segunda-feira, 2 de março de 2015

1ª. Reunião Consultiva Inter−sírios, Moscou, 26-29/1/2015


30/1/2015, Moscou, , Conferência de Imprensa do moderador Vitaly Naumkin 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Vitaly Naumkin na conferência de imprensa de 29/1/2015

Observações do MODERADOR

Os princípios de Moscou
Apelo à Comunidade Internacional

Senhoras e senhores,

Como é do conhecimento de todos, [1] acaba de ser concluída a primeira reunião Consultiva Inter-sírios em Moscou, realizada entre os dias 26-29 de janeiro de 2015. Pela primeira vez, representantes do governo da República Árabe Síria, vários grupos de oposição e da sociedade civil, convidados para vir a Moscou pelo Ministério de Relações Exteriores da Rússia, sentaram-se à mesma mesa.

Seria ingenuidade supor que, depois de quase quatro anos de feroz confrontação, todas as partes concordariam em tudo sobre meios para superar uma crise profunda. [2] Nesse estágio, os participantes não se demarcaram o objetivo de chegar a produzir um documento político. Contudo, como moderador daquela reunião inter-sírios, posso oferecer-lhes um resumo do que os participantes disseram e que se pode descrever como “OS PRINCÍPIOS DE MOSCOU” em torno dos quais concordam todos os participantes. Todos os participantes receberam cópia desse texto e não fizeram qualquer objeção a que eu o apresentasse aos senhores.

Os princípios de Moscou

As discussões que aconteceram durante a reunião entre representantes do governo da Síria, da oposição síria e da sociedade civil, convidados pelo Ministério de Relações Exteriores da Rússia para virem a Moscou, levaram às seguintes conclusões.

●– As hostilidades na Síria, já no quarto ano, levaram morte e sofrimento a milhões de pessoas no país. A Síria tornou-se alvo de interferência em larga escala por forças externas em várias formas, a mais perigosa das quais é a atividade de terroristas e extremistas de todo o mundo. A ameaça de desintegração que paira sobre o país, com extremistas tentando impor suas práticas desumanas, estranhas às tradições seculares de coabitação entre os vários grupos da sociedade síria.

●– A infraestrutura social e econômica, criada por gerações de sírios, está sendo destruída. O precioso legado cultural-histórico está sendo saqueado e destruído. A geração mais jovem de sírios está sendo criada e formada num ambiente que não se pode descrever como normal. Muitas partes do país vivem em estado próximo à catástrofe no plano humanitário.

●– Essa situação é inaceitável. Todas as robustas forças da sociedade síria, e os patriotas sírios, têm de tomar medidas decisivas para inverter a situação, sobretudo para por fim imediato ao derramamento fratricida de sangue.

●– É portanto necessário desenvolver uma plataforma de conciliação nacional que torne possível enfrentar as questões prementes da agenda nacional, mediante o esforço conjunto de todos os sírios, mediante um diálogo inter-sírios que seja inclusive e sem precondições.

Essa plataforma pode ser baseada nos seguintes princípios:

1. PRINCÍPIO da preservação da soberania da República Árabe Síria, sua unidade, independência e integridade territorial.

2. PRINCÍPIO da contenção do terrorismo internacional em todas as suas formas e manifestações e consolidar esforços na luta contra terroristas e extremistas em solo sírio.

3. PRINCÍPIO da solução política pacífica para a crise na Síria, à base de acordo conforme os princípios do Comunicado de Genebra de 30/6/2012.

4. PRINCÍPIO da expressão livre e democrática do desejo do povo sírio como base a partir da qual determinar o futuro da Síria.

5. PRINCÍPIO da não aceitabilidade de qualquer interferência externa nos assuntos da Síria.

6. PRINCÍPIO de garantia à continuidade das instituições do Estado, inclusive o exército e de suas forças armadas, que só serão reformadas por meios legais e legítimos.

7. PRINCÍPIO de garantia à paz entre os cidadãos, mediante plena participação de todos os estratos do povo sírio na vida política e socioeconômica do país, assegurada a igualdade entre todos os grupos étnicos e religiosos num nível legislativo e prático.

8. PRINCÍPIO do primado do Estado de Direito e da igualdade de todos os cidadãos ante a lei.

9. PRINCÍPIO da inaceitabilidade de qualquer presença militar estrangeira em território sírio, sem consentimento do governo sírio.

10. PELO FIM da ocupação das Colinas do Golan.

11. PELO FIM das sanções contra o povo sírio.

Devo observar que os representantes da oposição síria e da sociedade civil pediram aos representantes do governo sírio, presentes à reunião, que desenvolvam sem demora um conjunto de metidas para construir confiança e criar atmosfera favorável à realização de um diálogo nacional significativo, amplo e inclusivo. Como se disse durante a reunião, o dossiê humanitário tem, nisso, importância capital.

Os participantes da reunião manifestaram sua gratidão ao governo amigo da Federação Russa, ao Ministério de Relações Exteriores e ao Instituto de Estudos Orientais da Academia Russa de Ciências, que organizou a reunião de Moscou.

