1/3/2015, [*] Wayne MADSEN, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Nunca houve, não há hoje nem jamais haverá posição neutra da OTAN ou da União Europeia, sobre nenhuma questão na qual forças antiunipolares – como Rússia, China, Irã, Venezuela, Brasil e outras – se oponham às elites militares-bancárias de inteligência da aliança ocidental.
John McCain... |
O falcão-de-guerra-em-chefe Republicano e presidente da Comissão das Forças Armadas no Senado dos EUA, senador John McCain do Arizona, deu, numa única semana, extensivo mau uso à sua posição, para arregimentar opiniões de duvidosa validade de três agentes decrépitos da política de poder dos EUA.
Em rápida sucessão, o ex-Secretário de Estado Henry Kissinger; o general (aposentado) Brent Scowcroft, Conselheiro de Segurança Nacional dos presidentes Gerald Ford e George H. W. Bush; e Zbiginiew Brzezinski, Conselheiro de Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter, falaram à Comissão presidida por um radiante McCain, sobre a necessidade de manter-se o sistema do Tratado de Vestfália, numa era em que as redes sociais e a internet ameaçam diretamente o sistema do estado-nação westfaliano concebido em 1648, depois da Guerra dos Trinta Anos.
É claro que o que McCain, Kissinger, Scowcroft e Brzezinski querem ver mantida é uma União Europeia federalizada e sempre em expansão, que agora está absorvendo lentamente como seus mais novos estados-nação westfalianos a Ucrânia, a Geórgia e a Moldávia.
Tratado da Westfália - Europa em 1648 (clique na imagem para aumentar) |
A União Europeia, que mistura federalismo secular westfaliano com dogma do neo-Sacro-Império Romano, é militarmente apoiada por uma Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que age como os centuriões dos corretores do poder atlanticista de Washington, Londres e Berlim. Esse status quo tem de ser mantido a qualquer custo, segundo Kissinger, Scowcroft e Brzezinski – precisamente os três responsáveis pela conversão da Guerra Fria bloco-soviético vs OTAN do passado, na neo-Guerra Fria que hoje pôs a Rússia à beira da guerra contra a OTAN.
Embora não se possa adivinhar o que os três diabos-velhos senis da política de poder ocidental teriam em mente no apoio que dão ao sistema westfaliano, pode-se presumir com razoável certeza que estão defendendo um sistema mundial no qual uns poucos regimes elitistas ditam a política internacional para o resto do mundo.
Kissinger disse à comissão do Senado que vê a Europa do início dos anos 1600s e a Europa de hoje como entidades semelhantes, porque, nesses dois casos vê-se “uma multiplicidade de unidades políticas, nenhuma suficientemente poderosa para derrotar as demais, muitas aderidas a filosofias contraditórias com suas práticas internas, em busca de regras de neutralidade para regular as condutas e mitigar o conflito”. É claro que Kissinger trabalha para fazer-crer que a União Europeia e a OTAN fornecem “regras neutras” para que países em competição mitiguem seus conflitos.
É bem possível que Kissinger, que sofre de demência senil em estado avançado, realmente creia na panaceia da “governança” internacional que se discute naqueles conclaves elitistas tipo Grupo de Bilderberg, Conselho de Relações Exteriores e Fórum Econômico Mundial de Davos.
PROCURADO por crimes contra a humanidade Henry A. Kissinger |
Nunca houve, não há hoje nem jamais haverá posição neutra da OTAN ou da União Europeia, sobre nenhuma questão na qual forças antiunipolares – como Rússia, China, Irã, Venezuela, Brasil e outras – se oponham às elites militares-bancárias-de-inteligência da aliança ocidental.
Mr. Kissinger destacou principalmente a necessidade de “construir o bloco da ordem europeia”, coisa que, disse ele, foi tão necessária depois da Guerra dos Trinta Anos quanto é necessária hoje. Kissinger defendeu o sistema de Vestfália como “injustamente atacado como sistema de manipulação cínica do poder, indiferente a requisitos morais”. Até parece que a longa história de Mr. Kissinger sempre apoiando ditaduras fascistas teria feito dele autoridade qualificada para falar sobre “moralidade” nas relações internacionais.
Para não ficar para trás, atropelado por Kissinger e seu elogio da ordem westfaliana, o general Scowcroft declarou que duas ameaças gêmeas – a sociedade da informação (especialmente o uso das mídias sociais para organizar a massa contra o status quopolítico) e a mudança climática – trazem o máximo perigo para a manutenção do Tratado de Vestfália. Scowcroft defendeu aplicadamente o sistema do estado-nação westfaliano, para delícia de McCain que o ouvia sorridente.
É o mesmo McCain que trabalhou para que houvesse guerras na Líbia, no Iraque e na Ucrânia – as quais realmente levaram à destruição desses três legítimos e bem constituídos estados-nação. Mas coerência nunca foi qualidade que se encontre em neoconservadores do tipo de McCain e outros, os mesmos que apoiam a ala do intervencionismo norte-americano que McCain coordena (?!) em todo o planeta.
