terça-feira, 9 de setembro de 2014

O cessar-fogo ucraniano: Perguntas & Respostas

6/9/2014, The Saker, Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

The Saker
Há tantos rumores e opiniões sobre o mais recente cessar-fogo na Novorússia acordado entre os líderes novorussos e os representantes de Junta de Kiev que decidi fazer uma pequena reflexão/investigação sobre as questões, no formato de “Perguntas & Respostas”. Semana que vem escreverei análise séria e aproveitável. Colho essa oportunidade para explicar alguma coisa sobre minha posição pessoal. Lá vai: 

P: Você apoia ou opõe-se ao recente “plano de paz”?

R: Nenhum dos dois. Em primeiro lugar, ainda não vi os 14 pontos realmente acordados. E, mais importante: não acredito que este plano venha a se concretizar.

P: Por que não?

R: Porque ele é contestado por todos os seguintes grupos: os EUA, a OTAN, os nazistas Ukie, a maioria dos comandantes de campo novorussos e um grande segmento dos ideólogos nacionalistas russos na Rússia. Além disso, Poroshenko é tão fraco que provavelmente não conseguirá impor sua vontade sobre os outros. Por fim, os Ukies e seus apoiadores ocidentais até agora sempre têm até renegou todos os acordos que assinou.

P: Então você acha que este acordo é irrelevante?

R: Não, não mesmo. Por um lado, o timing foi perfeito, fez murchar as velas dos discursos anti-Rússia na reunião de cúpula da OTAN, que, afinal, só resultou em ameaças vazias e conversa fiada.

P: Você está dizendo que se trata de vitória para a Rússia?

R: Não, não é isso. Mas foi meio eficaz para aliviar temporariamente uma situação potencialmente perigosa. Além disso, o próprio fato de que nem a UE ou a OTAN ou os EUA estiveram presentes em Minsk é símbolo muito poderoso do fato de que a “nação indispensável” e seus instrumentos de dominação colonial não são, afinal, indispensáveis.

P: Mas será que este cessar-fogo não permite que as Forças da Junta para Repressão (FJR) se reagrupem?

R: Sim, mas isso não é tão relevante. Por causa de sua enorme profundidade estratégica, a Junta sempre poderia reorganizar-se e reagrupar-se, com proposta de cessar-fogo ou sem. Na melhor das hipóteses (“melhor”, claro, para as FJR), este cessar-fogo vai transformar-se numa retirada mais ou menos organizada, seguida por uma pausa muito necessária. Mas a principal coisa a lembrar é sempre esta: guerras são vencidas pela força de vontade, pela força moral, por um espírito de luta. Ao contrário dos russos, os Ukies tiveram seu espírito de luta completamente quebrado pelas Forças Armadas Novorussas (FAN).

À esquerda soldado Ukie capturado na Novorússia; à direita soldado russo ferido na Georgia
Confira a imagem que circula na RuNet e que postei acima: veem-se um soldado russo ferido na guerra contra a Geórgia e um soldado ucraniano capturado na Novorússia (que havia sido tornada famosa por seus vídeos militaristas e neonazistas postados na mídia social Ukie). A fotomontagem acima mostra algo crucial: basta comparar a expressão determinada do soldado russo gravemente ferido, e a expressão totalmente alquebrada e aterrorizada do “paraquedista” ucraniano capturado. A diferença não é “russo” vs “ucraniano” em sentido étnico (não existe alguma “etnia russa” ou “etnia ucraniana” – em termos étnicos, todos são mestiços). Mas a diferença aparece no espírito de luta do soldado russo e do ucraniano. Não há quantidade de “ajuda” dos EUA/OTAN que mude isso: ao contrário do Ukie, o russo sabe que está lutando por ele mesmo, e está decidido.

P: E sobre Mariupol?

