Rei Abdullah da Arábia Saudita |
Publicado
em 02/10/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
O
Presidente Barack Obama em seu discurso nas Nações Unidas demonstrou uma forte
dose de hipocrisia. Ameaçou o Irã, como já fez outras vezes, possivelmente
pressionado pelo lobby sionista, que pesa nos votos da eleição de novembro. Os
belicistas do setor preferem o candidato republicano, porque Mitt Romney ameaça
muito mais.
O
premier Benyamin Netanyahu não fez por menos em termos de ameaças de bombardear
o Irã. Apareceu, de forma ridícula e arrogante, com um gráfico ditando regras ao
Irã e à comunidade internacional. Netanyahu silencia quando questionado sobre o
poder nuclear de Israel.
Noam
Chomsky, que não pode ser acusado de antissemita, como geralmente faz a direita
israelense a quem critica a agressividade sionista, até porque é filho de
rabino, alertou que Israel representa um perigo na região e não o Irã. O
linguista explicou que os governantes de Teerã não são insanos e não vão querer
atacar porque sabem que a retaliação por parte dos Estados Unidos seria
em
grande escala. Mas Netanyahu diariamente faz ameaças e por ser
insano representa um perigo à paz mundial.
Outra
indicação de cinismo de Barack Obama tem sido a menção aos acontecimentos na
Síria. Ao mesmo tempo em que pede o fim do regime autoritário de Bashar al-Assad, o governo estadunidense apoia as forças insurgentes, onde se encontram
salafistas em conluio com integrantes da Al Qaeda, procedentes de países como,
Turquia, Líbia e emirados árabes do Golfo. Trata-se de uma estranha aliança, que
no fundo reforça a tese segundo a qual os atentados de 11 de setembro de 2011
tiveram o respaldo de setores da inteligência
norte-americana.
Republicanos
e democratas proclamam-se defensores dos direitos humanos em várias partes do
planeta, em outra demonstração de cinismo e hipocrisia. O silêncio em relação às
constantes violações dos direitos humanos cometidas pela monarquia da família
Saud, os proprietários da Arábia Saudita, por exemplo, é uma prova concreta de
que o objetivo da campanha promovida pelos EUA e outros governos ocidentais é
apenas retórico e voltado para enganar a opinião pública, já anestesiada pelo
esquema de manipulação da informação.
Notícias
procedentes da capital Riad dão conta de que recentemente dezenas de
manifestantes saíram às ruas para exigir a libertação de presos políticos, a
maioria deles sem acusações formais, apenas pelo fato de não simpatizarem com a
família elevada a proprietária pelo Ocidente quando mudaram a forma de
dominação, optando por colocar no poder quem não oferecesse resistência à
dominação das então sete irmãs petrolíferas, hoje um total de
seis.
Pois
bem, a polícia saudita, violenta por natureza, prende os manifestantes e os
submete a torturas, segundo denúncias de fontes independentes. Mas a monarquia
saudita como é aliadíssima dos Estados Unidos não é denunciada pelos que se
dizem defensores dos direitos humanos.
Os
opositores da monarquia denunciam a existência na Arábia Saudita de 30 mil
presos políticos. Os manifestantes pedem a libertação de todos eles, a liberdade
de expressão e de reunião, além do fim da discriminação generalizada contra os
muçulmanos xiitas.
Os
protestos se intensificaram a partir de novembro do ano passado quando as forças
repressivas da família Saud mataram cinco manifestantes. Recentemente, dois
manifestantes foram assassinados pelas forças de segurança saudita. Um deles foi
um adolescente de 16 anos. Os agentes policiais queriam prender o ativista xiita
Khaled al Labbad, que, segundo informações, também foi assassinado na
manifestação realizada em Qatif, na Província Oriental da Arábia
Saudita.
Labbad
estava incluído na lista de 23 pessoas mais procuradas pela família Saud, sob a
acusação de organizar protestos contra o regime.
Mas
o que mais impressiona é realmente o silêncio da mídia de mercado e do governo
dos Estados Unidos, tão sequiosos quando se trata de denunciar violações dos
direitos humanos em países que não rezam pela cartilha do Departamento de Estado
norte-americano.
O
regime saudita, além das violências internas, apoia e financia as forças de
oposição ao regime de Bashar al-Assad. E também cinicamente, da mesma forma que
a monarquia de Qatar, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, aparecem como
defensores de valores democráticos no país conflagrado em que vários balanços
indicam um total de 30 mil pessoas mortas em confrontos desde o ano
passado.
Quando
se fala sobre a matança na Síria, de um modo geral os meios de comunicação do
Ocidente atribuem a culpa apenas ao governo Assad, quando o outro lado, as
forças opositoras, também são responsáveis pelo banho de
sangue.
Nesse
sentido, a Presidenta Dilma Rousseff foi positiva em seu discurso nas Nações
Unidas ao reafirmar que a saída militar não é solução para a crise na Síria e só
através de negociações é que se poderá chegar ao fim do estado de
beligerância.
Na
verdade, a negociação pregada por Dilma Rousseff fica cada vez mais difícil
quando os apoiadores externos dos opositores de Bashar al- Assad não dão nenhum
passo concreto no sentido de terminar com o envio de armamentos e apoio
financeiro aos opositores do regime. A ideia de negociação continua na ordem do
dia, até porque, antes tarde do que nunca se tentar.
O
tempo vai passando e as perspectivas seguem sombrias. Alguns analistas já estão
prevendo o prolongamento da guerra civil desembocando numa luta sectária
chegando à barbárie. Acusar apenas um dos lados é realmente demonstrar
desinteresse em acabar com o banho de sangue.
Se
o pós-Assad for como almejam os apoiadores externos das forças opositoras,
dificilmente haverá paz na Síria. Pode ser até que o objetivo dos apoiadores
seja mesmo esse.
_______________________________
Mário Augusto
Jakobskind* é correspondente no Brasil
do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de
São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho
Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América
que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
Enviado por Direto
da Redação
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