quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mentiras não se sustentam


Com a sucessão de pesquisas que apontam uma vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno – Datafolha, 8 pontos de vantagem; Ibope, 11 pontos e Vox Populi, 16 pontos – ficou evidente a diferença de substância entre as duas campanhas. Dilma não precisaria fazer muito, além de se apresentar como a candidata de Lula e da continuidade. E o fez. Mas José Serra se mostrou perdido num perfil de não oposicionista, que deixou sua candidatura sem sentido.


Se não é candidato para mudar o que Lula está fazendo, por que se lançou? Serra fez até agora uma campanha esquizofrênica, que não fala mal do atual governo, mas também não se legitima para sucedê-lo já que Lula indicou Dilma para isso, e ela se credenciou pelos papéis relevantes que exerceu no governo.


Pior do que uma candidatura indefinida, Serra fez sua campanha baseada na mentira, que foi coroada com o slogan de sua propaganda eleitoral, pregando que “depois do Silva entra o Zé”. Ora, quem é Zé? Alguém conhece alguém que chame José Serra assim? O tucano parece uma figura popular que se permita ser tratado de forma tão simples? Os jornais passarão a chamá-lo dessa maneira nas notícias sobre ele?


Claro que não. Zé é um apelido falso, caricato, que não corresponde ao personagem que pretende representar. É como o Geraldo, forma com que tentaram tratar o Alckmin na campanha presidencial de 2006, na mesma tarefa marqueteira frustrada de popularizar o que não é popular.


O atual candidato tucano sempre foi conhecido como Serra. Transfigurá-lo em Zé é uma idéia ridícula de aproximá-lo de alguma maneira à figura de Lula, esse sim, sempre tratado dessa maneira, com tal informalidade, pelo povo e pela mídia. Lula é uma figura do povo. Serra não é. A pior coisa para um político e para qualquer pessoa é tentar se passar pelo que não é.


Seria mais honesto da parte de Serra se apresentar à população como realmente é. O tucano é incapaz de dizer o que pensa. Não faz uma referência ao governo Fernando Henrique Cardoso, do qual participou do mais alto escalão, com papel relevante nas mais cruciais decisões. O próprio FHC contou em entrevista à Veja que muita gente chama Serra de estatista, mas ele foi um dos que mais se empenhou pela privatização da Vale e da Light. Serra aparece em foto da privatização da Escelsa segurando com satisfação o martelo que selou a venda da companhia elétrica, e quando foi governador de São Paulo, vendeu a Nossa Caixa, que só escapou de mãos privadas pela ação do presidente Lula que fez o Banco do Brasil comprar a instituição financeira paulista.


Então por que Serra não defende Fernando Henrique, as privatizações, e fala abertamente que poderia considerar a venda futura de outras empresas públicas? O que difere a Vale, uma mineradora que explora recursos naturais do país, da Petrobras, que faz o mesmo? Mas Serra não fala nada. Sua campanha é falsa do início ao fim. O tucano se apropria de realizações que não são suas, como os genéricos e o seguro desemprego. Até a favela que aparece em sua propaganda eleitoral é cenográfica.


O caminho fictício trilhado por Serra teve uma razão de ser. Evitar a realidade que mostra o país crescendo com distribuição de renda. Os empregos formais batendo recordes sucessivos. O consumo em ascensão e a indústria voltando aos patamares pré-crise. O país está satisfeito com o seu momento e não pretende voltar atrás. O povo brasileiro já vinha dizendo isso em todas as pesquisas de avaliação do governo Lula, o que confirma agora com a vantagem que confere à Dilma. O Brasil não quer a volta dos tucanos, mesmo que disfarçados de aves mais simples.


Publicado por Mair Pena Neto em 18/08/2010 no Direto da Redação