domingo, 29 de março de 2015

Como ler a guerra contra o Iêmen

26/3/2015, [*] As'ad Abu Khalil – The Angry Arab
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Muhammad bin Sultan, Min. da Defesa da Arábia Saudita
Já se pode dizer que será muito mais divertido assistir à segunda geração da Casa de Saud, enquanto procura o próprio caminho na política regional e internacional.

O rei Faysal acreditava que a estabilidade do regime e sua preservação exigiam que se recorresse ao máximo sigilo e a muita cautela na promoção dos interesses do regime saudita pelo mundo. Por isso, a família real aperfeiçoou a arte da dissimulação, sobretudo nas questões árabes-israelenses (apoiaram Sadat por trás das cortinas, ao mesmo tempo em que, em alguns momentos, financiavam também a coalizão anti-Sadat).

A nova guerra do Iêmen é também guerra dos EUA: é um presente que os EUA dão aos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) que não gostam das políticas dos EUA no Egito, Síria e Iêmen. O regime saudita agora se aliou à opção israelense: estará mais alinhado com os interesses israelenses na região e será também mais agressivo e violento na busca dos interesses do regime.

Qatar e UAE foram os primeiros países a aberta e oficialmente participar em guerra total na Líbia, e a família real saudita não gostou de assistir o Primeiro-Ministro do Qatar comandando a Liga Árabe de 2010 a 2012. O regime saudita tomou as coisas em suas mãos e decidiu embarcar numa política alternativa no Egito.

Países do CCG - Conselho de Cooperação do Golfo
Em todas as questões da política árabe, o regime saudita está alinhado ao lado de Israel. Que ninguém se engane quanto a isso: Israel é o membro secreto da coalizão de países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) que está bombardeando o Iêmen.

Nos anos 1960s, o regime saudita pôs fogo na guerra do Iêmen, para arrasar uma alternativa republicana e progressista ao regime reacionário alucinado (e naquela guerra Israel forneceu armas ao lado saudita). Na guerra de hoje, o CCG apoia um regime fantoche corrupto e reacionário criado por Arábia Saudita e EUA.

A Arábia Saudita jamais permitiu que o Iêmen tivesse alguma independência. A Arábia Saudita sempre viu nela mesma a legítima herdeira do poder imperial britânico na península.

Os huthis (com os quais nada tenho, absolutamente nada, em comum) são um bando de reacionários , mas que foram criados como resultado das próprias políticas sauditas e da guerra que o regime saudita moveu contra o Iêmen e seu então fantoche, ‘Ali’ Abdullah Salih.

O sul do Iêmen conheceu o único estado marxista que jamais houve no mundo árabe, e o experimento foi sabotado pela muito reacionária Casa de Saud.

Essa nova guerra tem um valor de entretenimento, com o regime saudita fazendo guerra, aberta e ativamente, contra outro país árabe. Quem não adorará ver, outra e outra vez, os huthis humilharem o exército saudita no campo de batalha (procurem em Youtube a derradeira batalha dos huthis contra os sauditas, com soldados sauditas correndo feito coelhos para salvar a própria vida). E quem não quer ver mais um rebento malcriado da família real saudita liderando seu exército para mais uma humilhação no campo de batalha?!

Grande protesto Houthi em Sanaa, no Iêmen (2014)
Em toda a guerra no Iêmen, o regime saudita sempre patrocinou a opção que assegurasse máxima longevidade para a guerra e a destruição. A nova guerra não é exceção.

Jamais pensei que o fim do regime saudita seria acelerado pela segunda geração de príncipes sauditas. Jamais pensei que pudesse haver príncipe mais incompetente e mais corrupto que Khalid bin Sultan: pois parece que há.

Oh, EUA e Israel, vosso homem é Muhammad bin Sultan (visto na foto acima, quando comandava seus soldados em batalha, sem sair do próprio escritório). Aproveitem!
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[*] As'ad AbuKhalil (em árabe: أسعد أبو خليل) (nascido em 16/3/1960) libanês−americano é professor de Ciência Política formado pela California State University, Stanislaus. É o autor doHistorical Dictionary of Lebanon (1998), Bin Laden, Islam & America's New “War on Terrorism” (2002) e The Battle for Saudi Arabia (2004). Atualmente anima o blog The Angry Arab News Service. Abukhalil nasceu em Tiro,no Líbano, e cresceu em Beirute. Recebeu seu bacharelado e mestrado em Ciência Política na American University de Beirute, e Ph.D. em Governo Comparativo na Georgetown University. Abukhalil é atualmente professor na California State Stanislaus. Foi, por curto período, professor visitante na UC Berkeley. Além disso, ele ensinou na Tufts University, Georgetown University, George Washington University, Colorado College, California State University Stanislaus, e Randolph-Macon Woman’s CollegeDescreve-se como “um ex-marxista-leninista” e “ateu secularista”. É pró−Palestina, descreve-se como anti-sionista que apoia um Estado Palestino secular. É defensor do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). Critica o sionismo, a política externa dos EUA, do Irã, da Arábia Saudita e de ambos, Fatah e Hamas, nos TPO’s; e de todas as facções rivais no Líbano, incluindo o xiita Hezbollah. É altamente crítico da influência do lobby de Israel nos EUA. Em um debate televisionado que foi ao ar na TV Al-Jazeera em 23/2/2010 Abukhalil afirmou que o Presidente dos EUA, Barack Obama, é cúmplice do lobby sionista, tanto em termos de Política Externa como de Política Interna. Abukhalil também afirmou que “Os sionistas querem nos amordaçar, de modo que não possamos fazer oposição às guerras, violência ou ódio a Israel”.

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