23/4/2014, RTTV, Moscou, Sophie
Shevardnadze entrevista Sergey Lavrov
Transcrição do vídeo traduzida
pelo pessoal da Vila Vudu
All you need is Lavrov
[na tela da TV russa, gerador de caracteres]
Sophie Shevardnadze: Sergey Lavrov, ministro de Relações
Exteriores da Rússia, muito bom tê-lo hoje em nosso programa.
Sergey Lavrov: Obrigado pelo
convite.
SS: Outro dia, Joe Biden em visita a Kiev disse que o
tempo é curto, que a Rússia tem de avançar nos compromissos que assumiu em
Genebra. O que se espera da Rússia?
LAVROV: Bem... É difícil
dizer. Eu falo diariamente com John Kerry. E, francamente, os colegas
norte-americanos decidiram que a Rússia é culpada de tudo, inclusive da origem
do conflito e incluindo os passos a serem dados. Nos acusam de ter soldados
russos, agentes russos no leste e no sul da Ucrânia. Dizem que basta os russos
darem a ordem, e os prédios ilegalmente ocupados seriam liberados, e que cabe
aos russos garantir que leste e sul da Ucrânia parem de apresentar demandas a
favor da federalização e do referendo e tal, e tal e tal. Isso é absolutamente...
É mudar de lugar as traves do gol, se quiser dizer assim.
Em
Genebra, todos concordamos que é indispensável uma abordagem recíproca ante
qualquer ação ilegítima na Ucrânia, seja em Kiev, seja no ocidente, seja no
leste, seja no sul. E o pessoal que iniciou o processo de ações ilegítimas tem
de retroceder primeiro.
É
absolutamente anormal, para as normas de qualquer cidade europeia, que [a
praça] Maidan continue ocupada, que os prédios em Kiev continuem ocupados e em
outras cidades, que os que incendiaram os prédios da sede do partido Comunista
em Kiev, que os prédios da sede do Sindicato não estejam sequer sendo
investigados.
E
nem quero falar dos atiradores escondidos em prédios, porque todos já
esqueceram esses atiradores. E a única coisa que ouvimos é “Vamos nos
concentrar em eliminar as ameaças terroristas no leste e no sul”.
Então,
em Genebra, todos concordamos que é preciso por fim a todo o tipo de violência.
Na manhã seguinte, Turchinov declarou quase um estado de emergência e ordenou
que o exército atirasse contra pessoas que se manifestavam pacificamente.
Em
Genebra, concordamos que tem de haver rejeição total aos extremistas. E o Setor
Direita ainda está muito ativo. E depois de Genebra o Setor Direita encenou
provocações, matando várias pessoas nos arredores de Slavyansk durante o
domingo de Páscoa.
Quer
dizer: nada do que foi acertado em Genebra e que, com certeza, cabia às
autoridades em Kiev começar a implementar, foi feito. Não fizeram nada.
Sim,
apresentaram ontem rascunho de uma lei de anistia. Mas o que entendemos dessa
lei indica que não se aplica a prisioneiros políticos. Sim, anunciaram uma
pausa no que chamam de “operação contra-terrorismo”. Mas agora que Joe Biden
visitou Kiev, a tal operação contra-terroristas foi declarada outra vez em fase
ativa.
Bem,
é muito eloquente que escolham um momento de visita do vice-presidente dos EUA,
para anunciar a retomada dessa operação, porque a operação foi lançada
imediatamente depois que John Brennan visitou Kiev. Assim sendo, não tenho
razão para não acreditar que os norte-americanos estão dirigindo o show
e de bem perto.
SS: Bem, o senhor insistiu com John Kerry para que
realmente pressionasse o governo em Kiev e o comportamento deles. Mas isso
realmente significa que o senhor realmente vê os EUA como tendo influência
decisiva no país?
LAVROV: É exatamente o que
vejo. Não influência no país, mas influência sobre o regime que tomou o poder
em Kiev. Eles têm, pensou eu, influência absoluta. Agem de modo mais aberto,
sem qualquer escrúpulo, se comparados aos europeus. Os europeus tentam ser mais
sutis. E o fato que... Você sabe. Há muitas e muitas notícias sobre o papel da CIA
na análise da situação e também presente na Ucrânia, inclusive no prédio do
Conselho de Segurança do Estado Ucraniano, onde ocupam um piso inteiro. E há
inúmeras notícias que foram revividas recentemente sobre o papel da embaixada
dos EUA durante os eventos em Maidan – interação e comunicação direta com os
ativistas que estavam armados e que planejavam as ações, como invadir prédios e
outros atos ilegais.
