22-24/11/ 2013, [*] Mike Whitney,
Counterpunch (Weekend Edition)
Traduzido por João Aroldo
O “economista de alto nível” dos EUA pensa que precisamos de mais bolhas de ativos para combater as taxas de juros reais negativas e estagnação secular persistente.
Em
um post controverso em seu blog, o colunista do New York Times,
Paul Krugman discute que as bolhas podem ser necessárias para compensar demanda
insuficiente, desemprego alto e crescimento lento. Eis um trecho do seu blog “The Conscience of a Liberal”:
Paul Krugman |
Então como você pode conciliar bolhas seguidas com uma
economia mostrando nenhum sinal de pressão inflacionária? A resposta de Summers
é que podemos ser uma economia que precisa de bolhas apenas para conseguir algo
próximo do pleno emprego – que, na ausência de
bolhas a economia tem uma taxa natural negativo de juros (…) (“Secular
Stagnation, Coalmines, Bubbles, and Larry Summers”, Paul Krugman, New York Times)
Assim, sem bolhas, não há expansão de crédito, nem
pleno emprego, nem recuperação forte? Isso soa muito como uma desculpa para
manter a política atual [expansão monetária ou emissão de moeda sem lastro (orig.
Quantitative Easing) – e juros zero],
não é?
Mas que reivindicação audaciosa, e que triste
reflexão sobre a profissão de economista, quando os seus porta-vozes mais
célebres levantam as mãos em desespero e dizem: “É assim mesmo, gente. Lidem
com isso”, em vez de oferecer alternativas construtivas. Não é isso o que os
economistas devem fazer, descobrir como nos tirar da UTI e nos levar de volta
ao pleno emprego e crescimento? Eis um outro trecho do seu post:
(...) nós somos uma economia
em que a política monetária é de fato limitada pelo limite inferior zero ... e
que isso corresponde a uma situação em que a taxa “natural” de juros - a taxa
na qual a poupança desejada e o investimento desejado seriam iguais com o pleno
emprego - é negativo ..... nesta situação as regras normais da política
econômica não se aplicam. Como eu gosto de dizer, a virtude se torna vício e
prudência torna-se loucura.
(NYT)
Okay. Então, se a principal ferramenta política do
Fed, a Taxa Feds Funds, não está fazendo efeito e estimulando a demanda,
o que você faz? Manter as taxas em zero por 5 ou 10 anos, enquanto o Fed bomba
trilhões em reservas bancárias levando as ações para a estratosfera e inflndo
bolhas em todos os tipos de ativos financeiros?
Krugman
parece achar que sim. E seu amigo, Larry Summers, também, cuja apresentação em uma
conferência recente do FMI foi o catalisador para as reflexões de Krugman.
Larry Summers |
Meu palpite é que os sentimentos de Summers sobre
bolhas de ativos não têm nada a ver com a economia e tudo a ver com os
resultados. É tudo uma questão de saber de quem é vaca que foi para o brejo. E
todos nós sabemos de quem é a maior vaca que foi para o brejo; a das pessoas comuns.
E, por que Krugman finge que só agora se deu conta de
que bolhas de ativos podem ser uma coisa boa? Eis uma citação do seu post:
Estou bastante irritado com Larry Summers agora. Sua
apresentação na Conferência de Pesquisa do FMI está, justificadamente,
recebendo muita atenção. E é o seguinte: estive pensando na mesma linha, e
insinuei, eu acho, esta mesma análise em vários escritos. Mas a formulação de
Larry é muito mais clara e mais convincente, e de modo geral melhor, do que
qualquer coisa que eu fiz. Maldito seja, Barão Vermelho Larry Summers! (Paul Krugman, “A
Consciência de um Liberal” NYT)
Krugman faz parecer que toda a coisa da bolha de
ativos apenas lhe ocorreu, o que é bobagem. Krugman tem sido um estimulador de
bolha desde o começo. Eis um trecho de um artigo que ele escreveu em 2002,
dizendo que Greenspan deveria inflar uma bolha imobiliária para compensar as
consequências da falência das empresas ponto com (.com):
(...) a recessão de 2001 não
foi uma crise típica do pós-guerra, provocada quando um Fed em combate à
inflação eleva as taxas de juros e facilmente termina por um repique no mercado
imobiliário e gastos dos consumidores quando o Fed diminui as taxas novamente.
