30/7/2011, Victor Kotsev, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Da discussão de pauta, na Vila Vudu:
“Acho que esse artigo é muito jornalístico – portanto não nos interessa.
Ninguém aqui tem qualquer interesse por ou obrigação de ouvir/ler o que pense um ou outro jornalista ou um ou outro Murdoch, sobre seja lá o que for.
Mas nenhum jornal ou jornalista brasileiro sabe porra-nenhuma sobre a Líbia. Por aqui, a única coisa que a imprensa oferece é o papim fraco dos mervais e uíliamvacks e demétriosmagnólias. E mesmo esse naaaaada nunca passa de repetição de releases do Departamento de Estado dos EUA, da CIA ou de agências de notícias que, idem, só fazem repetir releases etc. etc. etc., como o New York Times; ou é opinião fraca da USP udenista tucana golpista.
Nós trabalhamos sempre pra dar voz clara a UM LADO – o nosso. Em matéria de “ouvir os dois lados” à moda do jornalismo que há, já nos bastam os dois lados do sempre mesmo Murdoch. Como todos sabemos, nunca houve, não há nem jamais haverá murdochs éticos, nem murdochs democráticos.
Mas acho que sim, podemos traduzir. Há aí melhor informação que em qualquer jornal brasileiro. E a seleção de matérias que há nas notas pode ser útil para quem esteja acompanhando o noticiário (nossa camaradinha Lica, que está fazendo exatamente isso, disse que os artigos selecionados nessas notas não são nenhuma Brastemp, mas são muito melhores que qualquer coisa que tenha sido publicada na ‘grande’ imprensa brasileira).
Metemos aspas de ironia em todos os “rebeldes” e “revolucionários” que o jornalista “isento” escreva com pompa e circunstância (e com lado, é claro, mas nunca declarado); e escrevemos uma nota, pra chamar a atenção para o fato de que o jornalista escreve de Telavive.
Nenhum jornalista que tenha de trabalhar em Telavive JAMAIS escreverá matéria assinada em que informe, decentemente, que a guerra da Líbia foi INVENTADA e IMPOSTA à Líbia, por EUA-OTAN, interessados em destruir a Líbia de Gaddafi, porque Israel acha-que-sim.
Na matéria abaixo, de fato, a única notícia que se lê é que o calorão, o jejum de Ramadã, as tempestades de areia e a “complexidade do conflito” venceram a guerra na Líbia. Gaddafi nem passou por lá, nem derrotou os EUA-OTAN. E os ‘rebeldes’ hoje, já em pleno salve-se-quem-puder, não temem mais pelos próprios pescoços, que por alguma democracia.
De fato, pensando bem... fica-se sem saber o que, diabos, a CIA tanto espiona, que não sabia, sequer, da “complexidade do conflito” naquela parte do mundo! [gargalhadas e aplausos].
Se Obama – que estava ao lado da presidenta Dilma quando ordenou o ataque à Líbia – tivesse perguntado, a presidenta Dilma teria dito: “Não se meta lá. É fria.” Meteu-se Obama de pato do AIPAC a ganso do AIPAC, e levou um creu. Que utilidade teve a CIA?!
Se o que a CIA sabe fazer é “prever” que a Líbia corre risco de virar “mais uma Somália, dessa vez na costa Mediterrânea”, sinceramente, se a CIA trabalhasse pra mim, eu demitia por incompetência. E esse trecho do artigo, por absolutamente ridículo, a gente não traduz.
Não traduzimos tampouco os parágrafos em que o jornalista “informa” que a segurança do ocidente estará ameaçada se Gaddafi meter na cadeia (ou fuzilar) toooodos os “rebeldes”. Isso, o Estadão já (des)informa todos os dias. E, OK, aproveitamos, do artigo, o que presta.
Melhor pra nós se, em breve, as notas introdutórias das nossas traduções trouxerem mais reflexão aproveitável que qquer coisa que a gente traduza de jornais. Só a luta ensina!
Contudo, claro, desde que todos os cidadãos consumidores de jornais sejam devidamente alertados para a péssima qualidade do jornalismo que lhes é impingido (e VENDIDO!), pode-se ler qualquer coisa. Claro. Liberdade TOTAL.