R: O que tem Mariupol? A cidade continua cercada pelas Forças Armadas Novorussas (FAN) que não vão recuar. O que o cessar-fogo faz é “congelar” a situação em torno desta cidade. Qualquer coisa, os Ukies usam o cessar-fogo para romper o cerco e escapar.

P: O cessar-fogo beneficia as Forças Armadas Novorussas?

R: Sim. Há vários “caldeirões” na retaguarda das FAN que dão trabalho, sim, e esperamos que se faça acordo para as unidades de repressão da junta saiam, desde que abandonem as armas. Se não puder ser assim, então por favor lembrem todos que as FAN controlam toda a fronteira novorussa e que o Voentorg [corredor para entrega de armas e entrada de especialistas] continuará inabalado.

P: Você está dizendo que tudo é bom e devemos nos alegrar?

R: Absolutamente não estou dizendo isso. Em primeiro lugar, há sinais claros de luta na Novorússia. Não só foi Strelkov quem foi aparentemente chantageado para deixar seu posto de comando, mas, também, há notícias de que Antiufeev [1] tentou um golpe ontem. Os novorussos negaram essa informação, outros dizem que o golpe fracassou, mas não há dúvida de que existem tensões reais dentro Novorússia agora e que, enquanto alguns apoiam a estratégia atual de negociações (podemos nos referir a esses como o “clã Zakharchenko”), outros se opõem completamente a qualquer negociação (podemos nos referir a eles como o “clã Mozgovoi”). Da mesma forma, na Rússia, há aqueles que são a favor desta estratégia (a maioria dos círculos “perto, em torno do Kremlin” (círculos “околокремлевские круги” [2] ); e os que se opõem a ela (Dugin, Coronel Cassad, el-Miurid, e muitos outros blogueiros e ativistas em geral, de linha paramarxista).

Alexander Zakharchenko
Alexey Mozgovoi
P: Então você concorda que isso é ruim para Novorússia?

R: Não, eu não disse o que você está supondo que eu teria dito. Entendo que essa é uma fase temporária inevitável e possivelmente indispensável nesse conflito; não é nem um triunfo, nem um desastre, mas algo que é uma consequência natural da situação no terreno.

P: O que você quer dizer?

R: Ao contrário do que a maioria dos que escrevem “Comentários” nesse blog, não acredito que as FAN foram “atraiçoadas”, atrapalhadas no que poderia ter sido a sua marcha triunfal até Kiev. Os sucessos incríveis no sul já estão totalmente obscurecido nas mentes de muitos. Fato inegável é que as Forças da Junta para Repressão em Lugansk ainda são grandes, poderosas e mantêm seu terreno; que os Ukies ainda conseguiram uma (pequena e inútil) contraofensiva na região de Dukuchaevsk; e que, diferente de carimbar relatórios, o aeroporto de Donetsk ainda não está sob controle total das Forças Armadas da Novorússia. Aqueles que imaginavam que as FAN imediatamente seguiriam em frente para tomar Odessa, Carcóvia, Kiev, Dnepropetrovsk, simplesmente não entendem a situação militar. No momento, agora, as FAN ainda não recuperaram nem Slaviansk. Nem podem cogitar, hoje, de recuperar toda a Novorússia.

P: E sobre a noção de que os oligarcas russos e Ukies são a verdadeira força por trás deste negócio?

R: Mas quais oligarcas? Akhmetov não perdeu só Donetsk; até a infraestrutura material de todo o patrimônio dele, ali, está em ruínas. Os ativos de Kolomoyski na Crimeia foram estatizados (nacionalizados) e, agora, ele está envolvido em uma luta dupla, ao mesmo tempo contra Ahmetov e contra Poroshenko. Quanto aos oligarcas russos – precisam de exatamente zero de qualquer coisa no Donbass; e são inteligentes demais para investir o próprio dinheiro numa região perigosa, instável e em ruínas.

Rinat Akhmetov
Pelo menos no curto prazo, apenas o Estado russo ajudará a região, e por razões políticas; e os oligarcas russos têm opções muito mais seguras e lucrativas que o Donbass arruinado.

