quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A TAL “REPÚBLICA SINDICALISTA”


SACO DE GATOS
Laerte Braga

A história do movimento sindical em todo o mundo é um dos capítulos mais importantes da luta dos trabalhadores num plano maior da própria história, a da civilização humana.

Foi um momento agudo da luta de classes. Revelador da natureza perversa e sórdida do capitalismo. Avanços e conquistas recheados de mortes de mártires dos trabalhadores.

As forças de direita têm o hábito de usar o termo “república sindicalista” para tentar caracterizar uma espécie de ditadura gerida por sindicatos e em detrimento do que chamam de “democracia” (câmaras de tortura, de estupros, de assassinatos, etc.).

Na frustrada tentativa de golpe contra o presidente Hugo Chávez em 2002, o líder do sindicato dos petroleiros da Venezuela apoiou o golpe. As mudanças feitas por Chávez na estatal venezuelana de petróleo acabaram com privilégios da categoria e transformaram a PDVESA num instrumento de conquista de todos os trabalhadores daquele país.

O que aconteceu terça-feira, 21 de dezembro, em Vitória, antigo e extinto estado do Espírito Santo (latifúndio SAMARCO/VALE/CST) foi um exemplo pronto e acabado do sindicalismo corrupto, pelego e cúmplice das classes dominantes.

Falo da assembléia convocada pelo sindicato dos professores para tratar de um precatório devido pelo governo do Estado desde 1990 e referente a um direito da categoria – trimestralidade – não respeitado pelo governo.

O antigo e extinto Espírito Santo é governado por um chefe de quadrilha sem entranhas e respeito pelo que quer que seja, Paulo Hartung. Uma espécie de Calígula contemporâneo.

O sindicato dos professores é cúmplice da farsa montada pelo governo em torno do precatório.

Segundo os sindicalistas e o próprio governo os documentos do precatório sumiram num acidente de trânsito, numa ponte que liga Camburi à Praia do Canto. Caíram no mar. Um pequeno detalhe. Nas grossas marmeladas do governo e seus cúmplices no movimento sindical o precatório foi de fato pago ao advogado do sindicato, de nome Alexandre e a alguns sindicalistas corruptos, naturalmente, todos da chamada base do PT – em tes - Partido dos Trabalhadores.

Aos professores, necas de pitibiribas, ficaram e estão a ver navios.

Na terça-feira, pressionados, os dirigentes sindicais convocaram uma assembléia de professores beneficiários do precatório, dos herdeiros daqueles que já faleceram e tentaram armar uma farsa digna de qualquer comédia de Cantinflas. Uma baita confusão que não dá em nada. E Cantinflas era bom de verdade, o sindicato e seus diretores não, são os bandidos do filme.

Convocaram a reunião para um hotel em Vitória, três andares de escadas – a maioria dos professores credores tem mais de 60 anos, muitos já sem condições de deslocamento normal – e a conversa era fazer uma fichinha para uma ação coletiva visando restaurar o que sumiu – e já foi pago a bandidos –, ou seja, fingir que estão preocupados com a categoria além dos privilégios que detêm.

Perto de três mil professores acorreram ao local, um grande tumulto, muitos se machucaram, foram pisados e segundo os diretores do sindicato (chamados de ladrões não reagiram, tentaram desqualificar os críticos para não entrar no mérito do fato de serem de fato bandidos) o motivo era a tal fichinha para a tal ação coletiva, do que já foi decidido, é ganho de causa e já foi pago a um advogado e diretores do sindicato que não repassaram aos seus legítimos donos.

O sindicato dos professores do antigo e extinto estado do Espírito Santo não é uma exceção entre sindicatos controlados por petistas e por outros partidos também. Boa parte do sindicalismo brasileiro hoje está em mãos dessa gente. Deixou de ser instrumento de luta da classe trabalhadora e virou instrumento de enriquecimento de seus diretores.

Ou aparelhamento de partidos políticos presumidamente de esquerda, supostamente comprometidos com a luta popular.

A tal “república sindicalista”, longe de ser uma ameaça à “democracia” de gorilas e que tais, é cúmplice dessa forma de ser das elites políticas e econômicas num modelo falido e que, neste momento sobrevive por conta do carisma de um presidente, Lula.

Qualquer governador padrão Paulo Hartung, bandido lato senso, compra boa parte de diretores de sindicatos. Exceções? Claro, sempre as há. Mas não é o caso dos diretores do sindicato dos professores do antigo e extinto estado do Espírito Santo.

As explicações sobre a farsa foram inúmeras. Houve confusão entre o que a tevê noticiou, o que a rádio noticiou, foi o que disseram, daí os tumultos, enfim, nada que pudesse significar culpa de dirigentes sindicais corruptos. Acabou a culpa sendo dos professores.

No dia seguinte o jornal GAZETA, do grupo GLOBO (lógico n’é), disse que tudo correu bem, que os objetivos foram alcançados apesar de alguma confusão e que os professores iriam receber (sabe Deus quando, depois da tal ação a ser proposta à Justiça).

Só faltou dizer que houve um erro histórico naquele negócio dos reis magos visitando Cristo na manjedoura. Lá estariam, além dos três, os diretores do sindicato levando a bandeira petista para o Salvador.

Sobre o sumiço, as marmeladas do governador Paulo Hartung, diretores e advogado nada.

O simples fato de afirmar que o processo sumiu é criminoso, mostra o mau caratismo dos diretores. Documentos vários foram apresentados por pessoas que lá estavam mostrando a existência de tudo o que estava sendo dito como real e o sindicato negava.

Sem argumentos, enrolados na mentira, os diretores preferiram rotular os críticos como “são de oposição”. Ou seja, rotulam e não respondem às acusações. É um jeito antigo que bandidos têm de escapar de situações complicadas.

Como vai ficar não sei. Considerando a natureza do crime, considerando as ligações perigosas das autoridades do estado, o caso deveria ser objeto de investigação da Polícia Federal. E às claras, de maneira transparente. Para que não pairem dúvidas que os diretores do sindicato dos professores do antigo Espírito Santo são cúmplices de um ato de corrupção, muitos beneficiados diretamente e o governador do Estado é só uma versão branca de Beira-mar no poder.

Os professores, os milhares que lá foram, as vítimas de uma farsa, de uma grande mentira.

Existem até documentos do Conselho Nacional de Justiça sobre o tal processo que “sumiu”.

Sumiu o dinheiro público devido aos professores e seus herdeiros, encheram-se os bolsos dos bandidos sindicais.

É por aí a história. E o que vem, no plano para enrolar mais ainda, é de arrepiar.

Essa balela de “república sindicalista” é isso. Aparelhamento de sindicatos de trabalhadores por cúmplices das elites políticas e econômicas e transformação desses instrumentos de luta em associados da classe dominante.

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