Homero Mattos Jr.
co - elemento entre moléculas capazes de se combinarem (entre si ou com outras) para formar moléculas maiores...
rupção - ruptura, fratura, rompimento, arrombamento...
cepção - tomar, pegar, agarrar
re - voltar, retornar, retroceder...
Dicionário Houaiss da língua portuguesa
o que eu tô dizendo é que o alceu tá certo o ciúme é a véspera do fracasso e o fracasso provoca o desamor e é aí que tá o problema na falta de amor pensa bem fal-ta-de-a-mor é disso que nós estamos tratando falta de amor a ême ó érre amor pronto é só isso nada mais cê entende? ela falou.
!?!...
que foi?
taxa de cheque especial a cento e sei lá quantos por cento ao ano é falta de amor? eu perguntou.
é!
metrô lotado é falta de amor? eu quis saber.
é!
faltar no congresso ou na reunião de condomi...
...também!
tá entendi só o amor constrói é isso que cê quer dizer?
constrói e cura ela completou.
ai que lindo qué uma cerveja?
não cerveja estufa podia ser com zê ou com xis.
cerveja?
estufa.
por telefone tanto faz eu disse
então ela pegou o telefone e pediu além da cerveja uma porção de piztache e ouviu a moça da recepção dizer que cerveja tinha mas desse negócio aí num tinha. então ela falou um minutinho só e em seguida olhou pra mim tá vendo? ninguém conhece pistache com zê.
imediatamente eu pegou o telefone e perguntou pra moça da recepção e pistaxe tem? ao quê a moça respondeu que já tinha falado pra senhora aí que não não tinha então eu perguntou não tem nem com ésse nem com cêagá? e a moça começou a rir o quê fez com que eu algo zangado começasse a explicar em tom professoral que na verdade aquilo era um teste por assim dizer semântico/vocabular ou fonológico melhor dizendo uma vez que nós aqui o casal do quarto dezessete estamos interessados em saber se as pessoas conseguem distinguir pelo telefone palavras ditas com ésse zê xis ou cêagá entendeu agora?
mas aqui é um motel e não a academia brasileira de letras que são como pecinhas de lego quero dizer sinais gráficos a compor morfemas que originam fonemas que mas afinal pôxa! ceis tão aí fazendo prova de português ou namorando? disse a moça da recepção.
nossa! como você ta descompensada! eu falou pra moça que assim abrupta mente desligou.
interessante essa moça eu comentou com ela.
por que?
fala coisas que não combinam com o personagem que representa.
cervantes diz a mesma coisa sobre sancho no começo do capítulo cinco da segunda parte do quixote dizia ela quando o telefone tocou e ela mesma atendeu.
ó vão desculpando aí viu? eu já tô trabalhando há mais de dez horas e ainda tenho que pegar a condução que demora uma hora pra chegar no ponto e mais uma pra chegar em casa então vão desculpando qualquer coisa aí tá? porque eu nada fiz por mal que de meu seja mas sim por mal que a mim causam.
sei como é ela falou tem nada não.
pois é continuou a moça da recepção mas acredite tô sempre desejando tudo de bom pra todo mundo então que nossa senhora abençoe a senhora e ao senhor que aí com a senhora está e queira deus que ele o senhor que com a senhora aí está possa corresponder a tudo aquilo que a senhora imaginou que ele corresponderia quando aceitou o convite dele pra vir aqui óquei?
ouvindo aquelas palavras ela ficou assim tão mexida que acabou convidando a moça da recepção pra tomar o café da manhã com a gente e foi assim que diferentemente do roberto que pedia café pra nós dois nós acabamos pedindo o café da manhã pra nós três e coincidente porém não exata mas justa mente o roberto foi o tema inicial da proveitosa instrutiva e edificante conversa do café da manhã quando então a moça da recepção nos contou que como boa e dedicada funcionária que era estava sempre dando sugestões interessantes aos sócios daquele motel de modo que aumentando o movimento eles os sócios é claro haveriam de aumentar também como não? o salário dela.
que tipo de sugestões? eu quis saber.
assim por exemplo a pessoa liga pra casa de qualquer um dos sócios e diz jesus cristo eu estou aqui! e se a ligação da pessoa for sorteada quer dizer escolhida ela e um acompanhante da livre escolha dela da pessoa tem direito a tomar um café da manhã com a presidente lá em brasília.
presidenta.
