16/1/2011, Al-Manar TV, Beirute – Mohamad Shmaysani- Excerto
Traduzido pelo pelo Coletivo da Vila Vudu
O secretário-geral do Hezbollah Hasan Nasrallah falou à Al-Manar TV sobre os recentes desenvolvimentos no Líbano e para traçar um quadro dos eventos “porque é direito de todos os libaneses saberem, e porque os fatos, em nosso país, sempre podem encobrir esquemas e ardis.”
Secretário-geral do Hezbollah Sayyed Hasan Nasrallah |
Sua Eminência disse que o Hezbollah sempre apoiou o esforço dos sauditas para diluir a crise no Líbano à luz da iminente divulgação de acusações contra membros do Hezbollah, pelo Tribunal Especial para o Líbano. “De fato, barganhamos por aquele esforço, como todos que buscamos o bem-estar para o Líbano” – disse.
O secretário geral do Hezbollah destacou que os sauditas disseram muito claramente que o Tribunal Especial para o Líbano não poderia ser cancelado, porque foi instituído pelo Conselho de Segurança da ONU, com aprovação dos EUA, Reino Unido e França. “Respondemos que entendemos isso. Foi o que eu disse em minha fala da 10ª noite da Ashura.”
Sayyed Nasrallah continuou: “Dissemos que recusaríamos em todos os casos um indiciamento politizado e que nos considerávamos alvo desse indiciamento, apesar de o Líbano ser nosso país e vivermos empenhados em proteger o Líbano. Chegamos à seguinte conclusão: Temos de afastar o Líbano daquele tribunal, mediante três medidas: o governo retira os juízes libaneses que cooperam para o Tribunal Especial da ONU; suspende o financiamento das operações do Tribunal Especial; e cancela o memorando de entendimento entre o Líbano e o Tribunal Especial. Essas três medidas não cancelam o Tribunal Especial, seja qual for a nossa opinião sobre ele.”
Sua Eminência acrescentou que os sauditas aceitaram os três itens.
“Havia atmosfera positiva, mas a doença do rei saudita retardou o processo e as negociações estavam acontecendo por telefone. Há duas semanas, tivemos confirmação de que o rei superara uma intervenção cirúrgica bem-sucedida, que se estava recuperando e queria fazer avançar o esforço para que chegássemos a um acordo. Fomos informados de que o rei mandaria Hariri aos EUA, para que acertasse os detalhes finos do acordo. E Hariri declarou, há vários meses, que o acordo estava montado. Ainda falta confirmação, mas, mesmo como está hoje, é boa notícia. Então Hariri vai aos EUA, participa de alguns encontros, e, sem mais nem menos, convoca os sírios e diz a eles que não pode insistir nesse esforço.”
Sayyed Nasrallah disse que o movimento de Hariri obrigou os ministros da oposição a reunir-se e decidir pela renúncia, para derrubar Hariri mediante uma via constitucional. “É óbvio que os EUA e Israel estavam trabalhando contra o esforço árabe e chantagearam para fazê-lo fracassar, porque tinham em mente que a crise era complexa e, conforme os resultados, nem teriam de interferir de modo decisivo. Mas, quando perceberam que o processo avançava na direção de resultados positivos, rapidamente interferiram, sim, de modo decisivo. Esse é o motivo pelo qual todos os esforços pararam repentinamente.
Não há dúvida alguma de que alguns partidos libaneses trabalharam ativamente contra a iniciativa árabe e opuseram-se ao rei, porque sentiram que o rei trabalhava seriamente para construir o entendimento completo, entre todos.
Nem Hariri nem seu grupo queriam dar andamento ao acordo; fizeram-no por pressão dos sauditas, e eventualmente procuraram os norte-americanos e outros que pudessem pressionar os sauditas e forçá-los a por fim à iniciativa árabe; ou, então, estavam de fato apoiando o rei saudita, mas os EUA opuseram-se àquela iniciativa. Seja como for, sabe-se hoje que não se pode confiar nem em Hariri nem em seu grupo; que Hariri não é confiável para ajudar o Líbano ou conduzir o país para fora do impasse em que está hoje.”
Sua Eminência não listou os termos propostos por Hariri, “mas os libaneses logo descobrirão que, entre aqueles termos, há um, no máximo dois, que consideram o interesse do Líbano; os demais, só consideram os interesses da política e das equipes de segurança de Hariri. Apesar disso, lidamos muito positivamente com aqueles termos.”
Esqueçam os depoimentos das falsas testemunhas (HARIRI CONHECIA SIDDIQ)
Sayyed Nasrallah lembrou a questão das falsas testemunhas ouvidas pelo Tribunal Especial, e como esses depoimentos levaram à prisão arbitrária de quatro generais do alto escalão da segurança; à deterioração dos laços entre Líbano e Síria; e ao agravamento das tensões já fortes naquela atmosfera sectária. “Houve eleições para o Parlamento, e formaram-se governos a partir do que diziam aquelas falsas testemunhas. Por isso exigimos que aquelas falsas testemunhas sejam processadas e julgadas, por desviar e perverter o rumo das investigações.”