Para Brzezinski, a ideia de Vestfália é unir a Europa contra a “ameaça” russa. Brzezinski, nacionalista polonês nada mitigado, que partilha a mesma filosofia com outro polonês nacionalista de direita, Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, nunca perdeu chance de culpar a Rússia, de acusá-la de crimes e ardis, e de ‘'exigir'’ a subjugação política, econômica e militar da Rússia à OTAN e à União Europeia.
Zbigniew Brzezinski |
Na mente de Kissinger, Scowcroft e Brzezinski, a Europa hoje não é muito diferente da Europa do século XVII do Sacro Imperador Romano, Ferdinando III de Habsburgo; do cardeal Richelieu da França; do cardeal Mazarin, regente do rei infante Luiz XIV de França; e os diplomatas foram enviados pelos líderes de Espanha, Suécia, Países Baixos, Suíça e outros ducados e reinos menores, para Osnabruck e Munster, na Vestfália, com ordens de não sair de lá sem o Tratado de Vestfália firmado.
Em outras palavras – igualmente senis – diplomacia e destinos de nações sempre estarão em boas mãos, se entregues a elites não eleitas, como se fazia no século XVII. Os “três decrépitos” – Kissinger, Scowcroft e Brzezinski – não mudariam uma linha naquele século XVII. De fato, as políticas desses três foram, durante décadas, determinar o futuro do mundo em conclaves como os de Bilderberg, de Davos e outros desses encontros secretos.
O objetivo dos que montaram a marteladas o sistema westfaliano em 1648 era a continuação do feudalismo e do regime de servos-da-gleba na Europa. Depois que Vestfália reconheceu a independência da Holanda e da Suíça, com os direitos dos judeus holandeses perfeitamente preservados, Holanda e Suíça rapidamente se converteram em quartel-general do mercantilismo internacional mais livre-mercadista – que incluía o tráfico de escravos e os serviços internacionalizados de banking; na Holanda, o primeiro; na Suíça, os segundos.
Vestfália em 1648 e suas derivações de hoje são ardis montados para proteger os interesses das elites e da classe rica. Murmúrios de privilégio real ainda se ouvem hoje, na Europa, com o príncipe Henrik da Dinamarca, marido francês da rainha dinamarquesa, reclamando para si o direito de ser chamado de “Rei Consorte”, não “Príncipe Consorte”, título inferior.
Críticas contra o envolvimento da monarquia espanhola em negócios fraudulentos, e em torno de acusações de que a monarquia belga teria acobertado escândalos de pedofilia resultaram, de fato, em as “realezas’”se porem a atacar quem as criticasse, porque teriam incorrido no crime ancestral de lèse-majesté, que define como violação da lei qualquer crítica contra a realeza e a monarquia.
Os que advogam a favor de Vestfália tentam proteger uma plutocracia corrupta composta de monarquistas, militaristas, magnatas, inescrupulosos em geral na Europa, que trabalham em falange com fantoches neocolonialistas nos países em desenvolvimentos que devem para o FMI e o Banco Mundial. Como se viu com a manipulação das mídias sociais operada pela CIAe por George Soros para alcançar seus objetivos vestfalianos, a mídia social pode também ser usada contra as elites do poder que se agarram ao conceito de moderno estado-nação como seu único meio de sobrevivência.
Brent Scowcroft |
Os defensores dos arranjos vestfalianos pretendem que o sistema deles advogaria sempre a favor de três princípios centrais:
(1) soberania do estado;
(2) igualdade dos estados; e
(3) não intervenção de um estado nos assuntos de outro.
Mas a subjugação da soberania de Grécia, Irlanda, Espanha, Itália e Portugal aos desígnios de eurobanqueiros e empresas financeiras globalistas obriga a descartar qualquer ideia de que respeitem alguma soberania de algum estado.
A aliança ocidental interveio nos assuntos internos da Sérvia, do Iraque, da Líbia, da Síria e, mais recentemente, também da Macedônia – o que mostra a falta de consideração à cláusula da não intervenção – que, para os vestfalianos, seria sua mais importante marca.
As potências da OTAN, sempre a ameaçarem a independência de Abkhazia, Ossetia do Sul, Transdnistria e Nagorno-Karabakh e a autodeterminação da Crimeia e do Donbass, mostram que o princípio vestfaliano da igualdade entre os estados não passa de amontoado de palavras vazias.
O mundo está mudando e deriva, em velocidade vertiginosa, para bem longe do grotesco pensamento de Vestfália.
Os únicos seres humanos que clamam ainda por governo vestfaliano são três diabos-velhos senis – Kissinger, Scowcroft e Brzezinsk – que deveriam estar cuidando, isso sim, de envelhecer com, afinal, alguma decência.
[*] Wayne Madsen é jornalista investigativo, autor e colunista. Tem cerca de vinte anos de experiência em questões de segurança. Como oficial da ativa projetou um dos primeiros programas de segurança de computadores para a Marinha dos EUA. Tem sido comentarista frequente da política de segurança nacional na Fox News e também nas redes ABC, NBC, CBS, PBS, CNN, BBC, Al Jazeera, Strategic Culture e MS-NBC. Foi convidado a depor como testemunha perante a Câmara dos Deputados dos EUA, o Tribunal Penal da ONU para Ruanda, e num painel de investigação de terrorismo do governo francês. É membro da Sociedade de Jornalistas Profissionais (SPJ) e do National Press Club. Reside em Washington, DC.
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