quinta-feira, 12 de março de 2015

Castelos no ar no Kaganato de Nuland

8/3/2015, [*] David Goldman (“Spengler”) [1] – PJ Media
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Victoria Nuland
Há um país das maravilhas onde príncipes e princesas mágicos resgatam pessoas das garras e sortilégios maléficos de bruxas horrorosas. Chama-se Kaganato de Nuland.

No Kaganato reinam, claro, a Secretária–Assistente de Estado para a Europa, Victoria Nuland, e o marido dela, Robert Kagan, autores, respectivamente, da mais completa imbecilidade jamais registrada nos anais da política externa dos EUA (“Foda-se a União Europeia”); e do pior livro sobre política externa surgindo numa década que, no geral, só produziu livros péssimos.

Comentei a horrorosa peça que Kagan produziu, quando do lançamento, há três anos, com a tal tese dele, de contos de fadas, sobre o triunfo inevitável da democracia liberal.

É possível na Primavera Árabe que estamos vendo, uma continuação de Terceira Onda, ou talvez mesmo uma quarta. A explosão de democracia está entrando já na quinta década sem interrupção, a mais longa e mais ampla dessas expansões na história – escreveu Kagan.

E Nuland teve seus 15 minutos de fama quando alguém, presumivelmente a inteligência russa, vazou para o Youtube o seu palavreado rastaquera, ridículo, em conversa, em 2013, com o embaixador dos EUA na Ucrânia. Vídeo legendado a seguir:  


Kagan e Nuland sinceramente creram que a derrubada do governo de Yanukovich pelo movimento da Praça Maidan inspiraria um movimento na Rússia que acabaria por depor Vladimir Putin, assim como creram que a Primavera Árabe inauguraria uma grande onda democrática no Oriente Médio. Danaram-se.

A popularidade de Putin alcançou os píncaros de toda a sua longa carreira política (86%); e a hostilidade russa contra os EUA ultrapassou até os níveis da era soviética.

Mais de 80% dos russos têm hoje concepção negativa dos norte-americanos, segundo o independente Levada Center, número que mais do que dobrou durante o ano passado e é, de longe, o mais baixo pico negativo em toda a série histórica que o Centro acompanha desde 1988,  como noticiou o Washington Post dia 9/3/2014.

Popularidade de Putin após o golpe em Kiev
Os europeus – em cuja porta foi deixada aquela descomunal trapalhada ucraniana – estão compreensivelmente furiosos. Der Spiegel, maior empresa-imprensa alemã, reclamou, dia 6/3/2014, de que Nuland e outros norte-americanos querem “mudança de regime” em Moscou. Eu também quero mudança de regime em Moscou, e também quero a restauração dos sacrifícios no Templo em Jerusalém. Nem por isso estou esperando que aconteça semana que vem. Temos de conviver com Putin ainda por muito tempo, e a conversa de forçar “mudança de regime” a torto e a direito é equivalente a todos os dias disparar balas de papel e cuspe, com estilingue, no focinho do leão do zoológico: só serve para aumentar a probabilidade de o leão devorar o tratador.

A política dos EUA produziu resultado que é o perfeito inverso do que queria produzir: nunca nos passou pela cabeça que a maioria dos russos consideraria péssima notícia que a Crimeia, província russa desde a fundação, passasse a integrar o sistema da aliança ocidental; ou que os russos protestariam furiosamente, se o ocidente se pusesse a mandar em seus assuntos políticos. Nunca consideramos a ideia de que China e Rússia poderiam dar jeito em suas diferenças, e alinhar-se contra nós. Não demos nenhuma atenção ao alerta aberto, claro, da Rússia, de que se aliaria ao Irã, para retaliar contra a política norte-americana na Ucrânia. Somos como jogador de xadrez que pensa uma jogada à frente. Mas Putin pensa três, quatro jogadas à frente. Pode nos encurralar num canto e, movimento seguinte, nos despachar para bem longe do tabuleiro.

