Laerte
Braga
Texto enviado pelo autor
Ilustrações redecastorphoto
Excesso
de virtudes, na visão do escritor inglês Aldous Huxley, não significa
compreensão da vida em sua essência, em seu sentido e em sua razão de ser. Pode
significar orgulho, pode levar a pessoa a um afastamento gradativo da realidade,
como pode significar mesquinharia.
Papa Francisco I |
Dom Odilo Scherer Arcebispo de São Paulo |
Bergoglio
não chega, necessariamente, a ser uma surpresa. No conclave que escolheu
Ratzinger foi o segundo mais votado. Chegou ao Vaticano com um cacife eleitoral
razoável. Sobre o brasileiro Odilo Scherer leva a vantagem de ser dissimulado
(isso conta para a hipocrisia de Roma).
As
mudanças serão de estilo e não de fundo. Deve tentar influir politicamente em
seu país, nunca escondeu e de forma pública sua aversão tanto a Néstor Kirchner,
quanto a sua mulher Cristina. A despeito de críticas à economia de mercado,
nunca manifestou um ponto de vista conclusivo, apenas circundou os problemas de
seu país, mais ou menos como faziam os antigos políticos do ex-PSD do Brasil.
“Nem contra, nem a favor, muito antes pelo contrário, revendo meu ponto de
vista”.
No caso
específico não estava e nunca esteve revendo nada. Exceto no que diz respeito a
presidente Cristina.
Entre
suas virtudes escondidas, o poder. A busca do poder é uma de suas
características. Lembra João Paulo II, um produto de marketing. Sorri, enquanto sangram nos
porões da monarquia absoluta que é a igreja, os seus adversários.
É
jesuíta, uma ordem tradicionalmente conservadora e que durante muito tempo
ignorou ou manteve-se alheia ao poder de Roma. Seu superior era chamado de “papa
negro”. Começou a perder essa característica quando João Paulo II pôs fim a ela.
Submeteu os jesuítas, ordem fundada por Santo Inácio de Loiola, um militar
espanhol.
Um
sujeito comum que só tenha virtudes é, em si, um chato. Um Papa virtuoso é o
sinal que latino-americanos terão problemas com as ingerências do Vaticano em
questões políticas, principalmente, em países que buscam a independência plena,
sem o controle de Washington.
Não há
mudança alguma na igreja. Um novo showman foi eleito para gerir o
Vaticano.
Essa é
outra vantagem sobre o brasileiro Odilo Scherer. A falta de jogo de cintura, que
sobra no argentino. No fundo são iguais. Ao dizer que os homossexuais “merecem
respeito”, não está nem de longe discutindo o problema. Está mantendo o estigma,
a hipocrisia bem conhecida nos documentos secretos do papa anterior. Ao ser
contra o aborto está deixando claro que nenhum dos dogmas férreos da Idade Média
serão substituídos, ou revistos, apenas atenuados no discurso. Mas as câmaras de
injeções letais do Vaticano continuarão nos cantos soturnos dos palácios papais
do Vaticano.
Francisco
I talvez garanta à igreja uma sobrevida depois do fiasco Bento XVI. Mas só
isso.
É uma
espécie de canto da sereia. Ilude o pescador e o leva para o fundo do mar no
atraso crônico de uma instituição em estado falimentar de credibilidade, das
finanças e da moral. Isso quer dizer perigo. Vem respaldado por forças
conservadoras que podem causar estragos ponderáveis, sobretudo na América
Latina, principalmente na Argentina.
Mas os argentinos queriam mesmo.... Este Papa |
Está
longe de ser um Maradona ou um Néstor Rossi ou mesmo um Alfredo Di
Stéfano.
E um
detalhe, ironia ou não, o jornal brasileiro dedicado aos esportes, LANCE, chamou
na edição de hoje (13/3/2013), antes da escolha de Francisco I, o jogador
argentino Lionel Messi de Papa. Foi pelo desempenho no jogo de ontem contra a
equipe do Milan.
Francisco
I não é uma incógnita. É a continuidade do atraso da igreja romana. Sua dimensão
pode ser medida, inclusive, de como vai enfrentar os evangélicos, grupo de
malucos que tenta roubar a primazia do contato divino que sempre foi privilégio
do Vaticano.
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