No centésimo dia da divulgação dos telegramas da diplomacia dos EUA, a WikiLeaks anuncia a ampliação das parcerias com órgãos de comunicação e grupos de ativistas em todo o mundo. Leia o editorial publicado no site oficial.
ARTIGO | 10 MARÇO, 2011 - 16:16
Cada telegrama que a WikiLeaks publica agora é automaticamente reproduzido em mais de 1.800 sites. |
Cem dias de Cablegate
Esta semana marca o centésimo dia desde que a Wikileaks divulgou o primeiro lote de Telegramas das Embaixadas – a revelação mais importante da história geopolítica.
Trabalhando primeiro com a Der Spiegel, o El País, o Le Monde, o The New York Times e o The Guardian, a WikiLeaks tem vindo a expandir esta cooperação para trabalhar com o que é agora um grupo de mais cinquenta parceiros de média de todo o mundo, incluindo: o The Sydney Morning Herald (Austrália), a Televisão Sueca, o The Sunday Star Times (Nova Zelândia), o NOS (Holanda), a Folha de S. Paul e O Estado de S. Paulo (Brasil), a Nova Gazetta o Repórter Russo (Rússia), o RUV (Islândia) o Al Akhbar (Líbano), o Al-Masry Al Youm (Egipto), o El Comercio (Peru), o L'Espresso (Itália), o Daily Nation e o The Star (Quênia e Uganda), o CIPER (Chile) e muitos outros (para a lista completa, veja aqui). Nesta fase, a WikiLeaks publicou mais de 5.000 dos 251.587 telegramas, enviados de embaixadas dos EUA em todo o mundo para Washington.
Estas primeiras publicações já ajudaram a mudar o mundo e a percepção que temos dele: a revolução da Tunísia derrubou um ditador que estava no cargo há 23 anos, agora sabemos que países árabes pediram aos EUA que empreendesse uma ação militar contra o Irão, porque é que a China reprimiu o Google, que o governo britânico ofereceu-se para “proteger os interesses dos EUA” durante o seu inquérito sobre a guerra do Iraque, que figuras-chave na Suécia trabalharam com os EUA para esconder do parlamento sueco operações de espionagem, como o governo iemenita aceitou encobrir ataques aéreos dos EUA no seu território, e que diplomatas dos EUA receberam ordens para se tornarem espiões e roubar o DNA e outras informações de funcionários da ONU e de ONG's
Mas o trabalho ainda está no início. Até à data, pouco mais de 2% dos telegramas foram publicados, todos editados pelos parceiros de média para minimizar possíveis, embora improváveis, danos a indivíduos inocentes nomeados nos telegramas. A WikiLeaks pretende continuar esse processo até que todos os telegramas tenham entrado no domínio público, onde todos se possam informar.
É por isso que a fase dois do projeto Telegramas das Embaixadas oficialmente começa hoje. No início, em Novembro, a WikiLeaks teve cinco parceiros, agora temos mais de 50 em todos os cantos do globo. Publicações influentes, grupos activistas e instituições benévolas estão a receber acesso a centenas – ou milhares, nalguns casos – de telegramas relevantes para as suas regiões ou causas.
A secretária de Estado Hillary Clinton, o porta-voz, funcionários e senadores fizeram fila para condenar os esforços da WikiLeaks de permitir que o mundo conheça a realidade da política externa dos EUA, muitas vezes ignorando a proteção das fontes da Wikileaks, e “esquecendo” que a WikiLeaks é uma organização jornalística protegida pela Primeira Emenda. Pelo seu lado, o Departamento de Estado recusou-se terminantemente a detalhar quaisquer preocupações que o material pudesse levantar.
O governo dos EUA não se ficou pelas palavras: empresas multinacionais, incluindo o Bank of America, a Visa, a Mastercard, o Paypal, a Amazon, o Swiss Post Finance, o Money Bookers, e outros cortaram os serviços que prestavam à Wikileaks devido às pressões exercidas pelo Departamento de Estado e por senadores de linha-dura – tudo completamente fora de qualquer processo judicial ou administrativo. Foi publicamente anunciada a criação de forças-tarefa sobre a WikiLeaks por uma série de agências dos EUA, incluindo a CIA, o FBI, o Departamento de Estado, e até uma unidade de 120 homens do Pentágono. Jovens voluntários que apoiaram os nossos esforços são rotineiramente detidos e têm telefones e computadores apreendidos nas fronteiras dos EUA. Uma alegada fonte, Bradley Manning, foi mantida em severas condições de confinamento solitário por mais de 280 dias. As leis militares dos EUA permitem um máximo de 120 dias de detenção antes do julgamento.
Essas tentativas não conseguiram, nem vão conseguir deter as nossas contínuas revelações ao público. Na esteira dos ataques que sofremos, centenas primeiro, e depois milhares de pessoas corajosas e de empresas de todo o mundo decidiram juntar-se a nós na luta contra a censura. Cada telegrama que a WikiLeaks publica agora é automaticamente reproduzido em mais de 1.800 sites. As verdades contidas nesses telegramas não podem ser suprimidas.
A intenção da divulgação gradual não é minimizar os problemas: trata-se de maximizar o impacto. Mesmo apenas um punhado destes telegramas cobre contratos do petróleo venezuelano, vendas ilícitas de armas em África, corrupção na fronteira de Gaza, crimes de guerra no Sri Lanka, falsificadores de mercúrio vermelho e empresas que contornam sanções.
Os telegramas contêm materiais importantes sobre quase todos os temas sérios em todos os países do mundo. Sabemos por experiência que a divulgação de tudo num dia levaria os primeiros artigos mais importantes a afogarem-se no meio de todos os outros.
Trabalhar com jornalistas especializados e aproveitar o seu conhecimento local e contactos, garante que são publicadas as peças importantes para cada país do mundo. Este procedimento custa tempo e recursos. Mas a divulgação dia-a-dia e semana após semana faz com que o seu impacto seja sentido por semanas, meses e anos vindouros.
A WikiLeaks depende totalmente do público para o financiamento, por favor mantenha-nos fortes durante esta difícil mas importante missão fazendo doações
Para mais informações consulte a WL Central: “Revelações que marcaram os 100 dias desde que começou o Cablegate”.
Recursos do Cablegate -8 de Março de 2011
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net
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