13/8/2010, Kevin Poulsen, Blog “Threat Level”, revista Wired
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View WikiLeaks insurance seeders in a larger map
Na 5ª-feira (12/8/10), o fundador do site WikiLeaks Julian Assange disse,
Os jornais, porém, clamam por ação preventiva. “Os EUA têm capacidade cibernética para impedir que WikiLeaks divulgue o material”, escreveu ontem Marc Thiessen, colunista do Washington Post. “O presidente Obama ordenará que os militares usem a capacidade que têm? (...) Se Assange for deixado livre, e os documentos em seu poder forem divulgados, Obama só poderá culpar-se ele mesmo.”
Fato é que tentativa anterior, pelos especialistas do governo, para varrer da Internet a página WikiLeaks não deu certo. Em 2008, Jeffrey White, juiz federal em San Francisco, ordenou que o nome de domínio “WikiLeaks.org” fosse confiscado, no julgamento de ação movida pelo banco Julius Baer Bank & Trust, banco suíço que tivera alguns de seus documentos internos vazados. Duas semanas, depois o juiz reconheceu que decidira sem pleno conhecimento da ação; o domínio foi devolvido e a página, restaurada. “Há graves questões envolvidas, que terão de ser decididas antes de qualquer confisco de domínio”, disse o juiz, “entre as quais, a possível violação da 1ª Emenda”.
Mas mesmo durante o tempo em que houve ordem judicial e foi cumprida, a página WikiLeaks permaneceu ativa: apoiadores e militantes de organizações que defendem a liberdade de manifestação distribuíram o IP [Internet Protocol, o endereço da página na própria rede], e a página continuou a poder ser acessada diretamente. As páginas-espelho [ing. Mirrors of the site] não foram incluídas na ordem judicial; e uma cópia de todo o arquivo vazado em WikiLeaks circulou livremente pela página Pirate Bay.
Claro que o governo dos EUA tem outras vias, menos legais, às quais recolher – as “capacidades cibernéticas” das quais fala Thiessen. É provável que o Pentágono tenha meios para lançar ataques “denial-of-service” contra os servidores de interface pública. Se não tiver, o Exército pode contratar os serviços de uma boa turma de hackers russos; é mais barato que um blindado Humvee.
Mas talvez nem os hackers russos tenham grande serventia. Há duas semanas, a página WikiLeaks produziu e distribuiu sua própria apólice de seguro: um arquivo de 1,4 GB, intitulado “insurance.aes256”.[1]
Os conteúdos dos arquivos estão codificados, e não há meios para saber o que lá existe. Mas, como já noticiamos, o arquivo contém 19 vezes mais material que todos os arquivos já divulgados da guerra do Afeganistão – suficientemente grande para conter toda a base de dados do Afeganistão, além de outras bases de dados ainda maiores que se suspeita que já estejam
Há boatos de que Bradley Manning, o analista militar norte-americano que vazou o material já divulgado, teria também enviado a WikiLeaks uma pasta de material sobre a guerra do Iraque com mais de 500 mil arquivos, de
Haja o que houver em sua apólice de seguro, Assange – que falou pelo Skype num debate do Frontline Club – cuidou de lembrar, anteontem, que, sim, pode divulgar tudo a qualquer momento. “Basta liberar a senha para aquele material, e tudo estará instantaneamente acessível”, disse ele.
WikiLeaks está instruindo seus apoiadores a baixar a apólice de seguro pela página BitTorrent “The Pirate Bay” . “Baixem e guardem com vocês”, diz a mensagem de recepção a visitantes na sala-de-bate-papo da página WikiLeaks. Passadas já duas semanas, não há dúvidas de que a apólice de seguro de WiliLeaks já está bem guardada em centenas, se não em milhares de máquinas de net-cidadãos que trabalham no mesmo projeto “Segredo-zero. Transparência total”, de Assange.
Entramos no Torrent, ontem, 6ª-feira, para ter uma ideia do apoio que WikiLeaks teria obtido nessa empreitada. Em poucos minutos de downloading, rastreamos sinais do arquivo “insurance.aes256” em 61 pontos, em todo o mundo. Processamos os endereços de IP num programa oferecido por um serviço de geolocalização, que gerou um arquivo KML, a partir do qual geramos o Google Map que se vê no artigo original, em inglês.
A apólice de seguro de WikiLeaks já está bem guardada, toda aquela pasta gigantesca, nos quatro cantos do mundo: nos EUA, na Islândia, Austrália, Canadá e em vários pontos da Europa [nenhum no Brasil. NT]. Todos esses – são homens e mulheres – já baixaram toda a pasta, e, nesse preciso instante, estão doando largura de banda, para ajudar WikiLeaks a sobreviver. (Não, não! Não estamos distribuindo mapa com alvos para os mísseis cruzadores do Pentágono. A geolocalização pelo IP não é precisa.)
Desde que os arquivos secretos da guerra do Afeganistão foram divulgados, há notícias de que, em 77 mil arquivos, aparecem os nomes de centenas de informantes afegãos, os quais, por causa do vazamento, teriam ficado expostos à vingança dos Talibãs. A página WikiLeaks recebeu várias críticas de organizações de direitos humanos e da ONG Repórteres sem Fronteiras. Essas organizações exigem apenas que WikiLeaks trabalhe mais atentamente sobre os dados antes de divulgá-los.
O Pentágono já deu sinais de que ainda tem recursos que usará contra a página. “Se o dever de fazer as coisas direito não os convencer, estudaremos a melhor alternativa, dentre as várias que temos, para obrigá-los a fazer o que eles têm de fazer” – disse semana passada Geoff Morrell, porta-voz do Pentágono. Mas é difícil imaginar o que o Pentágono pode ainda tentar, se se sabe que Julian Assange, ou qualquer pessoa do seu círculo mais próximo, podem vazar 1,4 gigabytes de material mediante um simples tweet bem redigido.
Nota de rodapé:
[1] Ver “WikiLeaks Posts Mysterious ‘Insurance’ File” , 30/7/2010, Kim Zetter, revista Wired
O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Cyberwar Against Wikileaks?Good Luck With That (com mapa detalhado)