11/9/2014, [*] Kevin Gosztola, Firedoglake –
Excerto traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
Bush para Michael Moore (Fahrenheit 9/11): - Cheirando queimado? - O que está cheirando queimado? |
A doutrina de política externa
neoconsevadora exposta pelos funcionários do governo de George W. Bush foi
definida pela crença ideológica de que os EUA teriam
(...) papel único na preservação e extensão de uma ordem internacional
amistosa relativa a nossa segurança, nossa prosperidade e nossos princípios.
Em outras palavras, os EUA são a única
nação indispensável sobre a terra. Aquela crença ideológica inspirou o governo
Bush a inventar uma guerra no Iraque que foi baseada integralmente em mentiras.
Hoje, mais de 11 anos depois daquilo, a mesma crença ideológica arrasta também
o governo do presidente Barack Obama.
No discurso em que Obama anunciou sua estratégia
para “degradar e, na conclusão, destruir” o Estado Islâmico no Iraque e Síria (ISIS/ISIL),
ele invocou os ataques do 11 de setembro de 2001 e a recessão econômica.
(...) vivemos num tempo de grandes mudanças. Amanhã se marcam 13 anos desde
que nosso país foi atacado. Semana que vem, marcam-se 6 anos desde que nossa
economia sofreu o maior revés desde a Grande Depressão. Apesar desses choques;
apesar da dor que sentimos e graças ao empenhado trabalho necessário para nos
reerguer – os EUA estão hoje em melhor posição para encarar o futuro, que
qualquer outra nação na Terra.
O discurso de Obama |
E Obama prosseguiu, listando feitos e
mais feitos, a maioria dos quais absolutamente nada têm a ver com o que
acontece no Iraque e na Síria, agora que os EUA escalam a guerra. Falou de
empresas de tecnologia, universidades, manufatura, indústria automobilística e
criação de empregos
Longe
de nossas fronteiras, a liderança dos EUA é a única constante num mundo de
incertezas. São os EUA que temos a capacidade e o desejo de mobilizar o mundo
contra terroristas –
disse Obama.
Foram
os EUA que se conclamaram o mundo a levantar-se contra a agressão russa e em
apoio ao direito dos povos ucranianos de determinarem o próprio destino. São os
EUA – nossos cientistas, nossos médicos, nosso know-how – que podem ajudar a conter e curar o surto
do ebola. São os EUA que ajudaram a remover e destruir as armas químicas sírias
declaradas, de modo que já não ameaçam o povo sírio – ou o mundo – nunca mais.
E são os EUA que estão ajudando comunidades muçulmanas em todo o mundo, não só
na luta contra o terrorismo, mas na luta por oportunidade, tolerância e futuro
de mais esperanças.
Mas... como assim?! A verdade é
diferente!
Os EUA lideram o mundo só no tenha a
ver com espionar, escanear civis obrigados a despir-se em público, deter,
torturar, executar assassinatos premeditados extrajudiciais e tudo isso, sim,
afeta desproporcionalmente as comunidades muçulmanas. Os EUA estavam a um passo
de bombardear a Síria, quando John Kerry – sem nem pensar no que dizia –
sugeriu que a Síria entregasse seus estoques de armas químicas. O Ministro
Sergey Lavrov da Rússia deu bom uso à leviandade de Kerry: foi possível ajudar
o governo sírio a livrar-se de um arsenal químico caro, inútil e perigoso, não
por ação dos EUA, mas por ação de uma coalizão para IMPEDIR que os EUA
bombardeassem a Síria. (...) E chega a ser inadmissivelmente desumano falar de
cientistas em luta contra um vírus mortal, no mesmo discurso em anuncia
estratégias para MAIS GUERRAS.
America, as infindáveis bênçãos
que nos cobrem cobram de nós custo duradouro. Mas, como americanos, nossa
responsabilidade para liderar é, sobre nós, bem-vinda – Obama, praticamente num púlpito de
igreja!
A frase tem sobretons bíblicos. Com os
EUA em cena como se fossem o cordeiro de Deus que limpa os pecados do mundo!
