6/9/2014, The Saker, Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
The Saker |
Há tantos
rumores e opiniões sobre o mais recente cessar-fogo na Novorússia acordado
entre os líderes novorussos e os representantes de Junta de Kiev que decidi
fazer uma pequena reflexão/investigação sobre as questões, no formato de “Perguntas
& Respostas”. Semana que vem escreverei análise séria e aproveitável. Colho
essa oportunidade para explicar alguma coisa sobre minha posição pessoal. Lá
vai:
P: Você apoia
ou opõe-se ao recente “plano de paz”?
R: Nenhum dos
dois. Em primeiro lugar, ainda não vi os 14 pontos realmente acordados. E, mais
importante: não acredito que este plano venha a se concretizar.
P: Por que
não?
R: Porque ele
é contestado por todos os seguintes grupos: os EUA, a OTAN, os nazistas Ukie,
a maioria dos comandantes de campo novorussos e um grande segmento dos
ideólogos nacionalistas russos na Rússia. Além disso, Poroshenko é tão fraco
que provavelmente não conseguirá impor sua vontade sobre os outros. Por fim, os
Ukies e seus apoiadores ocidentais até agora sempre têm até renegou
todos os acordos que assinou.
P: Então você
acha que este acordo é irrelevante?
R: Não, não
mesmo. Por um lado, o timing foi perfeito, fez murchar as velas dos
discursos anti-Rússia na reunião de cúpula da OTAN, que, afinal, só resultou em
ameaças vazias e conversa fiada.
P: Você está
dizendo que se trata de vitória para a Rússia?
R: Não, não é
isso. Mas foi meio eficaz para aliviar temporariamente uma situação
potencialmente perigosa. Além disso, o próprio fato de que nem a UE ou a OTAN
ou os EUA estiveram presentes em Minsk é símbolo muito poderoso do fato de que
a “nação indispensável” e seus instrumentos de dominação colonial não são,
afinal, indispensáveis.
P: Mas será
que este cessar-fogo não permite que as Forças da Junta para Repressão (FJR) se
reagrupem?
R: Sim, mas
isso não é tão relevante. Por causa de sua enorme profundidade estratégica, a
Junta sempre poderia reorganizar-se e reagrupar-se, com proposta de cessar-fogo
ou sem. Na melhor das hipóteses (“melhor”, claro, para as FJR), este
cessar-fogo vai transformar-se numa retirada mais ou menos organizada, seguida
por uma pausa muito necessária. Mas a principal coisa a lembrar é sempre esta:
guerras são vencidas pela força de vontade, pela força moral, por um espírito
de luta. Ao contrário dos russos, os Ukies tiveram seu espírito de luta
completamente quebrado pelas Forças Armadas Novorussas (FAN).
À esquerda soldado Ukie capturado na Novorússia; à direita soldado russo
ferido na Georgia
|
Confira a imagem que circula na RuNet e que postei acima: veem-se um soldado russo ferido na
guerra contra a Geórgia e um soldado ucraniano capturado na Novorússia (que
havia sido tornada famosa por seus vídeos militaristas e neonazistas postados
na mídia social Ukie). A fotomontagem acima mostra algo crucial: basta
comparar a expressão determinada do soldado russo gravemente ferido, e a
expressão totalmente alquebrada e aterrorizada do “paraquedista” ucraniano
capturado. A diferença não é “russo” vs “ucraniano” em sentido étnico
(não existe alguma “etnia russa” ou “etnia ucraniana” – em termos étnicos,
todos são mestiços). Mas a diferença aparece no espírito de luta do soldado
russo e do ucraniano. Não há quantidade de “ajuda” dos EUA/OTAN que mude isso:
ao contrário do Ukie, o russo sabe que está lutando por ele mesmo, e
está decidido.
P: E sobre
Mariupol?
R: O que tem
Mariupol? A cidade continua cercada pelas Forças Armadas Novorussas (FAN) que
não vão recuar. O que o cessar-fogo faz é “congelar” a situação em torno desta
cidade. Qualquer coisa, os Ukies usam o cessar-fogo para romper o cerco
e escapar.