Nada
disso foi desmentido ou negado de modo persuasivo. E, sim, quando você recebe
telefonemas diários de John Kerry dizendo a você: “Você tem de fazer isso, você
tem de fazer aquilo, você deve, você deve”, e quando você compreende quantos
milhares de quilômetros há entre EUA e Ucrânia, quando você vê como eles estão
perturbados por o pessoal que eles patrocinam não estarem fazendo sequer o
óbvio do que são mandados fazer... É impossível não pensar que eles dirigem o show.
SS: Mas e a Rússia? Sim, eu sei que a Rússia reiterou
muitas vezes que não reconhece a legitimidade do governo em Kiev, mas, mesmo
assim, continuam as reuniões diplomáticas em Genebra, lembro em Haia, a reunião
de ministros do Exterior também. Moscou tem alguma ascendência sobre Kiev?
LAVROV: Não sobre Kiev. Não,
absolutamente não.
SS: E sobre o leste da Ucrânia?
LAVROV: No leste, o povo
revoltou-se, depois de vários meses em que seus interesses foram completamente
negligenciados. E viram o que aconteceu em Maidan, o que fez o Setor Direita,
outros extremistas, os atiradores escondidos em prédios que mataram dúzias de
pessoas, e depois, imediatamente, todos os que eram contra o governo de
Yanukovich foram anistiados, o que não está sendo feito agora a favor das
pessoas que só tiveram ação política no leste e no sul. Eles simplesmente não
querem uma repetição do que houve em Kiev e foi tentado também na Crimeia, não
esqueça. Essas pessoas, é claro, são amigáveis com os russos, muitos tem
parentes russos, eles ouvem com extrema atenção o que a Rússia diz. Mas essas
pessoas não são fantoches.
Nós
não podemos garantir que estarão prontos a assumir como garantidas as promessas
que ouçam de Kiev. Estão fartos de conversas, precisam de ações, de medidas
reais.
Cabe
ao regime cancelar a ordem de usar o exército contra o povo. O regime tem de
libertar os prisioneiros políticos. Tem de começar a fazer o que se
comprometeram a fazer dia 21 de fevereiro, quando assinaram o acordo, que diz
“entregar as armas ilegais”. Eles têm de começar a desarmar o Setor Direita. E
têm de parar de só dizer “convidaremos as regiões para um processo de reforma
constitucional”.
Têm
de sentar com eles, em vez de viajar ao exterior. Você sabe... Já ouvi que Yatsenyuk
irá ao Vaticano. O melhor lugar para ele ira agora seria o sul. Mas
quando esteve lá, semana passada, só se reuniu com gente que ele mesmo nomeou.
Jamais sequer se aproximou do povo que protestava. E é exatamente aí onde
as autoridades de Kiev têm de estar agora, se realmente pretendem representar
todo o país.
SS: Mas aí é que está – as pessoas no ocidente, e nem
estou falando do establishment político norte-americano, simples pessoas
que assistam à TV. Para eles, o que está acontecendo no sul e no leste do país
nesse momento é muito semelhante ao que se passou em Maidan. Porque veem forças
de autodefesa, como viam o Setor Direita em Maidan, caos, gente ocupando
prédios do estado, gente que se recusa a entregar suas armas... Agora, estão
dizendo que essas pessoas são pró-Rússia. Assim sendo, por que a Rússia não
está tão ofendida com o que acontece no leste, quero dizer, o caos, como em
Maidan? Por que os russos não usam sua influência para acalmar aquelas pessoas?
LAVROV: Não acho que se possa
dizer que nós negligenciamos os problemas deles, estamos solidários com eles,
insistimos politicamente que os interesses deles têm de ser levados em conta.
Por isso fomos a Genebra, por isso negociamos o acordo que exige tratamento
igual para todos que tenham praticado atividades ilegais, no entendimento de
que o governo interino, ou seja lá como eles se chamam, tem de dar o exemplo, e
têm de parar de cometer os atos ilegais que também continuam a acontecer em
Kiev e em outras partes do país, não só no leste e no sul.