Agora, os Republicanos meteram-se numa situação tal que estão obrigados a se posicionar contra Putin e a culpar Obama pelo espantoso, vergonhoso resultado. Obama, verdade seja dita, deu-nos o pior de dois mundos: a descarada provocação (da Sra. Kagan), combinada com fraqueza. As opções dos EUA na Ucrânia são limitadas. Podemos mandar para a Ucrânia quantas armas nos dê na telha; os russos podem até ser muito mais fracos que nosso exército; mas lá, no quintal deles, sempre serão mais eficazes que nós.

Putin joga xadrez com o "OCIDENTE"
Putin não quer controlar a Ucrânia. Está convertendo a Ucrânia, isso sim, num abcesso supurado de instabilidade – como eu previ, há um ano, que ele faria. Putin não é dado a surtos e chiliques. Suas ações são refletidas, calculadas e cheias de segundas intenções, e ele está alcançando exatamente o resultado que queria. Como Jakub Grygiel observou em American Interest, Putin “não tem medo de estados zumbis”.

A grande vantagem de Putin sobre os EUA – apesar da fraqueza da Rússia – é a capacidade para empurrar todo o peso da incerteza para as costas do adversário. Se se ouvem as sandices de Nuland no YouTube... é de doer! A noção que tem essa senhora do que seja o governo na Ucrânia soa como garotinha de seis anos arrumando as bonequinhas para brincar de comidinha.

Putin pensa como o grande anti-herói norte-americano, o Agente Continental [orig. Continental Op], detetive sem nome de Dashiell Hammett:

Às vezes, tudo bem planejar muito... Mas às vezes, tudo bem dar uma agitada – se você se segura e continua a saber o que quer, mesmo quando o agito chega à cabeça (Red Harvest, 1929; Seara Vermelha).

Contra esse Putin-Continental Op, os EUA são o Cavaleiro Solitário (Lone Ranger).

Entrementes, a perspicaz chanceler alemã Angela Merkel já nos disse, em fórmula compacta:

Nós?! Nós quem, cara pálida?!

S-400 - Sistema anti-aéreo de mísseis  de defesa
(clique na imagem para aumentar)


Que ninguém espere que a realidade brote do chão, no reino mágico do Kaganato de Nuland; essa gente acredita na marcha da democracia liberal com fervor de apóstolos milenaristas. É a religião deles. Nenhum fato-efeito na vida real sequer faz cócegas na intensidade da fé.

Vencemos a União Soviética durante a Guerra Fria, porque persuadimos os líderes russos de que eles nunca conseguiriam suplantar a geração seguinte da tecnologia bélica dos EUA. Muitas coisas ajudaram, mas esse foi o fator decisivo. O esforço massivo dos EUA em Pesquisa e Desenvolvimento na produção de mísseis de defesa e outras tecnologias convenceu os russos de que nunca nos derrotariam em guerra.

O único modo que há agora para pôr Putin no lugar dele, é lançar programa gigante, descomunal, massivo, que torne obsoletos, o mais rapidamente possível, os formidáveis sistemas de defesa russos (inclusive o sistema S-400 que Putin está vendendo à China). Putin ficará sem suas mais fortes capacidades e deixará de receber atenção total, concentrada, da China. 

Nota dos tradutores:

[1] Não é engraçado?! O cerebral “Spengler”, que sempre foi inteligente sionista, já começou, ele também, a pirar! Mais um pouco, exigirá fabricação de toneladas de pó-de-pirlimpimpim para fazer voar os seus hiper - mega - over - super... mísseis de Falso Brilhante (vídeo abaixo;-))


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[*] Spengler, apelido de David P. Goldman, escreve a coluna Spengler para o Asia Times Online e contribui frequentemente para as publicações The Tablet, First Things (2009-2011) e outras. Foi Chefe Global de Pesquisa de Dívida do Bank of America (2002-2005), Diretor Global de Estratégia de Crédito do Credit Suisse (1998-2002). Ocupou cargos importantes nas organizações financeiras Bear Stearnse Cantor Fitzgerald. Foi colunista da revista Forbes (1994-2001). Seu livro How Civilizations Die (and why Islam is Dying, Too) foi lançado em setembro de 2011.

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