P: O
cessar-fogo beneficia as Forças Armadas Novorussas?
R: Sim. Há
vários “caldeirões” na retaguarda das FAN que dão trabalho, sim, e esperamos
que se faça acordo para as unidades de repressão da junta saiam, desde que
abandonem as armas. Se não puder ser assim, então por favor lembrem todos que
as FAN controlam toda a fronteira novorussa e que o Voentorg [corredor
para entrega de armas e entrada de especialistas] continuará inabalado.
P: Você está
dizendo que tudo é bom e devemos nos alegrar?
R: Absolutamente não
estou dizendo isso. Em primeiro lugar, há sinais claros de luta na Novorússia.
Não só foi Strelkov quem foi aparentemente chantageado para deixar seu posto de
comando, mas, também, há notícias de que Antiufeev [1] tentou um golpe ontem. Os novorussos negaram essa
informação, outros dizem que o golpe fracassou, mas não há dúvida de que existem
tensões reais dentro Novorússia agora e que, enquanto alguns apoiam a
estratégia atual de negociações (podemos nos referir a esses como o “clã Zakharchenko”), outros se opõem completamente a
qualquer negociação (podemos nos referir a eles como o “clã Mozgovoi”). Da mesma forma, na Rússia, há aqueles que
são a favor desta estratégia (a maioria dos círculos “perto, em torno do
Kremlin” (círculos “околокремлевские круги”
[2] ); e os que se opõem a ela
(Dugin, Coronel Cassad, el-Miurid, e muitos outros blogueiros e ativistas em
geral, de linha paramarxista).
Alexander Zakharchenko |
Alexey Mozgovoi |
P: Então você
concorda que isso é ruim para Novorússia?
R: Não, eu
não disse o que você está supondo que eu teria dito. Entendo que essa é uma
fase temporária inevitável e possivelmente indispensável nesse conflito; não é
nem um triunfo, nem um desastre, mas algo que é uma consequência natural da
situação no terreno.
P: O que você
quer dizer?
R: Ao
contrário do que a maioria dos que escrevem “Comentários” nesse blog, não
acredito que as FAN foram “atraiçoadas”, atrapalhadas no que poderia ter sido a
sua marcha triunfal até Kiev. Os sucessos incríveis no sul já estão totalmente
obscurecido nas mentes de muitos. Fato inegável é que as Forças da Junta para
Repressão em Lugansk ainda são grandes, poderosas e mantêm seu terreno; que os Ukies
ainda conseguiram uma (pequena e inútil) contraofensiva na região de
Dukuchaevsk; e que, diferente de carimbar relatórios, o aeroporto de Donetsk
ainda não está sob controle total das Forças Armadas da Novorússia. Aqueles que
imaginavam que as FAN imediatamente seguiriam em frente para tomar Odessa,
Carcóvia, Kiev, Dnepropetrovsk, simplesmente não entendem a situação militar.
No momento, agora, as FAN ainda não recuperaram nem Slaviansk. Nem podem
cogitar, hoje, de recuperar toda a Novorússia.
P: E sobre a
noção de que os oligarcas russos e Ukies são a verdadeira força por trás
deste negócio?
R: Mas quais
oligarcas? Akhmetov não perdeu só Donetsk; até a infraestrutura material de
todo o patrimônio dele, ali, está em ruínas. Os ativos de Kolomoyski na Crimeia
foram estatizados (nacionalizados) e, agora, ele está envolvido em uma luta
dupla, ao mesmo tempo contra Ahmetov e contra Poroshenko. Quanto aos oligarcas
russos – precisam de exatamente zero de qualquer coisa no Donbass; e são
inteligentes demais para investir o próprio dinheiro numa região perigosa,
instável e em ruínas.
Rinat Akhmetov |
Pelo menos no
curto prazo, apenas o Estado russo ajudará a região, e por razões políticas; e
os oligarcas russos têm opções muito mais seguras e lucrativas que o Donbass
arruinado.