E,
sim, no leste e no sul, os líderes eleitos pelo povo disseram que estarão
prontos a entregar as armas, evacuar os prédios, desde que o governo cancele as
ordens ilegais de usar o exército e faça o que tem obrigação de fazer contra o
Setor Direita, outros extremistas e evacue os prédios invadidos e ainda
ocupados em Kiev.
Quer
saber? Os norte-americanos disseram, acho que foi Victoria Nuland, quando
insistimos em que o acordo de Genebra fosse implementado na íntegra, a começar
pela evacuação dos prédios em Kiev – Ela disse que aqueles prédios estavam
sendo legalmente ocupados, porque as autoridades em Kiev emitiram uma
autorização para os que ocupavam prédios, e que agora eles são proprietários
legais, ou ocupadores legais daqueles prédios. É absolutamente inacreditável
que apresentem, em discussão que se supõe séria, argumentos desse tipo.
SS: O senhor está dizendo que o acordo firmado dia 21 de
fevereiro pelas potências ocidentais foi, pode-se dizer, ignorado pelos mesmos
que o assinaram. Agora, o senhor está dizendo que o acordo de Genebra também
está sendo ignorado …
LAVROV: É exatamente o que
está acontecendo.
SS: E qual o sentido desses acordos, se não se consegue
chegar a solução prática para esse problema?
LAVROV: O ponto do acordo de
21 de fevereiro era conseguir que Yanokovich se comprometesse a não usar a
polícia contra civis – o que ele cumpriu; que se comprometesse a não declarar
estado de emergência – o que ele também cumpriu – e, basicamente, foi um ato de
capitulação. Todos os compromissos que Yanokovich assumiu foram cumpridos.
Alguns alegam que ele não assinou a lei que trazia de volta a Constituição
anterior, mas a lei foi promulgada mesmo assim, quer dizer, tudo de que a
oposição precisava foi feito. Mas o outro lado não fez coisa alguma do que se
comprometeu a fazer.
E
o acordo de Genebra, a reunião de Genebra foi planejada, de fato, para pôr todo
o processo outra vez nos trilhos da lei, incluindo a necessidade de iniciar o
processo constitucional, com pleno envolvimento de todas as Regiões. Sim,
chegamos a um acordo, todos concordaram, mas... agora, o acordo não está sendo
honrado pelos que têm de dar o primeiro passo.
SS: Eles têm de dar o primeiro passo?
LAVROV: Sem dúvida possível. Têm.
SS: A Rússia não pode pressionar aqueles grupos de
autodefesa a entregar suas armas, a menos que...
LAVROV: Não há como conseguir
isso. E não temos nenhum poder ou autoridade para pressionar o leste ou o sul
para que façam alguma coisa unilateralmente, que entreguem armas, se há ali um
exército que foi mandado contra eles; se há ali um Setor Direita que já deveria
ter sido desarmado há muito tempo; e se continua a haver prisão de prisioneiros
políticos.
SS: O senhor disse muitas vezes que a Rússia não tem
intenção alguma de pôr tropas dentro da Ucrânia. E recentemente, Dmitry Peskov,
secretário de imprensa do presidente russo, confirmou que há um contigente
militar reforçado na fronteira entre Rússia e Ucrânia. Há algum cenário de caso
extremo, no qual esse contingente poderá ser usado?
LAVROV: Se formos atacados,
com certeza responderemos. Se nossos interesses, nossos interesses legítimos,
os interesses dos russos forem atacados diretamente, como foram atacados na
Ossetia Sul, por exemplo, não vejo como será possível não responder, nos termos
da lei internacional.
Cidadãos
russos atacados é ataque contra a Federação Russa. Mas é preciso destacar que,
nesse momento, todos os soldados russos estão em território russo. Os pedidos
para que haja inspeções, nos termos do chamado Documento Viena 2011, e nos
termos do Tratado de Céu Aberto [orig. treaty of the Open Sky], todos
foram concedidos.
Os
inspetores visitaram as áreas de deslocamento de soldados que trabalham em
exercícios de treinamento. As áreas onde são realizados os exercícios foram
sobrevoadas, e ninguém que participou das inspeções, incluindo
norte-americanos, ucranianos e europeus encontraram qualquer sinal de atividade
militar perigosa.
Estamos
portanto em nosso próprio território e nada do que estamos fazendo é proibido
ou ilegal. Os soldados ucranianos estão no território deles, mas a diferença é
que eles, sim, receberam ordem de Turchinov para usar armas de fogo contra
civis. E essa ordem é criminosa.
