terça-feira, 5 de julho de 2011

Como as pessoas pensam?

Alfredo Pereira dos Santos

A.P. Santos

Essa é uma questão que há séculos vem intrigando algumas pessoas. Pode ser que nunca venhamos a saber a resposta mas talvez nos aproximemos, assintoticamente, dela.

Um dos primeiros, nos tempos modernos, a se ocupar dessa questão foi o inglês George Boole, que viveu entre 1815 e 1864. O Boole constitui uma clara demonstração de que as crianças que viveram antes do advento da televisão eram muito mais inteligentes do que as de hoje. Sua família era pobre a na escola em que ele estudava não se ensinava Latim, que ele sabia ser o caminho para se alcançar uma posição superior. É curioso que houvesse essa percepção na Inglaterra vitoriana, mas não no Brasil do século XXI.

O menino George resolveu estudar Latim por conta própria e aos doze anos já conseguia traduzir versos de Horácio para o inglês. Um professor duvidou que ele fosse o autor da tradução e o menino reagiu estudando mais Latim e, além deste, o Grego.

Mais tarde, por falta de alternativas, pois não tinha dinheiro para estudar, Boole resolveu ser padre. Embora tivesse abandonado a carreira eclesiástica, não se ordenando padre, os quatro anos em que passou se preparando lhe foram de grande valia, pois aprendeu Francês, Alemão e Italiano.

O Boole finalmente descobriu o seu caminho: abriu uma escola e foi ensinar matemática. Nesse ponto é interessante recordar uma frase do Napoleão Mendes de Almeida: “Dêem-me um bom aluno de Latim e eu farei dele um bom aluno de Matemática”. De fato, aquele menino pobre, que resolveu estudar Latim por conta própria, veio a se tornar um grande matemático, bastante respeitado.

O Boole, interessado em estudar as leis do pensamento humano, escreveu um livro, chamado “The Laws of Thought” (“As Leis do Pensamento”. Mas o Bertrand Russell (1872-1970)  disse que, na verdade, o que ele fez foi matemática pura.

Desde então muita gente se ocupou dessa questão e, em particular, o Piaget se ocupou do pensamento infantil. Aqui no Brasil a socióloga Bárbara Freitag fez uns estudos que resultaram num livro bem interessante, “Sociedade & Consciência”. E hoje ninguém razoavelmente informado duvida de que o pensamento infantil é bem diferente do adulto. Assim como a forma de pensar de hoje difere bastante da forma como se pensava há séculos.

Durante séculos as pessoas achavam que os corpos mais pesados caem mais depressa do que os mais leves, como preconizava Aristóteles. A crença prevaleceu durante toda a Idade Média até que apareceu Galileu, um sujeito inconveniente, que disse coisas que desagradaram a alguns poderosos de então. Coisas desagradáveis, mas verdadeiras.

Como as formas de pensar não avançam de modo uniforme, é possível encontrar hoje gente que acredite que “a água não se mistura com o azeite porque a água é de Deus e o azeite é produto do homem”. Essa frase eu não a inventei. Ouvi-a num diálogo travado entre dois faxineiros de um prédio, enquanto aguardava o elevador. Devo ressaltar que achei a explicação bem interessante e até inteligente, dadas as circunstâncias daquela pessoa. E jamais me ocorreria dirigir-me a ela deitando falação sobre densidade, peso especifico e coisas do gênero, tentando dar explicações impertinentes.

O Freud falava em “ontogênese e filogênese” e pode ser que essas coisas expliquem porque numa localidade do extremo sul da Bahia, todas as crianças (com exceção de uma única), entre oito e doze anos, diante da pergunta  o que pesa mais, um quilo de ferro ou um quilo de algodão?” responderam sem muita hesitação: “um quilo de ferro”.

Ao fazer tais perguntas não me animam intenções de Piaget ou de Freitag. Eu apenas procuro ser um cronista do meu tempo, fazendo as minhas observações e anotando-as. Desse modo, anotei também que há gente de dezesseis e dezoito anos que acha que “um quilo de ferro pesa mais”. Também não poderia deixar de anotar o comentário de um pai que “corrigiu” o filho dizendo “não meu filho, o que pesa mais é um quilo de algodão, pois ocupa mais espaço”.

Não me animam também o desejo de julgar ou avaliar. Deixo isso a cargo dos psicólogos, dos discípulos de Piaget, Vigotsky e tantos outros.

E também não acho que essa situação só ocorra aqui.

Apenas me pergunto: “Isso é normal?

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