domingo, 10 de junho de 2012

Esquerda vence legislativas francesas


Parlamento francês

Publicado em 10/06/2012 por Rui Martins*

Berna (Suiça) - Não é possível governar sem o Parlamento.

Embora o Brasil tenha um regime presidencialista, diferente do parlamentarismo francês, tanto o ex-presidente Lula como a atual presidenta Dilma sabem bem da necessidade de um apoio dos parlamentares para poder aplicar o programa do governo.

Na França, as coisas são bem mais claras que no Brasil, pois se o presidente eleito não consegue obter a maioria parlamentar não pode ter um primeiro-ministro e é obrigado a aceitar um primeiro-ministro da oposição o que se chamou coabitação no governo de Mitterrand e no governo de Chirac.

Disso decorre uma vantagem – não existe a possibilidade de se comprar os votos dos parlamentares pelos meios aceitáveis e não muito aceitáveis. Se o presidente tem maioria parlamentar pode colocar em execução sua plataforma de governo. Sem maioria parlamentar tem de se sujeitar à oposição.

O novo presidente francês, François Hollande, ao que tudo indica, pois falta ainda o segundo turno das legislativas, poderá contar com maioria na Assembléia Nacional francesa e assim transformar em lei todos os planos e projetos prometidos durante a campanha eleitoral.

Porém, essa maioria do governo socialista não poderá ser considerada absoluta mas relativa, já que será o resultado da soma dos votos socialistas com os votos das outras tendências de esquerda e ecologistas.

Em termos de cadeiras no parlamento, os socialistas terão de 275 a 329 deputados, números reforçados com mais 8 a 18 deputados verdes e outros 13 a 20 deputados da frente de esquerda, somando um total superior às 289 cadeiras necessárias para se ter maioria absoluta na Assembléia Nacional.

Houve um grande retração no número de votantes, pois no primeiro turno da eleição presidencial de 22 de abril tinham votado 79,5% dos eleitores, enquanto neste domingo votaram menos de 60%.

A derrota de Nicolas Sarkozy para um segundo mandato presidencial se refletiu num enfraquecimento do seu partido, o UMP, que sem o chefe, se defronta com uma disputa entre pretendentes à liderança da direita. Isso teve repercussão nos votos e o UMP, com 35% dos votos neste primeiro turno, poderá eleger apenas 210 a 270 deputados.

O partido da família de extrema-direita, Le Pen, agora comandada pela filha Marine, não conseguiu repetir os 17% obtidos nas eleições presidenciais, ficando com cerca de 14% dos votos, insuficientes para formar uma bancada.

Poucos deputados obtiveram a maioria absoluta para serem eleitos neste primeiro turno. O segundo turno será no próximo domingo, dia 17, quando se definirá a composição exata da nova Assembléia francesa.

Será também dia 17, o segundo turno para a eleição dos deputados emigrantes pelos chamados franceses do exterior ou vivendo no estrangeiro, sendo provável que, das novas 11 cadeiras criadas, 7 delas fiquem com a esquerda, socialistas e verdes.

Rui Martins*: jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress.

Enviado por Direto da Redação

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