No Brasil, por exemplo, a Folha de S.Paulo, por exemplo, tem todo o direito de publicar o que dê na telha das danuzas. Mas a empresa deve ser obrigada por lei a trazer na primeira página, em espaço equivalente a no mínimo ¼ de página, como já se faz nos cigarros, o seguinte:
ALERTA AOS CONSUMIDORES:
A Folha de S.Paulo pressupõe que você seja perfeito idiota. Para o caso de você ainda não ser perfeito idiota, a Folha de S.Paulo dedica-se a torná-lo perfeito idiota. Assim, fica todo mundo avisado.
Se você, consumidor, não se incomodar com ser engambelado diariamente pela Folha de S.Paulo, pague, por favor, ao jornaleiro (ou por boleto, ou pelo cartão) o muito caro que a Folha de S.Paulo lhe cobra para imbecilizá-lo... e deixe-se imbecilizar à vontade.
O dinheiro é seu. A liberdade de informação, também.”
Por tudo isso, e sob as condições acima (o que não se traduz e CORTA-SE do artigo abaixo), voto a favor de traduzirmos o artigo abaixo. É o meu voto.”
[Voto aprovado por aclamação]
__________________________________________________________________________
O assassinato do comandante militar dos “rebeldes” líbios, general Abdel Fattah Younes pode levar a violenta cisão entre as forças de oposição a Gaddafi – que viria num momento em que a ofensiva da oposição já perde ímpeto, antes do início do mês do Ramadan, em agosto, quando o calor inclemente e o jejum obrigatório tornam os combates mais lentos e mais difíceis.
A morte do general, cujo corpo, com os de dois de seus principais auxiliares foi encontrado queimado na 5ª-feira, traz à luz uma rede extensa e complexa de relações de poder e rivalidades que invade os dois lados em luta. É prova de o quanto é fluida a situação na Líbia, com camadas superpostas de lealdades, que se modificam a todo o momento.
O espectro de uma invasão por terra, por forças da Aliança do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), já parece afastado. Já não se ouve o bravado do ocidente que se ouvia há apenas um mês – quando o exército britânico, além de outros, já preparava planos detalhados para uma Líbia de ‘depois de Gaddafi’ [1]. Esses planos saíram de cena, por uma combinação de fracassos em terra, falta de disposição política dos estados que enviaram soldados para a Líbia e os firmes protestos de Rússia, China dentre outros atores internacionais. (...)
Notícias sobre a morte do general Younes começaram a aparecer imediatamente depois que os líderes rebeldes anunciaram que o general fora preso; em seguida, as notícias foram corrigidas: o general teria sido “chamado do front”, para ser interrogado sobre suspeitas de que teria ajudado Gaddafi secretamente. O assassinato teria ocorrido quando o general voltava ao front, e o líder do grupo que o matou teria sido preso. Mas na manhã de 6ª-feira não houve novas notícias, e começaram a surgir boatos sobre quem, de fato, seria responsável.
Younes, que era tido como o segundo homem mais importante da Líbia, abaixo só de Gaddafi, antes de desertar em fevereiro, acompanha Gaddafi desde a revolução de 1969. Foi ministro do Interior, ativo várias vezes na repressão contra dissidentes, ao longo dos anos; muitos rebeldes, diz o noticiário, várias vezes manifestaram dúvidas sobre sua lealdade.
O fracasso do recente ataque pelos ‘rebeldes’ aos poços de petróleo de Brega, que resultou em várias baixas, parece ter despertado nova onda de suspeitas contra o general. Os “rebeldes” atribuíram a derrota a uma “traição”, nas palavras de um comandante, em entrevista à rede al-Jazeera, há dez dias. [2]
No início de abril, a filha de Gaddafi, Aisha, insinuou, em entrevista, que Younes continuaria leal a seu pai. Mas Gaddafi criou um prêmio pela cabeça de Younes. A entrevista, portanto, pode ter visado a desacreditar o general no campo “rebelde”. (...)
As defecções não são raras, no conflito líbio, dos dois lados. Nos primeiros protestos, jornalistas ocidentais surpreenderam-se ao ver gente que participava tanto dos protestos contra Gaddafi, quanto nas manifestações a favor.
