Telegrama 03 TOKYO 001592 in Telegraph , UK
Dica de Greg Mitchell, “WikiLeaks, dia 108º”, 15/3/2011, The Nation
Tradução e comentário do pessoal da Vila Vudu
Tradução e comentário do pessoal da Vila Vudu
Antes de que os “eco-éticos” “limpinhos” ponham-se a repetir o bobajol liberal-ecolô contra o átomo-em-si, e eles, sempre, parece, a favor da fome-em-si – porque o mundo do século 21 precisa da energia atômica para alimentar os bilhões de pobres que o capitalismo-de-desastre gerou –, lembro que a questão nunca é o átomo-em-si, nem a energia-atômica-em-si. A questão, sobretudo, NÃO É nos pormos todos a defender algum projeto liberal-edênico de um mundo “natural” à moda de algum bon sauvage saradão e “saudável” e “ético”.
A questão sempre é buscar DEMOCRACIA cada vez mais radicalizada.
No que tenha a ver com o átomo, trata-se de conseguir fazer GESTÃO DEMOCRÁTICA radicalizada TAMBÉM DO ÁTOMO-EM-SI, para dar comida aos pobres, que hoje são milhões no mundo.
O mesmo argumento vale, é claro, para defender o novo Código Florestal no Brasil e a indispensável barragem de Belo Monte: em todos esses casos, trata-se de construir meios democráticos, em democracia radicalizada, para fazer a gestão democrática radicalizada de recursos indispensáveis e escassíssimos. Nem estou dizendo que esses recursos sejam “éticos” ou “bons” ou “transparentes” ou, no geral, que sejam “limpinhos”. É possível que esses recursos sejam meio sujinhos, porque tudo que é vivo é meio sujinho. Limpinho mesmo, mesmo, só o mundo e os seres da mediocridade abissal das donas-danuzas, das “senhoras-de-santana” e da Opus Dei e de alguns petistas.
Só estou dizendo que, dado o número ASTRONÔMICO de pobres que o capital gerou e estão aí, no século 21, como recurso-potência para salvar toda a vida no século 21 e que têm de ser alimentados e abrigados e letrados e cuidados e tuuudo, a energia atômica é via que tem de ser usada.
Para ajudar a empurrar a discussão para fora do projeto “liberal-edênico-ecolô” e ajudar a empurrá-lo de volta para o plano das lutas pela democracia radicalizada com comida para os pobres, aí vai notícia publicada por WikiLeaks – e só por WikiLeaks em toda a mídia universal. São dois telegramas, que podem ser lidos em WikiLeaks Files (em inglês).
Alguns excertos de um desses telegramas vão aqui, traduzidos -- só pra mostrar que a discussão “anti-átomo”, como já começou, é TOTAL DELÍRIO, discussão feita só de frases, sem NENHUM dado objetivo sobre o mundo e os fatos.
A distância que separaos “ecolôs-éticos-naturistas” e o mundo é a mesma que separa o núcleo físsil do átomo de urânio e o balanço financeiro da empresa RIKUDEN, construtora proprietária de reatores atômicos que explodem no Japão.
Acordem!
Esse telegrama de WikiLeaks informa que dia 24/3/2008, a corte distrital de justiça do Distrito de Kanazawa ordenou que a Companhia Hokuriku de Energia Elétrica [orig. Hokuriku Electric Power Company (Rikuden)] parasse toda a operação da Unidade 2 de sua Usina Nuclear Shika, por não haver garantias de que a usina suportaria terremotos de alta magnitude. A empresa recorreu da decisão, sob a alegação de que seria ordem de justiça distrital, contra direito assegurado por contrato federal. O processo parou, a usina continuou a operar e, agora, tá lá, toda explodida, começando a matar gente.
A culpa não é do átomo-em-si. A culpa é dos poderes e meios e mecanismos que o projeto neoliberal autoritário assegura às empresas e não assegura aos cidadãos, para fazer cumprir decisões que, afinal, os cidadãos, naquele caso, até conseguiram obter da Justiça.
Com gestão democrática radicalizada também da Justiça, a usina teria sido fechada HÁ TRÊS ANOS. Não foi fechada porque A EMPRESA PRIVADA que administra aquela usina – e CUJO NOME NUNCA APARECEU EM WIKILEAKS, mas JAMAIS apareceu nem na “mídia” nem nos discursos “naturistas” à moda de Ceci&Peri surfando o tsunami colonialista rumo a algum paraíso tropical delirado – não teve de cumprir decisão judicial de justiça LOCAL bem usada (pelos cidadãos) e bem aplicada (por juízes locais). É questão, pois, de tratar de radicalizar a gestão democrática da democracia; diretamente, é caso de radicalizar a administração de justiça radicalmente democratizada. Não é questão de algum átomo-em-si ou de alguma energia atômica, que seria ‘mais segura’ que alguma outra energia.