Esta foi uma recessão de estilo pré-guerra, um dia seguinte provocado pela
exuberância irracional. Para combater esta recessão, o Fed precisa de mais do
que um repique, ele precisa de mais gastos das famílias para compensar o
investimento empresarial moribundo. E para fazer isso, como Paul McCulley, da
Pimco, explicou, Alan Greenspan precisa criar uma bolha imobiliária para
substituir a bolha da Nasdaq. (“Dubya’s Double Dip?”, Paul Krugman, New York Times).
Bem, isso é muito claro, não é? Então, se Krugman era
um proponente das bolhas em 2002, por que ele age como se nunca isso lhe
ocorreu até que ouviu o discurso de Verão?
Será que é porque Krugman é um confiável liberal da
situação, cujo trabalho é moldar a opinião pública? É isso? Neste caso, Krugman
está tentando dignificar o meio pelo qual mais riqueza é transferida para os
cleptocratas de Wall Street via
bolhas de ativos. Ele também está preparando o terreno para manter as mesmas
políticas estorsivas por tanto tempo quanto possível, o que o torna um ardente
defensor do status quo.
Tenha em mente, este é o mesmo cara que, nos últimos
cinco anos, vem dizendo que a única coisa que precisávamos para “Acabar com
Esta Depressão Agora” (livro de Krugman) é ampliar os déficits orçamentários,
aumentar os gastos do governo, e lançar uma nova rodada de estímulo fiscal.
Agora ele deu uma guinada de 180 graus e está defendendo uma política que – de acordo com Yves Smith – do Naked Capitalism “retrata
bolhas de ativos como necessárias e desejáveis”. Isso é uma bela inversão, você
não acha?
Krugman novamente:
Se você levar uma visão da estagnação secular a sério, isso
tem algumas implicações radicais... que mesmo a regulamentação financeira
melhorada não é necessariamente uma coisa boa – que pode desencorajar os
empréstimos irresponsáveis num momento em que mais gastos de qualquer tipo são
bons para a economia... (NYT)
Essa é a visão de coisas do Partido Republicano, não
é? “Por que precisamos de regulação”,
eles dizem. “Eles simplesmente põem um
amortecedor sobre o crescimento”. A abordagem de Krugman é um pouco mais
sutil, mas equivale à mesma coisa. Ao sugerir que vencer a estagnação é a maior
prioridade, ele implicitamente legitima tudo, desde a mega-alavancagem nos
bancos até empréstimos de má-fé. Este é o mais próximo que você vai chegar à
malversação econômica sem que o Comitê do Prêmio Nobel bata à sua porta exigindo
sua estátua de volta.
Krugman novamente:
É claro que o problema subjacente a tudo isso é
simplesmente que as taxas reais de juros são muito altas. Mas, você diz, elas
são negativas - taxas nominais zero menos alguma inflação esperada, pelo menos.
Qual é a resposta, então? Se o mercado quer uma taxa de juros real fortemente
negativa, teremos problemas persistentes até encontrarmos uma maneira de
entregar tal taxa. (NYT)
“Taxas de juros reais
negativas!” “Estagnação secular persistente!” “Armadilha de liquidez, armadilha
de liquidez, armadilha de liquidez”!
Ficou
com medo? Você deveria ficar, afinal, é para isso que serve toda essa besteira
alarmista. É só para meter medo. Com efeito, o que Krugman está dizendo é, “Isso
é terrível, pessoal. O mundo vai acabar se não lidarmos com as taxas negativas
rápido!…Não digam que não avisei”.
Mas,
esperem um pouco; o afrouxo monetário não deveria resolver o problema? Não é
por isso que o Fed está bombando 85 bilhões de dólares em títulos do tesouro e MBS (Mortgage-Backed
Securities) [(trad. tentativa, Seguros Hipotecários Retroativos]
- por mês, porque as taxas estão em zero e as compras de ativos deveriam levar
a política de juros para território negativo, aliviando a carga de dívida e
baixando o preço do crédito?
Claro
que sim, mas a histeria de Krugman apenas reforça o fato de que o programa é
uma grande fraude; que não fez nada, exceto aumentar a especulação
irresponsável e, ao mesmo tempo, permitindo aos bancos desonestos rolarem sua
maciça dívida a custo zero. (Uma rápida olhada nos últimos relatórios do de
crédito do Fed mostra que o crédito só está expandindo nos empréstimos
estudantis e empréstimos automotivos extorsivos “subprime” que estendem o prazo
do empréstimo para 84 meses! Mais uma história de sucesso do afrouxo
monetário!).
