domingo, 20 de março de 2011

O ocaso da Odisséia

21/3/2011, Beppe Grillo’s Blog 
 Odyssey Sunset  
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Caros jornalistas e políticos, por favor, não acreditem nos italianos.

Não há nada de humanitário no que estão fazendo: são atos de guerra. Guerra suja por energia, petróleo, gás. A França, que depois de Fukushima já não tem futuro nuclear, precisa de gás e petróleo. 

Pelo menos desde o tempo do massacre de Ustica [1], França e Itália lutam pelo controle do petróleo da Líbia, quando os céus da Itália viraram teatro da guerra com a França, aviões italianos e Gaddafi, que estava apresente e safou-se por um fio. Gaddafi foi apoiado pelos italianos nos anos 70s, for armado pelos italianos. Parte do exército da Líbia foi treinado na Itália em troca de relações privilegiadas para comprarmos gás e petróleo.

A seguir, os primeiros mísseis Tomahawk disparados contra a Líbia: !9/3/2011


Essa é guerra ensandecida que os europeus não desejam. Do modo como os italianos foram informados, não passaria de notícia de rodapé nos noticiários, como uma partida de futebol. China e Rússia são contra os ataques. A Alemanha absteve-se no CSONU e a União Africana rejeitou “qualquer tipo de intervenção estrangeira na Líbia, seja de que tipo for.” O presidente da Mauritânia Abdel Aziz disse bem claramente: “é crise gravíssima que se abate sobre um país irmão e que exige solução africana”. O presidente Aziz disse também que “nenhum representante da União Africana participou do encontro internacional sobre a Líbia, em Paris”. 

O CSONU aprovou “uma zona aérea de exclusão”. Não aprovou bombardeio que reduzisse a Líbia a ruínas. Centenas de mísseis disparados por EUA e britânicos contra “alvos”, numa operação batizada de “Alvorada da Odisseia”. 

Linguagem de videogame. Não é alvorada. É ocaso: o ocaso da odisséia.

Há hoje mais civis mortos pelas mãos de Obama, Cameron e Sarkozy ou em Benghazi que mortos pelas mãos de Gaddafi. Talvez os líbios mortos por mãos líbias valham, cada morto, duas mortes? 

O art. 11 da constituição da Itália diz que “a Itália rejeita a guerra como instrumento de agressão contra as liberdades de outros povos e também como meio para resolver controvérsias internacionais (...).”  Por que os partidos políticos não estão nas ruas, brandindo a Constituição, contra a guerra?

Estamos bombardeando uma nação muçulmana africana. Nenhuma nação, nem muçulmana nem africana participa do ataque “internacional” das potências ocidentais, ao lado dos “cruzados”, como Gaddafi os chama.

A Arábia Saudita invadiu o Bahrain, agitado por manifestações populares contra a ditadura. Quando começará o ataque dos “cruzados” contra os ditadores-xeiques? 

Gaza foi convertida em cemitério. Ninguém considerou necessária qualquer intervenção humanitária. A Itália é um porta-aviões cercado de navios canadenses, americanos e britânicos que entram e saem de nossos portos. Com que direito? Somos país de soberania limitadas, mas o que está acontecendo é demais. 

Fora! Fora da Itália as bases dos EUA, antes que seja tarde demais! O que sabemos sobre os rebeldes de Benghazi? Opõem-se a Gaddafi por quê? Por razões democráticas, tribais, econômicas ou religiosas? Propõem o quê, para a Líbia? Nada sabemos. Nada. 

Qualquer um aí, que precise de petróleo, que lance o primeiro Tomahawk, para carregar a responsabilidade do ataque. Em seguida os EUA lançaram 110 Tomahawks, para completar o serviço.




Nota de tradução
[1] Sobre o conflito entre Itália e França pelo controle dos recursos energéticos no norte da África. Segundo Priore e Fasanella (autores do livro Intrigo internazionale), esse seria o pano de fundo do massacre de Ustica.  Um avião italiano de passageiros explodiu, em circunstâncias jamais esclarecidas, sobre a cidade de Ustica, dia 27/6/1980. Suspeita-se de que tenha sido abatido por um caça francês. Em 2008, a Itália reabriu as investigações sobre o caso (TG2 Punto di vista, 17/5/2010).

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