Sua Eminência revelou que uma das exigências de Hariri foi que se esquecesse o caso das falsas testemunhas “porque sabem que eles [Hariri e seu grupo] teriam de ser muito agressivos para conseguir que essas testemunhas dissessem a verdade, inclusive o nome de quem as inventou e mandou ao Tribunal para deporem.
Sábado, a rede de televisão Al-Jadeed divulgou uma fita de áudio gravada de encontro acontecido fora do Líbano, do qual participaram o primeiro-ministro Saad Hariri; o coronel Wissam Hasan chefe do serviço de informações; Gerhard Lehmann, deputado que comanda as investigações do assassinato de Rafiq Hariri; e as principais testemunhas falsas do caso Mohamad Zuheir Siddiq.
No domingo pela manhã, Hariri admitiu que o encontro acontecera, mas no quadro das tentativas para convencer Siddiq a vir ao Líbano. A declaração de Hariri não ajuda a esclarecer por que Siddiq falava em tom de superioridade arrogante ao próprio Hariri e ao coronel Hasan, nem explica por que Siddiq conhecia o número de telefone privado de Hariri (na gravação, Siddiq reclama várias vezes de o chefe do Movimento “Futuro” e filho do mártir Hariri não responder seus telefonemas e mensagens em várias ocasiões).
“O telefonema em que lhe contei que mandariam 20 pessoas. O telefonema em que lhe disse que as explosões iam começar. Não acertei? Você está vendo explodir. Telefonei também anteontem. Esqueceu? Não ouviu o recado? Você não respondeu. Chamei outra vez. Nada. Pensei que já estivesse dormindo e me telefonaria na manhã seguinte. [Telefonei para] contar que havia uma bomba indo para a LBC [Lebanon Broadcasting TV, rede privada de televisão]. Acabou ficando para maio [Chidiac]. Maio foi desperdiçado” – diz Siddic a Hariri, naquela conversa gravada.
Durante quatro anos, Hariri e seu bloco negaram a existência das testemunhas falsas; primeiro, foram falsas acusações contra a Síria, quatro altos generais da segurança foram arbitrariamente presos, e o país por pouco não foi arrastado para uma guerra civil. Hariri, depois de cinco anos, reconheceu a existência das testemunhas falsas e retirou as acusações contra a Síria. Agora, acusará o Hezbollah.
Sayyed Nasrallah criticou os membros do Movimento Futuro por terem dito, primeiro, que a gravação havia sido forjada. Depois, o próprio Hariri admitiu que a reunião acontecera. “Fui informado de que a TV Futuro (de Hariri) publicará toda a gravação. Isso levanta algumas questões. Se é documento confidencial do Tribunal da ONU, como chegou às mãos do grupo de Hariri? Se é documento confidencial, como saiu do Tribunal da ONU?”
Acrescentou que o governo de Hariri foi incapaz de encaminhar o caso das testemunhas falsas ao Conselho de Justiça, incapaz de enfrentar as repercussões das acusações falsas e quer continuar a financiar um Tribunal do Conselho de Segurança da ONU que conspira, hoje, no Líbano. “O governo Hariri pôs-se em posição difícil, sobretudo se o Tribunal pedir a prisão de cidadãos libaneses; não é governo em que se possa confiar, o que se confirmou quando aquele governo desvirtuou os esforços de sauditas e sírios para o entendimento.”
A OPOSIÇÃO NÃO INDICARÁ HARIRI
Sayyed Nasrallah disse que o juiz Daniel Bellemare da Procuradoria do Tribunal do Conselho de Segurança da ONU para o Líbano informou ao presidente Michel Sleiman e a Hariri que a acusação formal será divulgada na 3ª-feira. “Não é curiosa coincidência que a acusação, se for divulgada na 3ª-feira, aconteça no mesmo dia em que se iniciarão as consultas oficiais ao Parlamento, para formar um novo primeiro-ministro?”
Sua Eminência o secretário-geral Nasrallah destacou que a renúncia dos ministros da oposição foi absolutamente legal e constitucional. “O mundo foi mobilizado para condenar nosso movimento, presidentes e secretários de Estado disseram que querem Hariri de volta ao posto de primeiro-ministro. E a embaixadora dos EUA no Líbano, Maura Connelly, visitou deputados libaneses para conhecer a posição deles e o nome preferido para ser o próximo primeiro-ministro. Essas ameaças não nos intimidam, porque fizemos o que tivemos de fazer, baseados em nossa consciência e em nossas convicções, e na defesa do que entendemos que seja o interesse do Líbano. Evidentemente, a oposição não indicará Hariri para a tarefa de formar novo governo, durante as consultas.”
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