sábado, 23 de julho de 2011

Olga & Luiz

Homero Mattos Jr

Homero Mattos Jr.

Alemanha, 1924.
Olga tem 16 anos. É inteligente e bonita. Se quiser, pode aguardar por um pretendente rico e poderoso - talvez o filho de um barão do aço ou da química - e, desse modo, manter-se. A salvo. Do holocausto próximo.
Brasil, 1924.
Luiz tem 26. É oficial graduado do exército.  Se quiser, pode permanecer marchando no quartel, batendo continência como seu pai sempre fazia. Daqui a seis anos, Vargas, o colega de turma, irá convidá-lo para integrar o governo.
União Soviética, 1934.
Olga e Luiz se encontram. Ambos estão decididos a, de fato, empenhar suas vidas à causa do quê, com razão, deve ser defendido. Onde a águia voa alto, tacanha disciplina ferrenha faz gorar a causa e a razão. Onde canta o sabiá, superior disciplina esculhambada faz vingar uma filha e a paixão.
Vida curta aos Chês.

Vida longa aos tchans.
Abaixo a Revolução, viva a Sedução!
Alemanha, 1994
Olga tem 16 anos. É inteligente e bonita. Quer e aguarda impaciente uma oportunidade de ir à Inglaterra onde, quem sabe? poderá conhecer. Talvez em uma rave privée... o filho mais velho da princesa... Why not?
Brasil, 1994
Luiz tem 26. Vagal desde criancinha, não têm ocupação definida. Vive fora. Do país e de si. Às custas do pai rico.
União Soviética, 2004.
Não existe mais um lugar com esse nome e Olga e Luiz nunca se encontraram.
Olga é aeromoça na rota Berlim-Londres-Berlim.
Luiz tem uma coluna também. Na revista semanal de um dos amigos do pai.
Olga não têm filhos e nem os quer.
Luiz, se os teve, não sabe onde estão.
Olga sonha com um convite para posar nua. Um calendário, ao menos. Qualquer que seja.
Luiz, fiel aos propósitos do patrão, dedica-se à desconstrução de si mesmo.
Olga nem sabe que existe um filme sobre sua xará famosa.
Luiz sabe.
E sobre o filme escreve: Dramalhão. Uma típica novela de tevê, elaborada apenas para sensibilizar os corações e provocar a lágrima fácil do sentimentalismo barato.

Ser carpinteiro e trabalhar, casar com Débora ou com Sara, meu bom Luiz você podia.
Como seu pai sempre fazia.
Mas nada disso acontecia.
E você foi ser colunista.


Anita Leocádia Prestes, a filha de Olga Benário Prestes e Luiz Carlos Prestes, está com 68 anos e é professora do Departamento de História da UFRJ. Na edição de julho da revista Nossa História, Anita nos faz saber um pouco mais a respeito de seus pais.

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