Mohammed Shmaysani |
19/3/2011, M.Shmaysani, Al-Manar TV, Líbano -
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
O secretário geral do Hezbollah Sayyed Hasan Nasrallah manifestou apoio às revoluções e levantes do povo árabe, na Tunísia, Egito, Bahrain, Líbia, Iêmen.
Sayyed Nasrallah falou sábado à noite, em evento organizado pelo Hezbollah, de apoio às revoluções dos povos árabes, no complexo Sayed Shouhada no subúrbio sul de Beirute.
Sayyed Hasan Nasrallah |
“Esse movimento de solidariedade tem grande valor moral, porque o que vemos acontecer hoje mostra perseverança e capacidade de resistir desses povos, apoiados na fé e em espírito de coragem. Lembremos os terríveis dias da guerra de julho de 2006. A guerra que se arrasta até os escândalos que afinal vêm à tona, para todos, através de WikiLeaks. Lembremos como tudo que seja dito em qualquer lugar do mundo tem impacto favorável para a resistência e os resistentes e os que nos apoiam; é o que vemos acontecer com os povos revolucionários hoje. Aqui declaramos: os povos revolucionários árabes têm nosso apoio. Nos alegramos quando vocês se alegram. Rezamos pela vitória de vocês. Estamos prontos a ajudar no que precisem, em qualquer campo que promova os interesses de vocês e os dos libaneses” – disse Sayyed Nasrallah.
Principais pontos do discurso de Sayyed Nasrallah
1 – Revoluções são feitas pelo povo, não pelos EUA.
2 – Enquanto os EUA apoiarem Israel, os EUA serão vistos como mentirosos hipócritas.
3 – Os canais de transmissão por satélite, que foram bloqueados durante o discurso do secretário-geral. Nasrallah riu e comentou.
4 – É preciso manter a unidade na Tunísia e no Egito.
5 – Os combatentes da Resistência no Líbano saúdam os combatentes da resistência na Líbia.
6 – Saudamos com alegria e orgulho o movimento pacífico de resistência no Iêmen.
7 – Ao povo resistente do Bahrain: a luta de vocês derrotará os tiranos.
8 – Homenagem aos intelectuais e movimentos muçulmanos sunitas no Líbano e em todo o mundo árabe e, de modo especial, ao primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyib Erdogan.
9 – Aos ditadores da Líbia, do Iêmen e do Bahrain: “as armas da resistência estão apontadas para o inimigo. Mantenham-se longe de nós.”
10 – “Onde estão os mediadores árabes?”
1 – Revoluções são feitas pelo povo, não pelos EUA
Sua Eminência destacou que as revoluções em curso são revoluções dos povos contra regimes pró-EUA que não desafiam as políticas dos EUA e defendem Israel. “Os EUA não apoiam revoluções em andamento contra os regimes árabes submissos aos EUA”.
Acrescentou que é irracional dizer que essas revoluções teriam sido cozidas nas cozinhas dos EUA e que haveria alguma possibilidade de os EUA irem contra Israel. “Também é absurdo pretender que a Al-Qaeda e o Irã estariam por trás dessas revoluções”.
“Todos vimos o sacrifício daqueles jovens, que foram assassinados com tiros no peito desarmado. Aqueles regimes não devem ignorar esse sacrifício. A verdade é que quando esse povo a postos, firme e determinado levanta-se, ninguém poderá derrotá-los. Essa é uma lei divina. O sacrifício exigido pode ser gigantesco, mas com perseverança e coragem, a vitória é destino. Os movimentos de resistentes o comprovam ao longo do tempo. Quanto aos governos, deveriam ter iniciado diálogo e reformas, sem hipocrisia. Em vez disso, recorreram a falsas acusações, humilhação e assassinato”.
“Os povos do Egito e da Tunísia já alcançaram grandes vitórias e, depois delas, o regime líbio iniciou violenta guerra interna, e os regimes do Iêmen e do Bahrain levam o país hoje à beira da guerra civil. Não fosse a determinação do povo, que resiste em defesa da paz, em movimentos pacíficos, já haveria guerra civil no Iêmen e no Bahrain, efeito do desempenho daqueles governos e do que fazem” – disse Sayyed Nasrallah.
