segunda-feira, 7 de março de 2011

Como a China repatriou 30 mil cidadãos que estavam na Líbia (e o mundo NEM VIU)

Bhadrakumar

28/2/2011, Índia Punchline – Blog de *MK Bhadrakumar
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Quem queira comparar-se com a China dedique alguns minutos a observe como os chineses estão lidando com o resgate e repatriamento de seus cidadãos, daquele inferno ardente chamado Líbia. A China fica duas vezes mais longe da Líbia que a Índia, por exemplo. Pois mesmo assim, o ministério das Relações Exteriores da China em Pequim informa hoje que a China já retirou 29 mil chineses, da Líbia. UAU! São 11 mil pessoas a mais que toda a comunidade de indianos que vivem na Líbia. Impossível. A China exagera os números. Não. Parece ser rigorosamente verdade.

Como a China fez? Ora, quem quer, faz. Nada de entrevistas pela televisão, ninguém no Twitter, nada de declarações de ministros. Decidir e fazer. 

Primeiro, a China transferiu seus cidadãos da Líbia para países vizinhos, para garantir que não corriam risco imediato – enquanto, simultaneamente, planejava a evacuação de volta para casa. Espertos, não é? Muito. Mas por que essas boas ideias não ocorrem, por exemplo, aos indianos? 

Os pontos mais próximos eram a Grécia, Malta e, principalmente, a Tunísia – países tão amigos da China, quanto da Índia, no nosso exemplo. A Índia até já teve consulado em Malta! Dia 27/2, mais de 10 mil chineses foram levados de Benghazi à ilha de Creta, em três navios gregos fretados pela embaixada chinesa em Atenas. A China negocia com a Grécia, Chipre e Turquia. Sabe que todos têm importante frota mercante e que, por ali,  sempre há capacidade ociosa. Alugar barcos locais é sempre mais barato. Todo mundo sabe. Os chineses não fazem desaforos ao dinheiro. Todo o Mediterrâneo é farto em navios para alugar. Lembram de Onassis?

Também simultaneamente, os chineses fretaram aviões para retirar chineses da Grécia, de Malta e da Tunísia. Fretaram também aviões gregos. A maior parte dos aviões fretados eram tunisianos, porque parece que todos os aviões alugáveis reuniram-se na Tunísia, dado que o local tornou-se “destino quente” para estrangeiros em fuga da Líbia.

Os chineses são impressionantemente corteses. Portanto, concluída a evacuação gigante, o premiê Wen Jiabao agradeceu pessoalmente, por vias diplomáticas, aos governos da Grécia, de Malta, da Tunísia, etc. etc. (e provavelmente agradeceu também a Gaddafi) pela inestimável ajuda. Claro. A China acomodou, num dos navios fretados, 500 europeus que queriam deixar a Líbia. Obviamente, gesto de boa vontade.

Por acaso a China deslocou navios de guerra? Não deslocou, claro, porque não precisaria ter deslocado. A China não tem nenhuma intenção de participar da “intervenção humanitária” pela OTAN, que acontecerá em março. Nem está interessada em ganhar “interoperabilidade” com a OTAN. A China tampouco tem qualquer pressa, por hora, em preservar “comuns globais”. A China já é membro permanente do Conselho de Segurança e não tem de comportar-se como parceiro júnior dos EUA, como a Índia, por exemplo. Além do mais, os navios de guerra chineses existem para proteger a China, não para atacar outros países, nem para viagens de recreio.

Embaixador*M K Bhadrakumar foi diplomata de carreira; serviu no Ministério de Relações Exteriores da Índia. Ocupou postos diplomáticos em vários países, incluindo União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão, Kuwait e Turquia.

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