P: OK. Nesse
caso, o que dizer da acusação de que, em vez de permitir a criação de uma Novorússia
viável e independente, Putin criou mais uma Transnístria?
R: Não sei
nem em que se baseia essa tese. Num plano de 14 pontos que ninguém viu, e que
será pisoteado, venha como vier?
P: Baseia-se
no fato de que, em vez de combater contra Poroshenko e os nazistas, os novorussos
foram obrigados a negociar com eles.
R: Mas...
tenha a santa paciência! Quantas vezes terei de repetir que, diferente do que
fazem os ocidentais, os russos jamais veem qualquer problema em negociar/ discutir/
falar com os inimigos? Basta estudar a história das invasões Tatar-Mongol da
Rússia, quando os príncipes russos falam incansavelmente em “negociações” com
os Khans da Horda de Ouro, o que jamais os impediu de atacá-los
regularmente. Para os russos, muito mais do que para europeus e asiáticos na
Ásia, é normal negociar com o inimigo; faz parte da guerra. Se no ocidente
falar ou negociar com o inimigo é visto como sinal de fraqueza, na Ásia é o
contrário: não falar ou não negociar com o inimigo é que é tomado como sinal de
fraqueza.
P: Então, o
que você acha que Putin quer nessa guerra?
R: O que ele
sempre disse que queria: a Ucrânia unida, independente e neutra, próspera e
amigável, em outras palavras: quer “mudança de regime” em Kiev.
P: E então
ele vai “vender” [“entregar”] a Novorússia, para atingir esse objetivo?
R: Não sei.
Ao contrário de tantos generais de poltrona, que aparentemente também ganham
dinheiro como adivinhadores-telepatas e profetas de circo, eu não sei ler a
mente de Putin ou prever o futuro. O que posso dizer é que até agora não vi
sinal algum de que Putin venha a trair ou a “vender” alguém. Na verdade, é
preciso um grau surpreendente de cegueira ou de desonestidade intelectual para
não ver que a primeira e imediata consequência do que muitos supõem que tenha
sido uma mudança ordenada pelo Kremlin na liderança novorussa foi ofensiva
militar enorme e bem-sucedida, que esmagou as Forças da Junta para Repressão.
Se Putin quisesse “vender” ou “entregar” a Novorússia aos nazistas, poderia
facilmente ter feito antes de a contraofensiva militar começar.
P: Quer dizer
então que você ama Putin e confia em Putin. É isso?
R: Amar, não
amo. Mas é preciso admitir que o que tenho visto Putin fazer pela Rússia e pelo
mundo, enche-me de admiração sincera, que me leva quase a temer por ele, pela
vida dele. E não vejo nenhum sinal de ele mudar de rumo. Vejo em Putin um líder
político cujos métodos e estratégias são simplesmente demasiado sutis e
complexas para a maioria dos “chefes de gabinete dos estados” – que
absolutamente não o entendem.
Vladimir Putin |
Os mesmos
que, agora, gritam histéricos que Putin teria “traído” a Novorússia, dizia
exatamente a mesma coisa, que Putin teria traído a Síria... Até que Putin, numa
ação de minutos, obrigou os EUA a suspenderem o ataque à Síria. E quando os
russos recomendaram ao presidente Al-Assad que se desfizesse de seu arsenal
químico (perigoso e inútil), os mesmos “detonadores-de-Putin” só diziam que ali
estaria a prova da “traição” russa. Agora, Assad lá está; se não pôs fim à guerra
civil, fez eleição bem-sucedida; e o Ocidente, mastigando a amarga pílula da
humildade, tenta descobrir algum modo de obter a ajuda do presidente Assad,
para a guerra no Iraque.
Não se pode
dizer que eu “amo Putin”, mas, sim, sinto que os “detonadores” de Putin só
mostram falta de visão e falta de experiência, no melhor dos casos; no pior, só
mostram a mais alucinante desonestidade intelectual. Ficam lá, como disco
quebrado, repetindo que “Putin traiu, Putin traidor”. Na Rússia, esses
nacionalistas fanáticos são chamados de “горе патриоты” ou
“patriotas-do-penar”, “patriotas-de-choradeira”. É gente que nada faz de útil,
mas muito vociferam sobre o que o mundo deve(ria) ser-fazer.
