Dividir nações soberanas & substituí-las por sistemas de administração
global
12/2/2012, [*] Tony Cartalucci,
Blog Land Destroyer
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu (sugestão do Chico Villela)
Leia antes:
Parte 2: A administração imperial britânica (as
proto-ONGs)
Imperialismo (clique na imagem para aumentar) |
Livro de
valor inestimável para compreender a administração imperial britânica é Colonial
Georgia: A Study in British Imperial Policy in the Eighteenth Century
[Georgia Colonial: Estudo sobre a política imperial britânica no século 18]. Editado
pela editora da Universidade da Georgia, o livro é resultado bem-sucedido do
projeto do autor, Trevor Reese, de “ilustrar praticamente todas as facetas da
política colonial britânica”, usando o estado da Georgia, EUA, para estudo de
caso.
A colônia
britânica da Georgia – hoje, no sul dos EUA – foi fundada, essencialmente, como
uma proto-ONG; especificamente, nesse caso, como organização dedicada a
“reformar as prisões”. O que o projeto de fato fez foi identificar, dentre
prisioneiros das prisões londrinas, os que pudessem ser mandados para a
Georgia, na América, para trabalhar pela Coroa Britânica.
A operação,
que começou como “Dr. Bray & Associados”, e adiante se converteu em
“Acionistas para o Estabelecimento da Colônia da Georgia na América”, ou,
simplesmente, Georgia Trustees [Acionistas da Georgia], reúne, sob o
mesmo rótulo, vários cooperados de bom coração e nobres intenções, dedicados a
explorar a tragédia humana, em benefício da elite endinheirada.
....
Ainda que
haja quem argumente que seria ótimo para os prisioneiros londrinos serem
mandados para a Georgia, a questão é ditar o destino de uns seres humanos para
lucro de outros, sem informar às vítimas, de que bem poderia acontecer de a
‘vida nova’ na Georgia converter-se em obrigação de guerrear para defender a
expansão do império britânico no Novo Mundo. A mesma análise de custo-benefício
se fez também para outra prática essencialmente imoral: a escravidão.
O
protestantismo inglês também foi precursor das Organizações Não Governamentais
(ONGs) como as conhecemos hoje. As denominações religiosas dividiam-se conforme
as linhas das divisões políticas no século 18 na Europa. E quando navios
carregados de Protestantes foram enviados rumo à Georgia, com eles vieram
também as redes políticas nas quais estavam inseridos aqueles Protestantes.
Mais uma vez, intenções nobres foram – e continuam a sê-lo até hoje! – usadas
como fachada para devotados ‘militantes da causa’, sempre a serviço, de fato,
da igreja do Império, cujo real projeto era construir, de alto a baixo, uma
rede de pessoas convencidas da nobreza, decência, dignidade de seus atos,
quando, as próprias pessoas, de fato, são como bucha de canhão para cada um de
seus respectivos impérios.
Desgraçadamente,
apesar das nobres intenções e grandes obras de muitas daquelas pessoas, quando
a Coroa precisou daquelas mesmas redes sociais de pessoas para promover causas
menos nobres, usou a doutrinação organizacional para empurrar gente para suas
outras lutas. E, exatamente como fazem as ONGs contemporâneas, as organizações
religiosas e protestantes mantinham contato e interface ativa e apoiavam
diretamente os administradores regionais; no caso da Georgia, apoiavam e
colaboravam ativamente com os “Acionistas da Georgia” [ing. Georgia Trustees].
No livro de
Reese, lê-se, à pág. 21 [aqui traduzido]:
(...) ao aprovar o projeto Georgia, o Governo
Britânico não foi motivado por nenhuma intenção de caridade como as que
inspiravam os “Acionistas da Georgia”. O Ministério absolutamente não tinha
qualquer interesse em minorar o sofrimento de devedores insolventes e
desempregados; só o interessava a defesa do Império.