P: OK. Nesse caso, o que dizer da acusação de que, em vez de permitir a criação de uma Novorússia viável e independente, Putin criou mais uma Transnístria?

R: Não sei nem em que se baseia essa tese. Num plano de 14 pontos que ninguém viu, e que será pisoteado, venha como vier?

P: Baseia-se no fato de que, em vez de combater contra Poroshenko e os nazistas, os novorussos foram obrigados a negociar com eles.

R: Mas... tenha a santa paciência! Quantas vezes terei de repetir que, diferente do que fazem os ocidentais, os russos jamais veem qualquer problema em negociar/ discutir/ falar com os inimigos? Basta estudar a história das invasões Tatar-Mongol da Rússia, quando os príncipes russos falam incansavelmente em “negociações” com os Khans da Horda de Ouro, o que jamais os impediu de atacá-los regularmente. Para os russos, muito mais do que para europeus e asiáticos na Ásia, é normal negociar com o inimigo; faz parte da guerra. Se no ocidente falar ou negociar com o inimigo é visto como sinal de fraqueza, na Ásia é o contrário: não falar ou não negociar com o inimigo é que é tomado como sinal de fraqueza.

P: Então, o que você acha que Putin quer nessa guerra?

R: O que ele sempre disse que queria: a Ucrânia unida, independente e neutra, próspera e amigável, em outras palavras: quer “mudança de regime” em Kiev.

P: E então ele vai “vender” [“entregar”] a Novorússia, para atingir esse objetivo?

R: Não sei. Ao contrário de tantos generais de poltrona, que aparentemente também ganham dinheiro como adivinhadores-telepatas e profetas de circo, eu não sei ler a mente de Putin ou prever o futuro. O que posso dizer é que até agora não vi sinal algum de que Putin venha a trair ou a “vender” alguém. Na verdade, é preciso um grau surpreendente de cegueira ou de desonestidade intelectual para não ver que a primeira e imediata consequência do que muitos supõem que tenha sido uma mudança ordenada pelo Kremlin na liderança novorussa foi ofensiva militar enorme e bem-sucedida, que esmagou as Forças da Junta para Repressão. Se Putin quisesse “vender” ou “entregar” a Novorússia aos nazistas, poderia facilmente ter feito antes de a contraofensiva militar começar.

P: Quer dizer então que você ama Putin e confia em Putin. É isso?

R: Amar, não amo. Mas é preciso admitir que o que tenho visto Putin fazer pela Rússia e pelo mundo, enche-me de admiração sincera, que me leva quase a temer por ele, pela vida dele. E não vejo nenhum sinal de ele mudar de rumo. Vejo em Putin um líder político cujos métodos e estratégias são simplesmente demasiado sutis e complexas para a maioria dos “chefes de gabinete dos estados” – que absolutamente não o entendem.

Vladimir Putin
Os mesmos que, agora, gritam histéricos que Putin teria “traído” a Novorússia, dizia exatamente a mesma coisa, que Putin teria traído a Síria... Até que Putin, numa ação de minutos, obrigou os EUA a suspenderem o ataque à Síria. E quando os russos recomendaram ao presidente Al-Assad que se desfizesse de seu arsenal químico (perigoso e inútil), os mesmos “detonadores-de-Putin” só diziam que ali estaria a prova da “traição” russa. Agora, Assad lá está; se não pôs fim à guerra civil, fez eleição bem-sucedida; e o Ocidente, mastigando a amarga pílula da humildade, tenta descobrir algum modo de obter a ajuda do presidente Assad, para a guerra no Iraque.

Não se pode dizer que eu “amo Putin”, mas, sim, sinto que os “detonadores” de Putin só mostram falta de visão e falta de experiência, no melhor dos casos; no pior, só mostram a mais alucinante desonestidade intelectual. Ficam lá, como disco quebrado, repetindo que “Putin traiu, Putin traidor”. Na Rússia, esses nacionalistas fanáticos são chamados de “горе патриоты” ou “patriotas-do-penar”, “patriotas-de-choradeira”. É gente que nada faz de útil, mas muito vociferam sobre o que o mundo deve(ria) ser-fazer.

