segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Intervenções “morais” na Síria e na Ucrânia

7/9/2014, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Tanque "Ukie" queimado próximo da aldeia de Kominternovo, ao sul de Mariupol (6/9/2014)
 
Quando se lê o acordo de cessar-fogo inacreditavelmente vago, fica imediatamente claro que não pode ser nem jamais será aplicado e vigente.

A Rússia pressionou a favor do cessar-fogo – apesar da vantagem que as forças da Novorússia, que a Rússia apoia, conseguiram em campo – para evitar nova rodada de sanções da União Europeia, e na esperança de que alguns dos pervertidos fazedores-de-guerra no “ocidente” caiam em si e ouçam o que gente sã tem a dizer.

O presidente da Ucrânia precisava do cessar-fogo, porque suas tropas estavam derrotadas em campo e, sem reorganização, não teriam como defender-se contra qualquer futuro ataque.

Tão logo os dois lados se tenham reorganizado, a batalha continuará, maior que as pequenas escaramuças que já estão acontecendo hoje. Nenhum dos dois lados tem pleno controle sobre os vários grupos envolvidos nos combates e qualquer fagulha pode virar grande incêndio.

Entrementes, a OTAN continua ampliar suas forças no Leste Europeu, para “treinamento de tropas” e no Mar Negro. Os militares em Moscou com certeza interpretarão como ameaça esses movimentos da OTAN; é o que eles, de fato, são.

Os EUA e a marinha "Ukie" farão manobras no Mar Negro

Quem provocou a guerra na Ucrânia foi o ocidente, ao organizar um golpe contra governo democraticamente eleito. Como também foi o mesmo “ocidente” quem criou a guerra civil na Síria. O “ocidente” e sua variada coorte de poodles árabes alimentaram a guerra na Síria com dinheiro, armas e substancial propaganda para a causa dos Jihadis contra o governo sírio.

Agora, o “ocidente” quer combater contra o governo sírio e contra os degoladores do ISIL, apoiando os comedores de estômagos do Exército Sírio Livre, aliados dos sequestradores do avião do 11/9, al-Nusra e al-Qaeda. Tudo isso é visto como moralmente bom, apesar de nenhum país “ocidental” ter qualquer motivo para envolver-se na Síria – além de uns “interesses” sempre só muito vagamente definidos.

A Rússia tem importante interesse de segurança na Ucrânia. É país vizinho e berço histórico da civilização Rus. Inúmeros grandes ataques feitos contra a Rússia – por Napoleão, por Hitler – serviram-se das planícies ucranianas como área de concentração e para as marchas contra Moscou. Muitas das forças do governo ucraniano golpista que hoje lutam contra compatriotas que querem uma Ucrânia federalizada, unida à Federação Russa, são nazistas. Há 70 anos, morreram 20 milhões de russos, em luta contra essa ideologia.

Artilharia "Ukie" queimada nos arredores de Mariupol (6/9/2014)
Por que se critica como moralmente errado, quando a Rússia, com muito maior interesse imediato, ajuda resistentes na Ucrânia; mas tudo se justifica, se explica, se admite, quando quem faz é o “ocidente” golpista e movido por interesses muito menos justificáveis, quando não totalmente injustificáveis?

A única resposta possível é que, seja o que for, se for feito por “nós”, estará sempre certo; e o que faça, seja quem for e faça o que for, quem se oponha a “nós”, estará sempre “errado”, automaticamente imoral. Essa posição é receita certa para conflitos sempre maiores, muito maiores do que os que se veem hoje.


[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille  (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). A seguir podemos ouvir versão em performance de Tim van Broekhuizen.


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