SS: O senhor falou várias vezes sobre John Kerry nessa
entrevista, e parece que o senhor e ele veem-se e falam-se com mais frequência
do que veem e falam com a família, apesar das muitas diferenças diplomáticas. O
senhor acha que, em termos de empatia, é possível chegar a algum acordo com
esse senhor?
LAVROV: Já conseguimos vários
acordos: sobre a Síria, sobre o Irã, por exemplo. E também assinamos acordo
sobre a Ucrânia, em Genebra, dia 17 de abril. Pessoalmente, há uma boa química
entre nós, mas também compreendemos que há conselheiros e autoridades
superiores que às vezes não ajudam. Mas eu já disse várias vezes a Kerry que
não acreditamos que haja verdadeira parceria – eles falam muito sobre uma
parceria –, quando, sempre, seja qual for a questão que nós discutamos, os
norte-americanos fazem de tudo para nos culpar de tudo, sempre.
Minha
opinião é que, se não tivesse acontecido na Ucrânia, teria acontecido em algum
outro lugar. Já aconteceu antes no Irã, quando os norte-americanos só faziam
nos dizer ‘façam isso, façam aquilo, vocês têm de fazer assim, vocês devem
fazer tal e tal coisa, vocês devem, vocês devem’. Os russos ‘devem mandar’ os
iranianos fazer tal ou tal coisa... Os russos ‘não devem’ vender armas ao
Irã... Se a Rússia não fizer isso e mais aquilo e mais aquilo, eles chegam, dão
ordens, fazem o que quiserem fazer e... tudo se resolveria, e a questão nuclear
estaria resolvida...
Depois,
aconteceu a Síria. E os norte-americanos nos diziam – de fato, ainda dizem –
que ‘a Rússia deve’ dizer a Assad que renuncie. ‘Se a Rússia’ disser a Assad
que ele ‘tem de renunciar’, tudo dará perfeitamente certo, haverá democracia e
tal, e tal e tal’, a conversa de sempre.
Os
norte-americanos raciocinam como se a questão iraniana dependesse
exclusivamente da Rússia, como se a questão síria dependesse exclusivamente da
Rússia (também costumam dizer que toda a culpa de tudo cabe a “Rússia e Irã”).
Agora, já começaram, também no caso da Ucrânia: toda a culpa é, integralmente,
da Rússia. Devo dizer que esse é um modo [sorriso] absolutamente ‘autista’,
autorreferente e irrealista. Parece-me sempre que eles só pensam em ocultar a
própria responsabilidade deles.
Agora,
por falar em Síria, os norte-americanos já começaram a dizer e, infelizmente, o
porta-voz da ONU já está cantando pela mesma toada, que as eleições anunciadas
para 3 de junho, pelo presidente Assad, seriam ilegítimas, porque antes teria
de haver um governo de transição nos termos de uma nova Constituição, etc. etc..
OK,
o comunicado de Genebra sobre a Síria dizia, exatamente, que tem de haver um
governo de transição, para fazer a reforma da Constituição, e, depois disso,
sim, haveria eleições gerais. Ótimo. Mas por que os norte-americanos exigem
toda essa sequência de eventos na Síria... Depois até assinam acordo com essa
mesma sequência também para a Ucrânia... Mas, em seguida, não cumprem o acordo
que assinaram dia 21 de fevereiro?
A
sequência legal tem de ser governo provisório por consentimento das partes;
reforma da Constituição; e, só depois de promulgada a nova Constituição, então,
eleições.
Na
Ucrânia, um grupo deu um golpe, derrubou o presidente eleito, tomou o poder e
declarou-se, ele mesmo, com poder para governar. Nunca falaram de qualquer tipo
de reforma constitucional. Declararam que haverá eleições presidenciais dia 25
de maio. E que a reforma constitucional – afinal lembraram, depois que os
russos dissemos a eles que, sem isso, nem o sul nem o leste da Ucrânia jamais
aceitariam o governo da junta golpista – lembraram-se, afinal, de que é preciso
que haja uma Constituição. Mas disseram que “pode ser feito mais tarde”.
Tudo isso parece perfeitamente
legítimo aos olhos do ocidente. O mesmo pessoal que diz que eleições
presidenciais na Síria sem reforma constitucional seriam ilegítimas, diz agora
que a mesma coisa seria perfeitamente legítima na Ucrânia: eleições dia 25 de
maio, sem reforma constitucional.