Aos revolucionários árabes:
“A primavera dos povos árabes apenas começou. Nada a deterá. Só os povos árabes saberão conduzir-se, eles mesmos, rumo à próxima primavera. Vocês vencerão. O povo líbio também vencerá, se Deus quiser.
2 – Enquanto os EUA apoiarem Israel, os EUA serão vistos como mentirosos hipócritas.
O secretário-geral do Hezbollah alertou contra a hipocrisia da atitude de Washington, Disse que o governo dos EUA quer ser visto como defensor de mudanças e reformas. “Mas a nossa mensagem hoje é de que ninguém pode mentir aos povos. Que os povos não se deixarão enganar, porque sabem que seus governos são, há décadas, apoiados pelos EUA e a favor do que interessa aos EUA, não do que interessa ao povo. O governo dos EUA é cúmplice de todos os crimes cometidos por seus governos-fantoches.
Toda a retórica norte-americana sobre direitos humanos e combate ao terror é vazia e oca – porque, por mais que falem, os EUA jamais alteram suas políticas para o povo palestino.
Há poucos dias, os EUA vetaram resolução da ONU que faria parar a construção de prédios nos territórios palestinos ocupados. Na Palestina, há um povo diariamente bombardeado, assassinado, arrancado de sua própria terra, das casas em que as famílias vivem. Locais sagrados para muçulmanos e cristãos em Al-Quds [Jerusalém] são ameaçados de destruição. Ali, o governo dos EUA apoia os agressores e o governo de assassinos, de Israel”.
Sayyed Nasrallah disse também que o governo dos EUA teve outro motivo para promover a intervenção na Líbia. “Os EUA temem que os campos de petróleo caiam em mãos de nações não hipócritas. Por isso, sobretudo, promoveram a intervenção na Líbia. Não tirem jamais os olhos da Palestina. Enquanto os EUA apoiarem Israel, tudo o que digam sobre direitos humanos é e será sempre mentira”.
3 – Canais de transmissão por satélite bloqueados durante o discurso do secretário-geral. Nasrallah riu e comentou.
Durante o discurso, alguém entregou um papel ao secretário-geral. Ele leu, riu e comentou: “Informam-me que vários canais de transmissão por satélite foram bloqueados. Temer palavras é prova de fraqueza.”
4 – É preciso manter a unidade na Tunísia e no Egito.
“Na Tunísia e no Egito, os tiranos já foram expulsos – e por vários fatores: a perseverança dos povos, apesar dos sacrifícios exigidos deles; o fato de as forças armadas não se terem envolvido nos confrontos, dentre outros. Houve quem cresse que aqueles povos ter-se-iam dado por satisfeitos se os ditadores e famílias tivessem partido. De fato, os EUA tentam negociar essa solução, no trabalho para diminuir as perdas. E surpreendem-se hoje, ao ver que os povos continuam insistindo nas suas demandas – e todas as nossas maiores esperanças estão depositadas nessa resistência.
Conclamamos os povos do Egito e da Tunísia a unir-se. Qualquer divisão entre os povos árabes pode levar à ressurreição das ditaduras. Sobretudo no Egito, a união é indispensável, dado o papel efetivo que o Egito desempenha no mundo árabe. Nossos irmãos egípcios são nossa esperança.”
5 – Os combatentes da Resistência no Líbano saúdam os combatentes da resistência na Líbia
Sayyed Nasrallah disse que o povo revolucionário da Líbia seguiu por trilha que a resistência libanesa inaugurou. “Um grupo de jovens, homens e mulheres, levantaram-se contra o tirano e foram recebidos à bala. Uma revolução popular teve de enfrentar guerra. O que se vê acontecer na Líbia é uma guerra imposta pelo regime contra o povo que, pacificamente, exigia mudanças. O povo líbio foi forçado a defender-se, o que levou à guerra entre a parte leste e a parte oeste do país, com aviões, lança-mísseis e artilharia, que nos fez lembrar 1982, quando o Líbano foi atacado por Israel e enfrentou guerra contra Israel.