Atenção:
Aqui, não me refiro a Strelkov, Mozgovoi ou a qualquer outro patriota real,
que, na luta de todos, discorde de Putin. Refiro-me àqueles para quem “demolir-Putin”
é um fim em si mesmo. A esses, não dou nenhuma importância.
P: Seja como
for, a Novorússia quer a independência, e Putin quer uma Ucrânia unida. Você não
vê alguma contradição?
R: Claro que
sim. São posições diferentes. Mas não significa que um lado seja “o bem” e o
outro lado seja “o mal”. Quem raciocina assim são os estadistas
norte-americanos Então? Isso não significa que um lado é “ruim” e outro “bom”,
isso só mostra a verdade sobre os EUA, que só sabem “defender” o que interessa
a eles e todas as demais posições são “o mal”.
A questão
importante na Ucrânia é como as diferenças e a contradição entre essas duas
posições será resolvida. Até agora eu não sei. E dado que gosto de basear
minhas opiniões sobre verdade, não telepatia ou visões proféticas, reservo-me o
direito de esperar.
P: Você
sempre fala de “detonadores-de-Putin”. Muitos se ofendem.
R: E daí?! Eu
não presto! Sou sujeito desses que diz o que pensa, chamo as pessoas como me
parece adequado, e os ofendidos são livres para chorar na cama. Se viverem de
detonar-Putin, se fizerem de detonar-Putin meio de vida... eu os chamarei de
detonadores-de-Putin. Não devo nada a eles. Esse blog é meu e, aqui, escrevo
para adultos que prefiram opiniões honestas, a frasezinhas cobertas de
caramelo.
P: E sobre
Poroshenko – ganhou grande pausa, se não grande vitória, não é?
R: Ontem,
assisti àquela impagável propaganda Ukie “Shuster Live”, programa de
entrevistas (assista no fim do parágrafo, em ucraniano e sem tradução,
infelizmente). E a sensação é que assistia a um funeral. O anfitrião e todos os
“convidados” com ar sombrio, triste, quase deprimidos. Por menos que admitissem
a magnitude da surra que seu “invencível exército ucraniano” acabava de tomar,
ali estava, muito claro, que o patriotismo-em-fúria já não está na ordem do
dia. Um funcionário Ukie chegou a dizer que “falamos de 30 a 40 mil homens armados e, depois,
tenho de conversar com esses terroristas”...
Estava desconsolado! Foi hilário, realmente.
Então... Não,
não. Poroshenko não “ganhou” coisa alguma e, sim, está em apuros bem reais.
Para começar, seu próprio primeiro-ministro – Yatseniuk – está absolutamente
indignado com o cessar-fogo, e não faz mistério sobre isso. O mesmo vale para a
Timoshenko. E nem vou falar das aberrações nazistas.
Fato é que
proteger Poroshenko vai-se converter em grande dor de cabeça para a estação
local da CIA em Kiev: ele está realmente em apuros. Sua única esperança é que
nas próximas eleições terá de mostrar-se menos doido ou menos ruim que os
demais. Isso, claro, se as eleições acontecerem; e se Yarosh ou Tiagnybok não
tomarem simplesmente o poder e fuzilarem Poroshenko por “crime de alta traição”,
ou por ser agente do serviço secreto de segurança da Rússia, FSB (ele
não é, mas quem liga?!). A questão é que, por mais que todos saibam que se
trata de plano de Putin, todos os jornais e televisões Ukies estão
mobilizados para convencer o público de que o plano seria de Poroshenko.
Os russos, como sempre, sorriem e deixam passar (é a Ásia, não esqueçam; as
regras são diferentes).
P: Então, o
que vai acontecer a seguir?