Atenção: Aqui, não me refiro a Strelkov, Mozgovoi ou a qualquer outro patriota real, que, na luta de todos, discorde de Putin. Refiro-me àqueles para quem “demolir-Putin” é um fim em si mesmo. A esses, não dou nenhuma importância.

P: Seja como for, a Novorússia quer a independência, e Putin quer uma Ucrânia unida. Você não vê alguma contradição?

R: Claro que sim. São posições diferentes. Mas não significa que um lado seja “o bem” e o outro lado seja “o mal”. Quem raciocina assim são os estadistas norte-americanos Então? Isso não significa que um lado é “ruim” e outro “bom”, isso só mostra a verdade sobre os EUA, que só sabem “defender” o que interessa a eles e todas as demais posições são “o mal”.

A questão importante na Ucrânia é como as diferenças e a contradição entre essas duas posições será resolvida. Até agora eu não sei. E dado que gosto de basear minhas opiniões sobre verdade, não telepatia ou visões proféticas, reservo-me o direito de esperar.

P: Você sempre fala de “detonadores-de-Putin”. Muitos se ofendem.

R: E daí?! Eu não presto! Sou sujeito desses que diz o que pensa, chamo as pessoas como me parece adequado, e os ofendidos são livres para chorar na cama. Se viverem de detonar-Putin, se fizerem de detonar-Putin meio de vida... eu os chamarei de detonadores-de-Putin. Não devo nada a eles. Esse blog é meu e, aqui, escrevo para adultos que prefiram opiniões honestas, a frasezinhas cobertas de caramelo.

P: E sobre Poroshenko – ganhou grande pausa, se não grande vitória, não é?

R: Ontem, assisti àquela impagável propaganda Ukie Shuster Live”, programa de entrevistas (assista no fim do parágrafo, em ucraniano e sem tradução, infelizmente). E a sensação é que assistia a um funeral. O anfitrião e todos os “convidados” com ar sombrio, triste, quase deprimidos. Por menos que admitissem a magnitude da surra que seu “invencível exército ucraniano” acabava de tomar, ali estava, muito claro, que o patriotismo-em-fúria já não está na ordem do dia. Um funcionário Ukie chegou a dizer que “falamos de 30 a 40 mil homens armados e, depois, tenho de conversar com esses terroristas”... Estava desconsolado! Foi hilário, realmente.


Então... Não, não. Poroshenko não “ganhou” coisa alguma e, sim, está em apuros bem reais. Para começar, seu próprio primeiro-ministro – Yatseniuk – está absolutamente indignado com o cessar-fogo, e não faz mistério sobre isso. O mesmo vale para a Timoshenko. E nem vou falar das aberrações nazistas.

Fato é que proteger Poroshenko vai-se converter em grande dor de cabeça para a estação local da CIA em Kiev: ele está realmente em apuros. Sua única esperança é que nas próximas eleições terá de mostrar-se menos doido ou menos ruim que os demais. Isso, claro, se as eleições acontecerem; e se Yarosh ou Tiagnybok não tomarem simplesmente o poder e fuzilarem Poroshenko por “crime de alta traição”, ou por ser agente do serviço secreto de segurança da Rússia, FSB (ele não é, mas quem liga?!). A questão é que, por mais que todos saibam que se trata de plano de Putin, todos os jornais e televisões Ukies estão mobilizados para convencer o público de que o plano seria de Poroshenko. Os russos, como sempre, sorriem e deixam passar (é a Ásia, não esqueçam; as regras são diferentes).

P: Então, o que vai acontecer a seguir?

