19/3/2015, [*] Sergey Glazyev, The Vineyard of the Saker
Traduzido do russo ao inglês por Lenok
Traduzido do inglês pelo pessoal da Vila Vudu
The Saker |
O Banco Nacional da Ucrânia decidiu subir a taxa de refinanciamento para 30%. Ao aumentar as taxas de juros, as autoridades financeiras seguiram a mesma via que o Banco da Rússia.
As consequências serão as mesmas: compressão de um crédito já inacessível, aprofundamento da recessão e alta inflação – cerca de 30%.
Política monetária, redução do dinheiro circulante, em tempos de crise e em qualquer lugar do mundo, dão sempre o mesmo resultado – retração da economia e queda na armadilha da estagflação, que combina o declínio na produção, alta inflação, desemprego crescente e renda que encolhe.
Pelo que consegui entender da discussão, essa “política” foi exigência feita pelo FMI. É medida absolutamente padrão, baseada no dogma monetarista e conhecida em todo o planeta como modelo de terapia de choque. Só sobreviverão a essa política as atividades orientadas para a exportação.
Dado que as atuais autoridades ucranianas estão rompendo a cooperação com a Rússia, a única exportação possível será a que interessar à União Europeia. Além de girassóis e sucata, a Ucrânia exportará mão de obra barata, armas contrabandeadas e, talvez, chernozem [“terras negras”, ricas em húmus, típicas da Ucrânia]. E simultaneamente desaparecerão todos os investimentos na agricultura. Quero dizer: vão remover fisicamente as ricas terras negras ucranianas.
Chernozem |
A Ucrânia já conhece a integração europeia de 1941-1944. As autoridades da ocupação exportavam, da Ucrânia para a Alemanha, terras negras e mão de obra, sobretudo trabalho feminino.
Hoje, já se vê acontecer exatamente o mesmo. O atual governo ucraniano é governo de autoridades de ocupação. Foram mandados para lá pelos EUA e pela União Europeia e com certeza implantarão lá a mesma política. Mulheres ucranianas são item apreciadíssimo na Europa. Levadas do país, tornam-se o principal item de exportação da Ucrânia.
As “recomendações” do FMI são daninhas para a indústria, para a construção e para a agricultura ucranianas. Mas são utilíssimas para as “metas” de EUA e europeus.
Especuladores ocidentais atraem dinheiro para o mercado financeiro deles, onde, como se sabe, imprime-se dinheiro alucinadamente, há anos. Ao longo da última década, a base monetária na Europa e nos EUA foi multiplicada algo entre 3 e 5 vezes.
O FMI, portanto, impõe aos nossos países a política de contração na oferta de dinheiro, substituindo o dinheiro que falta por empréstimos e investimentos estrangeiros, e usando todos os tipos de fundos especulativos.
Hoje, você pode comprar patrimônio ucraniano por preço de liquidação. Adiante, o mesmo patrimônio será revendido a investidores diretos. A economia ucraniana nada obterá, além de pequeno aumento nas reservas de moeda estrangeira. Mas não bastará para estabilizar a economia.
Qualquer especialista mentalmente são que observe essas condições, aconselhará a recompor a cooperação com a Rússia. Salvar uma zona de livre comércio com o East Asian Economic Cáucus (EAEC) e voltar à via da integração eurasiana. Simplesmente, não há outra via para o desenvolvimento sustentável da economia ucraniana.
É necessário revisar o acordo com a UE e passar a basear-se nos interesses dos produtores ucranianos, com cooperação com a Rússia. (...)
Enquanto isso... |
As atuais autoridades ucranianas sem dúvida possível roubarão tudo. Afinal, pelo que tenho ouvido, já se exige a demissão do presidente do Banco Nacional da Ucrânia por, precisamente, suspeita de roubo. As autoridades ucranianas já implantaram um sistema de múltiplos canais – mas não para a economia: só para elas mesmas. Falo de créditos especiais autorizados pelo BNU para bancos comerciais associados com Kolomoisky, Poroshenko e Yatsenyuk. Organizações criminosas sempre operaram precisamente desse modo.
As autoridades ucranianas usam o poder para a finalidade exclusiva do enriquecimento pessoal delas mesmas. O que poderia ser mais fácil? Mande o BNU imprimir dinheiro a ser “pago” aos bancos deles, os quais, a seguir, requererão que o BNU troque aquele dinheiro por dólares; e os bancos deles exportarão os dólares para empresas offshore.
Esse é hoje o principal “business” esquemão dos eurolíderes postos no governo da Ucrânia. Talvez a missão do FMI, hoje, seja – talvez – dar combate aos oligarcas “financistas” em Kiev. Mas entre esses dois males nem vale a pena escolher.
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[*] Sergey Yurievich Glazyev ( em russo: Сергей Юрьевич Глазьев). É político e economista; membro titular da Academia Russa de Ciências desde 2008. Foi ministro e membro da Duma (Parlamento russo) de 1993 até 2007, quando se tornou o principal Conselheiro Político do Presidente Vladimir Putin.
Nasceu em 1/1/1961 em Zaporizhia na ex-União Soviética, hoje território da Ucrânia, filho de pai russo e mãe ucraniana. Glazyev frequentou a Universidade de Moscou, onde obteve os graus de bacharel, mestrado e doutorado em Economia. Deixou a universidade em 1990. No ano seguinte, ele entrou para o serviço do governo, tornando-se primeiro Vice-Ministro das Relações Econômicas Externas. Serviu nesta função por um ano, e depois foi promovido a Ministro onde permaneceu até 1993, quando saiu para concorrer a um cargo na Duma.
Foi eleito pelo Partido Democrático da Rússia em 1993. Renunciou ao mandato antes de completar o 4 anos, pois foi nomeado como membro do Conselho Econômico da Federação da Rússia e Chefe do departamento de análise desse Conselho.
Em 1999, decidiu novamente concorrer à Duma sendo eleito como independente na lista do Partido Comunista da Federação Russa. Em 2003, abandonou o partido para ajudar a formar a Rodina, partido nacionalista, na ala esquerda do espectro político russo. Naquele ano, ele se tornou um dos 37 candidatos eleitos pela Rodina a Duma.
Glazyev anunciou sua aposentadoria da política em março de 2007, e disse que não tinha mais intenção de buscar novo mandato na Duma. Em julho de 2012, Putin o nomeou como Assessor Presidencial para a coordenação do trabalho dos órgãos federais no desenvolvimento da União Aduaneira da Bielorrússia, Cazaquistão e Rússia.
Glazyev é autor de mais de quarenta livros e centenas de artigos, ensaios e documentos de pesquisa. Em 1995 foi premiado com a Medalha de Ouro Kondratieff pela Fundação Internacional ND Kondratieff e da Academia Russa de Ciências Naturais (RAEN).
Em 17 de março de 2014, no dia seguinte após o referendo da Criméia, Glazyev tornou-se uma das primeiras sete pessoas sancionadas pelo Presidente Obama. As sanções congelaram seus ativos nos EUA e o proibiu de entrar nos Estados Unidos.
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