3/8/2010, Syed Saleem Shahzad,
Traduzido por
Syed Saleem Shahzad é jornalista, editor-chefe da sucursal de AToL no Paquistão.
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ISLAMABAD. As maiores enchentes da história do Paquistão já fizeram mais de 1.100 mortos e os encarregados dos resgates tentam salvar cerca de 27 mil pessoas ilhadas em áreas de risco. Funcionários disseram no domingo que mais de 1,5 milhões de pessoas, sobretudo na província Khyber Pakhtoonkhwa (ex Província da Fronteira Noroeste) e nas províncias do Punjab, foram afetadas.
Mais de 30 mil soldados foram deslocados para trabalhar nos esforços de resgate e os guerrilheiros da resistência local aproveitam-se do desastre natural para reemergir em áreas das quais já haviam sido afastados pelas operações militares.
Mullah Fazlullah, líder do grupo Tehreek-e Taliban Pakistan (Talibãs paquistaneses) no vale do Swat, anunciou em mensagem por vídeo que os Talibãs estão de volta àquela área. Antes, haviam circulado notícias de que Fazlullah teria sido morto pelo exército afegão na província do Nuristão.
Funcionários dos serviços paquistaneses de contra-terrorismo disseram que, em consequência das enchentes e deslizamentos de terra, as operações das agências
“A infraestrutura do Swat e em [Agência de] Malakand poderá sofrer consequências que se arrastem por mais de um ano. Todas as principais pontes ruíram e a mobilização dos soldados é limitada. Os guerrilheiros, é claro, beneficiam-se muito com essa situação”, disse um agente de contra-terrorismo,
As vias de suprimento para a Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, que passam pelo noroeste do Paquistão a caminho do Afeganistão também foram gravemente afetadas. Segundo relatórios da OTAN, tiveram de reduzir as ações para operações de pequena escala
A província paquistanesa Khyber Pakhtoonkhwa foi muito duramente atingida pelas chuvas de monção; praticamente todas as vilas foram atingidas. Com equipes locais de resgate plenamente ocupadas, o Paquistão buscou ajuda das forças norte-americanas estacionadas do outro lado da fronteira, no Afeganistão. Responderam com helicópteros, barcos, pontes de campanha, unidades de tratamento de água e outros suprimentos, como parte de uma ajuda emergencial de 10 milhões de dólares. Segundo a Fundação Edhi, organização humanitária privada, o número de mortos pode chegar a 3 mil nos próximos dias.
O problema do Paquistão agora é como alojar mais de um milhão de desabrigados e sem-casas, ao mesmo tempo em que tem de prosseguir na luta contra os grupos guerrilheiros.
Comentando o problema do fluxo de suprimentos para a OTAN, um funcionário da Autoridade Nacional de Estradas disse a AToL e que “a interrupção deve durar, no mínimo, algumas semanas. As pontes que levam a Peshawar [capital da província Khyber Pakhtoonkhwa] foram arrancadas pela violência das enchentes e todo o tráfego pesado está absolutamente suspenso, inclusive, é claro, o trânsito dos pesados contêineres da OTAN”.
A OTAN, como procedimento operacional padrão em áreas de conflito, armazena suprimentos suficientes para pelo menos 15 dias (alimentos, armamentos e combustível) para operações especiais. Têm sido frequentes as interrupções no fluxo de suprimentos que passam pelo Paquistão – quase todos os suprimentos que a OTAN recebe – o que tem dificultado operações no Afeganistão, sobretudo a ofensiva contra os centros de operação dos Talibãs em Kandahar, que já foi adiada por vários meses.
Os Talibãs, cujos movimentos de deslocamento são muito mais leves e fáceis que os da OTAN e que jamais contam com estradas e vias “normais” para deslocar combatentes e suprimentos das áreas tribais para o Afeganistão, muito provavelmente trabalharão para interromper o mais completamente e por mais tempo possível o fornecimento de suprimentos para a OTAN. Evidentemente essa interrupção interessa aos guerrilheiros, que trabalham com vistas a uma contraofensiva que denominaram “Operação Vitória”, em oposição à “Operação Esperança” da OTAN.
Assim também no Paquistão, a al-Qaeda já implantou a infraestrutura de sua guerrilha a partir da cidade portuária de Karachi, ao sul, por todo o caminho até a passagem Torkham para o Afeganistão, na fronteira. Logo que as águas baixem, expondo a infraestrutura paquistanesa destruída pelas enchentes, pode-se esperar que os guerrilheiros coordenados pela al-Qaeda voltem à ação.
O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Militants see opportunity in disaster