É possível que Younes tivesse várias lealdades. Isso também significa que, tão cedo, não saberemos exatamente quem esteve por trás do atentado que o matou. Os “rebeldes” dizem que o general teria sido assassinado por “uma célula” pro-Gaddafi [o New York Times também diz, igualzinho. O New York Times, além do mais, só faz advertir contra o risco de “grave violência tribal, como em outras partes da África” [3]. É informação tão acurada e isenta quanto o Estadão “informar” que haverá um desfile de moda na Vila Madá, em Sampa, “como em outras partes do Cone Sul”. Ninguém precisa saber o que o NYT pensa sobre coisa alguma. Quantos votos teve o NYT? (NTs)].
Há notícias sobre importante cisão dentro do campo “rebelde’’ entre atuais “rebeldes” que por muito tempo foram aliados de Gaddafi e revolucionários com passado limpo. [Como assim... “limpo”?! Cadê o jornalismo isento, sô?! Quem precisa saber o que pensa o jornalista?! Quem precisa desse jornalismo?! (NTs)].
Seja como for, não é fácil definir o que seja passado limpo na Líbia. [e onde, diabos, seria facílimo definir “passado limpo”?! Parece a cabeça da D. Danuza, sô! (NTs)].
Para aumentar a complexidade da situação, o principal chefe rival de Younes no campo rebelde era o general Khalifa Hifter, que desertou em 1987 e viveu durante décadas nos EUA, até voltar à Líbia, em março, para juntar-se aos “rebeldes”.
Hifter, que goza da confiança dos “rebeldes” por ter passado limpo é, sabidamente, ligado à Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA. Daí nasceram suspeitas de que a agência norte-americana pode também estar implicada no assassinato.
Além disso, os objetivos da guerra vão-se rapidamente centrando em obter dinheiro e conquistar recursos naturais. Não por acaso, a mais recente ofensiva dos “rebeldes” visou a cidade de Brega, no leste. “A batalha na Líbia vai aos poucos se transformando, de desejo de conquistar territórios, para desejo de controlar recursos” – noticiou Anita McNaught, da rede al-Jazeera, há uma semana [4].
Outro dos motivos que têm aparecido como centrais, nos movimentos diplomáticos dos “rebeldes” líbios, é obter acesso ao dinheiro. Para tanto, os “rebeldes” tentam conseguir que sejam reconhecidos como legítimo governo líbio por outros países. [5] Querem ter acesso a dezenas de bilhões de dólares que estão congelados no ocidente; querem também poder receber ajuda militar, de que os rebeldes carecem desesperadamente: armas, munição, salários, comida e remédios.
Há fontes que dizem, até agora como pura especulação, que os ‘rebeldes’ têm planos de construir um exército mercenário para combater Gaddafi no futuro. A informação não foi confirmada, mas persistem muitas dúvidas quanto à identidade e o comportamento das forças “rebeldes”. Mesmo jornais simpáticos aos “rebeldes”, como al-Jazeera, já dizem que eles não seriam tão democráticos ou amantes da paz quanto querem fazer crer [6].
A ONU já acusou formalmente os dois lados por prática de crimes de guerra. [7] O assassinato de Younes, se foi crime de um dos lados em confronto, será exemplo claro das táticas brutais empregadas na Líbia, pelos dois lados. Se continuarem a surgir notícias sobre essas atrocidades, pode ser o fim de qualquer legitimidade da campanha das forças internacionais e da OTAN.
Em qualquer caso, a OTAN, a única força militar que efetivamente ainda apóia os “rebeldes”, já trabalha pressionada num cronograma estrito, embora não o declare. Muitos países-membro já não demonstram qualquer empenho político ou disposição para consumir recursos (ou não têm, mesmo, recursos a desperdiçar), na guerra. E logo começará o outono, época de tempestades de areia na Líbia, quando o potencial bélico dos jatos da OTAN será drasticamente reduzido.
Dado que já não se cogita de invasão por terra na Líbia, os dois cenários gêmeos, de colapso dos “rebeldes” e de vácuo de poder no país, tomam a cena. Em agosto, mês do Ramadã, não se deve esperar que os “rebeldes” derrotem Gaddafi pela força. E estão bem próximos de perder a OTAN, sua principal aliada. (...)
Notas do autor
[3.] Death of Rebel Leader Stirs Fears of Tribal Conflict, The New York Times, 28/7/2011 (registration required).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.