27/11/2013, The Saker, The Vineyard of the Saker
“The tip of the immense iceberg of US
diplomatic stupidity now spotted off the Chinese Pacific coast”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Anotado pela Nêga Dafé lá na Vila Vudu:
Lido (e traduzido) de
um dos comentários da postagem
De: The Saker
Para: @ G Mitchell
KKKKKK! Eu escrevi “profound strategic shit” [lit. “profunda merda
estratégica”]?! Escrevi. Foram meus dedos, sem pensar, não eu! Lapso freudiano,
sei lá! Nas versões seguintes já corrigi: melhor, coisa mais bem educada. Não shit
[merda], mas shift [mudança]. Corrigi, sim, mas com alguma
lástima... :-))))))
The Saker |
Lembram de
quando o presidente Bill Clinton enviou porta-aviões de combate para o Estreitode Taiwan em 1996, como “um recado” à China. Ora... parece que Barack Obama,
pato manco, sem coluna vertebral, multi-humilhado e multi-derrotado presidente
dos EUA, num surto de testosterona, decidiu provocar a China mais uma vez, e
zombar da decisão dos chineses de estender sua zona de defesa aérea até as
ilhas Senkaku/Diaoyu.
O modo que
Tio Sam escolheu para enviar seu recado usual de desprezo imperial foi enviar dois bombardeiros B-52 para invadir a zona de defesa aérea chinesa. Não
satisfeitos com esse gesto tão absolutamente estúpido e irresponsável, os
norte-americanos cuidaram de acrescentar à estupidez uma declaração
incendiária.
Localização das ilhas Senkaku/Diaioyu nas costas chinesas |
Segundo a BBC, (negritos meus):
O Coronel
dos EUA, Steve Warren no Pentágono disse que Washington conduziu operações na área das [ilhas] Senkakus. Continuamos a seguir nossos procedimentos normais, que inclui
não preencher planos de voo, não informar sobre rota, e não
registrar nossas frequências – disse ele. Ainda não há resposta da China,
acrescentou o Coronel.
Brilhante,
não é?
Os gênios
no Pentágono enviaram dois bombardeiros estratégicos (com capacidade para
ataques nucleares) diretamente para um espaço aéreo que os chineses acabavam de
declarar “zona de identificação da defesa aérea” na qual qualquer
descumprimento das regras chinesas desencadearia “medidas emergenciais de
defesa”. E, para infligir o máximo de provocação à China, deram-se o trabalho
de zombar dos chineses por não terem tomado nenhuma medida “bélica”.
São ações
que qualifico de criminosamente levianas e fenomenalmente estúpidas.
Para
começar, imagine só por um instante que os chineses tivessem derrubado os dois
bombardeiros dos EUA. E daí? Aconteceria o quê? Os EUA, que não têm colhões
sequer para bombardear o Irã ou a Síria, bombardeariam a China? Com certeza, os
EUA não recorreriam ao apoio do Conselho de Segurança da ONU, porque ali só
ouviriam gargalhadas da Rússia e da China e, provavelmente de muitos dos demais
membros.
Os norte-americanos,
então, contaram com que os chineses fariam a coisa certa? Nesse caso, a única
mensagem enviada a Pequim é:
(...) seguinte: somos irresponsáveis e levianos, e
contamos com a sanidade de vocês para salvar nossa pele.
Dificilmente
essa mensagem impressionaria alguém na China.
Em segundo
lugar, agora que os chineses agiram com inteligência e ignoraram a estupidez
dos norte-americanos, o que o “movimento” obteve, além de afastar ainda mais a
China?
É preciso
ser absolutamente ignorante, não saber absolutamente coisa alguma sobre a Ásia,
para supor que alguém tentaria pôr a China em papel ridículo, e conseguiria
safar-se sem pagar muito caro pela tentativa. A grande diferença entre EUA e
China é que os EUA agem como adolescente malcriado, capacidade de atenção e
memória de, no máximo, 5-10 minutos:
Os chineses não atacaram nossos bombardeiros.
Deve querer dizer que tomaram uma boa lição!
Errado.
Os chineses
farão os norte-americanos pagar – caro – pela humilhação (e, sim, Deus sabe que
houve muitas dessas humilhações nas últimas décadas; lembram o caso da
embaixada chinesa em Belgrado?). Mas a cobrança virá na hora que os chineses
escolherem. E, sim: pode demorar séculos, literalmente.
