Raul Longo |
Vira e mexe recebo dessas e vou às ruas todo animado em busca de diversão, mas não encontro nada nem ninguém. Sequer os que distribuem as convocatórias.
Fala-se em buzinaço, panelaço e outros tantos, mas o mais que escuto são os “me dê licença que ‘tô com pressa” do trânsito cotidiano. Perguntei a uma amiga que jurou que participaria da última convocação, se conseguira moer com as panelas velhas da casa. Disse que aproveitando as ofertas tinha trocado recente a baixela e usou colher de pau em cumbuca de madeira. Eu acreditando em sua disposição, ou indisposição, e ela só tirando uma com a minha cara.
Mas a melhor convocação que já me enviaram foi esta de ontem, de umas vizinhas sempre indignadas com o governo de um “apedeuta”. E não adianta tentar ensinar a essa gente que o adjetivo é de dois gêneros, pois assumem com tanta convicção o que consideram enorme defeito do ex presidente que agora serão capazes de dizer que temos o governo de uma “apedeuto”. Irredutíveis!
Da língua portuguesa podem entender pouco, mas estas minhas vizinhas me revelaram que além de Deus, o Espírito Santo também é brasileiro! Pois vejam lá como se inicia a convocatória que ajudam a distribuir pela internet:
“Estamos vivendo talvez a melhor oportunidade de nos tornarmos uma grande nação”
Daí pra frente fala da necessidade de se pressionar o governo para a reforma política, do judiciário, fiscal, tributária e todas aquelas que ao longo de seu governo o Presidente Lula enviou projetos ao Congresso, mas os candidatos eleitos por essas vizinhas sempre fizeram questão de trancar. Só agora que com esse novo Congresso isso tudo tem pinta de vir acontecer, é que minhas vizinhas resolveram bater lata. Mas sempre é hora pra se começar a coçar e lhes dou a maior força.
Dou força embora usem a estupidez do auxílio-reclusão comparando-o com o valor do salário mínimo, sugerindo que todo presidiário é pago para ficar na cadeia. Não sabem que em qualquer país do mundo civilizado, filhos e dependentes de criminosos são considerados inocentes. Tão pouco sabem que há um teto máximo para o pagamento do auxílio, independentemente de quanto tenha contribuído o trabalhador.
Ignoram que o recluso não recebe coisa alguma, e somente seus dependentes têm direito ao benefício se o apenado for contribuinte do sistema previdenciário e se o familiar responsável pelo recebimento comprovar a continuidade da contribuição mensal.
Mas se ignoram tudo isso, minhas vizinhas ao menos sabem que:
“Estamos vivendo talvez a melhor oportunidade de nos tornarmos uma grande nação”
Se até elas sabem disso e ainda assim continuam, como sempre fizeram, apontando a atual linha de governo como “a mais corrupta da história do país”, afora “o apedeuta”, ou “a apedeuto”, com que milagre saímos de país de mais alto risco econômico do mundo e chegamos “a melhor oportunidade de nos tornarmos uma grande nação?”
Entendo bem pouco de providências divinas, mas logo se me aparentou heresia considerar que por ser brasileiro o bom Deus, com tamanhas responsabilidades cósmicas por bilhões de galáxias, se desse ao desfrute de mexer seus pausinhos só pro Brasil, enfim, ficar bem na fita em meio às falências das mais sólidas economias deste mundo capitalista. Além de que, convenhamos: ainda que brasileiro até a década passada Deus nunca se demonstrou muito patriota.
Aí, conforme fiz notar às vizinhas, através das minhas parcas informações sobre a Santíssima Trindade pude chegar sozinho à uma conclusão. Decididamente foi o Espírito Santo!
Só pode ter sido o Espírito Santo, pois ainda outro dia o companheiro Plínio de Arruda Sampaio acusou o governo por basear todo o sucesso da economia brasileira em “commodities” (tal como agora é chamado o antigo “produto primário”) e com isso pautou toda a mídia. Até o Carlos Alberto Sardenberg teve de preparar às pressas aqueles seus graficozinhos para demonstrar que os “commodities” são a salvação da lavoura e a Miriam Leitão já evocou praga na soja para uma irreversível falência brasileira. À Miriam só faltou babar, se é que não o fez fora das câmeras.
Tudo gente de pouca fé e religião. Commodities coisa alguma! É conforme revelaram as minhas vizinhas e o Miguel do Rosário, do Blog Óleo do Diabo (eita embate esotérico!), comprova no gráfico abaixo mostrando que desde 2003 o Espírito Santo emprenhou o Brasil!
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