Quanto
à estagnação, bem, ela já está aí há muito tempo, Paul, e pouquíssimos
economistas veem as bolhas de ativos como uma saída. E enquanto alguns atribuem
o problema à demografia,(como Krugman) outros acham que ela está mais ligada à
supressão de salário, má distribuição de renda, juros, aumento da financeirização,
ou o próprio capitalismo. De acordo com os autores John Bellamy Foster e Fred
Magdoff, o aumento da financeirização nos EUA foi na verdade uma resposta à
estagnação que estava causando um rápido declínio na taxa de acumulação. Confira esta sinopse em
Monthly Review, onde os autores
explicam as origens do fenômeno e como ele abriu o caminho para o sistema financeiro
de grandes dimensões que temos hoje:
John Bellamy Foster |
Mas esse padrão de crescimento financeirizado foi incapaz
de produzir rápido avanço econômico por qualquer período de tempo, e era
insustentável, levando a bolhas maiores, que periodicamente estouraram,
trazendo cada vez mais estagnação para a superfície.
Fred Magdoff |
Krugman sabe de tudo isso. Ele fez a pesquisa. Como
dissemos antes, ele só está tentando dignificar o meio pelo qual os plutocratas
estão nos roubando enquanto nos prepara para mais do mesmo no futuro próximo.
Isso faz dele um defensor das bolhas de ativos no meu livro.
A teoria de “estagnação secular de taxas negativas”
de Krugman é pura conversa fiada. O problema não é uma armadilha de liquidez,
mas o que o economista Heiner Flassbeck
chama de “armadilha da renda”, em que rendimentos em queda e salários achatados
levaram à demanda em queda e investimento fraco. Aqui Eis um trecho de um
artigo recente de Flassbeck:
Heiner Flassbeck |
(...) alto
desemprego pressiona os salários, salários pressionados pressionam o consumo e
consumo presisonado não permite à economia se recuperar apesar dos enormes
lucros das empresas e tentativas desesperadas de política monetária (...)
(...) mesmo políticas bem-intencionadas podem levar a resultados
questionáveis se a análise subjacente é falha. A Abenomics e a maioria dos seus seguidores acadêmicos, como Paul
Krugman, consideram uma armadilha de liquidez prolongada como a principal razão
para a fraqueza japonesa (...)
(...) as expectativas diminuídas e a incerteza das famílias japonesas quanto
a sua renda futura e deflação enquanto tal evitam o consumo privado de tomar um
papel de liderança em uma recuperação. Para chamar essa constelação de uma
armadilha de liquidez é enganoso. Na verdade, a armadilha é muito mais uma
armadilha de salário ou renda do que uma armadilha de liquidez. (“Japan: Why
Paul Krugman doesn’t get it right and Martin Wolf has to move on”, Heiner
Flassbeck, Flassbeck-Economics).
Bingo.
Temos um vencedor!
Os problemas não são taxas negativas, estagnação
secular, ou armadilhas de liquidez. São demanda, salário e distribuição. Se
você pagar um salário decente às pessoas, eles têm mais dinheiro para gastar, a
atividade aumenta, o desemprego cai, as vendas aumentam, as empresas reciclam
seus lucros em investimento, o lucro melhora, a demanda por recursos
(empréstimos) eleva as taxas, a economia cresce e o todo mundo fica feliz. Mas
se você continuar esmagando o trabalho com austeridade, exportando postos de
trabalho, desemprego elevado contínuo, acordos de livre comércio regressivos,
cortes em programas sociais vitais, e políticas monetárias falsas que servem
apenas aos ricos, então a demanda enfraquece, as expectativas das pessoas
quanto ao futuro pioram, e a economia para ... Foi o que ocorreu.
A
boa notícia é que arrumar a economia é possível. Os trabalhadores
norte-americanos só precisam de um aumento de salário e uma parcela maior nos
ganhos de produtividade. Colocar dinheiro nas mãos das pessoas que vão gastá-lo
é o caminho mais rápido para fortalecer a recuperação.
A má notícia é os caras que controlam o dinheiro
gostam da maneira como as coisas estão agora. O que significa que esta
quase-Depressão provavelmente vai se arrastar ainda por um bom tempo.
_______________________
[*] Mike Whitney mora em Snohomish, Wa (próximo de Seattle), Trabalha
como articulista freelance há sete
anos. Em 2006, ganhou um prêmio Project
Censored por matéria investigativa sobre a Operation FALCON, um silencioso roubo generalizado, orquestrado
pelo governo Bush, para concentrar mais poder na presidência. Em seu blog Grasping at Straws
fornece aos leitores um instantâneo de alguns dos melhores artigos de economia
do dia. Contribuiu na produção do livro: Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press); também disponível
em Kindle edition. É articulista habitual do sítio Counterpunch.
E-mail: fergiewhitney@msn.com.
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