Comentário da Vila Vudu:
"El caso Wikileaks: Los tres mitos de la era digital" (e informes sobre o tal de Murdock, que talvez seja "digital", mas não faz diferença alguma)
A gente aqui não sabe, ainda, se concordamos muito com o que se lê na matéria distribuída ontem pela redecastorphoto (mas não postada no blog) sobre WikiLeaks e aqueles "três pontos" .
Até se pode concordar com o primeiro (os meios sociais não são, é claro, livres, assim, digamos, “absolutamente livres”. Nada nem ninguém é livre, ou será livre, "enquanto houver um único oprimido sobre a terra". OK.) e com o segundo (o Estado-nacional agoniza e, sim, WikiLeaks não poderia existir se não em país um pouco mais civilizado que os EUA (detalhe que não se esclarece, bem claro, no artigo - Rupert Murdoch donates $
Tampouco damos qualquer bola para o que diga qualquer "Jay Rosen, especialista
Seja como for, esses dois argumentos, como expostos no “artigo dos três pontos”, dão-nos a impressão de ser argumentos-ginásticos: aquele tipo de argumento que faz as mais incríveis contorções para caber na teoria que se queira confirmar.
No caso, o autor está decidido a demonstrar que a internet não é "só as tecnologias" -- e de fato não é, por mais que, sim, em vários sentidos mais ricos e mais complexos, sim, ela seja TUDO o que é -- e é muito -- porque, sim, é tecnologia, mas USADA pelos muitos, sempre desejantes, o que muda completamente o sentido de qualquer tecnologia-em-si.
No caso do argumento pró-Estado nacional, parece-nos outro argumento-ginástico. A gente aqui já TOTALMENTE não cai mais nas conversas simplificantes que visam a (I) ou apagar o estado-nacional do mundo, porque ele não caiba em uma ou outra teoria; nem caímos mais na arapuca que é reprodução especular da primeira: (II) que o estado-nacional seria TOTALMENTE indispensável e até perigosíssimo, porque, sem ele, acabar-se-ia o mundo e seria o apocalipse. O Estado-nacional é uma espécie de sobrevivente de um mundo passado. Mas é tolice pretender apagá-lo do mundo, a golpes teóricos. Digamos que ele acabará, quando já tiverem morrido um milhar e meio de “especialistas” que ainda escrevem em jornal e dão aulas em universidades.
Seja como for, a gente aqui TOTALMENTE e ABSOLUTAMENTE NÃO CONCORDAMOS com o terceiro “mito”. Quer dizer: não é mito.
Achamos, TOTALMENTE, que, sim, o jornalismo como o conhecemos até hoje está, sim, mortinho da silva. Está. Morto e, já, em adiantado estado de putrefação (como se vê, bem claramente, nos artigos sobre o tal de Murdock, o qual, reduzido de suas proporções amazônicas de grana e de poder-para-influenciar, e convertido em riachinho de enchente em Sampa que não engana mais ninguém, é igualzinho a qualquer marinho-filho, mesquita-filho, frias-filho, civita-filho e outrinhos nossos conhecidos aqui, abaixo do Equador).
O “sucesso” de WikiLeaks NÃO VEM de as pessoas crerem no que foi vazado “porque” WikiLeaks usou três jornais impressos para divulgar os documentos. Se a questão fosse publicar em jornal, bastaria publicar em um. Se três jornais foram considerados necessários, é, evidentemente, porque nenhum deles, sozinho, mereceu confiança. Sendo três, cada um serviu para impedir os demais de alterarem os documentos, ou de escondê-los.
De fato, esses jornais é que ganharam prestígio e credibilidade por terem divulgado os documentos que NINGUÉM mandou para os jornais, mas o soldado Manning mandou, sim, para WikiLeaks.
