Porta voz do WikiLeaks assegura que o arquivo de 250 mil telegramas foi espalhado por mais de 100 mil pessoas, num formato encriptado. “Se alguma coisa nos acontecer, as partes mais importantes do arquivo serão divulgadas automaticamente”.
ARTIGO | 3 DEZEMBRO, 2010 - 20:01
Julian Assange. Foto de bbwbryant, FlickR
Julian Assange, porta voz do Wikileaks, assegurou esta sexta-feira que não há a menor possibilidade de impedir a divulgação do Cablegate, o arquivo de 250 mil telegramas da diplomacia norte-americana. Isto porque, explicou, “o arquivo Cablegate foi espalhado, junto com material significativo dos EUA e de outros países, por mais de 100 mil pessoas, num formato encriptado. Se alguma coisa nos acontecer, as partes mais importantes do arquivo serão divulgadas automaticamente”.
Assange, que de um momento para o outro se tornou um dos homens mais procurados do mundo, deu esta sexta-feira uma conferência de imprensa aos cibernautas através do site do diário britânico Guardian. “Além disso”, completou, “os arquivos do Cablegate estão nas mãos de várias organizações de média. A História vai vencer. O mundo será elevado a um lugar melhor. Sobreviveremos? Isso depende de vós”.
Ciberguerra
Os responsáveis do WikiLeaks travam uma verdadeira ciberguerra para se manterem online. Na quinta-feira, a Amazon.com, que hospedava o site num dos seus servidores comerciais, expulsou-o com o argumento mirabolante de que a organização “não detém os direitos de autor sobre todo o material”.
Nesta sexta-feira, o site foi tirado do ar, supostamente após um ataque cibernético de origem desconhecida. No mesmo dia, a empresa EveryDNS.net, que fizera o registo do site wikileaks.org, cancelou esse registo com o argumento ainda mais mirabolante de que a estrutura dos outros sites que lá se registaram estava a ser posta em risco pelos ataques sofridos pelo Wikileaks – uma alegação totalmente disparatada do ponto de vista técnico.
Assim, o WikiLeaks neste momento está registrado e hospedado na Suíça, com o endereço wikileaks.ch, mas tem inúmeras cópias noutros países (a lista dessas cópias está aqui).
Caça ao homem
Entretanto, o cerco em torno de Assange está aparentemente a apertar-se, depois de a Interpol ter emitido um mandato de captura internacional por uma acusação de violação que pesa sobre ele na Suécia. Segundo o advogado do fundador do WikiLeaks, ele nunca foi formalmente acusado nem recebeu uma única nota escrita sobre essas acusações.
Segundo os mídias britânicos, Assange estaria na Grã-Bretanha desde Outubro, e teria dado os seus contatos e a sua morada à polícia quando chegou.
Um porta-voz da Polícia Nacional Sueca afirmou à BBC que o primeiro mandato de prisão internacional contra ele foi rejeitado pelas autoridades britânicas, por não especificar as penas máximas às quais estaria sujeito pelas acusações.
Com o cerco a fechar-se, a família disse-se preocupada com a segurança de Assange.
A sua mãe, Christine Assange, disse que “as forças que ele está a enfrentar são grandes demais”, depois de a direita americana ter sugerido o seu assassinato.
“As ameaças contra as nossas vidas são do domínio público, mas estamos a tomar as precauções adequadas dentro do que nos é possível, tendo em conta que estamos a lidar com uma superpotência”, afirmou Assange na entrevista no site do Guardian.
O pára-raios do WikiLeaks
Perguntado se não teria sido melhor que o WikiLeaks não tivesse uma face pública, Assange respondeu que inicialmente, os fundadores pensaram que o site não devia ter rosto e que ele deveria permanecer anônimo. “Mas isto provocou uma curiosidade enorme sobre quem éramos e muita distração, com indivíduos que aleatoriamente reclamavam representar-nos. Percebi que alguém tem de ser responsável perante o público, e que só uma liderança que está disposta a ser corajosa pode sugerir genuinamente que as fontes se arrisquem”, explica. “Neste processo, tornei-me pára-raios. Recebo ataques indevidos sobre cada aspecto da minha vida, mas também recebo crédito indevido, para contrabalançar.”
As respostas de Assange podem ser lidas aqui (em inglês).
Extraído do sítio Esquerda.net
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