Ucrânia − Motivo para otimismo: John Kerry e o desespero de “último recurso”

25/4/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker

John Kerry and the “last resort” rule as a cause for optimism

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

The Saker

Ouvindo Kerry hoje, passei por várias emoções contraditórias. Primeiro, me incomodou, depois meu incômodo virou fúria, depois comecei a achar engraçado e, afinal, me senti muito feliz. Explico.

Primeiro, claro, meu estômago sempre fica embrulhado quando ouço esse representante prototípico de plutocrata-1% falando ao mundo como se fosse alguma espécie de bedel de escola/Imperador, a repreender alunos que se comportaram mal e ameaçando-os com uma surra. Todos sabemos que gente como Obama ou Baby Bush não passam de fantoches, carcaças vazias exibidas ao público zumbificado, como “O Presidente e Comandante-em-chefe”, quando, de fato, esses sujeitos não passam de porta-vozes. Kerry não é da classe de Dick Cheney ou James Baker. Esse pessoal é gente que aparece quando o fantoche-em-chefe faz alguma merda e é preciso algum cérebro na linha de frente. Considero todos esses profundamente repugnantes (embora não consiga deixar de admirar as fantásticas habilidades diplomáticas de James Baker).

John "Liar" Kerry

Meu enjoo inicial virou fúria, quando ouvi Kerry mentir tanto, de tal modo, que até um político sentiria vergonha de si mesmo. Quase tudo que Kerry disse poderia ser dito literalmente ao contrário, e se aproximaria da verdade. Mesmo já aos 50 anos, e já tendo ouvido todos os tipos de mentiras, falsidades, traições e fingimentos ao longo dos anos, ainda sobrevive uma voz ingênua dentro de mim, que gritava “Como pode dizer tal coisa?”, “Será que não tem vergonha?”, “Como pode viver com ele mesmo?” Sei. É ingenuidade. OK. Mas não me acostumo. Nem aos 50 anos.

Depois, minha fúria passou. Àquela altura, já estava além do bem e do mal, impressionado com o sangue frio necessário, para pôr-se alguém frente a câmeras de TV, falando para o mundo, e declarando, sem piscar, que o planeta terra não é uma bola, mas uma pirâmide, que tem lados triangulares, que o preto é rosa-choque com bolinhas verdes. Ele chegou a dizer que é impossível tornar cinza o que é preto. Que preto é isso: verde com listras. Nesse ponto, eu já estava deslumbrado.

Até que, de repente, entendi. Kerry e os interesses que ele representa estão apavorados, aterrorizados e frustrados. Aquela declaração é tentativa desesperada. Kerry tentou o que os advogados chamam de “regra do último recurso”, que diz mais ou menos o seguinte:

Se a lei está do seu lado, bata com a lei, na mesa. Se os fatos estão do seu lado, bata com os fatos, na mesa. Se nem a lei nem os fatos estão do seu lado, esmurre a mesa.

Kerry estava esmurrando furiosamente a mesa, e isso, como afinal entendi, foi uma confissão de que nem a lei (internacional) nem qualquer fato estavam do lado dele. Se tivesse a lei, ou algum fato, do lado dele, não precisaria esmurrar tanto a mesa. Claro.

Pânico e frustração estavam bem visíveis também em seu ataque ao canal de televisão Russia Today. Vídeo a seguir (em inglês):

Eis o que Kerry disse:

De fato, a corneta de propaganda que é o programa Russia Today, patrocinado pelo Estado, foi usada para promover – na verdade, a rede Russia Today – foi usada para promover a fantasia do presidente Putin sobre o que se passa em solo. Eles quase gastam todo o tempo devotado a esse esforço para propagandear e distorcer o que está ou não está acontecendo na Ucrânia. De fato, à plena vista de todos, a Rússia continua a financiar, coordenar e abastecer um movimento separatista pesadamente armado em Donetsk.

Mas... Como assim? Russia Today não transmite nem em ucraniano nem em russo. Só transmite em inglês, espanhol e árabe. A única coisa transmitida em inglês por RT são os documentários, para os quais há website especial. É uma mínima fração do que o canal realmente faz, e a audiência na Rússia ou na Ucrânia é ínfima, comparada à dos grandes canais de televisão russos. Então, por que Kerry destacou Russia Today?

A resposta é óbvia: porque Russia Today e canal muito popular fora da Rússia ou Ucrânia. Segundo a Wikipedia:

O sinal da rede mobiliza 22 satélites e mais de 230 operadoras, com público estimado de 644 milhões de pessoas, em mais de 100 países. RT America está disponível para 85 milhões de pessoas nos EUA. Em 2011, foi o segundo canal estrangeiro de notícias mais assistido nos EUA, perdendo só para a BBC World News, e foi o canal estrangeiro mais assistido em cinco grandes áreas urbanas nos EUA em 2012. É também muito popular entre norte-americanos jovens, pessoal universitário e em vários bairros de muitas cidades norte-americanas. Em 2013, RT tornou-se o primeiro canal de notícias na história a alcançar 1 bilhão de views em YouTube. Segundo o Broadcasters' Audience Research Board, entre 2,2–2,3 milhões de britânicos assistiram ao canal RT durante a segunda metade de 2012, o que deu ao canal o 4º lugar entre canais de notícias na Grã-Bretanha, depois de BBC News, Sky News e Al Jazeera English.

Walter Isaacson

Não esqueçam o que disse Walter Isaacson, do Broadcasting Board of Governors, claramente:

“Não podemos nos deixar ultrapassar, na comunicação, por nossos inimigos, há Russia Today, Iran's Press TV, a Telesur da Venezuela e, claro, a China está lançando um canal de notícias, 24 horas no ar, com correspondentes em todo o mundo e já anunciou que gastará, nisso, de 6 a 10 bilhões de dólares – temos que levar esse número aos deputados e senadores no Capitólio – para expandir suas operações de mídia para o exterior.”

Então, é isso. O problema não é que Russia Today estaria levantando as massas no leste da Ucrânia. O problema é que, graças a Russia Today, o povo, no Ocidente, está começando a ver por trás da propaganda dos EUA. Essa é a verdadeira razão do surto de frustração de Kerry.

Assim sendo, em resumo:

1) A lei não está do lado de Kerry.

2) Os fatos não estão do lado de Kerry.

3) O povo, no Ocidente, está começando a ver por trás das mentiras da máquina de propaganda.

4) Não há o que o Império possa fazer, contra nenhuma dessas evidências.

Mark Levine

Se alguma confirmação fosse ainda necessária, ela apareceu hoje, na incrível performance de Mark Levine no programa CrossTalk de hoje. Ainda não está no YouTube, mas assiste-se em Russia Today. Levine converteu CrossTalk [conversa cruzada] e CrossShout [berros cruzados], mais um caso de “esmurramento de mesa”. Por quê? Pelas mesmas razões de Kerry: nenhum outra coisa está dando certo para eles.

Desde que Putin voltou ao poder, a Rússia já não joga pelas mesmas regras traçadas pelo Império. Seja na Síria, seja na Ucrânia, a Rússia age com extrema cautela, mais muito firmemente, sempre respondendo à plutocracia anglo-sionista internacional, trabalhando para afrouxar as garras com que prendem o planeta. E isso apareceu diretamente refletido na fúria impotente de Kerry e dos 1%s seus cúmplices.

Isso, me parece é excelente notícia, sim senhores.

Saudações,

The Saker

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