A questão não é, absolutamente, não é, de os documentos terem sido “tornados” confiáveis por terem sido publicados nesses jornalões. Eram e são e continuam sendo confiáveis porque, se houvesse um único meio para alguém desmentir o que lá está escrito, esse meio teria sido usado, as coisas teriam sido desmentidas, WikiLeaks estaria, hoje, reduzido a pó-de-traque. O que fez inflar o prestígio e a confiabilidade dos documentos vazados foi a simples evidência de que são TOTALMENTE verdadeiros, TOTALMENTE autênticos e não foram alterados por nenhuma “edição” jornalística.
Além disso, é claro, os documentos são o que são -- indigeríveis pelo jornalismo-que-há -- também, pela quantidade realmente de avalanche. Os documentos, de fato, DESMENTEM praticamente TUDO que todos os jornais do mundo e televisões e especialistas “informaram”, “comentaram” e “analisaram” durante quase CINCO ANOS, todos os dias!
De diferente, em relação a zilhões de filminhos do YouTube, é que os documentos são material ESCRITO. São narrativas ESCRITAS. Cheias, cheíssimas de traços de realidade. São IMPRESSIONANTEMENTE documentais. São como cartas, que documentam sempre MUITO MAIS do que os “fatos” que as cartas narrem ou comentem.
É a linguagem FALADA e escrita, estúpido! Os documentos, lidos, são viagem equivalente a assistir-se ao documentário de Glauber sobre a eleição de Sarney ou o enterro do Di. Não é que sejam "literatura" ou "arte" -- essa discussão é bizantina. É que são PURO discurso. Quer dizer: é a própria coisa se narrando, ela mesma, sem autor.
É preciso LER os documentos, pelo menos alguns, para SENTIR a diferença TOTAL que há entre eles e qualquer tipo de “edição” jornalística do tipo que fazem os jornais comerciais que vendem o jornalismo-como-o-conhecemos (e que está morto). A leitura de alguns daqueles documentos é experiência FÍSICA que recomendamos vivamente a todos que ainda se empenhem em defender algum jornalismo.
Quanto aos “especialistas” em cumunicação e em “mídia” e outras mumunhas, melhor mudarem logo de especialidade e profissão, enquanto há tempo. Ou morrerão de fome, sem emprego, reduzidos à TOTAL inutilidade da qual, aliás, não fossem os próprios jornais, jornalismos e jornalistas como os conhecemos, nunca teriam nem saído.
É o que a gente aqui, na Vila Vudu, tá achando.
Vejam aí neste artigo (acima) sobre a doação do Murdoch um pouco de jornalismo morto, mas que é ainda capaz de se ver MESMO, sem véus diáfanos de cumunicação, essa bosta que se inventou, pra não deixar ver que a tal de imprensa é empresa e visa só ao lucro e que o tal de jornalismo-como-o-conhecemos pelos jornalões são saberes que só interessam à empresa, e jamais interessaram a qualquer democracia que se dê ao respeito.
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Rupert Murdoch doa $1mi aos Republicanos
17/8/2010, Ewen MacAskill (de Washington), The Guardian,
“Todo o barulho sobre “tea parties” e a satanização dos muçulmanos nos EUA
estão sendo inventados e alimentados por apenas três pessoas – os irmãos Koch [1] e Rupert Murdoch.”
(Juan Cole, “Informed Comment”, 24/8/2010, em )
Nos EUA...
Rupert Murdoch jogou seu peso econômico a favor do Partido Republicano: doou $1mi para ajudar a eleger os candidatos Republicanos, nas eleições do próximo mês de novembro. É umas das maiores doações que o partido recebeu de indivíduo ou organização.
A contribuição vem depois dos comentários que Murdoch fez durante a campanha de 2008, quando disse que Obama seria “fenômeno de proporções de rock star”.
A News Corporation de Murdoch disse que apóia agora os Republicanos porque o partido apresenta agenda “pró-business”. O canal Fox News, de Murdoch, o New York Post e o Wall Street Journal apóiam editorialmente os Republicanos e todos fizeram doações significativas à mesma causa.
