6/3/2013, Mark Weisbrot, Commondreams
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Mark Weisbrot |
Bertrand
Russell escreveu, sobre o revolucionário norte-americano Thomas Paine, que
“tinha defeitos, como qualquer homem; mas foi por suas virtudes que foi
odiado e caluniado com sucesso”.
Não
poderia ser mais verdadeiro, dito de Hugo Chávez Frias, que foi provavelmente
mais demonizado que qualquer outro presidente eleito na história do mundo. Mas
continuou a ser reeleito por amplas maiorias, e foi chorado hoje, não só pelos
venezuelanos, mas por muitos latino-americanos capazes de avaliar o que fez pela
região.
Chávez sobreviveu a um golpe de Estado
patrocinado por Washington e a
greves das petroleiras que por pouco não destruíram a economia da Venezuela, mas
obteve afinal o controle sobre a indústria do petróleo, seu governo reduziu
a pobreza à metade e a
extrema pobreza a menos de 30% do que era ao chegar à presidência. Milhões de
pessoas ganharam acesso à assistência gratuita à saúde pela primeira vez na
vida, e o acesso à educação aumentou muito, com o número de matriculados nas
universidades duplicado e cursos absolutamente gratuitos para muitos. O número
de aposentados triplicou. Chávez cumpriu promessa de campanha, de partilhar com
a maioria dos venezuelanos a riqueza do petróleo do país. E tudo isso é apenas
uma parte de seu legado.
Venezuelanos lamentam a morte de
Hugo Chávez |
Chávez deixa também, como legado
seu, a segunda independência da América Latina, sobretudo da América
do Sul, que é hoje mais independente dos EUA que a Europa.
Sim,
nada disso teria acontecido sem os amigos próximos e aliados de Chávez: Lula no
Brasil, os Kirchners na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador e
outros. Mas Chávez foi o primeiro presidente que a esquerda elegeu nos últimos
20 anos, e teve papel muito importante; assistam ao que dirão dele todos esses
presidentes, e todos perceberão que essas falas serão mais significativas e
muito mais importantes que a maioria dos obituários, antiobituários e
comentários de “especialistas”. Todos esses governos do campo da esquerda
obtiveram avanços notáveis na redução da pobreza, no aumento do emprego e na
melhoria das condições gerais de vida, especialmente para as vastas maiorias
mais pobres – e seus partidos também foram repetidas
vezes eleitos e reeleitos.
Presidentes latino-americanos continuamente eleitos e reeleitos |
Para
esses outros presidentes democráticos, Chávez é visto como parte dessa revolta
continental que se fez pelas urnas e que transformou a América do Sul e aumentou
a participação política e as oportunidades para maiorias e minorias sempre,
antes, excluídas.
É altamente provável que esse
processo prossiga na Venezuela depois
da morte de Chávez. Seu partido tem mais de 7 milhões de filiados e já mostrou
competência para vencer eleições, mesmo sem contar com Chávez em campanha nas
eleições locais de dezembro passado, quando os chavistas venceram em cinco
governadoratos e em 20 de 23 estados.
As
relações com os EUA dificilmente melhorarão. O Departamento de
Estado e o
próprio presidente
Obama distribuíram
várias declarações hostis durante os meses da doença de Chávez, o que indica
que, faça o que fizer o próximo governo (sob a provável presidência de Nicolas
Maduro), Washington continuará sem trabalhar para melhorar essas relações.
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