Como se fossem os salvadores da Terra! [Obama tá pensano que é
Marina Silva?! (NTs)
:-))]
ISIS/ISIL desfila em Raqqa, norte da Síria (6/9/2014) |
Nada, mais do que o tom “bíblico”
mostra que tudo, no discurso de Obama é encenação, fantasia, discurso
delirante. Por exemplo (mais um, na sequência):
Nossa
própria segurança, nosso próprio bem-estar depende de nossa disposição para
fazer o que tenha de ser feito para defender esta nação e levantar bem alto os
valores que defendemos – ideais intemporais que perdurarão por muito tempo
depois que esses que só oferecem ódio e destruição já tiverem sumido da face da
Terra. [Acredite quem quiser (NTs!)]
Mas fato é que até o New
York Times já sabe que o ISIS absolutamente não representa hoje qualquer
tipo de ameaça contra os EUA. Depois do discurso de Obama, o jornal voltou ao tema:
Funcionários
e especialistas em terrorismo entendem hoje que o perigo que o ISIS representaria foi distorcido em horas e
horas de conversa fiada de televisão e de alarmismo distribuído por “especialistas”
e por políticos oportunistas; e que absolutamente não houve qualquer debate
público aproveitável sobre consequências não desejadas da ação de Obama, que
tenta expandir a ação militar dos EUA no Oriente Médio.
Daniel Benjamin |
Mais que isso:
Daniel
Benjamin, que trabalhou como principal conselheiro para contraterrorismo do
Departamento de Estado no primeiro mandato do presidente Obama, disse que a
discussão pública sobre a ameaça do ISIS “não passou de farsa”, com membros
do gabinete e altos assessores militares falando pelos cotovelos, apresentando
a ‘ameaça’ nos termos mais exagerados e sem qualquer fundamento.
Difícil
imaginar melhor indicação da capacidade de funcionários eleitos e
torsos-e-cabeças-falantes de TV para levar a população à ignorância e ao
pânico, com suas ‘opiniões’ de que a nação está infiltrada de células
terroristas dormentes, que há agentes terroristas entrando aos borbotões pela
fronteira do Texas, ou que logo estarão aí espalhando vírus Ebola – e tudo sem
nenhuma informação confirmada” – disse Mr. Benjamin, que dá aulas no Dartmouth
College. (...)
De fato, o governo Obama poderia
começar por trabalhar para “detonar” apenas metaforicamente, mas suficientemente, as finanças do ISIS, em vez de começar pela escalada militar. Em vez de
guerra, poderia começar por interromper
os fluxos externos de doações para o grupo!
Haidar al-Abadi, novo Primeiro Ministro do Iraque |
(...) No Iraque, um novo governo acaba de tomar posse dia 8 de setembro. E apenas dois dias depois, o governo
dos EUA já anuncia planos para escalar na ação militar contra o país, sem nem
dar tempo ao novo governo de tomar pé e começar a trabalhar?!
E o que fará Obama, se sua ação tiver
efeito de desestabilização sobre (também!) o novo governo iraquiano, como se
viu acontecer recentemente no Iêmen, na Somália, no Paquistão, no Afeganistão e
no Iraque?
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[*] Kevin Gosztola é articulista e editor de The
Dissenter, blog instalado no portal Firedoglake,
que faz cobertura regular e denúncias, sobre quebra ilegal de sigilo, drones, NSA, Edward Snowden, a ampla
cobertura crítica da "guerra ao terrorismo" e as várias questões que
afetam as liberdades civis. É co-autor do livro Truth and Consequences: The US vs Private Manning, parceria com
Greg Mitchell. O livro apresenta um relato minucioso do ocorrido no período do
pré-julgamento sofrido por Chelsea
Manning.
Em 2011, atuou como
estagiário para a revista The Nation
e trabalhou em estreita colaboração com Mitchell, ajudando-o a manter o seu
blog diário WikiLeaks. Ele também ajudou
Mitchell a produzir The Age of WikiLeaks
e Bradley Manning.: Truth and
Consequences.
Contribuiu nos veículos e programas de rádio e TV tais como CounterSpin, Democracy Now!, The Alyona
Show, Sirius XM Left e The Young Turks. Orador muito apreciado, apresentou programas sobre WikiLeaks, Guantánamo Bay e outros temas relacionados com as liberdades civis.
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