Raul Longo |
Raul Longo
Muitos “analistas!”, “observadores” e palpiteiros em geral, ainda não aprenderam ou não atinaram por onde pensar. Alguns com o fígado, outros pelas orelhas, expressam-se por línguas e dedos como se falassem com os cotovelos, esse despreocupado apoio que só se da conta de si quando sente aquela sensação de choque.
Há interesses dos mais diversos, é verdade, mas também se percebe que muitos só querem vomitar preconceitos inconfessos a si mesmos, como se denotou em Caetano Veloso por ocasião daquelas ridículas comparações entre os falares dos Silva, a Marina e o Lula. Mero palavrório para esconder o que realmente enfeza e, assim, nunca acertando o buraco correto, à céu aberto vão vazando e escorrendo pelas telas de TV, páginas de revistas e jornais e, outras vezes (ou fezes) invadem até nossos monitores por mais que tentemos higienizá-los com bloqueios e programas anti spam.
Num país onde desde a ditadura Vargas a opinião pública é formada por meias informações quando não por informação alguma ou meras ilações e mentiras, sempre há alguém a falar merda. Seja um idiota completo, por mau caráter assumido ou até notável em certos misteres como é o caso do Caetano Veloso que, em belíssimos versos, compôs alguns dos mais profícuos achados do pensamento já produzidos no Brasil, mas quando se põem a pensar com seu inchado umbigo baiano, é um Oxossi que nos acuda!
Essa é a atrabílis em que Caetano novamente tropeça no comentário publicado pelo O Globo, abaixo reproduzido, onde expõe por inteiro a informação sobre a dotação da Lei Rouanet à sua irmã Maria Bethânia, que tanto indignou palpiteiros de esquerda e direita a pensar com as orelhas emprenhadas pelas meias ou nenhuma verdade do Ricardo Noblat. Apesar da boa intenção, o cantor e compositor de rádio, TV, teatro e cinema acaba se esborrachando na ridícula caitituagem que tentou disfarçar num parêntese (não é todo cantor de rádio que escreve um “Verdade tropical”).
Um “Verdade Tropical”! Seria assim como um “Memórias Póstumas de Brás Cubas”? Ou apenas mais uma biografia como “O Mago” de Fernando Morais? Sem nenhum demérito ao excelente biógrafo, mas mesmo convencionando que nem o personagem de Machado de Assis era real, nem Paulo Coelho é um Caetano Veloso autobiografado, ainda assim resta a dúvida se na cosmogonia de Garcia Marques caberia ao próprio assumir-se autor de “um Cem Anos de Solidão”? Ou se Miguel de Cervantes se referiria à própria obra como “um O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha”?
Enfim, o universo de cada um sempre se limita às fictícias e reais considerações sobre si próprio, mas tudo isso apenas por uma tardia revanche ao Tognolli quando se referiu à “máfia do dendê”, ao escrever a biografia do Lobão? Isso está mais para o remoer de moinhos do que para o gigantismo do cavaleiro que fez muito melhor figura do que a grosseira estampa de vaidade que se expõe em tão hilária arrogância.
Compreensíveis as rusguinhas dos tempos em que Caetano defendia os direitos autorais pagos pelas gravadoras e Lobão assumia-se como pirata vingador, mas hoje, já reconciliado com a indústria fonográfica e a grande mídia, Lobão também confirma a previsão dos irmãos Borges cantada por Milton Nascimento e, esquecido do tudo que queria ser, já não fala mais da bota e do anel de Zapata. Tanto quanto o Caetano também sai por aí a depor contra o mesmo Lula de quem, tempos atrás, ambos se declaravam simpatizantes.
Capaz até de Lobão ser ainda mais assíduo na crítica e não só para atender permutas de divulgação negociadas com a mídia, mas inclusive por não sofrer a mesma censura materna do filho de Dona Canô, a centenária lulista de Santo Amaro da Purificação que, há 4 anos atrás, encontrei na amarga “putrificação” em que Caetano a nomeou lá nos primórdios de sua carreira. Uma cidade em ruínas, ressalvando-se o velho casarão “onde o Imperador fez xixi”, restaurado pelo então Ministro Gilberto Gil como Museu do Samba de Roda.