Todas essas agressões e crimes têm de ser condenados e o povo revolucionário da Líbia tem de ser ajudado e perseverar.
Mas também vimos bem claramente que os EUA e o Ocidente deram ao governo líbio muito tempo para que, ele mesmo esmagasse a revolução. Mas o povo resistiu por mais tempo do que EUA previa – o que criou grave problema para o ocidente. Sem a resistência do povo líbio, o governo de Gaddafi já estaria outra vez no poder, pronto para vingar-se dos cúmplices ocidentais que não o ajudaram durante o levante popular.
Digo aos revolucionários líbios: Os combatentes da Resistência que suportaram violenta agressão de Israel por 33 dias, saúdam os companheiros combatentes em Mesrata, Benghazi, Ajdabya e em todas as cidades e vilas da Líbia.
O mais grave dos crimes que Gaddafi cometeu contra o Líbano foi o sequestro do Imam Moussa Sadr. Tudo o que Gaddafi disse e diz sobre esse assunto é mentira e não altera os fatos.”
6 – Saudamos com alegria e orgulho o movimento pacífico de resistência no Iêmen.
Sua Eminência destacou que a situação no Iêmen é muito complicada. “Mas é impossível não falar sobre a violência contra os manifestantes no Iêmen. Saudamos com orgulho a resistência do povo do Iêmen e o compromisso que mantêm com preservar sua manifestação pacífica, tão mais significativo quanto mais se sabe que o Iêmen é país no qual circulam muitas armas.”
7 – Ao povo resistente do Bahrain: a luta de vocês derrotará os tiranos.
Ao povo do Bahrain, digo: “Não se sintam desamparados. Muitos sunitas os apoiam e apoiam seu movimento. A luta e o sacrifício de vocês derrotarão os tiranos”.
O secretário geral falou demoradamente sobre o Bahrain. Disse que o povo do Bahrain é pacífico.
“O povo do Bahrain apresentou demandas legítimas e o regime responde com violência, para matar os manifestantes. O regime poderia ter absorvido as manifestações, sem necessidade de usar armas de fogo e munição viva contra os manifestantes. Depois, falou de diálogo, sem diminuir o fogo contra os manifestantes, mas o povo do Bahrain manteve seu movimento pacífico e patriótico, distante de qualquer enquadramento sectário.
O governo enviou exércitos contra o povo e criou um paradoxo: Enquanto os líbios estão sendo mortos, metralhados e bombardeados por tanques, a Liga Árabe mantém-se em silêncio. A Liga Árabe não mandou exércitos para defender as cidades líbias. Mas, para o Bahrain, mandaram exércitos para defender um regime que, de fato, não corria qualquer risco de ser derrubado. A oposição no Bahrain é pacífica, mas as forças de segurança atacaram hospitais, atacaram pessoas já feridas e demoliram as casas de vários líderes da oposição. É o método de Israel. A brutalidade é a natureza dos tiranos. Sacrifício é a natureza dos oprimidos, cujo sangue agora o sectarismo disputa”.
8 – O Hezbollah homenageia os intelectuais e os movimentos muçulmanos sunitas no Líbano e em todo o mundo árabe e, de modo especial, o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyib Erdogan.
“Homenageamos os intelectuais e os movimentos muçulmanos sunitas no Líbano e em todo o mundo árabe e, de modo especial, o primeiro-ministro da Turquia Recep Tayyib Erdogan, pela posição que assumiu nos eventos do Bahrain.”
Sayyed Nasrallah perguntou “quanto aos que se mantiveram em silêncio, sobre os eventos do Bahrain, por que se mantiveram em silêncio? Por que o movimento popular do Bahrein foi condenado, acusado e injuriado? Por serem xiitas?
O fato de a maioria do povo e a oposição no Bahrain serem xiitas, por acaso os converteria em proscritos, faria deles alvos de fatwas?