R: Como eu
disse, não sou um profeta. O que sei é o seguinte: Putin claramente tem o
controle pleno sobre a Rússia e a Novorússia – o que ele diz acontece; se
promete, ele entrega. Poroshenko não controla nada, nem a “sua” “coalizão de
governo”. Não há poder real no Banderastão; nem a CIA manda ali. Por
esta razão simples, eu não vejo como o cessar-fogo poderia manter-se. Também
não vejo qualquer mudança no (des)equilíbrio militar. As Forças Armadas Novorussas
(FAN) são muito mais capazes que as Forças da Junta para Repressão (FJR), cuja
única vantagem é a enorme profundidade estratégica naquele território. As FJR tiveram
(verbo no passado!) enorme vantagem em equipamento/ veículos e mão de
obra, mas até isso está mudando agora. Em termos de equipamento/veículos, a maior parte do melhor hardware que
tinham já está perdido ou nas mãos das FAN. Sim: eles ainda têm reservas
enormes, mas de equipamento antigo e sem manutenção, em estado de deterioração
terrível. Quanto à mão de obra, a Junta tem claramente mais e mais dificuldades
em encontrar homens suficientes para compensar suas perdas enormes.
Basta
perguntar a si mesmo uma pergunta básica: “se você fosse Ukie, mesmo que
fosse nacionalista, você quereria unir-se às FJR para combater contra as FAN?
Ah, sim, a OTAN prometeu US$ 15 milhões. O que os Ukies comprariam? O
quê? Talvez 10 T-72 ou 3 T-80 antigos e usados? É piada.
Mas mesmo que
os EUA ofereçam US$ 150 milhões em ajuda secreta, não afetará o
(des)equilíbrio, imagine se o fará inverter completamente o eixo. Quanto às
FAN, vão bem e, provavelmente, melhorará, com mais homens e equipamentos
moderno, passados pelo Voentorg, mas não pode forçar demais o próprio
jogo. Como disse um comandante das FAN: “até agora temos sido libertadores; não
queremos virar ocupantes”.
A regra é
simples: quanto mais a oeste as FAN entrarem, menos apoio encontrarão e mais
estarão expostas a alguma guerra de guerrilha liderada por alguma insurreição
local. Estratégia muito mais inteligente é sentar e esperar; e assistir aos Ukies
enfrentarem guerrilheiros e combaterem entre eles mesmos.
P: Por que
você acha que vai acontecer?
R: Porque,
não importa o que aconteça, a verdade ainda é a mesma: a Ucrânia sempre foi um
país artificial. No Banderastão é ainda pior. Não há poder real. A própria
Junta de Kiev é muito mais “meio”, que poder. O país está economicamente morto,
morto, morto. A crise econômica está ainda nos estágios muito iniciais; de
agora em diante só vai piorar. Socialmente, as pessoas estão cada vez mais
loucas, desiludidas, sentindo-se enganadas e, ao mesmo tempo, cada vez com
menos medo de falar. Os nazistas são de longe o grupo mais unido e mais bem
armado no país, com exceção de um muito teórico grupo “militar ucraniano”, que,
pelo menos até agora, não tem líder e, portanto, não está unido (talvez isso
mude no futuro? Talvez). Basicamente, qualquer pessoa que tenha conseguido nota
B em Ciências Sociais saberá prever que os Ukies agora se vão voltar uns
na direção dos outros, só por palavras e ideias... Ah, se Deus quiser! Mas a
violência é mais provável. Para as FAN é muito melhor esperar até Zaporozhie,
Dnepropetrovsk, Carcóvia, ou mesmo Odessa, convertam-se em cidades sem lei que
ninguém realmente controla; muito mais interessante e promissor do que tentar
conquistar as cidades agora. Há até uma possibilidade real de que as FAN venham
a ser vistas como forças de libertação nessas cidades, se o caos não alcançar
nível “Mad Max” (trailer a
seguir):
P: E se a
OTAN enviar forças para reforçar a Junta?