é! é! isso mesmo a mulher de vermelho que dirige o trem né?
a moça da recepção falava com uma desenvoltura inimaginável para moças de recepção no Brasil até mil novecentos e oitenta e cinco porém perfeitamente compreensível naquele a partir de dois mil e três eu pensou com uma ponta de inveja ou ciúme sei lá não faz diferença ao ver ela que eu queria só para si assim daquele jeito tão tão tão não é bem a palavra mas vá lá íntima da moça da recepção...
então eu teve uma idéia.
e o quê você acha da corrupção atual? eu perguntou pra moça.
atual? surpreendeu-se a moça para logo em seguida dizer que na modesta opinião dela a corrupção não possuía essa contemporaneidade que alguns por raiva ou ignorância ou talvez os dois desejavam fazer embarcar no trem que a mulher de vermelho dirigia e que era um trem como dizia a avó dela do tamanho de um bonde que começara a ter os vagões engatados talvez desde mil quinhentos e trinta quando por aqui desembarcaram os primeiros colonos de fato e quando aos poucos lenta e nem sempre sub reptícia mente alguns deles que poderiam facilitar na boa e por dever a vida da maioria dos outros sabe como é né? perceberam ser possível ganhar unzinhos a mais por fora sem fazer força e começaram a se aproveitar do trabalho de outros que olhando pra tudo aquilo disseram ah é assim que funciona é? então eu também quero! e assim desse modo por pensamentos palavras atos e omissões e por suas e de outros culpa tão grandes culpas passaram a possibilitar por séculos e séculos quase cinco ao todo um acúmulo cada vez maior de erros em cima de erros a ocasionar o lento mas seguro e inexorável rompimento dos padrões morais capazes de obrigar ébrios de poder a sujeitarem-se às mesmas leis obrigações e deveres às quais devem submeter-se todos quantos mas por quanto a maioria dos de baixo segue o exemplo da minoria dos de cima acabam aqueles sempre imitando estes na esperança de tal como eles tornarem-se mais iguais do que outroszinhos cujas vidas transcorrem sofridas em meio a agruras escassez e sobressaltos causados por um sistema aos poucos mas sempre segura e inexoravelmente capturado e idealmente desordenado pelos mais espertos entre os espertinhos a possuírem em comum além da riqueza furtada a mais absoluta falta de respeito para com os outrozinhos que embora semelhantes como tais não são percebidos pelos outros tais os mesmos que talvez desde martim afonso de souza mas certamente até os dias de hoje tendo recebido autoridade para educar curar e proteger decidem ao invés postar o olhos no além-mar sequiosos de não aqui mas para lá na corte do imperador destinar filhos economias esperanças e sobretudo o amor sem o qual são inúteis quaisquer tentativas de juntar as dissociadas partes da engrenagem social díspar injusta obra dos já mencionados e portanto passados séculos e séculos quase cinco ao todo de imprevidentes ações erráticas arroubos faraônicos e consumistas das majestosas porém lamentáveis personas dotadas de poder para mudar mas também portadoras de uma sombra horrorosa miserável e mesquinha a consumir com ávida e gananciosa voracidade tudo o quê de consumível existe e pela frente estiver desde os meios até as condições propícias estas principalmente estas! para punir com rigor perpétuo uma irredutível ousada militante juramentada e hoje inacreditavelmente cínica e galhofosa canalhice própria de pares a não reconhecer autoridade outra senão aquela que com tanto afã e denodo usurparam descrentes e desacreditados que são e estão de e por sua própria gente gente como ela a moça da recepção para quem ser maquinista daquele trem do tamanho de um bonde era como esfregar um monte de roupa encardida ou arear panelas engorduradas pela ação do tempo.
Muito tempo.
Séculos e séculos.
Quase cinco ao todo.
zeropramim
dezpraeles
Unidade
de Excelência
Educativa
Tenho uma outra proposta, a volta das vírgulas no texto. Senão fica difícil...
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