Ministério que, apesar de gerido pelo parceiro baiano, tanto incomodou Caetano e outros históricos humanistas e socialistas das artes brasileiras por privilegiar mais a cultura popular, através do programa Pontos de Cultura, do que aos velhos medalhões das expressões artísticas que tanto mamaram nas manifestações da cultura popular, sem nunca retribuírem com algo.
Até Ronaldo Lindenberg Von Schilgen Cintra Nogueira, o autodefinido como metrossexual Ronnie Von, se beneficiou da apropriação de criações anônimas do Recôncavo Baiano rotuladas pelo genérico Tropicalismo. Poucos se lembram, mas se deu quando só “Pra Chatear” o patrulhamento ideológico dos anos 60, Caetano entregou aos cuidados do então “Pequeno Príncipe” da Jovem Guarda, a gravação de uma adaptação de origem tão omitida quanto a real autoria da versão do “El Condor Passa” de Simon & Garfunkel, feita por um certo Señor José, do altiplano andino, já não recordo se da Bolívia ou Peru.
Percalços antigos que já vêm desde os tempos em que Chico Viola e outros roubavam sambas do Cartola a troco de cachaça, mas tirante os surtos e excessos de caetania, o texto publicado pelo O Globo, e a mim enviado por uma amiga que o colheu do Blog do Murilo, pode ajudar àqueles que têm deitado falação pelo pensar com as orelhas ardendo pelas meias informações do Noblat.
Se houvesse alguma editoria nos veículos da Rede Globo, Noblat teria de se retratar por suas especulações. Mas isso de especular continua sendo prática tão permanente que se conclui que em sua “evolução” através das décadas pós-ditadura, a imprensa brasileira decididamente aboliu a função e hoje engravida até as trompas da esquerda que se crê o úbere pensante do país.
Se houvesse alguma editoria na imprensa brasileira, Noblat e tantos outros sequer existiriam, mas em existindo o “jornalismo” que aí está, natural que outros órgãos do sistema fisiológico tenham se encarregado de produzir o que ao cérebro se inviabilizou por inanição, falta de alimento. E o alimento para o cérebro desempenhar o raciocínio é a informação que, tirante os delírios ególatras e num esforço para defender a irmã, Caetano nos fornece. Nos serve até entornar de vez a bandeja ao anunciar-se como candidato aos benefícios da Rouanet por ser “um dos criadores que mais contribuem para o crescimento do Brasil”. Lamentável!
Lamentável porque ninguém duvidaria disso, mas como acreditar se açodadamente precipita-se à mesma sarjeta dos pedintes que critica, apesar de mais do que eles já usufruir de todo o apoio da mídia e produtoras nacionais e estrangeiras. Quando vão perceber que mendigar financiamentos para manter as inócuas contestações de uma classe medianamente esclarecida, só serve para dar impressão de manutenção de liberdade de expressão durante tempos ditatoriais?
Querem liberdade de expressão exclusiva aos seletos? Pedem pão a quem come, mas querem circo somente para os que cantam os que não têm o que comer? Fazem lembrar um certo clássico personagem piromaníaco da Antiguidade.
Apesar desses miados, queremos bem te ver rugindo de verdade, leãozinho. Ao invés de choramingar ilações de medo à Bahia por parte desses que acertadamente desanca em sua exegese à Bethânia, imite o que a irmã propõe e desenvolva sua proposta do uso de verba pública para levar canções e poesias para as escolas de favelas e periferias, para os Pontos de Cultura popular. Aí, sim, como ela agora, fará medo por todos os brasis.
Mas não se queira passar pelo Leão do Norte. Deixe-se de bairrismo bobo que não é esse o caso. Em nada tanto se comprova não ser esse o caso, que esse seu papo que já tá qualquer coisa, conseguiu espaço no mesmo O Globo do Noblat. Por aí se vê que sem precisar por a mão no bolso, com toda sua baianidade e decantado amor a terrinha natal, já teria garantido o apoio da Fundação Roberto Marinho para facilmente se patrocinar o restauro de um casarão de Santo Amaro da Purificação por mês.
Tudo ali vizinho de Dona Canô. Na mesma rua e praça!
Portanto, deixe de manha! Deixe de manha que esse papo aranha já não mais arranha.
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