R: Como eu disse, não sou um profeta. O que sei é o seguinte: Putin claramente tem o controle pleno sobre a Rússia e a Novorússia – o que ele diz acontece; se promete, ele entrega. Poroshenko não controla nada, nem a “sua” “coalizão de governo”. Não há poder real no Banderastão; nem a CIA manda ali. Por esta razão simples, eu não vejo como o cessar-fogo poderia manter-se. Também não vejo qualquer mudança no (des)equilíbrio militar. As Forças Armadas Novorussas (FAN) são muito mais capazes que as Forças da Junta para Repressão (FJR), cuja única vantagem é a enorme profundidade estratégica naquele território. As FJR tiveram (verbo no passado!) enorme vantagem em equipamento/ veículos e mão de obra, mas até isso está mudando agora. Em termos de equipamento/veículos, a maior parte do melhor hardware que tinham já está perdido ou nas mãos das FAN. Sim: eles ainda têm reservas enormes, mas de equipamento antigo e sem manutenção, em estado de deterioração terrível. Quanto à mão de obra, a Junta tem claramente mais e mais dificuldades em encontrar homens suficientes para compensar suas perdas enormes.

Basta perguntar a si mesmo uma pergunta básica: “se você fosse Ukie, mesmo que fosse nacionalista, você quereria unir-se às FJR para combater contra as FAN? Ah, sim, a OTAN prometeu US$ 15 milhões. O que os Ukies comprariam? O quê? Talvez 10 T-72 ou 3 T-80 antigos e usados? É piada.

Mas mesmo que os EUA ofereçam US$ 150 milhões em ajuda secreta, não afetará o (des)equilíbrio, imagine se o fará inverter completamente o eixo. Quanto às FAN, vão bem e, provavelmente, melhorará, com mais homens e equipamentos moderno, passados pelo Voentorg, mas não pode forçar demais o próprio jogo. Como disse um comandante das FAN: “até agora temos sido libertadores; não queremos virar ocupantes”.

A regra é simples: quanto mais a oeste as FAN entrarem, menos apoio encontrarão e mais estarão expostas a alguma guerra de guerrilha liderada por alguma insurreição local. Estratégia muito mais inteligente é sentar e esperar; e assistir aos Ukies enfrentarem guerrilheiros e combaterem entre eles mesmos.

P: Por que você acha que vai acontecer?

R: Porque, não importa o que aconteça, a verdade ainda é a mesma: a Ucrânia sempre foi um país artificial. No Banderastão é ainda pior. Não há poder real. A própria Junta de Kiev é muito mais “meio”, que poder. O país está economicamente morto, morto, morto. A crise econômica está ainda nos estágios muito iniciais; de agora em diante só vai piorar. Socialmente, as pessoas estão cada vez mais loucas, desiludidas, sentindo-se enganadas e, ao mesmo tempo, cada vez com menos medo de falar. Os nazistas são de longe o grupo mais unido e mais bem armado no país, com exceção de um muito teórico grupo “militar ucraniano”, que, pelo menos até agora, não tem líder e, portanto, não está unido (talvez isso mude no futuro? Talvez). Basicamente, qualquer pessoa que tenha conseguido nota B em Ciências Sociais saberá prever que os Ukies agora se vão voltar uns na direção dos outros, só por palavras e ideias... Ah, se Deus quiser! Mas a violência é mais provável. Para as FAN é muito melhor esperar até Zaporozhie, Dnepropetrovsk, Carcóvia, ou mesmo Odessa, convertam-se em cidades sem lei que ninguém realmente controla; muito mais interessante e promissor do que tentar conquistar as cidades agora. Há até uma possibilidade real de que as FAN venham a ser vistas como forças de libertação nessas cidades, se o caos não alcançar nível “Mad Max” (trailer a seguir):


P: E se a OTAN enviar forças para reforçar a Junta?