Energia é energia, é potência. Nenhuma energia é tão “segura” ou “limpinha” quanto sonham os “naturistas”. Afinal de contas, terremotos e tsunamis são “naturais”, né-não? Nem por isso são “seguros”, muito menos são 100% domáveis, seja por teorias dos saberes arrogantes, seja por sonhos românticos dos mesmos saberes arrogantes. “Seguro-à-prova-de-qualquer-risco- e-de-todas-as-dores”, nessa vida, só os paraísos-aí, seja o islâmico seja o do Papa-lá, seja o dos “naturistas ecolô-sonsos”. O problema é a fome, não é nem o átomo nem algum paraíso.
No telegrama publicado por WikiLeaks, lêem-se os detalhes (adiante, traduzidos, o resumo e alguns excertos de um dos telegramas sobre o assunto):
Excertos de item NÃO SIGILOSO do telegrama 03 TOKYO 001592
A íntegra do telegrama não está disponível.
Tradução de trabalho, não oficial, para finalidades didáticas.
[cabeçalho aqui omitido]
ASSUNTO: CORTE JUDICIAL LOCAL ORDENOU, EM 2005, FECHAMENTO DE REATOR NUCLEAR ADMINISTRADO PELA Hokuriku Electric Power Company (Rikuden)
RESUMO. 1. (SBU) Dia 24/5/2005, a Corte Judicial Distrital de Kanazawa ordenou que a empresa Hokuriku Electric Power Company (Rikuden) parasse toda a operação da Unidade Dois de sua Usina Nuclear em Shika, por haver dúvidas quanto à segurança da Usina no caso de terremotos de alta magnitude. A Corte decidiu que havia risco real de que os 125 cidadãos locais autores da ação viessem a ser expostos a radiação, no caso de acidente na usina. A empresa, em recurso que apresentou, declarou que a sentença seria “não-razoável” e que recorreria imediatamente à Corte Superior de Justiça.
Laudo da Agência de Segurança Nuclear e Industrial [ing. Nuclear and Industrial Safety Agency (NISA)] afirma que o reator é seguro e que as análises de segurança são apropriadas. Resultado disso, o Governo do Japão não vê razão pela qual a empresa Rikuden deva fechar a usina. Embora não seja legalmente obrigada a fechar a usina, dado que a sentença é resultado de processo civil, a empresa Rikuden enfentará luta difícil para reconquistar o apoio dos cidadãos locais para operar aquela usina nuclear no quintal daquelas casas. FIM DO SUMÁRIO
Laudo da Agência de Segurança Nuclear e Industrial [ing. Nuclear and Industrial Safety Agency (NISA)] afirma que o reator é seguro e que as análises de segurança são apropriadas. Resultado disso, o Governo do Japão não vê razão pela qual a empresa Rikuden deva fechar a usina. Embora não seja legalmente obrigada a fechar a usina, dado que a sentença é resultado de processo civil, a empresa Rikuden enfentará luta difícil para reconquistar o apoio dos cidadãos locais para operar aquela usina nuclear no quintal daquelas casas. FIM DO SUMÁRIO
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O CASO
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2. (U) Dia 24/3/, a Corte Distrital de Justiça do Distrito de Kanazawa ordenou que a empresa Hokuriku Electric Power Company (Rikuden) suspendesse as operações da UNIDADE 2 de sua Usina Nuclear Shika [orig. Nuclear Power Plant (NPP) Shika], por haver dúvidas quanto à capacidade da usina para resistir a terremotos de alta magnitude. Um grupo de 135 cidadãos residentes em diferentes pontos do país iniciaram processo contra a empresa Rikuden em maio de 2005, depois que a usina começou a operar em situação de teste, sob o argumento de que o projeto antissísmico era insuficiente e que o desenho daquele tipo de reator [ing. advanced boiling water reactor (ABWR)] é inerentemente perigoso. O processo foi iniciado depois de uma primeira tentativa dos cidadãos, para impedir a construção do novo reator. Os cidadãos citam estudo encomendado pela Comissão de Pesquisa sobre Terremotos do Governo do Japão [ing. Earthquake Research Committee], que concluiu que havia 2% de probabilidade de ocorrer terremoto de magnitude 7,6 ou superior, ao longo dos 44 quilômetros da falha de Ochigata, próxima da Usina. A usina foi construída para resistir a terremotos de magnitude 6,5. Os cidadãos reclamam que a Unidade Dois foi construída por padrões sísmicos estabelecidos há mais de 20 anos e, portanto, cria ameaça direta à segurança pública [detalhes da ação e da sentença, em: LOCAL COURT ORDERS SHUTDOWN OF NUCLEAR REACTOR
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RESPOSTA DA EMPRESA Rikuden
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4. (U) O presidente da Rikuden, Isao Nagahara, distribuiu declaração à imprensa, no mesmo dia, no qual classifica como “realmente muito lamentável” a decisão da Corte Distrital de Justiça de Kanazawa, de não reconhecer as condições de segurança da Unidade Dois. Disse também que a sentença “não é razoável” e que a empresa já estava recorrendo a corte superior de justiça. O presidente da Rikuden disse também que o Governo do Japão examina atualmente suas especificações antissísmicas e que, caso sejam modificadas, a empresa cuidará para atualizar correspondentemente as suas instalações. A Unidade Dois passou a operar dia 15/3, depois de obter o alvará para funcionamento pleno assinado pelos inspetores governamentais e, segundo o operador, funciona em plena segurança. Mr. Nagahara concluiu, repetindo que a empresa cumprira todas as demandas de segurança para o reator e que, assim sendo, continuaria a operar normalmente, mesmo depois da sentença da corte distrital [assunto já exposto em TOKYO 00001592 002.2 OF 003].
