Enviada em 8 de agosto de 2010
Mais uma vez, a imprensa volta a falar (besteira) na pesquisa rodoviária da CNT (Confederação Nacional dos Transportes) para fazer uma afirmação completamente oposta ao que mostram os resultados da pesquisa 2009.
Leiam o que diz o jornal O Globo, em matéria cujo título é “Rodovias - estudos confirmam críticas / Dados de CNT e IPEA mostram estradas federais em péssimo estado. País também vai mal em portos e aeroportos”. Vejam se não tenho razão!
Já publiquei análises aqui neste T1 mostrando que nenhum desses juízos são sustentados em fatos (clique aqui, aqui e aqui). Além do mais, demonstramos que os estudos do IPEA são tecnicamente mal fundamentados, já que se baseiam em matérias de jornais e revistas, sem ter consultado qualquer estudo sério como o Plano Nacional de Logística e Transportes - PNLT, do MInistério dos Transportes.
1. Um argumento geral que desmonta o juizo de que “tudo vai mal”
A partir de 2002, a corrente de comércio exterior quase triplicou, passando de cerca de US$ 100 bilhões em 2002 para cerca de US$ 280 bilhões em 2007. A quantidade de contêineres (cargas de maior valor agregado) aumentou 2,5 vezes, passando de cerca de dois milhões, em 2002, para cerca de cinco milhões, em 2007.
Essas cargas chegaram aos portos, em grande parte, através de caminhões e trens. Se houve esse crescimento, em apenas cinco anos, significa que as exportações e importações fluíram e tinham custos logísticos adequados para se tornarem competitivos e atraentes, ainda que possam ser menores, no futuro.
2. Pesquisa rodoviária da CNT
A pesquisa, realizada em 2009 e divulgada em 28/10/09, mostra o seguinte quadro, em relação aos 87.552 quilômetros avaliados:
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Pavimentação (págs. 32 a 35, do Relatório Gerencial):
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• 94,3% não apresentam buracos (87,1% em 2007);
• A condição do pavimento não obriga a redução de velocidade em 95,3% da malha (86,4% em 2007);
• 83,3% dos pavimentos dos acostamentos estão em boas condições (73,2% em 2007);
• Em 2007, 94,4% dos pavimentos não apresentavam pontos críticos. Em 2009, não foi feita essa avaliação.
Obs.: A CNT não fez a pesquisa em 2008, daí compararmos com 2007
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Sinalização (págs. 36 a 44):
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• Pinturas das faixas centrais com boa visibilidade: 75,4%
• Pinturas das faixas laterais com boa visibilidade: 64,3%
• Placas existentes de sinalização de limites de velocidade: 70,2%
• Placas existentes de indicação: 68,5%
• Visibilidade das placas: 73,4%
• Legibilidade total das placas: 64,8%
Considerando apenas os números relativos à pavimentação e à sinalização, a pesquisa CNT 2009 mostra que a malha rodoviária nacional (federal e estaduais, concedidas e com operação estatal) melhorou muito nos últimos anos.
Graças aos elevados investimentos realizados pelo governo federal, pelas concessionárias e pelos governos estaduais, via recursos próprios e via repasses da CIDE, pelo governo federal.
A pergunta que fica no ar é: porque ninguém lê a pesquisa da CNT 2009, já que dou o número das páginas do Relatório Gerencial, que mostra o oposto do que se afirma há muitos anos?
Aos repórteres do Globo Geralda Doca e Gustavo Paul recomendo a leitura da pesquisa rodoviária CNT 2009 e, proximamente, a de 2010, que mostrará lá dentro (não no release) que o quadro é muito bom, o que explica o crescimento acelerado da economia.
Ou alguém pode acreditar que a economia estaria crescendo nos patamares em que está sem uma infraestrutura logística adequada?
Numa próxima análise, falaremos sobre os graves erros da mesma matéria sobre o sistema portuário.
Porque os repórteres ficam repetindo o que dizem entidades, sem checar as informações que sustentam os falsos juízos?
José Augusto Valente - Diretor Técnico do T1
extraído do T1