Histórias de Romanos - Na Colômbia de hoje
Juan Manuel Santos – ministro da defesa de Álvaro Uribe – toma hoje posse como presidente da Colômbia, tendo sido destacados para garantirem a segurança 400.000 homens! Os últimos tentos mostraram algumas divergências entre o presidente cessante e o presidente eleito. A justificação para o confronto dos últimos dias entre o presidente cessante e o presidente eleito terá de ser encontrada na necessidade da oligarquia colombiana e do imperialismo se descartarem do narcotraficante Álvaro Uribe. Chegará essa necessidade de legitimação do regime colombiano ao ponto de os Estados Unidos pedirem a extradição de Álvaro Uribe, desde Setembro de 1991 identificado pelo FBI como membro do cartel de Medelin? (
www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB131/dia910923.pdf (ver entrada 82)
Há umas quantas semanas citei nesta coluna a queixa sincera e sábia de um imperador romano da decadência:
- O mal é que ninguém pode assassinar o seu sucessor.
O antecessor pode, claro. A maioria dos imperadores romanos chegaram à púrpura através desse método, que era uso completar-se com o envenenamento da família do ocioso e a decapitação das suas estátuas, para colocar nelas a cabeça do novo imperador. Era uma forma drástica do que em termos políticos colombianos se chama «usar o espelho retrovisor».
Mas matar o sucessor é, por definição, impossível. Nota-se que o presidente Uribe não é muito versado em história nem tampouco iluminadopelo simples senso comum, porque é precisamente isso o que está a tentar fazer nestes últimos dias do seu reinado: assassinar o presidente eleito, Juan Manuel Santos, que está prestes a tornar-se o seu sucessor. E também, em boa medida, no seu assassino: a história de Roma ensina-nos também que muitas vezes o sucessor que assassinava o seu antecessor tinha sido não só designado por ele, mas inclusive adoptado como seu filho. O poder é cruel.
Primeiro, sobre Uribe.
Quando escrevo estas linhas acaba de passar o episódio das revelações sobre a presença de chefes das FARC em território da Venezuela, feitas pelo governo de Uribe no momento melhor escolhido para sabotar as tentativas do novo presidente Juan Manuel Santos de normalizar as suas relações com o governo de Hugo Chávez. Juan Manuel Santos chegou ao ponto de convidar Chávez para a sua posse e, ainda mais desafiante contra o seu antigo chefe Uribe, de explicar sensatamente que quando os dirigentes se guerreiam quem sofre são os povos. E Chávez, por seu lado, tinha aceite o convite para o diálogo «sempre e quando se respeite a Venezuela», e agravado o insulto dizendo que a Santos sim, estava disposto a apertar-lhe a mão. O mesmo disse o presidente Correa do Equador. Já Maria Ángela Holguín, a chanceler designada por Juan Manuel Santos, anunciou a intenção do novo governo de «aclarar diferenças» com o presidente equatoriano sobre o caso do bombardeamento do acampamento das FARC no outro lado da fronteira. E de imediato saltou o ainda presidente Uribe a exigir «uma dura reacção» em defesa do general Freddy Padilla no mesmo bombardeamento. E quanto ao anúncio feito pelo novo ministro da agricultura de Santos, Juan Camilo Restrepo, sobre a revisão dos atropelos cometidos no programa estrela de Uribito, Agro Ingreso Seguro (AIS), o ainda presidente respondeu que havia que defender o programa «como uns leões».
E um pouco para além das suas palavras: os seus últimos dias de governo está Uribe a dedicá-los a raspar até ao fundo a panela das finanças públicas, deixando comprometidos por 20 anos as despesas da Nação e garantindo para muitos mais os encargos tributários da sua «confiança investidora», um dos seus «três ovitos». Assinou o do metro, o do comboio da periferia, entregou as minas de ouro, e nem sequer se privou de nomear novos embaixadores (mesmo que estejam à beira de investigações judiciais). Quis deixar tudo «armadilhado e bem armadilhado», como já na agonia fez o ditador de Espanha Francisco Franco, com os resultados que todos conhecemos.
Agora, sobre Juan Manuel Santos. O que parece, com efeito, decidido a partir os ovos a Uribe.
Em primeiro lugar, as nomeações. É uma bofetada a Uribe nomear para a chancelaria a única – a única – funcionária do seu governo que teve a dignidade de lhe apresentar a renúncia porque discordava da sua utilização clientelista da burocracia. Como é outra bofetada nomear para o Ministério da Agricultura, um crítico declarado das suas políticas agrárias (e econômicas em geral). Em segundo lugar, pela intenção declarada de propiciar a reconciliação entre o Executivo e o Poder Judicial (incluindo a intenção de nomear um novo trunfo para o cargo de Procurador). E em terceiro lugar, pelo ensurdecedor silêncio de Juan Manuel Santos em relação aos problemas judiciais que enfrentamvários dos mais próximos colaboradores de Uribe: o ex-ministro de Governo, Pretelt, o da Protecção Social, Palacio e os diversos conselheiros enredados nas ‘broncas? Do DAS.
Estas coisas, no tempo dos romanos, costumavam terminar com o imperador deposto a nadar num mar de sangue e o seu proclamado sucessor cingindo a coroa com um diadema de louro para ocultar a incipiente calvice. Mas numa coisa o presidente eleito Juan Manuel santos está d acordo com o já quase ex-presidnete Uribe: que este país não é um império, mas uma colónia do Império. Assim, o mais provável é que a coisa se resolva com a extradição de Uribe para os Estados Unidos.
* António Caballero, jornalista colombiano, colaborador habitual da revista Semana.
Este texto foi publicado na revista colombiana Semana de 17 de Julho de 2010 (www.semana.com/noticias-opinion/historias-romanos/141838.aspx)
Tradução de José Paulo Gascão
extraído d'ODiário.info