quarta-feira, 23 de abril de 2014

Como piorar tudo: “Coturnos em solo” na Ucrânia?! Quer mesmo, embaixador Jeffrey?!

18-20/4/2014, Coronel (aposentado) [*] Douglas Macgregor, Counterpunch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido na Tendinha do Pecado (depois da tradução) na Vila Vudu: Hoje, procurando pela coluna que um “embaixador” Jeffrey escreveu e o Washington Post publicou, e que um coronel norte-americano criticou em Counterpunch, para citar corretamente a fonte da coluna criticada, encontramos a pérola que abaixo se vê. Contando, ninguém acredita. Então aí vai a prova, da tela fotografada (abaixo) e “link” a seguir:
15/4/2014, Washington Post, James Jeffrey em: U.S. should send troops to quell Ukraine crisis”.



Comentário da Chica Munda, pasteleira da Vila Vudu: Coitado do coronel Macgregor, veterano da Guerra do Vietnã, e agora, depois de velho, já trocado por infantaria privatizada de mercenários, e, pra piorar, obrigado a ler as loucuras do Washington Post de Obama-Nuland-Kerry-Hilária & canalha adjunta…

Correção: Por um erro de edição, a coluna de James Jeffrey dizia que um deslocamento por terra, de soldados norte-americanos (coturnos em solo) “para a Ucrânia hoje pode mudar as percepções dos dois lados”.
O autor referia-se a áreas das fronteiras da Ucrânia, não à Ucrânia. De fato, deveria ter escrito que “um deslocamento por terra na atual crise com a Rússia pode mudar as percepções dos dois lados”. Além do que, o autor foi apresentado como embaixador no Kuwait, de 1996 a 1999. Não esteve lá como embaixador, mas como vice-chefe de missão. A versão hoje publicada foi atualizada”.
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James Jeffrey
Em coluna assinada, publicada dia 15 de abril no Washington Post, o ex-embaixador e ex-vice-Conselheiro de Segurança Nacional de Bush, James Jeffrey, agora sócio do Washington Institute, prega que se enviem forças terrestres (‘coturnos em solo’), soldados norte-americanos, para “resolver a crise” na Ucrânia.

Em mais um triunfo do aventureirismo militar irrefletido, sobre algum pensamento de estadista, o embaixador Jeffrey parece supor que o Sr. Putin ficará impressionadíssimo, se se deparar com o surgimento gradual de algumas unidades terrestres armadas dos EUA na fronteira da Rússia. Simultaneamente, como também o secretário Kerry, o embaixador Jeffrey ignora a simples verdade de que o Sr. Putin está fazendo um favor ao ocidente. (...)

A boa notícia é que o Sr. Putin está criando as condições para a emergência de uma Ucrânia livre, democrática e menor, além de demograficamente mais homogênea. (...) Os ucranianos do oeste devem poder unir-se à União Europeia, se assim decidirem, sem serem obrigados a unir-se à OTAN. (...) Nenhuma dessas propostas implica confronto militar entre a Rússia e o ocidente.

Infelizmente, em vez de procurar solução com a qual o povo da região possa viver, o embaixador Jeffrey quer aumentar as tensões. A ideia do embaixador, de que soldados norte-americanos “resolverão” a crise é pior que ingênua. A recomendação de Jeffrey é perigosa e temerária.

A menos que os EUA pudessem mandar 150 mil soldados, pelo menos 50 mil nos primeiros 30 dias, o que Jeffrey sugere é receita de desastre. Sem essa força-núcleo, alemães, poloneses, lituanos, latvianos, estonianos, eslovacos e húngaros não têm nem esperança de reunir número equivalente de soldados. Mais importante: a força norte-americana teria de ser pesadamente blindada e incluir quantidade substancial de artilharia de foguetes, unidades de mísseis de defesa aérea, além de elementos de logística.

Evidentemente, o embaixador não sabe que já não existe, nos EUA, tamanha força de ataque por terra.

Graças aos últimos 12 anos de lideranças políticas e militares soberbamente incapazes, os soldados e “coturnos em terra” com que os EUA contavam foram desperdiçados no Iraque e no Afeganistão. Hoje, as forças recrutadas para o exército terrestre, como também a infantaria leve do Exército e da Marinha, são absolutamente incapazes de fazer frente às forças terrestres russas, em nenhum ponto da Europa Central ou do Leste, sem se exporem à aniquilação certa.

Quanto à suposta superioridade convencional dos EUA, que o mundo vê policiar árabes e afegãos, mas sem infantaria, sem força aérea, sem defesas aéreas e sem mísseis, não é exatamente o que os russos entendem por “superioridade militar”.

Se o “aconselhamento” do embaixador Jeffrey é o melhor que o Departamento de Estado consegue produzir, os EUA estão em situação muito problemática. Lideranças políticas e militares como o embaixador Jeffrey, que se voltam para o poder militar em busca de “soluções”, sempre contam com que os militares trabalham rápido e bem. Mas nunca se lembram de oferecer respostas realistas às questões de objetivo estratégico, método e estado final, antes e durante as operações militares.

Nesse caso, o embaixador Jeffrey quer usar soldados norte-americanos que não existem, onde eles não são necessários. Pior que isso: o embaixador não sabe que o Exército e a Marinha dos EUA já não têm as capacidades de combate que teria de ter se Washington tivesse de fazer o que o embaixador sugere.

Boa estratégia militar consiste em saber quando usar poder militar e quando não usar poder militar. Infelizmente, o embaixador Jeffrey é exemplo do problema que aflige o pensamento dos políticos: as decisões nacionais nos EUA são mais frequentemente modeladas pela capacidade militar para agir (que já não há), que pela necessidade estratégica de agir (da qual ninguém ouve falar).


[*] O coronel (aposentado) Douglas Macgregor é veterano condecorado da Guerra do Vietnã, pós-graduado e autor de cinco livros, o mais recente dos quais é Warrior’s Rage: The Great Tank Battle of 73 Easting. Obteve seu Ph.D. em Relações Internacionais na University of Virginia.


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