domingo, 17 de julho de 2011

Sacralização da política, profanação da religião

Publicado: 16/07/2011 por *Antonio Ozaí da Silva  em seu blog

Do ponto de vista religioso, sagrado e profano são opostos. Porém, tal oposição não ocorre de uma maneira dicotômica na qual os pólos se excluem; sagrado e profano se relacionam, se complementam.

A religião diz respeito ao sagrado e sua relação com o profano é mediada pelo ritual. As instituições religiosas são responsáveis por esta mediação; é preponderantemente nelas e através e delas que os fiéis adentram no mundo sagrado.

A experiência do sagrado pressupõe o culto, personagens específicos imbuídos de sacralidade, determinados lugares e tempo.

No mundo moderno, as igrejas concentram estas características e se confirmam como instituições que administram os bens simbólicos religiosos, isto é, o sagrado.

É no espaço e tempo destas instituições, com seus cultos específicos; pastores, sacerdotes etc., isto é, indivíduos legitimados pela instituição, que os fiéis vivenciam o sagrado.

A experiência do sagrado pressupõe a elevação do eu para além do mundo profano. Os homens e mulheres, numa mescla de terror, submissão e esperança, reconhecem no sagrado uma força superior capaz de lhes socorrer.

As concepções de mundo predominantes se alimentam deste teor religioso: o sucesso e o fracasso, a bonança e as calamidades, a vida e morte, se alimentam dos fundamentos referentes ao sagrado. Este surge como o refúgio humano à realidade opressiva e miserável do mundo profano.

Em sua angústia existencial, homens e mulheres buscam o conforto do sagrado e, ao mesmo tempo, o temem. Os humanos vivem simultaneamente entre o terror da punição – de arder no mármore do inferno – e a esperança de que a divindade o recompense – na terra e no céu.

A política diz respeito ao mundo profano, ao mundo comum. A modernidade afirmou categoricamente a sua autonomia diante da religião.

Se no mundo medieval a religiosidade, instituições religiosas e organização política e social se confundiam, isto é, poder espiritual e poder temporal se mesclavam e determinavam os destinos dos indivíduos, a modernidade significa a possibilidade de separação entre Igreja e Estado e, neste sentido, da relativa autonomia de ambos na sociedade.

A crescente secularização consolidou este processo. Contudo, à maneira da relação entre o sagrado e o profano, também a secularização não expressa uma contradição absoluta com a religião. Esta permanece forte e influente, seus preceitos morais e religiosos, bem como, o poder dos seus sacerdotes e da sua organização, não pode ser simplesmente descartados pelo poder do Estado. De certa forma, o poder espiritual também se reveste de poder temporal, na medida em que tem influência real sobre o mundo da política.

Se o mundo profano (comum) se vincula à política e as igrejas são, por excelência, os espaços de manifestação do sagrado, não há um muro intransponível entre eles. Com efeito, o mundo profano da política se reveste, em determinados casos, de sacralidade; e, por sua vez, o mundo sagrado vinculado às instituições religiosas revela, sob certas circunstâncias, manifestações profanas.

Observe-se, por exemplo, como a política gera os “profetas” prenhes de carisma e, à maneira religiosa, constitui um grupo de seguidores (“discípulos”).

Observemos ainda como, em determinados contextos históricos, ideologias seculares se manifestam religiosamente, com a presença de determinados “ritos” e o culto à personalidade.

A razão produziu um novo crente que tem fé na ciência e também uma nova crença amparada na esperança utópica da construção do paraíso na terra – eis uma das funções principais das ideologias seculares críticas à sociedade moderna capitalista.

*Antonio Ozaí da Silva é graduado em Ciências Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (1994), Mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997), Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (2004) e Pós-graduado em História das Religiões, Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (2007). Docente no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Teoria Política Contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: política, partidos políticos, educação, pedagogia libertária, anarquismo, marxismo e literatura política.

Um comentário:

  1. o problema é que tem muito "babaca" que se "emprenha pelo ouvido" por padres e pastores todos eles, todos, mercadores da fé de pessoas de baixo nível de inteligência, em via de regra, fanáticos, que não percebem que estão sendo manipulados e extorquidos por essa corja. exemplo: há poucos dias vi, aqui na blogosfera, um documento de "salvação" assinado por ninguém menos que JESUS CRISTO, é mole? o coitado (ele é, de fato, um fraco de cabeça, pelo menos está no texto do post) doou tudo o que tinha para a universal confrontar a globo. mas não é só o macedo não. ví outro post em que (está no texto) o ex-juventude hitlerista ratizinger (papa) quer aumentar o dízimo para 15%¨. são, todos, canalhas e roubam o povo quando esse mesmo povo mais precisam deles, que é quando necessitam de um apoio moral ou espiritual, sei lá.

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