Por que Obama deixou-se atacar? O
que é isso?!
4/10/2012, Pepe Escobar,
Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O presidente dos EUA [President
Of The US, POTUS) Barack Obama, teve de governar o país – e mantê-lo
em dia com o mundo – nas últimas semanas, enquanto o candidato Republicano à
presidência Mitt Romney só teve de governar 47% da própria boca [1] –
enquanto era treinado, retreinado, mega-treinado para o debate em Denver, semana
passada, também chamado “fechamento do Colorado”, que lhe daria (ou tiraria)
fôlego para o páreo final.
Montanhas
Himalayas, Hindu Kushes, Karakorams e Pamirs de diz-que-disse cruzam-se e
recruzam-se no éter, sobre o “reboot de Romney” e “diagnósticos” de que
teria vencido o debate. Nada disso faz qualquer diferença. A única coisa que
importa é qualquer coisa que mobilize eleitores independentes e indecisos –
sobretudo em Ohio e na Flórida. Críticos de teatro talvez se deem o trabalho de
observar que Mitt parecia um morcego recém chegado do inferno, em oficina do Actor's Studio ,
tentando representar um político cheio de entusiasmado e ardor.
E,
sim, há também a questão, de somenos, de um tal plano de impostos.
Obama versus Romney |
Em
sua ânsia para cuspir logo as frases decoradas em praticamente todas as
intervenções, como se tivesse encontro marcado com o destino (e tinha), Mitt-47%
parece ter esquecido que, há meses, faz campanha eleitoral na qual um dos pontos
centrais é baixar cerca de 20% de todos os impostos nos EUA. Todos os cálculos
que interessam conhecer nos EUA demonstram que corte desse tipo gerará, em 10
anos, déficit de $5 trilhões.
Pois
leiam aqui o que Mitt tinha a dizer sobre isso, quando POTUS o
interpelou:
Não
tenho plano algum para cortar $5 trilhões de impostos. Não tenho plano de corte
de impostos na escala que você disse. Acho que temos de aliviar os impostos do
pessoal da classe média. Mas não vou reduzir a parte que é paga pelo pessoal de
renda alta. Não estou pensando em cortar impostos massivos e reduzir o dinheiro
que o governo recebe. Meu princípio número 1 é: não cortarei impostos que
aumentem o déficit. Quero sublinhar isso. Nenhum corte de imposto aumentará o
déficit.
Se
se leva a sério o que ele diz – o que exige contorcionismo jamais visto nos
anais do yoga – Mitt-47% disse, de fato, que criará milhões de empregos sem
aumentar o déficit e sem aumentar impostos sobre a combalida classe média
norte-americana. A receita mágica é fechar todos os furos e deduções que
beneficiam “o pessoal de renda alta”.
Vejamos o que diz o Tax Policy Center, apartidário: ainda
que Mitt fizesse o que diz, e não fará, porque é candidato do 1%, vá, vá, que
seja, dos 3% –, o resultado final é impossível, a conta não fecha, não chega
lá. [2]
O único
modo existente para Mitt não aumentar o déficit é fazer o que diz que não fará:
aumentar impostos sobre a classe média.
Dado
que se recusa furiosamente a oferecer qualquer detalhe – os “específicos”, como
ele diz – sobre seu plano de impostos, Mitt, no Colorado, fez o que sabe fazer
melhor: saltitou em torno do seu próprio diz-que-plano. Disse que “Se o plano de
impostos que [POTUS] descreveu fosse plano para eu apoiar, eu responderia não,
não, absolutamente não”.
Coube
à rede CNN prover o jornalismo necessário para comprovar todos os fatos. Mitt
disse que cortar furos e deduções bastaria para compensar os $5 trilhões que
diz-que-vai cortar em impostos. Segundo a rede CNN, se Mitt diz, está dito.
Compensa. Compensa mesmo. Jornalismo investigativo. Tudo verificado.
Imaginemos
que Sun Tzu tenha assistindo àquele debate, lá, em algum círculo dantesco de
eminências pardas, bebendo saquê com seu colega Maquiavel. Talvez tenha achado
que POTUS jogou certo. POTUS manifestou o entusiasmo e o calor de quem se
aproxima a passos largos da guilhotina. Por que não saltou na jugular de Mitt?
Por que nem falou dos 47%? Por que nem tentou desmascarar os números da conta de
Mitt, que não fecha?
Porque
tudo isso pode ser parte de longa estratégia, complexa, de “dê corda, que ele se
enforca”. Basta esperar, que todos aqueles eleitores indecisos, independentes,
de classe média, nos estados “oscilantes” – sobretudo em Ohio e na Flórida –
eles mesmos farão as contas, calcularão tudo, perceberão que a conta de $5
trilhões de Mitt não fecha. Pronto. Resolvido. É Mitt, cheio de corda para se
enforcar!
Notas dos
tradutores
[1] Mitt Romney disse, em reunião com
doadores de sua campanha, que 47% da população dos EUA frauda o fisco e não paga
impostos. O vídeo, divulgado pela internet, de onde chegou a vários blogs
influentes e foi muito divulgado em meados de setembro, provocou forte incômodo
à campanha. Pode ser visto (em inglês) a seguir:
Parte 1
Parte 2
[2] Ver Tax Policy Center em:
“The Romney Plan
(Updated)”
Ler
também:
8/10/2012,
redecastorphoto em: “Comentários ao debate Obama x Romney de 3/10/2012”
Enquanto o restante do mundo não trocar o dolar por outras moedas, as emissões de moeda financiarão os défites orçamentários dos EUA.
ResponderExcluirComo este movimento de acordos ainda bilaterais é lento e temerário, Washington empurra o ajuste fiscal para o futuro. Mas a conta um dia chegará. E não haverá poder militar que sustente a queda.