6/10/2013, Moon of Alabama, EUA
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Comentário de
“Gareth”, nesse postado: “Negócio de traficantes de drogas que deu errado,
talvez?”
Ontem,
dois raids norte-americanos tentaram sequestrar um homem na Líbia e matar
um homem na Somália. O raid na Líbia chegou ao alvo, mas teve grave
impacto no governo líbio. O raid na Somália, pelas chamadas “forças de
elite” dos SEALs, fracassou completamente.
Na
Líbia, foi sequestrado um homem, de nome Abu Anas
Al-Libi, acusado de ter conexão com a explosão da embaixada dos
EUA no Quênia há cerca de 15 anos. O raid também matou 15 soldados
líbios. O homem, Abu Anas Al-Libi, viveu muito tempo fora da Líbia e voltou ao
país depois que as forças de EUA-OTAN atacaram o governo líbio do general
Ghaddafi. Desde então, o homem parece ter vivido livremente, sem se
esconder, na capital, Trípoli:
Seu
irmão, Nabih, disse à Associated Press que, logo depois das orações da tarde, no
sábado, três veículos cheios de homens armados aproximaram-se da casa de Abu
Anas e o cercaram quando ele estacionava o carro. Os homens rebentaram as
janelas, tomaram a armas de Abu Anas, meteram-no num carro e sumiram com ele,
disse o irmão.
O
raid, já começou a gerar controvérsias:
A
CNN disse que o governo líbio tinha conhecimento do raid. Hoje, a notícia foi desmentida
pelo governo líbio, que distribuiu declaração por sua página no Facebook em que
diz que nada sabia sobre o sequestro noticiado. O governo líbio também disse que
já fizera contato com os EUA, para obter
“esclarecimentos”.
As
várias gangues armadas que são hoje o real poder na Líbia verão esse raid
como (mais um) ataque contra a soberania da Líbia. Deve-se esperar a reação, que
certamente virá, contra o governo provisório e outros alvos. Já houve uma
resposta tribal contra o governo líbio, mas a única notícia sobre ela foi
enterrada no fundo do 25º parágrafo da versão que o New York Times
distribuiu sobre os eventos:
A
captura de Abu Anas também coincidiu com pesado tiroteio que matou 15 soldados
líbios num posto de controle num bairro na área sudeste de Trípoli, área próxima
da residência tradicional do clã de Abu Anas.
Quanta
“coincidência”...
O
raid fracassado na Somália foi tentado contra uma casa de praia, que
seria utilizada por jihadistas do grupo Al Shaabab local. O raid foi
noticiado por moradores próximos e em seguida pelo
próprio grupo Al Shaabab:
O
Xeique Abdulaziz Abu Musab, porta-voz da ala militar do grupo Al Shabaab,
confirmou o raid
e informou, em declaração gravada para a imprensa, que os militantes “rechaçaram
um raid
tentado à meia-noite, por soldados
infiéis brancos”.
Abu
Musab disse que:
Rechaçamos
o ataque dos soldados infiéis brancos com balas e bombas, e eles voltaram
correndo para os seus barcos. Um membro do Al Shabaab foi morto, e a missão dos
soldados infiéis brancos fracassou. Pela manhã, encontramos sangue e equipamento
abandonado perto da costa –
acrescentou ele, em declaração postada em websites de grupos
militantes.
Houve
imensa confusão em torno desse raid, e demorou um dia inteiro antes de os
EUA confirmarem que suas forças haviam sido
rechaçadas. Em dado momento, o New York Times e a rede Fox News diziam que um alto comandante
do grupo al Shabaab havia sido morto; a rede NBC dizia que fora capturado; e a
AP dizia que não fora encontrado. Faz lembrar a propaganda que se distribuiu em
torno do raid contra Bin Laden.
Mas dessa vez os fatos se
esclareceriam, porque o livro sobre o raid dos SEAL já estava escrito
antes do raid, como informara, um ano antes, um conhecido autor de livros
sobre os SEALs. [1]
Mas
o que é óbvio é que esse ataque, por pessoal dos SEALs, em barcos, foi detectado
e houve reação de fogo pesado. Os SEALs teriam tido de pedir socorro a
helicópteros e foram obrigados a recuar sob fogo.