5. (SBU) An official at the Nuclear and Industrial Safety Agency (NISA) explained to ESToff that the case in question was a civil lawsuit and that the ruling did not require immediate implementation of the order to shut down the reactor. Had the ruling directly questioned the validity of the national regulations themselves through an administrative lawsuit -- as in the case of the earlier Monju litigation -- then Rikuden would have been obliged to shut the reactor down. Given the legal differences, however, the official said that Rikuden could continue operating as is.
6. (U) In its 2005 annual report, Rikuden wrote that it places top priority on the safe and stable operation of the Shika NPP. The operator said it was determined to continuously improve its quality management system through auditing and by taking into consideration the advice of an outside experts' panel on nuclear power safety and quality. Because the operator is convinced its plant is safe, Rikuden has announced it will continue operating Unit Two for the time being.
-- Government Regulators Surprised at Ruling, but not Concerned over Safety --
7. (U) Most of the national dailies ran stories covering the court decision, and speculated that it would send shivers throughout the industry. The Yomiuri quoted NISA's Director-General Kenkichi Hirose as saying "I've never thought that a court would order the cessation of the plant's operation." Other dailies wrote that as a result of the decision, Japan 's Nuclear Safety Commission was scrambling to formulate new anti-seismic design regulations by this summer.
8. (SBU) ESToff called NISA's International Affairs Office Director Michio Hashimoto to obtain further information on the regulator's position on the court ruling. Hashimoto said that NISA believes the reactor is safe and that all safety analyses were appropriately conducted. As a result, NISA saw no reason why Rikuden should shutdown Unit Two.
9. (SBU) EST FSN also called Takuya Itoh, Staff Manager of the Federation of Electric Power Companies' Public Relations Department for the industry group's position on the court ruling. Itoh said that the Federation was taking the decision seriously. The group will continue its efforts to ensure that all of
-- About Shika NPP --
10. (U) The Hokuriku Electric Power Company operates the Shika Nuclear Power Plant, which is located in Shikamachi, Ishikawa Prefecture . It is the power company's sole nuclear facility. Unit Two is an advanced boiling water reactor or ABWR that began limited commercial operations on March 15, 2006. The unit was built at a cost of 375 billion yen (USD 3.2 billion). Its projected output is 1,358MW.
-- Comment --
11. (SBU) The suit against Rikuden claiming the Shika NPP is unsafe due to seismic concerns is not surprising, given the many similar lawsuits that have been filed in the past. ESToff had previously attended an anti-nuclear symposium where civic leaders called for the immediate shutdown of Chubu Electric's Hamaoka Nuclear Power Plant, where they also argued the NPP presented a serious radiological threat to Tokyo and surrounding areas if a massive earthquake were to occur in the Tokai region of Japan . (For more see Nagoya 003). What is surprising in this case, however, is the fact that the plaintiffs won. The only previous
successful suit against operating nuclear facilities was the case brought against the Monju fast breeder reactor several years ago. In January 2003, the Nagoya High Court's Kanazawa Branch nullified the GOJ's May 1983 construction approval for Monju by supporting a suit filed by 32 plaintiffs who claimed that a massive leak of sodium coolant at the reactor resulted from shortcomings in the government's safety assessment for the reactor prior to its construction. On May 30, 2005, however, the Supreme Court handed down a ruling that no unacceptable flaws or faults existed in the original safety assessment, thus overturning the lower court's decision. (For more see 05 Tokyo 4067).
12. (SBU) Though not legally obligated to shut down operations in this case, Rikuden will face an uphill battle trying to regain the support of local citizens for operating a nuclear facility in their backyards, especially if they are now convinced that the next big quake will bring radiological devastation. Given the potential public relations ramifications from the court decision, the national government decided to act quickly in a public way - on April 1, NISA will establish a new inspection office to deal specifically with anti-seismic safety issues, as a result of the ruling. End comment. SCHIEFFER
(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirEstão vendo só quanta besteira e safadeza reunidas desembocaram na tragédia a que o mundo assiste no momento? Ainda bem que os ventos que sopram forte nesta meia-estação na Península Coreana - o inverno mesmo só termina pelos fins de abril, nestas bandas - tomaram rumo oposto, evitando até agora essa radioatividade infernal vomitada em Fukuxima e adjacências.
Abraços do
ArnaC