Laerte Braga
Eu tenho a sensação que quando William Bonner acorda deve fazê-lo imaginando que um coro celestial desceu dos céus para despertá-lo e a partir daí dar início à missão diária de iluminar o mundo.
Deve ir ao twitter e colocar a clássica pergunta, ansiosamente desejada pelos mortais comuns, “quem quer bom dia?” Acredita, lógico, que isso soa como bênção de um papa aos fiéis na Praça de São Pedro. No caso, chega via computador e telinhas.
Marcelo Rossi, Fábio Melo, Edir Macedo, o cara que escapou dos tubarões e hoje cura AIDS, todas as doenças existentes ou que virão a existir por mandato divino, nada disso se compara a Bonner na pista do aeroporto de Congonhas –devidamente vacinado para não morder a equipe – esbravejando em tom patético e dramático, que faltam ranhuras na pista.
As entrevistas com os candidatos Dilma Roussef, Marina da Silva e José Arruda Serra, além da que vai ao ar hoje, quinta-feira, 12, com Plínio de Arruda Sampaio são pauta do show.
No Brasil, o principal oráculo do deus mercado é a GLOBO e Bonner é quem dá a sentença. Fátima Bernardes é como uma assistente de mágico de circo, fica segurando o casaco brilhante e ao final estende a mão para sugerir os aplausos.
Bonner tentou de todas as formas colocar a candidata Dilma Roussef contra as cordas. Desqualificar a candidatura Marina da Silva (sem necessidade, a própria candidata se desqualifica) e por pouco não convocou os anjos que o assessoram para ungir a candidatura de José Arruda Serra.
É o supremo sacerdote da comunicação no Brasil.
Pelo que sei, a não ser que haja mudança de última hora, a entrevista de Plínio de Arruda Sampaio não será ao vivo, no estúdio do JORNAL DA MENTIRA, o que chamam de JORNAL NACIONAL, mas gravada em São Paulo, ou no estúdio de São Paulo.
Plínio não tem compromisso que esse culto à rede GLOBO. Pelo contrário.
Nem vai ajoelhar-se ao entrar no PROJAC e rezar o Pai Nosso versão Roberto Marinho.
Como não o fariam Ivan Pinheiro e José Maria, respectivamente candidatos do PCB e do PSTU ignorados pela corte celestial global (até rimou).
Nas três entrevistas – Dilma, Marina e Arruda Serra – faltou a orquestra. É possível que no debate entre os candidatos um desses homens foguete venha direto de Washington e suba em direção aos céus para desfraldar uma faixa, “nós podemos mais”.
Quem? A GLOBO, ou o marionete tucano que atende pelo nome de José Arruda Serra?
Desde a aprovação da lei Adauto Lúcio Cardoso, em 1958 e até 1974, quando a ditadura introduziu o modelo santinho, candidato mudo, o debate se dava nos horários reservados aos partidos e ao vivo.
Da drástica mudança feita pelo general Geisel e a perspectiva de derrota avassaladora em 1978 para a ditadura (como aconteceu em 1974) chegamos ao ápice no estilo show das eleições, espetáculo das eleições.
Quem tira mancha melhor.
Vai chegar um dia que o voto vai ser dispensado. Vão fazer uma edição especial do programa de Fausto Silva, formar um júri, sortear provas especiais para os candidatos, tipo dança com um trabalhador, dança com um camponês, plantar uma árvore, coisas assim e o júri, ungido pelo sacerdote supremo decidir qual dos candidatos é o mais apto para o exercício da presidência da República.
A forma como a GLOBO, a grande mídia no seu todo, conduz o noticiário do processo eleitoral tem esse formato, esse feitio, de espetáculo e com o objetivo de atender aos interesses dos patrocinadores.
José Arruda Serra é apenas o marionete escolhido para representar esses interesses. Dão corda antes e colocam para dormir ao fim do dia. Dizem que ele não dorme, deve ser por isso, marionete, não é de carne e osso, foi montado pelos cenógrafos da GLOBO para atender aos interesses de bancos, latifundiários, grandes empresários e Washington.
Neste final de semana tudo indica que o INSTITUTO DATA FOLHA deve divulgar pesquisa montada em laboratórios desse paraíso – cheio de comerciais de desinfetantes mais inteligentes que você – tentando equilibrar o estrago feito pelas outras pesquisas que mostram o vampiro paulista em processo acelerado de anemia eleitoral, votos.
Tentar dar fôlego, gás e esperar os esquemas de todas as eleições, onde o show substitui o debate democrático, a participação popular, resumir tudo à dança com famosos e ao trambique do Criança Esperança (aliás, deve ser maldição, o São Paulo Futebol Clube jogou o primeiro jogo com o Internacional, semi-final da Libertadores com a camisa Criança Esperança e foi para o beleléu).
Nessa história não é só o São Paulo que dançou não, as crianças dançam também, o Brasil então...
Tem espetáculo sim, com direito a mágicas de Bonner e sua corte de anjos. Pelo menos até outubro, na tentativa de exorcizar essa mania de brasileiros de sonhar um País livre, soberano, justo, vale dizer, sem o show global.
Senhores proprietários de companhias aéreas, por favor, não deixem seus aviões caírem antes das eleições. Podem atrapalhar as manobras da GLOBO para transformar o esquema FIESP/DASLU em grande sonegação nacional através de José Arruda Serra.
O menino de ouro da GLOBO.
José Arruda Serra o criador de tudo. Lembra um amigo dono de um antigo armarinho no interior de Minas. Quando o freguês pedia um produto que não tinha estoque, respondia assim – “não se preocupe, o que não tem está chegando”.
No duro mesmo é aquele mail cretino que circula na internet sobre senadores que mortos, têm o direito de escolher entre o céu e o inferno. A propaganda do capeta é de tal ordem que escolhem o inferno. Quando chegam, de mala e cuia, só encontram um deserto pleno e absoluto. Não adiantou a reclamação. O Bonner de lá avisa, “ontem era campanha eleitoral”.
O programa de Arruda Serra é isso aí, a prática é outra.