R: [risos, risos muitos] Primeiro, aconselho vivamente os anglo-sionistas “nossos parceiros” (como dizem na Rússia), a informar-se com seus colegas alemães, franceses e poloneses, sobre as lembranças que eles têm do tempo em que estiveram no comando da Ucrânia. Em segundo lugar, gostaria de lembrar aos nossos parceiros anglo-sionistas, que a sua mudança deles para o Iraque e Afeganistão era para ser uma lua-de-mel que se autopagaria. Em terceiro lugar, também gostaria de sugerir a eles que, se eles não gostaram de Maliki, pode acontecer de não gostarem também de Yarosh.

Claro que enviarem uma força simbólica para umas poucas manobras, com o que restou dos exércitos Ukie é boa ideia. Chama-se “mostrar a bandeira”. Mas tentar algo significativo com forças militares da OTAN no interior da Ucrânia seria ação muito, muito perigosa – e mesmo que a Rússia não faça absolutamente nada para piorar as coisas.

P: E sobre a União Europeia?

R: Acho que a União Europeia perdeu a força de vontade (não que algum dia tenha tido muita!). O papel ridículo de Hollande, já causou estrago que chegue. Agora, já se sabe que não passou de “opinião individual” sem nenhum significado legal. Claro que o jardim-de-infância da UE (Polônia, Lituânia, etc.) vai continuar a ser o que é, jardim de infância. Mas agora também os adultos (Alemanha, França, etc.) estão dando sinais de estarem fartos. Não espero que deem volta de 180 graus da noite para o dia. Espero, no máximo, que parem de fazer tantas bobagens. O “mau comportamento” da UE pode resultar em redução no papel dela, com aumento no papel da Organização de Coordenação e Segurança da Europa (OSCE).

P: E o Tio Sam?

R: Está totalmente preso em seu único modo: exigências, ameaças, condenação, exigências, ameaças, condenação, etc. Normalmente, “agressão” é parte desse mantra, exceto que, agora, nem os EUA nem a OTAN têm os meios mínimos indispensáveis para atacar militarmente a Rússia. Quanto ao “Estado profundo”, o estado anglo-sionista, continuará a tentar subverter e economicamente paralisar a Rússia. Mas, enquanto Putin estiver no Kremlin, não vejo como essa estratégia teria sucesso.

P: Parece que você é otimista.

R: Se parece... Talvez sim, mas só muito, muito cautelosamente otimista. Não vejo um grande drama, muito menos um desastre, no que acabou de acontecer. Entendo que a Rússia tem todas as boas cartas neste jogo, e não vejo nenhum perigo para o povo da Novorússia. Para os que gostariam de subir num tanque e rumar diretamente para a Praça Maidan, só digo que, embora eu partilhe muitas de suas esperanças e sonhos, política é a arte do possível; e que política esperta muitas vezes é lenta, demorada. O maximalismo é bom para adolescentes, não para Chefes de Estado, cuja decisão afeta a vida de milhões de pessoas. Por tudo isso, minha conclusão temporária e provisória é a seguinte: até agora, vai tudo bem; as coisas estão melhores do que pareciam estar há apenas dois meses, e não vejo nenhuma razão para esperar qualquer grande reversão no futuro previsível.

P: O que você considera que seja o maior perigo para Novorússia agora?

R: A luta política interna. Não sei se seria possível agora, mas gostaria de ver surgir um líder novorusso indiscutível, que tivesse apoio oficial e pleno de Strelkov, Zakharchenko, Borodai, Mozgovoi, Kononov, Khodakovski, Tsarev, Bolotov, Gubarev e todos os outros líderes políticos e militares. Teria de ser líder verdadeiramente novorusso, não apenas um “procônsul de Putin”. Alguém capaz de negociar com Putin, em nome dos interesses do povo de Novorússia. Não quero sugerir aqui que essas negociações não possam ser amigáveis, mesmo porque não pode haver Novorússia contra a Rússia. Mas esse líder precisa representar os interesses do povo novorusso, e não do povo russo, cujos interesses o próprio Putin representa (muito bem).

