23/4/2014, Deng Yushan, Xinhua, Pequim
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Barack Obama ladeado pelo PM Shinzo Abe do Japão e Park Geun-hye, Pres. da Coreia do Sul em 25/3/2014 (foto: Pablo Martinez Monsivais) |
Seis meses
depois que um “fechamento” [1] forçado do Executivo dos EUA obrigou-o a improvisar uma visita à
Ásia, o Presidente dos EUA, Barack Obama, volta ao continente que cresce, para
consolidar o engajamento de Washington com a região do Pacífico Asiático.
A visita a
quatro países acontece no contexto da política chamada de “reequilibramento
[pivoteamento] para a Ásia” do governo Obama, que sugere uma disposição dos EUA
para redirecionar prioridades e recursos para o outro lado do Oceano Pacífico.
Washington
tem boa razão para pivotear-se na direção da Ásia. A Ásia é hoje a usina de
energia da economia mundial; ali estão importantes aliados dos EUA e grande
quantidade de significativos interesses dos EUA. País que não veja ou, mesmo,
que desconsidere o papel da Ásia, sabe que as consequências pesarão sobre ele
mesmo.
Mas isso
não é tudo. Por trás da fachada de pragmatismo, há o fator China. Por mais que
Washington repetidamente negue, a estratégia de pivoteamento/“reequilibramento”
encobre esquema cuidadosamente calculado para engaiolar o gigante asiático que
não para de crescer, reconvocando os aliados dos EUA e reforçando a presença
norte-americana.
Se, por
fora, a lógica de Washington sugere uma potência adaptável e de visão ampla, o
que se vê por dentro é uma superpotência míope e esclerosada que deixou, ela
mesma, se aprisionar pela história recente, numa posição de confrontação
belicista, obnubliada por pseudo realismo falsificado e ultrapassado, que a
impede de ver que a China orienta-se necessariamente para a paz, não para a
guerra.
Esse traço
de duas caras é perigoso e insustentável. Com a paisagem asiática já
dramaticamente transformada, os EUA têm de libertar-se de suas algemas
históricas e filosóficas e atualizar sua política para a Ásia; têm de alinhá-la
com as novas realidades, seja para benefícios dos próprios EUA, seja para
benefício da região e de todo o planeta.
Como
primeiro e mais importante item dessa reformatação, que já virá atrasada,
Washington que trate de respeitar os interesses centrais e legítimos da China;
e que se dedique a trabalhar séria e genuinamente com Pequim para construir
confiança mútua e melhorar nossas relações bilaterais.
A interação
entre as duas maiores economias é o relacionamento bilateral mais importante,
hoje, no mundo. Por isso, apesar de Obama ter ignorado a China nessa sua
viagem, a China não ignora Obama em suas andanças com
anfitriões japoneses, sul-coreanos, malaios e filipinos.
A dedicação
dos dois pesos-pesados, para cultivar um novo tipo de relacionamento entre
grandes potências, é estrategicamente estimulante. Mas Washington tem de fazer, em vez de só prometer.
O mínimo
que Washington tem de fazer é parar de inflar a teoria lá mesmo inventada de
que haveria uma “ameaça chinesa”; e que deixe de se imiscuir, sem qualquer
direito ou legitimidade, em disputas marítimas e territoriais legítimas entre a
China e alguns de seus vizinhos.
Paralelamente,
os EUA que reavaliem seu sistema de hegemonia anacrônica de alianças; e que
parem de insuflar parceiros seus, como Japão e Filipinas – que têm inflado as
tensões regionais com movimentos de provocação.
Reforçadas
pelo – ou, pelo menos, aproveitando-se do – pivoteamento dos EUA para a Ásia,
Tóquio e Manila tornam-se mais agressivas e mais beligerantes nos contatos com
Pequim nos mares do Leste e do Sul da China.
Em claro
sinal do atraso desses malfadados aliados de Washington, o Primeiro-Ministro do
Japão, Shinzo Abe e número alarmante de altas autoridades japonesas prestaram
homenagens, nos últimos dias, no Santuário Yasukuni, à memória de 14 criminosos
de guerra japoneses, julgados e condenados depois da IIª. Guerra Mundial.
Essas
visitas e as homenagens, que ofendem China, Coreia do Sul e outras vítimas do
Japão militarista, aconteceram na véspera da visita de Obama – e apesar de o
governo dos EUA ter explicitamente suplicado a Tóquio que mantivesse as coisas
bem separadas.
A bofetada
que o Japão aplicou a Obama deve bastar para arrancar Washington das ilusões em
que vive e trazer os EUA de volta à realidade. Esses efeitos colaterais de seu modus
operandi na Ásia é que são a ameaça real; e devem ser o principal objetivo
das preocupações dos EUA, a serem contidos.
É mais que
hora de Obama enviar mensagem clara à Ásia e ao mundo: ele só terá feito por
merecer o autoatribuído título de “Primeiro Presidente pacífico/do Pacífico
dos EUA”, se reformatar seu país e o transformar em ator construtivo e
responsável na região do Pacífico Asiático.
Notas dos tradutores
[1]
Orig. government
shutdown [lit. “trancamento” do Executivo, pelo Congresso].
Acontece quando o Congresso decide não aprovar ou rejeitar as leis necessárias
para que as operações e agências do Executivo recebam os fundos necessários
para operar. A Constituição dos EUA determina que, em caso de as leis do
Orçamento não serem aprovadas no prazo fixado, o Executivo Federal tem de
“trancar”, ou providenciar a extinção, das unidades/atividades afetadas.
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