A doação de $1m foi feita à Associação de Governadores Republicanos [ing. Republican Governors Association (RGA)] em junho, segundo informações prestadas ao Internal Revenue Service.
Os Democratas têm hoje estreita maioria entre os 50 governadores, mas políticos dos dois partidos vêm prevendo significativa vitória dos Republicanos em novembro.
Jack Horner, vice-presidente de negócios corporativos e comunicações da News Corporation em New York, disse que: "A empresa News Corporation acredita no poder dos livres mercados e de organizações como a RGA, que trabalham por uma agenda pró-business e apóiam as nossas prioridades nesse momento tão crucial por que passa nossa economia."
Murdoch sempre apoiou declaradamente políticos que possam ajudá-lo a ampliar ou manter seu império comercial, ou que ele creia que serão eleitos. Na Inglaterra, nas eleições de 1997, trocou de lado, dos Conservadores para os Trabalhistas, em plena campanha.
Apoiou Obama contra Hillary Clinton durante as primárias de 2008, com o New York Post, repentinamente, passando a apoiar Obama, apesar de Hillary Clinton ser senadora por New York. Mas nas eleições, o Post, o Wall Street Journal e o canal Fox News apoiaram o candidato Republicano, John McCain.
Apesar de toda a mídia estar concentrada nas eleições de novembro para o Senado e a Câmara de Deputados, os governadores têm imenso poder.
O otimismo dos Republicanos quanto ao sucesso nas eleições para governadores explica-se, em parte, pelo sucesso que obtiveram na arrecadação de fundos: nos primeiros seis meses de 2010, arrecadaram $58mi, contra apenas $40 mi, arrecadados pela Associação dos Governadores Democratas.
Outro dos grandes doadores que contribuíram para o caixa da Associação dos Governadores Republicanos foi a gigante Wellpoint – de seguros-saúde –, que doou $500.000. A Wellpoint fez dura campanha contra a reforma das leis de assistência à saúde que Obama conseguiu aprovar no início de 2010.
... e na Inglaterra[2]
Mark Thompson, diretor geral da BBC, fez duro ataque direto ao império de mídia de Rupert Murdoch, e disse que a BSkyB é excessivamente poderosa e ameaça “fazer sumir” a BBC e todos os demais jornais e empresas que lhe fazem concorrência.
Na Conferência MacTaggart, anual, no Festival de Televisão de Edinburgh, Thompson respondeu a James Murdoch, presidente da Sky, que usara a mesma tribuna, ano passado, para atacar a BBC.
“Há um ano, James Murdoch lamentou que a BBC ainda tenha o prestígio que tem”, disse ele. “Só pôde dizer o que disse porque “abstraiu” de seu discurso a Sky que ele mesmo comanda.”
Thompson disse que a Sky “está a caminho de tornar-se a única voz, dominante, em toda a mídia do Reino Unido.”
Disse que a News Corp, controlada de fato pela família Murdoch, tem hoje um poder que nenhuma corporação de comunicações jamais teve no Reino Unido. A News Corp é proprietária de 39% da Sky e está em vias de comprar a parte que ainda não tem daquela corporação.
“Se for aceita a proposta da News Corporation para comprar a parte que resta da Sky, a Sky será, não apenas a maior rede de comunicação da Grã-Bretanha, mas parte importante, também de uma empresa que já domina praticamente toda a imprensa escrita, dos jornais nacionais impressos” – disse Thompson. “Com isso se caracterizará uma concentração de propriedade cruzada de meios de comunicação de massa que seria considerada ilegal nos EUA ou na Austrália”.
Notas de tradução:
[1] Sobre esses “irmãos Koch”, ver “Covert Operations. The billionaire brothers who are waging a war against Obama”, Jane Mayer, The New Yorker, 30/8/2010.
[2] Em “BBC's Mark Thompson takes aim at Murdoch empire in MacTaggart lecture”, The Guardian, 27/8/2010.