Enviado por Evaristo Almeida (Economia &
Política)
(Kruschev, Eleanor e
a intérprete)
|
Cynara Menezes Blog Socialista Morena |
Eleanor Roosevelt (1884-1962) foi uma
primeira-dama e tanto. Durante o mandato do marido Franklin (1882-1945) era tão
independente que se sentia à vontade para emitir opiniões contrárias às do
presidente, e as publicava em jornais e revistas. Mulher à frente de seu tempo
–há evidências inclusive de que era homossexual – Eleanor se tornaria ao longo
dos anos, mesmo após enviuvar, uma figura de referência na América. De 1936 até
sua morte assinou uma coluna reproduzida em diversos jornais americanos.
Definitivamente, não era para decoração.
Em
junho de 1957, Eleanor denunciou que a Secretaria de Estado norte-americana lhe
havia negado a autorização para viajar à China e entrevistar alguns líderes
comunistas. Mas em outubro ela conseguiria ir à União Soviética, onde obteve um
furo de reportagem: entrevistou durante três horas o líder do Partido Comunista,
Nikita Kruschev (1894-1971), para o extinto jornal New York World-Telegram. A
globetrotter Eleanor estava para completar 73 anos. Kruschev, o homem que
sucedeu Stalin, era dez anos mais novo e estava de férias em Ialta, no mar
Negro, quando concordou em falar.
A
conversa entre o líder soviético e a ex-primeira-dama é fascinante e
elucidativa. Primeiro por expor, sem disfarces, o comportamento norte-americano
em relação ao comunismo, seu pânico quase infantil de que ele pudesse se
espalhar pelo mundo. E também por mostrar a gênese dos conflitos que duram até
hoje no Oriente Médio. Quem armou qual país? Eis aí onde tudo começou. Vejam os
conflitos na Síria atualmente: quem são os maiores envolvidos na suposta
tentativa de promover a paz? Estados Unidos e Rússia. Nada é por
acaso.
Eleanor
tenta colocar Nikita contra a parede, mas Kruschev faz o mesmo. Por vezes é ela
quem se esquiva da pergunta, por vezes é ele quem foge. Ninguém se dobra,
exatamente como seus países, em plena Guerra Fria.
Dois anos mais tarde, Nikita Kruschev visitaria os Estados
Unidos e seria sua vez de ser recebido por Eleanor Roosevelt. Ficaram amigos?
Nem tanto, mas souberam se sentar para conversar, embora discordassem nos
mínimos aspectos. Em um artigo, Eleanor contou ter achado o líder soviético
“extremamente articulado” e, como pessoa, “alguém difícil de não se gostar”. Ao
final, tomaram café e comeram frutas, doces e bolos oferecidos pela mulher de
Kruschev, Nina.
Com
todos os problemas da União Soviética, a entrevista deixa patente a falta que
faz um líder de superpotência capaz de questionar de igual para igual o poderio
norte-americano. Quem desempenha papel semelhante hoje no mundo é Hugo Chávez e
seus colegas bolivarianos na América do Sul, mas os países que governam não têm
o peso que a União Soviética tinha. Kruschev, porém, errou em sua previsão de
que era o destino histórico do comunismo se espalhar pelo
mundo…
A
entrevista foi publicada em quatro artigos. No último
deles, também muito interessante, Eleanor aborda especificamente a questão dos
judeus soviéticos. Há estudiosos que apontam uma ascendência judaica nos
Roosevelt, que eram primos.
***
3
October, 1957
NEW
YORK—A melhor maneira de começar esta série de artigos sobre a União Soviética é
deixando Nikita S. Kruschev, líder do Partido Comunista, falar por si próprio.
Pediram para submeter minhas questões antes da entrevista, mas o sr. Kruschev
não as tinha diante de si quando apareci. E ele respondeu todas as perguntas,
apesar de estar falando de forma completamente espontânea.
O
primeiro artigo irá abordar somente uma parte das respostas gravadas e, como eu
as tenho em russo, só posso dar a vocês a tradução como a recebi de minha
intérprete, a sra. Anna Larova, que me contou que tinha traduzido para o meu
marido em Ialta.
Abri
a entrevista pedindo a ela para dizer ao sr. Kruschev o quanto eu tinha
apreciado que tivesse reservado tempo para me ver durante suas férias, e
acrescentei que gostei e achei muito interessante minha viagem por seu país. O
sr. Kruschev respondeu: “Políticos nunca deixam obrigações políticas de
lado”.
Aqui
estão minhas perguntas e suas respostas: continue
lendo...
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