segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MINAS GERAIS QUE EU NÃO CONHECIA

Abelha na labuta

* José Flávio Abelha

Faz poucos dias tive de ir a Belo Horizonte. A viagem é uma daquelas para ser esquecer rapidinho.

Meu avião sairia do Santos Dumont às 11h. Apresentei-me às 9:30h e somente decolamos lá pelas 17h, com desculpas esfarrapadas: o aparelho não havia saído de São Paulo devido ao mau tempo e Confins também estava impraticável.

Informações que obtive depois de muito perguntar. Aguardei comportadamente no saguão, enquanto alguns passageiros, ao verem uma câmera de TV, começaram a protestar e até fizeram um coro contra o governo federal. Não aderi. Não sou pirobológico.

Madri - Aeroporto de Barajas
Lembrei-me de um incidente em Madri/Barajas. Fiquei trancado em um avião durante três horas, sem qualquer aviso e a minha conexão São Paulo/Rio já havia ido para o beleléu. Não estrilei nem culpei o Rei.

Ao meu lado, rigorosamente ao meu lado, uma professora universitária (não interessa o nome da entidade) apertou o cinto e retirou da bolsa um pacote de provas. Pelo amontoado de números, colchetes e mais sinais que desconheço, notei serem provas de matemática. O comandante deu aqueles avisos que ninguém consegue ouvir e rodou o aparelho para a cabeceira da pista. Quando os motores foram acelerados, o celular da vizinha tilintou. Saia justíssima, pensei eu. Qual o quê... A mestra abriu a bolsa e conversou longamente com um pedreiro, acertando o dia do início de uma obra na sua casa e ditou-lhe números de telefones, o fixo e os celulares. Em seguida, nosso avião já decolando, ela desligou o seu aparelhinho e continuou a corrigir as provas.

Na tolerância zero a decolagem seria abortada e a madame retirada do aparelho. E tem muito jornalista pelaí reclamando que os aviões estão atopetados de farofeiros. Tá bom!

Bar da Cida em BH
Cheguei à noite e fui direto para o Bar da Cida, onde é servido o maior e melhor torresmão de Belô. Lá, encontrei-me com amigos aos quais pedi uma análise do que aconteceu com o PT mineiro, que perdeu tudo, ou como disse um jornalista, o senhor Aecinho Cunha tirou do PT a eleição como se toma pirulito de criancinha.

Resolvi os meus assuntos na cidade, agora não mais priápica como disse certa vez um humorista. Não há mais espaço para o seu priapismo arquitetônico.

Já de volta, em Confins, entrei no único quiosque que vende livros onde encontrei um título interessante. Levei o exemplar ao caixa já com R$30 trocados, pois o preço na etiqueta indicava R$29. A moça pediu-me mais R$5 e eu quis saber para quê e ela me informou que o preço do livro era R$35. Discuti mostrando-lhe a etiqueta e ela me mostrando o código de barras. Pedi para chamar o gerente, e ele veio. Pensei comigo o velho axioma que ensinava ter o cliente sempre razão. Ledo engano. O “possível” gerente olhou a situação e me disse que era válido o preço do código, só faltando me dizer que eu havia pregado aquela etiqueta do quiosque, no lugar os ficam as etiquetas com os preços. Não comprei o livro pelo desaforo, pelo desrespeito.

Jonas Bloch
Dirigi-me ao saguão para aguardar o embarque. Ao meu lado ator global Jonas Bloch reclamava da moça do cafezinho pois havia pedido uma xícara de café “pingado”. Com má vontade a moça conferiu o recibo do caixa e resolveu atendê-lo.

Aboletei-me defronte a porta de embarque. Nas poltronas da frente, duas moças tomavam um chopinho, sentadas nas malas de mão com os pés nas poltronas.

Os alto-falantes não se cansavam de avisar que era a última chamada para determinado vôo. E o nosso já estava se atrasando, visto que passageiros estavam sendo chamados e não apareciam e o nosso aparelho sairia em seguida.
Passados uns bons dez minutos as duas moças “descobriram” que estavam sendo chamadas, deixaram as tulipas no chão e correram pelo corredor de embarque.

No tempo em que esperei no salão para o meu embarque, pensei na análise que meus amigos fizeram das eleições recentes e do fracasso do PT.

Para ser honesto, não houve qualquer análise, pois eles também não entenderam a mágica que a referida agremiação política havia feito, entregando todos os principais cargos (eu disse todos) ao PSDB, sendo que, de um possível acordo político com o sacrifício dos candidatos do PT em favor da candidata Dilma, nada se viu em resultados eleitorais.

Barba, Cabelo e Bigode
A candidata Dilma venceria as eleições em Minas, com ou sem o apoio do governador Aecinho Cunha, o que, diga-se, apoio que não aconteceu. No segundo turno, o já eleito senador trabalhou para Zé Serra e, sem Minas, Dilma seria Presidenta da mesma forma. Minas Gerais não foi fiel de balança nenhuma.

Já faz um bom tempo que BH é petista e o Estado caminha no mesmo sentido. Com o tal acordo, o PT entregou, de mão beijada, o comando do Estado de Minas Gerais para o PSDB. De troco, ainda elegeu Itamar Franco, folião de velhos carnavais.

Quem ganhou foi o PSDB que fez, como se diz, barba, cabelo e bigode. O PT perdeu a governança e se o candidato fosse Patrus Ananias, sem o tal acordo, Fernando Pimentel seria Senador. Sobraria a vaga certa de senador para o ex-governador.

Foi esse o rescaldo da minha rápida viagem a Belo Horizonte que me proporcionou passear de ônibus pela Cidade Administrativa, inaugurada às pressas pelo então Governador Aecinho Cunha. Um monte de edifícios desenhados pelo Dr. Oscar, no seu ocaso criativo, plantada num buraco com sintomas galopantes da formação de favelas ao derredor.

Logo da ONG Pernas Abertas
O Brasil tem uma ONG denominada Contas Abertas que diz apurar as contas do governo federal, mas não apura dos três poderes. Do Judiciário passa ao largo e nem se importa com a velha bagunça do Poder Legislativo. As próprias ONG's não têm suas contas abertas, ocasião em que saberíamos de onde eles conseguem dinheiro para se manterem.

Proponho criar-se a ONG Pernas Abertas para apurar o misterioso acordo feito entre o PSDB e o PT em Minas Gerais.


*Mineiro, autor de A MINEIRICE e outros livretes, reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar . Agora, agitante do blog JANELA DO MUNDO 

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