R: [risos,
risos muitos] Primeiro, aconselho vivamente os anglo-sionistas “nossos
parceiros” (como dizem na Rússia), a informar-se com seus colegas alemães,
franceses e poloneses, sobre as lembranças que eles têm do tempo em que
estiveram no comando da Ucrânia. Em segundo lugar, gostaria de lembrar aos
nossos parceiros anglo-sionistas, que a sua mudança deles para o Iraque e Afeganistão
era para ser uma lua-de-mel que se autopagaria. Em terceiro lugar, também
gostaria de sugerir a eles que, se eles não gostaram de Maliki, pode acontecer
de não gostarem também de Yarosh.
Claro que
enviarem uma força simbólica para umas poucas manobras, com o que restou dos
exércitos Ukie é boa ideia. Chama-se “mostrar a bandeira”. Mas tentar
algo significativo com forças militares da OTAN no interior da Ucrânia seria
ação muito, muito perigosa – e mesmo que a Rússia não faça absolutamente nada
para piorar as coisas.
P: E sobre a
União Europeia?
R: Acho que a
União Europeia perdeu a força de vontade (não que algum dia tenha tido muita!).
O papel ridículo de Hollande, já causou estrago que chegue. Agora, já se sabe
que não passou de “opinião individual” sem nenhum significado legal. Claro que o
jardim-de-infância da UE (Polônia, Lituânia, etc.) vai continuar a ser o que é,
jardim de infância. Mas agora também os adultos (Alemanha, França, etc.) estão
dando sinais de estarem fartos. Não espero que deem volta de 180 graus da noite
para o dia. Espero, no máximo, que parem de fazer tantas bobagens. O “mau
comportamento” da UE pode resultar em redução no papel dela, com aumento no
papel da Organização de Coordenação e Segurança da Europa (OSCE).
P: E o Tio
Sam?
R: Está
totalmente preso em seu único modo: exigências, ameaças, condenação,
exigências, ameaças, condenação, etc. Normalmente, “agressão” é parte desse
mantra, exceto que, agora, nem os EUA nem a OTAN têm os meios mínimos
indispensáveis para atacar militarmente a Rússia. Quanto ao “Estado profundo”,
o estado anglo-sionista, continuará a tentar subverter e economicamente
paralisar a Rússia. Mas, enquanto Putin estiver no Kremlin, não vejo como essa
estratégia teria sucesso.
P: Parece que
você é otimista.
R: Se
parece... Talvez sim, mas só muito, muito cautelosamente otimista. Não vejo um
grande drama, muito menos um desastre, no que acabou de acontecer. Entendo que
a Rússia tem todas as boas cartas neste jogo, e não vejo nenhum perigo para o
povo da Novorússia. Para os que gostariam de subir num tanque e rumar
diretamente para a Praça Maidan, só digo que, embora eu partilhe muitas de suas
esperanças e sonhos, política é a arte do possível; e que política esperta
muitas vezes é lenta, demorada. O maximalismo é bom para adolescentes, não para
Chefes de Estado, cuja decisão afeta a vida de milhões de pessoas. Por tudo isso,
minha conclusão temporária e provisória é a seguinte: até agora, vai tudo bem;
as coisas estão melhores do que pareciam estar há apenas dois meses, e não vejo
nenhuma razão para esperar qualquer grande reversão no futuro previsível.
P: O que você
considera que seja o maior perigo para Novorússia agora?
R: A luta
política interna. Não sei se seria possível agora, mas gostaria de ver surgir
um líder novorusso indiscutível, que tivesse apoio oficial e pleno de Strelkov,
Zakharchenko, Borodai, Mozgovoi, Kononov, Khodakovski, Tsarev, Bolotov, Gubarev
e todos os outros líderes políticos e militares. Teria de ser líder
verdadeiramente novorusso, não apenas um “procônsul de Putin”. Alguém capaz de
negociar com Putin, em nome dos interesses do povo de Novorússia. Não quero
sugerir aqui que essas negociações não possam ser amigáveis, mesmo porque não
pode haver Novorússia contra a Rússia. Mas esse líder precisa representar os
interesses do povo novorusso, e não do povo russo, cujos interesses o próprio
Putin representa (muito bem).
