O que haverá, afinal, que valha a
pena ver?
21/3/2013, Robert Fisk, The Independent, UK
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Robert Fisk |
Será
o quê? Tragédia, farsa ou turismo? Obama é turista, diz o Davy Crockett da
vanguarda do jornalismo norte-americano e rei-filósofo do New York Times
(codinome T. Friedman, Esq.). Mas, não, Friedman errou. O vencedor do
Prêmio Nobel de Belos Discursos terá de ser, no mínimo, um super-turista – com
10 mil guias turísticos israelenses e norte-americanos armados a cercá-lo, só em
Jerusalém. O caso é que, Sr. Presidente... há o muro. Não. É O Muro. Falo
daquela paliçada otomana de cada lado da Porta de Damasco.
Mas,
claro: se realmente chegar à Gruta da Manjedoura, Obama não terá como não ver –
será que fechará os olhos? Nem uma espiadinha? – o muro real (codinome:
barreira/cerca de segurança). É verdade: Berlusconi declarou que não viu. Mas
até Mussolini perceberia, pelo menos o gigantismo fascista daquele muro. É. As
coisas são o que são. O presidente excepcional deve “engajar” o público jovem.
Por sobre as cabeças dos donos do mundo, levará A Palavra aos jovens. O caso é que os
jovens, da variedade israelense e palestina, não dão sinal de confiar muito
naquela conversa.
Barack Obama em Israel |
Mas
Obama dá dó. Que outro estadista, antes de viajar a Israel, reuniria grupo
seleto de líderes da comunidade judaica dos EUA e prometeria – de fato,
insistiria, ansioso por convencer – que não tomaria iniciativa alguma, que não
se preocupassem?
Todos
lembramos a Humilhação de Santo Barack. Quando falou das fronteiras de 1967 na
Casa Branca, e Netanyahu interrompeu-o e lhe disse que não, não. Que esquecesse.
E Obama lá ficou, sentado, miserabilente
[1],
parecendo um trapo vivo, triturado pela
Britadeira Benjamin. Fim de papo, então, sobre fronteiras de 1967 e Resolução
242 do Conselho de Segurança da ONU. Mas, afinal... Obama ouve os conselhos do
conselheiro que se revelou o maior fiasco da política externa dos EUA desde
Joseph Kennedy: o muito aclamado zero à esquerda, inutilidade além de qualquer
esperança, Dennis Ross.
Teremos
de tolerar os clichês de sempre, é claro, tanto de Santo Barack como dos sapos
do brejo da imprensa. Esse infame processo de paz tem de ser posto “de volta nos
trilhos”, ou talvez ouçamos falar do “mapa do caminho” – o qual, parece, jamais
é posto “de volta nos trilhos”, porque trem não anda em tapetes vermelhos de
pistas de aeroportos. E não esqueçam o Irã, sobre o qual nosso herói dirá a
todos os israelenses que vir que “todas as opções estão sobre a mesa”. E por
que, santo deus, “sobre a mesa”?! É claro que as opções estão em bunkers,
talvez, até, nos não mencionáveis, indizíveis silos nos quais a Britadeira
Benjamin mantém trancados seus mais de 250 mísseis nucleares. Mas, aí, alguém
nos lembrará de todos os Macbeths salpicados pela região. Não o degolador de
Riad, é claro, porque, esse, é amigo da gente, mas, com certeza o doido de
Teerã; ou Mursi, aquela coruja; ou o outro, no palácio presidencial em Damasco;
e mais aquele bando de salafistas Calibãs – ou serão Talibãs? – na espreita para
destruírem a civilização ocidental (da qual Israel faz parte, ou já não faz?).
Oh
yes, vai
ser briga de foice no escuro, se Obama não prestar atenção. Os israelenses
esconderam os palestinos bem longe, atrás de O Muro; e o único líder palestino
histórico (esqueçam Abbas) que Obama verá será o velho Grande Mufti, sentado ao
lado de Hitler numa fotografia no memorial do Holocausto, como se al-Husseini
tivesse contagiado, com nazismo, todos os palestinos, para sempre.
E
Blair? Será que dará as caras? Deus nos proteja de Blair! Já corre sangue de
Cristo demais no Oriente Médio, sem aquele Dr. Fausto por lá! E fica-se a
conjecturar se alguém se atreverá a dizer que ali vivem palestinos, sob ocupação
de israelenses incondicionalmente apoiados por Santo Barack e seus escudeiros.
Mas talvez ele cite o “processo de paz”, talvez tente. O “redeslocamento” da
política externa dos EUA. É. Como o “redeslocamento” de Napoleão, fugindo de
Moscou; ou como o “redeslocamento” dos britânicos, de Dunquerque. Fica-se com
pena dos palestinos. E dos israelenses.
Nota
dos tradutores
[1]
“Orig.
[e Obama lá ficou, sentado], as mimsy as a borogrove. São duas palavras
inventadas por Lewis Carroll, que aparecem em Alice através do espelho,
tão intraduzíveis que sempre se pode inventar mais uma tradução. Por exemplo,
“Jabberwocky”,
outra das palavras inventadas por Carrol, para designar um monstro
esquisitíssimo, foi traduzida, por Augusto de Campos, ao português, como
“Jaguadarte”. Campos explicou sua tradução: “o jaguadarte é mistura de “jaguar”
e “espadarte” com “arte”. Gostei, porque ficou com certo ar de monstro
brasileiro”.
Sem
o talento de poeta de Campos, fizemos o que pudemos. Se
mimsy, como explica Carrol, é combinação de miserable e
flimsy [“miserável” e “transparente”], inventamos “miserabilente”.
O
borogove
aparece definido por Humpty
Dumpty como “um pássaro magro e caído, com penas espetadas para todos os lados –
parecido com um trapo vivo”. Usamos, para borogove a segunda parte da
definição de Humpty Dumpty, visualmente muito eloqüente.
Ainda bem que vocês existem.
ResponderExcluiralcir