Assim
também, há hoje nas ONGs gente sinceramente inspirada e dedicada a tentar
salvar alguns desgraçados, motivada, essa gente, para fazer caridade, como os
“Acionistas”. Mas, de fato, só ajudam a atrair cada vez mais “adeptos” para as
causas que mobilizam seus patrocinadores, os quais, se comece por onde for,
acabam sendo sempre algum George Soros, alguma Organização de Cooperação para o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), algum National
Endowment for Democracy do Departamento de Estado dos EUA, e outros
promotores do imperialismo fascista-empresarial global.
Os
interesses do Império Britânico na colônia norte-americana da Georgia eram
interesses econômicos, sob uma farsa-fachada de “altruísmo” inventada para
povoar e administrar a colônia.
Outro traço
característico do imperialismo é manter a situação de dependência dos colonizados.
À pág. 27, diz Reese:
(...) o risco [do ponto de vista da Metrópole] dessas províncias tornadas privadas está no
estímulo que oferecem para a instalação de autoridades independentes, o que
contradizia todo o princípio da colonização.
No contexto
do mercantilismo – essencialmente, a exportação de matérias primas das colônias
para ser beneficiada [refinada] na Europa e, então, importada de volta para as
colônias como bens manufaturados – tudo visava a construir a dependência mais
servil, tanto política quanto econômica, apesar do fato de que, mesmo nesses
casos, podem-se encontrar inúmeros traços de “democracia” nas colônias.
O conceito
contemporâneo de acordos de “livre comércio” afirma que recursos, manufatura,
refino e consumo são também interdependentes na escala global, apesar da evidência
de que a tecnologia existe hoje para garantir que todos os estados ou
províncias – para nem falar de nações inteiras – pareçam economicamente
independentes.
....
Como as
Organizações Não Governamentais (ONGs) de hoje, as redes administrativas que
ergueram o Império Britânico foram, em muitos casos, inteiramente dependentes
de dinheiro que lhes chegava de Londres, dado que eram raros os locais
dispostos a colaborar. Reese observa (pág. 39, aqui traduzido) que “a carência
constante de dinheiro tornou os “Acionistas da Georgia” permanentemente
dependentes do Parlamento inglês, sem cujo apoio a colônia deles não poderia
ser mantida”.
O império
britânico cuidou atentamente de manter o equilíbrio nas “doações”, de modo que
não faltassem recursos para que suas redes coloniais pudessem fazer o que
tinham de fazer, mas de modo que jamais recebessem o suficiente para ser
independentes. A política financeira correspondia aos padrões imperiais, e as
políticas locais, das administrações locais, eram interconectadas com a “Câmara
de Comércio”, em Londres. – Exatamente assim, hoje, as ONGs locais são ligadas
a organizações internacionais, segundo regras e normas definidas por
instituições internacionais. [2]
Reese
anota, no epílogo, palavras de Vincent Harlow, que disse, falando da possibilidade
de a Georgia vir a tornar-se independente da Grã-Bretanha:
(...) as mentes dos homens realmente já concebem
novas noções e planejam novos projetos, mas todos brotados do mesmo pensamento
antigo e sob a influência potente de características fixadas há muito tempo.
Notas dos tradutores
[1] É imagem-criação de João Cabral de Melo
Neto, no poema A faca só lâmina: “assim como uma faca / que sem bolso ou
bainha / se transformasse em parte / de vossa anatomia”. Lê-se, na
íntegra, na Revista Bula.. Recolhemos aqui, para traduzir o título
original “Empire’s Double Edged Sword: Global Military + NGOs”.
[2]
De onde se conclui que o presidente Vladimir Putin, que sancionou lei pela qual
empregados de ONGs mantidas por dinheiro que lhes venha do exterior são
definidos como “agentes estrangeiros” [na prática, quase como espiões
estrangeiros], sabia bem o que fazia:
A lei diz respeito a organizações que
recebem dinheiro do exterior e envolvem-se em questões políticas domésticas da
Rússia. A Rússia decidiu que tem de preservar a vida política nacional contra
qualquer interferência exterior. Além disso, entendemos que temos de ser
informados sobre o que acontece na esfera do financiamento dessas ONGs – disse Putin, numa conferência de imprensa, ao lado
do presidente da Finlândia (25/6/2013, Ria Novosti, em: “NGO
Law to Protect Russia from Foreign Interference – Putin”)
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