Igor Strelkov |
A principal
razão pela qual Putin, neste momento, tem tanto poder na Novorússia é que ainda
não há liderança política novorussa real. Há uma liderança militar novorussa, e
mesmo esses têm de fazer, provavelmente, mais ou menos, o que os militares
russos lhes digam que façam. Longe de ser enfraquecida pelo surgimento de um
líder verdadeiramente independente e verdadeiramente novorusso, acho que a
aliança Rússia-Novorússia seria grandemente fortalecida. A Novorússia não deve
e não pode deixar-se microgovernar pelo Kremlin.
Em outras
palavras, o que espero é que surja um “Hassan Nasrallah novorusso” – que seria
aliado leal e fiel de Putin, mas aliado soberano e independente (como Nasrallah
é, do aiatolá Ali Khamenei), mas não um poodle feito Blair, Cameron ou
Hollande.
A Novorússia
precisa de um porta-voz e negociador que tenha mandato para realmente falar em
nome do povo de Novorússia. Até que isso aconteça, estarei sempre preocupado
com o futuro do povo da Novorússia.
Por hora é
isso.
Espero que
esse autoquestionário com autorrespostas tenha respondido muitas, se não a
maioria, das perguntas, comentários e e-mails que absolutamente não tive
tempo de responder antes. Faço assim o registro reto dos meus próprios pontos
de vista, tantos dos quais têm sido repetidamente mal expostos, ou por
desonestidade de alguns, ou simplesmente, porque há idiotas muito ativos no
mundo. Se tiver conseguido desencorajar os inimigos de Putin – bom.
Vale o mesmo
para os odiadores-do-Saker :-)) Já disse e repito: não sou “um cara legal”; eu
não presto ((-:
Aproveito
para acrescentar mensagem pessoal: Parem aí, de dizer o que devo fazer, pensar
ou escrever. Este blog é como uma reunião de Alcóolicos Anônimos (AA): “pegue o
que gostar e deixe o resto”. Mas não espere que eu mude, ou que mude minha
opinião, a menos que você demonstre com fatos e boa lógica, que estou errado
(nesse caso, agradeço a oportunidade de corrigir meu erro). Fascistas me
irritam, principalmente os racistas, mas não conseguirão fazer de mim clone
deles.
A todos os
demais, solidários, respeitosos, generosos, educados, inteligentes,
interessantes, engraçados, sofisticados, compassivos, inteligentes, íntegros,
honestos, honrados e de vários outros modos maravilhosos membros da nossa
comunidade, quero expressar aqui a minha gratidão mais sentida e sincera: eu
simples NÃO SEI como poderia ter passado por esses meses terríveis e trágicos,
sem a ajuda, apoio e carinho de vocês.
Felicidades e
meus melhores cumprimentos,
The Saker
Nota dos tradutores
[1]
Sobre Antiufeev, ver redecastorphoto
em: “Ucrânia:
Relatório de Situação (SITREP), 11/7/2014” item (2) (traduzido).
[2] Há uma palavra em russo, difícil de traduzir,
que significa, mais ou menos, “perto/em torno dos círculos do Kremlin” (околокремлевские
круги). Refere-se, basicamente, à base “silenciosa” de poder pró-Putin, que
tem grande influência política, mas não é parte formal da estrutura do governo.
Esses círculos – que são o suplício dos
liberais russos – têm acesso ao Kremlin e apoiam o presidente, mas não integram
formalmente a administração, nem o governo, nem o gabinete do presidente, nem
qualquer outra entidade do estado e, por isso, não podem ser controlados por
ninguém, exceto, claro, pelo serviço secreto federal, FSB. Estou
sentindo que esses círculos, que são furiosamente antinazistas e anti-EUA, já
se organizaram informalmente para criar uma rede de assistência à Novorússia.
Que ninguém jamais subestime o poder e as capacidades desses círculos “em torno
do Kremlin” (ver redecastorphoto
em: “Ucrânia:
Relatório de Situação (SITREP), 11/7/2014” (traduzido).
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