Expressaram também seu desejo de continuar as consultas sobre o mesmo tema e de que o processo tenha prosseguimento, incluindo a possibilidade de aumentar o número de participantes. Em particular, manifestaram o desejo de que se organize uma segunda reunião em Moscou, em futuro próximo. Parece-me que recusar-se a participar só enfraquece a posição de quem se recuse.

Estabeleceu-se um pequeno grupo de trabalho (com a participação dos ex-embaixadores Alexander Aksenyonok e Veniamin Popov), com a missão de manter ativo o contato entre os participantes do processo de Moscou.

Deve-se notar que os organizadores de modo algum têm qualquer aspiração a monopolizar os esforços para facilitar o acordo sírio. Como disse o Ministro de Relações Exteriores Sergey Lavrov:

(...) consideramos bem-vindos todos os esforços, de quaisquer estados ou organizações, que criem condições ótimas para que se realize um diálogo nacional inclusivo, em cujo contexto os próprios sírios possam trabalhar para alcançar bom acordo.

Significativamente, o Ministro Lavrov observou os aspectos positivos de uma reunião da oposição que aconteceu no Cairo. Mas ali, diferente do que se viu em Moscou, não havia representantes do governo sírio.

Claramente, a reunião de Moscou não é de modo algum iniciativa contrária aos esforços que a ONU tem feito ou venha a fazer. Ao contrário, ouso dizer que será considerado muito bem-vinda a participação de Staffan de Mistura no “Processo de Moscou”.

Entendo que um resultado importante da reunião é que os participantes unanimemente subscreveram um apelo à comunidade internacional. Passo a ler o texto desse apelo, que acaba de ser traduzido do árabe ao russo [aqui, traduzido do inglês (NTs)].

Apelo à Comunidade Internacional

Participantes do encontro de Moscou para o diálogo inter-sírios, reunidos nos dias 26-29/1/2015, apelam à Comunidade Internacional para que ajudem a aliviar o crescente sofrimento humanitário do povo sírio.

Pedimos à sociedade que tome, com urgência, as seguintes medidas.

1. Que a comunidade internacional aumente e acelere o envio de alívio humanitário para todas as partes da Síria, sem exceção, baseada em importante resolução da ONU.

2. Que a comunidade internacional levante ou alivie todos os tipos de sanções econômicas unilaterais, que ferem todos os segmentos do povo sírio e todas as regiões da Síria, sobretudo pela falta de produtos indispensáveis à sobrevivência, à vida normal das pessoas e ao trabalho normal.

3. Que a comunidade internacional condene as ações agressivas de Israel contra Síria e Líbano. Os participantes da reunião de Moscou conclamam a comunidade internacional a pressionar Israel para que ponha fim à agressão e respeite a Carta da ONU e as decisões da comunidade internacional.

4. Que a comunidade internacional condene a intervenção estrangeira contra a Síria e conclame o Conselho de Segurança da ONU a fazer valer suas próprias resoluções, principalmente as Resoluções n. 2.170 e 2.178, para bloquear e erradicar as fontes do terrorismo.

Moscou, 29/1/2015


[1] No Brasil, este assunto  não é do conhecimento DE NINGUÉM. Matérias sobre o tema só desinformaram. Vide, por exemplo, matéria, não sobre a reunião, e de antes da reunião, já “noticiando” fracasso futuro da reunião, no Estadão [só rindo]: “Moscou termina sem avanços”, repetindo bobajol da Agência Reuters. Mais notícias só sobre fracasso futuro também em O Globo, dessa vez repetindo bobajol da France Presse de antes do início da reunião. Noticiário melhor no Portal Vermelho, do PCdoB, mas que, parece, não voltou ao assunto, só repetiu material “jornalístico” superficial e não publicou os “PRINCÍPIOS DE MOSCOU”.

[2] Vale dizer: se as agências noticiosas, o Estadão e o Globo, no Brasil, não são ingênuos, então... aquele “noticiário” que nada noticia de aproveitável, das duas uma: ou é má fé ou é descaso com a qualidade da informação vendida a anunciantes e a leitores consumidores 

Se o Ministério Público entende que produzir, distribuir e repetir incansavelmente má informação, informação distorcida, informação falsificada e propaganda de fascistização aos eleitores brasileiros seriam “direitos” da livre-empresa jornalística... Quem sabe a Delegacia do Consumidor, PELO MENOS, acorda?!

Afinal de contas, ninguém anda por aí defendendo o direito de livres empresários e livres empresas livremente venderem salsicha livremente podre, remédio livremente vencido, drogas livremente drogas, a consumidores pagantes. Por que jornais-empresas são livres para vender informação e opinião podres?!

Esse “noticiário jornalístico” ridículo é VENDIDO A CONSUMIDORES, tanto a CONSUMIDORES-LEITORES que usam o jornal para informar-se, quanto a CONSUMIDORES-ANUNCIANTES que usam o jornal como veículo de divulgação das respectivas marcas. A credibilidade dessas marcas anunciadas depende também (muito!) da credibilidade dos veículos. Esses consumidores-anunciantes pagam ouro-em-pó para serem anunciadas nesses veículos-LIXO.

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