Baraawe, vila de pescadores na Somália onde foi rechaçada a invasão dos SEALs |
Na
Somália, a equipe dos SEALs da Marinha emergiu do Oceano Índico antes do sol
nascer e trocou tiros com militantes que faziam a guarda da casa de um alto
comandante de militantes somalianos do grupo Shabab.
...
A
equipe dos SEALs foi forçada a recuar e sumir, antes de poder confirmar se
teriam assassinado ou não o comandante Shabab – disse um alto funcionário da
segurança norte-americana, que não quis identificar-se nem identificou o alvo do
atentado.
E
fica-se a pensar o que o governo Obama espera obter com esses raids.
O
homem sequestrado na Líbia, caso alguma coisa se confirme, é ligado a um caso
que já tem 15 anos. Será difícil provar que é culpado de alguma coisa, ainda que
seja possível construir um processo que seja aceito por tribunal sério. A
repercussão que esse raid terá na Líbia só agravará os difíceis problemas
que o governo de transição “amigo do ocidente” já enfrenta lá.
O mesmo vale para o fracassado
raid na Somália. Não só aprofunda as dificuldades com o grupo Al Shaabab,
mas, além disso, incita o nacionalismo somaliano contra a agressão à soberania
da Somália. E mostra também que 20 anos depois do fracasso da Operação Blackhawk
Down [2], nem as mais especializadas
forças de elite dos EUA são facilmente bem sucedidas naquela região.
Esses
raids não fazem sentido algum. São acionados por um conceito idiota de
vingança, não assustam ninguém a ponto de impedir que alguém se aliste à
Al-Qaeda ou a algum de seus grupos afiliados, e, sempre, criam ainda mais
inimigos. Nesse sentido, os dois raids de ontem foram retumbantes
fracassos.
Notas
dos tradutores
[1]
“Navy SEALs To Infiltrate Libya In Secret Mission, Book
Publisher Reports”
[SEALs da Marinha vão-se infiltrar na Líbia em missão secreta, informa editor de
livros], matéria assinada por Smelly Infidel [Infiel Fedido],
13/9/2012:
VIRGINIA
BEACH, VA – Um grande editor de livros de memórias de SEALs da Marinha informou
hoje que é “iminente” um ataque de retaliação na Líbia. Imediatamente depois das
primeiras notícias sobre o ataque ao Consulado dos EUA em Benghazi, Líbia, o
porta-voz de Random Day, Bill Klein, disse que vários de seus clientes já haviam
telefonado com manuscritos preliminares para possíveis livros.
“O
primeiro que nos telefonou foi Steve Faulkner” – disse Klein. – “Você sabe, ele
está com os DEVGRU, você sabe, a Equipe 6 dos SEALs. Faulkner nos ligou tarde da
noite e disse que queria oferecer um novo capítulo de sua biografia, que
incluiria vários subcapítulos sobre raids contra campos de terroristas no
deserto líbio”.
Klein
disse que a conversa foi interrompida, porque Faulkner disse que estava de
saída, já na manhã seguinte, e que ficaria fora por várias semanas. “Esse
pessoal é muito cuidadoso com a segurança e o sigilo” – disse Klein. – “Por
isso, quando há eventos de repercussão mundial e eles têm de partir, eles logo
nos mandam um primeiro manuscrito para um novo livro, antes mesmo de embarcar no
avião e partir em missão secreta”. [Continua].
[2]
Em outubro de 1993, durante a guerra civil da Somália, soldados americanos
participaram da Batalha de Mogadíscio. Uma força de elite estadunidense foi
enviada ao local para capturar generais que obedeciam ao líder Mohammed Farah
Aidid. Porém, dois helicópteros UH-60 Black Hawk foram derrubados e a operação,
que deveria levar em torno de meia hora, tornou-se uma batalha de 15 horas,
terminando com 19 soldados estadunidenses mortos e 73 feridos, além de 1.000
somalianos mortos. A história foi usada no roteiro de um filme “Falcão Negro em perigo” (dir. Ridley
Scott, 2001).
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