SS: O senhor reuniu-se com muitos políticos
norte-americanos, além de John Kerry, e a retórica deles é muito dura. O senhor
acha que os norte-americanos estão preparados para real confrontação com a
Rússia, na disputa pela Ucrânia?
LAVROV: De fato, eu já disse
que a questão não é a Ucrânia. Ucrânia é só a manifestação da falta de
disposição, entre os norte-americanos, para negociar no campo geopolítico. Os
norte-americanos recusam-se a admitir que não podem dirigir qualquer show
em todos e em qualquer canto do mundo, como se Washington, só ela, fosse o
centro do planeta. Eles não podem mais impor soluções contra todos. Parece que
não conseguem entender – de fato, acho que já estão começando a entender, mas
ainda são movidos por alguma espécie de instinto negativo, que os impede de
agir como outros entendam que eles devam agir... Não conseguem cooperar, eu
diria.
De
fato, estão começando a entender, muito devagar, mas sim, estão começando. Por
isso, conseguimos algum acordo sobre as armas químicas sírias; algumas
convergências sobre o programa nuclear iraniano; e o acordo para a Ucrânia em
Genebra. Mas quase sempre, depois de firmado o acordo, os norte-americanos
tratam de meter na sacola a parte que arrancaram dos demais negociadores, e
passam a tentar não cumprir a parte deles no acordo.
Pode
ser atitude de quem só pensa nas vantagens que possa arrancar da outra parte,
considerando só seu próprio interesse direto, mentalidade de escroque. No caso
do Irã, por exemplo, o acordo foi rápido e bem claro, mas no instante em que
começou a ser implementado, os norte-americanos puseram-se a inventar novas
exigências e novas cláusulas que nunca foram discutidas e negociadas. O
programa de mísseis dos iranianos jamais antes aparecera em qualquer discussão
ou negociação, nunca. Não é item do acordo assinado em Genebra em novembro
passado.
Pois
de repente, quando o acordo de novembro começou a ser implementado, os norte-americanos
inventaram o problema da proliferação de mísseis que, por pouco, não arruinou
todo o processo.
Sobre
a Síria, assinamos o acord de desarmamento químico e o processo está ainda em
andamento e prossegue muito bem, e a avaliação que é positiva, pelo pessoal da
ONU que trabalha no processo, da Organização para Proibição de Armas Químicas.
Os
norte-americanos, desde praticamente o primeiro dia, puseram-se a reclamar,
dizendo que o governo estaria metido naquilo, que não está cumprindo o que
prometeu, e ignorando completamente os fatos: de que o governo precisava de
mais veículos armados para fazer o transporte e a segurança do transporte dos
produtos químicos (veículos que China e Rússia estamos emprestando ao governo
sírio); a necessidade de os chefes que influenciavam os jihadistas e
extremistas armados conseguissem controla-los e impedir que encenassem atos de
provocação enquanto as armas químicas são levadas, dos arsenais até o porto. E
mais muitos detalhes dessa operação complexíssima.
Fato
é que cada vez que assinamos qualquer acordo com os norte-americanos, eles
imediatamente põem-se a culpar qualquer outro por qualquer atraso, ou, ainda
pior, põem-se a inventar demandas e questões novas, nunca antes discutidas por
todos os envolvidos, e que absolutamente contradizem o consenso que tenha sido
alcançado.
Isso,
precisamente, estão novamente fazendo em torno do acordo de Genebra sobre a
Ucrânia. Mas tenho esperanças de que ajam com responsabilidade, que parem de
pensar exclusivamente nos próprios planos geopolíticos, nos interesses
geopolíticos dos EUA, nos seus próprios interesses unilaterais, e pensem também
sobre o futuro da Ucrânia, como os russos estamos fazendo.
A
Ucrânia é nosso maior vizinho, mais próximo vizinho, os ucranianos são irmãos e
irmãs da população da Federação Russa.
Se
todos pensarmos sobre a Ucrânia – não sobre quem será ‘proprietário’ da
Ucrânia, como os EUA raciocinam –, sobre como os próprios ucranianos desejam
viver, não será muito difícil ajudar os ucranianos a encontrarem objetivo
nacional comum e a reconciliação nacional.
[Despedidas
e fim da entrevista]
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.