Igor Strelkov
A principal razão pela qual Putin, neste momento, tem tanto poder na Novorússia é que ainda não há liderança política novorussa real. Há uma liderança militar novorussa, e mesmo esses têm de fazer, provavelmente, mais ou menos, o que os militares russos lhes digam que façam. Longe de ser enfraquecida pelo surgimento de um líder verdadeiramente independente e verdadeiramente novorusso, acho que a aliança Rússia-Novorússia seria grandemente fortalecida. A Novorússia não deve e não pode deixar-se microgovernar pelo Kremlin.

Em outras palavras, o que espero é que surja um “Hassan Nasrallah novorusso” – que seria aliado leal e fiel de Putin, mas aliado soberano e independente (como Nasrallah é, do aiatolá Ali Khamenei), mas não um poodle feito Blair, Cameron ou Hollande.

A Novorússia precisa de um porta-voz e negociador que tenha mandato para realmente falar em nome do povo de Novorússia. Até que isso aconteça, estarei sempre preocupado com o futuro do povo da Novorússia.

Por hora é isso.

Espero que esse autoquestionário com autorrespostas tenha respondido muitas, se não a maioria, das perguntas, comentários e e-mails que absolutamente não tive tempo de responder antes. Faço assim o registro reto dos meus próprios pontos de vista, tantos dos quais têm sido repetidamente mal expostos, ou por desonestidade de alguns, ou simplesmente, porque há idiotas muito ativos no mundo. Se tiver conseguido desencorajar os inimigos de Putin – bom.

Vale o mesmo para os odiadores-do-Saker :-)) Já disse e repito: não sou “um cara legal”; eu não presto ((-:

Aproveito para acrescentar mensagem pessoal: Parem aí, de dizer o que devo fazer, pensar ou escrever. Este blog é como uma reunião de Alcóolicos Anônimos (AA): “pegue o que gostar e deixe o resto”. Mas não espere que eu mude, ou que mude minha opinião, a menos que você demonstre com fatos e boa lógica, que estou errado (nesse caso, agradeço a oportunidade de corrigir meu erro). Fascistas me irritam, principalmente os racistas, mas não conseguirão fazer de mim clone deles.

A todos os demais, solidários, respeitosos, generosos, educados, inteligentes, interessantes, engraçados, sofisticados, compassivos, inteligentes, íntegros, honestos, honrados e de vários outros modos maravilhosos membros da nossa comunidade, quero expressar aqui a minha gratidão mais sentida e sincera: eu simples NÃO SEI como poderia ter passado por esses meses terríveis e trágicos, sem a ajuda, apoio e carinho de vocês.

Felicidades e meus melhores cumprimentos,

The Saker




Nota dos tradutores

[1] Sobre Antiufeev, ver redecastorphoto em: “Ucrânia: Relatório de Situação (SITREP), 11/7/2014” item (2) (traduzido).

[2] Há uma palavra em russo, difícil de traduzir, que significa, mais ou menos, “perto/em torno dos círculos do Kremlin” (околокремлевские круги). Refere-se, basicamente, à base “silenciosa” de poder pró-Putin, que tem grande influência política, mas não é parte formal da estrutura do governo. 
Esses círculos – que são o suplício dos liberais russos – têm acesso ao Kremlin e apoiam o presidente, mas não integram formalmente a administração, nem o governo, nem o gabinete do presidente, nem qualquer outra entidade do estado e, por isso, não podem ser controlados por ninguém, exceto, claro, pelo serviço secreto federal, FSB. Estou sentindo que esses círculos, que são furiosamente antinazistas e anti-EUA, já se organizaram informalmente para criar uma rede de assistência à Novorússia. Que ninguém jamais subestime o poder e as capacidades desses círculos “em torno do Kremlin” (ver redecastorphoto em: “Ucrânia: Relatório de Situação (SITREP), 11/7/2014” (traduzido). 

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