Os xiitas sempre estivemos ao lado do povo palestino, e a seita dos palestinos jamais foi problema para nós. Ninguém perguntou sobre a religião ou a confissão ou seita dos tunisianos e dos egípcios. O Irã sempre esteve ao lado do povo palestino, do povo da Tunísia, do Egito e da Líbia. Nosso dever é lutar ao lado dos oprimidos.
Soa-me sempre muito estranho ver alguns conclamando os egípcios a ocupar as ruas, os líbios a matar Gaddafi. Mas quando se trata do Bahrain, a escrita seca, as vozes se calam.
Que diferença haveria entre o regime Al-Khalifa e os regimes de Mubarak e Gaddafi?
Digo ao povo do Bahrain: Não se sintam abandonados ou desamparados, por ameaças e fatwas sectárias: muitos sunitas apoiam vocês, estão com vocês. Defendam seus direitos. Há líderes sábios, experientes e valorosos no Bahrein. Ouçam-nos. O sangue e o sacrifício de vocês derrotarão os tiranos. O que vocês buscam hoje são valores pelos quais vale morrer, mesmo que a luta talvez seja longa, até que alcancem seus objetivos”.
Digo ao povo do Bahrain: Não se sintam abandonados ou desamparados, por ameaças e fatwas sectárias: muitos sunitas apoiam vocês, estão com vocês. Defendam seus direitos. Há líderes sábios, experientes e valorosos no Bahrein. Ouçam-nos. O sangue e o sacrifício de vocês derrotarão os tiranos. O que vocês buscam hoje são valores pelos quais vale morrer, mesmo que a luta talvez seja longa, até que alcancem seus objetivos”.
9 – Aos ditadores da Líbia, Iêmen e Bahrain: “as armas da resistência estão apontadas para o inimigo. Mantenham-se longe de nós”.
Sua Eminência dirigiu-se aos ditadores da Líbia, Iêmen e Bahrain: “Que futuro imaginam que tenham? Por mais que se recusem a ver, estão condenados à derrota. Respondam, portanto, às demandas do povo, antes de que seja tarde demais. Há um fosso de desconfiança entre a oposição e o governo nesses países. Faz falta, nesses países, a mediação árabe.
10 – “Onde estão os mediadores árabes?”
Os países mandaram exércitos, quando deveriam ter mandado embaixadores e ministros de relações exteriores para iniciar uma mediação verdadeira, com vistas à paz entre os árabes. Onde estão os mediadores árabes?
Nenhum noticiário de provocação afetará a resistência. Não nos deixaremos nem enganar nem provocar por alguma ideia de divisão sectária entre xiitas e sunitas, nem no Líbano nem no mundo árabe.
A questão da resistência não pode ser tratada como objeto de provocações. Não temos nenhum tipo de medo ou receio do diálogo, porque em toda nossa história defendemos os mesmos ideais de justiça e igualdade. O que aprendemos até hoje aprendemos no cenário da mais difícil luta que se trava hoje no mundo. Nossos saberes militares nós os aprendemos nas melhores escolas militares do mundo. Nada do que se diga contra a resistência, no Líbano ou fora do Líbano afetará a resistência. Prosseguiremos com o treinamento de nossos resistentes, continuaremos a comprar armas, continuaremos a nos organizar e, sempre, seguindo o nosso primeiro e único projeto: exército-povo-resistência, como uma só entidade. (...)
Em nenhum caso a resistência se deixará envolvem em falsas oposições entre sunitas e xiitas, repropostas, sempre, como provocação no Líbano. As armas da resistência estão apontadas para o inimigo. Mantenham-se longe de nós.
Os que insistem em fazer guerra têm as mãos sujas de sangue. Eles, não a Resistência, devem ser processados e condenados.
Sayyed Nasrallah concluiu o discurso do sábado com uma homenagem aos mártires dos levantes populares no mundo árabe e à resistência dos povos contra os tiranos: “A primavera do povo começou. Nada a deterá. Nada e ninguém impedirá que os povos árabes cheguem à próxima primavera. Vocês triunfarão, se Deus quiser”.
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