Vista aérea das ihas Senkaku/Diaioyu |
Os
políticos e diplomatas chineses têm 4.000 anos de experiência em contatos e
negócios com bárbaros mal educados e não civilizados. Eles sabem da importância
de não agir de afogadilho. Sabem que agir é agir com determinação rigorosamente
focada. E relembrarão essa humilhação pelo tempo necessário; até que colham,
dela, a vingança.
Em terceiro
lugar, será que alguém no Pentágono, em Foggy
Bottom ou na Casa Branca realmente supôs que os aliados/colônias dos EUA na
região ficariam positivamente impressionadíssimos? Não. Claro que não!
Diplomatas japoneses, sul-coreanos e de Taiwan ficarão horrorizados ante a
ameaça de se verem associados a esse bando de cow-boys pirados montados
em bombas atômicas, mas nada dirão, porque sabem que seus países não passam de
estados vassalos, na província USPACOM [orig. United States Pacific Command/Comando
dos EUA no Pacífico] do Império norte-americano.
E, por fim,
o que os EUA provaram ao resto do mundo? Que são poderosos? Difícil. Derrotados
nas guerras no Iraque e no Afeganistão; tendo perdido o controle da situação na
Líbia; e já derrotados pelos diplomatas russos e iranianos na Síria e no Irã,
os EUA são, no máximo, gigante obeso, flácido, detestável; gigante poderoso não
são.
É leviano e
temerário mandar aviões bombardeiros literalmente para o quintal da China (ou
para o degrau de entrada da casa, escolham a metáfora), mas leviandade não é
qualidade que impressione alguém na Ásia. Os norte-americanos estão muito
iludidos se supõem que “assustaram” os chineses.
A única
coisa que essa mais recente provocação norte-americana conseguiu foi provar ao
mundo e, especialmente à Ásia, que os EUA absolutamente não entendem, nem a
natureza, nem o propósito da diplomacia.
Pessoalmente,
não tenho posição na disputa pelas ilhas Senkaku/Diaoyu. O que estou dizendo é
que esse tipo de disputa só se resolve com negociações diplomáticas, que são
demoradas, cansativas, e com medidas diplomáticas. E que, se o Japão realmente
deseja que a China desista do direito que declarou sobre aquelas ilhas, o
melhor a fazer é cuidar para que os EUA não metam os pés pelas mãos, nem se
metam a tentar “ações” para “desmoralizar” a China.
Mas, para
um país que desde os anos de George Bush (pai) não tem governo capaz de alguma
(qualquer que fosse) diplomacia, o tipo de provocação que o mundo acaba de
testemunhar é, só, mais do mesmo.
Georg W.F. Hegel |
Para
concluir, quero dizer aqui que os políticos erram gravemente sempre que ignoram
a dialética de Hegel e suas regras. Mudanças quantitativas graduais (ao longo
do tempo), eventualmente resultam em mudanças qualitativas – e isso se aplica
muito claramente aos militares chineses, os quais, hoje, estão empenhados num
vastíssimo programa de profunda modernização e reforma. Essa reforma, quando
completada, resultará, sim, em profunda mudança estratégica em toda a região do
Pacífico Asiático.
Diferente
das velhas e absolutamente super desgastadas forças armadas dos EUA, as forças
armadas da China estão em pleno crescimento e desabrochamento, e estão andando
rápido.
É verdade
que, nos anos 1980s, as forças armadas chinesas pareciam, mais, as forças
soviéticas do final dos anos 1950s. Mas o boom econômico mudou muito
profundamente esse quadro. Hoje, as forças armadas chinesas já começam a ter
características do século 21. Em pouco tempo, com certeza, os chineses
facilmente ultrapassarão as capacidades militares da Coreia do Sul e do Japão.
Chuck Hagel por Paul Szep |
Em seguida,
e antes que o pessoal que habita a Casa Branca compreenda exatamente o que
aconteceu, os EUA estarão diante de um exército chinês tecnologicamente
equivalente e, em seguida superior ao seu, e mais eficaz. A China também age
com inteligência, no movimento de criar uma aliança formal, mas realmente
estratégica, com a Rússia. E, muito diferente dos EUA, dedica-se empenhadamente
a manifestar respeito e apoio ao gigante seu vizinho.
Se algum
dia houver um concurso de tiros entre EUA e China, não tenho dúvida alguma de
que a Rússia apoiará a China, se não houver alternativa além de atacar alvos
norte-americanos.
Por hora, o
secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, diz que a China ter ampliado sua
zona de defesa aérea teria sido “tentativa desestabilizadora para alterar o status
quo na região”. E a Casa Branca diz que a zona seria “desnecessariamente
inflamatória”.
Sim. OK.
Mas... Será
que esses cowboys arrogantes não se olham no espelho?
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