Marwan Bishara |
Three questions to Marwan Bishara – Entrevista, 12/3/2011, Al-Jazeera, Qatar
“Três perguntas para Marwan Bishara”
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Al-Jazeera: Os ministros da Defesa dos países da OTAN reuniram-se na 5ª-feira, mas não decidiram ainda o que fazer sobre a Líbia. O senhor entrevistou Anders Fogh Rasmussen, secretário-geral da OTAN. O que dizem por lá?
Marwan Bishara: O secretário-geral da OTAN dedicou-se aplicadamente a nada dizer e nada desmentir. Foi extremamente cauteloso e não se comprometeu. De fato, não disse coisa alguma.
A OTAN está dividida entre os que, como a Grã-Bretanha, querem ação imediata; e os que, como a Itália, temem que qualquer envolvimento da OTAN na região comprometa ainda mais o já complicado relacionamento nacional de cada um, com a Líbia. E há outras divisões como, por exemplo, a que separa Turquia e EUA, sobre a natureza e o papel da OTAN no Oriente Médio, com ou sem intervenção na Líbia.
Seja como for, todos concordam que (1) em nenhum caso, por hora, a ação da OTAN deve ser maior que a implantação de uma zona aérea de exclusão [NFZ, No-Fly Zone] e que (2) a NFZ só será possível se se cumprirem três exigências: (a) aprova-se outra Resolução do Conselho de Segurança, que amplie a Resolução 1.970; (b) a OTAN obtém apoio dos países da região para qualquer ação; e (c) a ação só será considerada se houver escalada muito forte da violência contra a população civil líbia.
Antes da reunião da OTAN marcada para a próxima 3ª-feira para discutir a situação da Líbia, EUA e Europa já pediram a renúncia de Gaddafi, enquanto todos esperam os acontecimentos em três frentes: na ONU, na Liga Árabe e na União Africana.
A OTAN está monitorando a situação na Líbia, mas quais são as opções? |
Al-Jazeera: Uma zona aérea de exclusão imposta pela OTAN pode levar a reação ainda mais violenta?
Marwan Bishara: Há riscos em qualquer campanha militar de longo termo, expansiva, coordenada pela OTAN contra país árabe. A OTAN perdeu toda a credibilidade e está muito fortemente desmoralizada aos olhos da rua árabe. Há determinados riscos em qualquer campanha militar de longo prazo, sempre dispendiosas, contra país árabe; e há riscos específicos, se a campanha militar for conduzido pela OTAN, que perdeu credibilidade aos olhos dos árabes, depois das guerras do Iraque e Afeganistão. As potências ocidentais sabem que estão numa posição precária: se invadirem ficam mal, se não invadirem, também ficam mal.
Além do mais, as três últimas zonas aéreas de exclusão implantadas sob comando da OTAN – no Iraque em 1991-1993, na Bósnia em 1993 e no Kosovo em 1999 – foram campanhas militares gigantescas, massivas, complexas, de alto custo, e que, bem feitas as contas, não alcançaram os objetivos declarados nem evitaram qualquer escalada da violência contra civis. A zona aérea de exclusão da OTAN, operação militar liderada pelos EUA no Kosovo, exigiu 38 mil ações militares, ao longo de 78 dias.
Simultaneamente, ainda não se sabe se Rússia e China, membros com poder de veto, aprovarão nova Resolução da ONU, nas atuais circunstâncias, sobretudo agora, que as forças leais a Gaddafi recuperaram posições no oeste do país.
Sem Resolução do Conselho de Segurança da ONU, alguma nova “coalizão de vontades” – quer dizer, campanha militar de exércitos do ocidente não autorizada pela ONU – pode implicar escalada ainda maior na guerra e erros muito graves, que podem levar a manifestações populares ainda maiores no Oriente Médio, sobretudo na Líbia.
Al-Jazeera: Isso explica a hesitação na OTAN?
Marwan Bishara: Em boa medida, sim. As potências reunidas na OTAN temem que qualquer envolvimento militar amplo resulte em desastre ainda maior para o ocidente.
Eles não estão muito seguros quando à escala e os riscos de uma zona aérea de exclusão, em termos gerais. Além disso, os países reunidos na OTAN têm diferentes prioridades nacionais em relação à Líbia, e ideias diferentes sobre o uso direto da força na região árabe.
Os EUA falaram em termos genéricos sobre uma zona aérea de exclusão, a qual, segundo o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, seria operação complexa, que implicaria manter sob bombardeio cerrado as defesas aéreas e o comando das comunicações. Tudo isso gera altos riscos e abre a possibilidade de escalada no plano militar. E Gates não é o único que está muito preocupado.
Todo o governo Obama teme tomar decisões que, adiante, empurrem os exércitos norte-americanos ainda mais para o fundo da areia movediça que é o mundo árabe. A Casa Branca parece ter concluído que é mais interessante, do ponto de vista dos interesses dos EUA, não se aproximar muito das revoltas árabes. Estão analisando as coisas caso a caso, em termos de custos/benefícios diretos. Apoiar o rei-ditador no Bahrain, congratular-se com os revoltosos no Egito e na Tunísia e ganhar tempo no caso da Líbia são movimentos ‘normais’, do ponto de vista da nova abordagem “pragmática” que o governo Obama tenta adotar para a Região.
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