artigos, incluíndo (c/ Stephen Resnick) Class Theory and History: Capitalism and Communism in the USSR ( Routledge, 2002) e (c/ Stephen Resnick) New Departures in Marxian Theory (Routledge, 2006). Acerca da crise económica actual ver o seu filme documentário Capitalism Hits the Fan.
O artigo original, em inglês, encontra-se em: Whose Recovery? What Double Dip?
Esta tradução encontra-se em: Resistir.