quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O longo (20 anos!) “pas de deux” de Rússia e EUA está chegando ao fim? (2/2)

12/10/2013, The Saker [falcão peregrino], Blog “The Vineyard of the Saker”
Traduzido pelo pessoal da  Vila Vudu



A URSS e os EUA – de volta para o futuro?

É curioso, para os que se lembram da União Soviética do final dos anos 1980s, ver o quanto os EUA sob Obama tornaram-se parecidos à URSS sob Brezhnev: internamente, é caracterizado por um senso geral de desgosto e de alienação das pessoas, acionado pela inegável estagnação de um sistema apodrecido até o âmago. Um estado militar e policial extensivo, com uniformes por todos os cantos, enquanto a cada dia mais e mais pessoas são empurradas para um estado de pobreza abjeta. Uma máquina governamental de propaganda que, como no 1984 de Orwell, existe para propagandear sucessos, quando todos sabem que só fazem publicar e divulgar mentiras.

Externamente, os EUA espalharam-se por todo o mundo, e em toda parte são ou odiados ou ridicularizados. Exatamente como nos dias dos sovietes, os líderes dos EUA vivem em visível estado de medo, com medo do próprio povo, a ponto de se sentirem forçados a se autoprotegerem atrás de caríssima rede global de espiões e propagandistas, todos eles também em estado de terror permanente ante qualquer opinião divergente e para os quais o pior inimigo é o seu próprio povo.

George Orwell
Acrescentem a isso um sistema político que, longe de cooptar os melhores cidadãos, aliena-os cada vez mais profundamente, ao mesmo tempo em que promove, para as posições de poder, os mais profundamente corruptos e imorais. Um complexo industrial-prisional e outro complexo industrial-militar, ambos em pleno crescimento, mas que o país não tem, simplesmente, dinheiro para continuar a sustentar. Uma infraestrutura pública em ruínas, combinada a um sistema completamente disfuncional de assistência à saúde, no qual só os ricos e bem relacionados conseguem bom tratamento médico. E, sobretudo, um discurso público terminalmente esclerosado, entupido de clichês ideológicos e absolutamente desconectado da realidade.

Jamais esquecerei as palavras de um embaixador paquistanês na Conferência da ONU Para o Desarmamento, em Genebra, em 1992, o qual, falando a uma assembleia de arrogantes diplomatas ocidentais, disse o seguinte:

Os senhores parecem acreditar que venceram a Guerra Fria. Mas nem consideraram a possibilidade de que o que realmente aconteceu tenha sido, apenas, que as contradições internas do comunismo detonaram aquele comunismo antes de que as contradições internas do capitalismo deem cabo desse capitalismo de vocês?!

Desnecessário dizer que essas palavras proféticas foram saudadas pelo silêncio mais pétreo e foram logo esquecidas.

Pois entendo que o homem acertou em cheio: agora o capitalismo  chegou a uma crise tão profunda como a que afetava a União Soviética no final dos anos 1980s. E há chance-zero de que saiba reformar-se ou, seja como for, modificar o capitalismo que há. A única saída possível é a mudança de regime.

Raízes históricas da russofobia das elites norte-americanas

Tudo isso – dito acima – posto, torna-se de fato muito simples entender por que a Rússia em geral, e Putin em especial, provocam ódio tão amplo, geral e irrestrito aos plutocratas ocidentais: depois de terem-se autoconvencido de que teriam vencido a Guerra Fria, hoje aqueles mesmos plutocratas têm de enfrentar um duplo desapontamento; de um lado veem crescer a Rússia, em plena recuperação; de outro lado veem o declínio econômico e político do ocidente, que parece estar-se convertendo agora em agonia dolorosa e lenta.

Em sua ira amarga e ressentida, os líderes ocidentais sequer percebem que a Rússia nada tem a ver com os atuais problemas do ocidente. De fato, aconteceu exatamente o oposto: o colapso da URSS criou nova demanda por dólares norte-americanos na Europa Oriental e na Rússia, o que deu alguma sobrevida ao sistema econômico internacional puxado pelos EUA (alguns economistas, como Nikolai Starikov, estimam que o colapso da URSS deu cerca de dez anos de vida, a mais, ao dólar norte-americano).

No passado, a Rússia sempre foi arqui-inimiga histórica do Império Britânico. Quanto aos judeus – a Revolução de 1917 trouxe grande esperanças para muitos judeus do leste da Europa, mas tiveram vida curta, a partir do momento em que Stálin derrotou Trotsky e o Partido Comunista foi expurgado de praticamente todos os membros judeus. Mais uma vez, a Rússia teve papel trágico na história dos judeus azquenazes e isso, é claro, deixou marca profunda na visão de mundo dos neoconservadores, os quais são, até hoje, furiosamente russofóbicos.

Stalin (E) e Trotsky (D)
Alguém poderia contra-argumentar que muitos judeus são profundamente gratos ao Exército Soviético, que libertou judeus dos campos de concentração dos nazistas; e pelo fato de a União Soviética ter sido o primeiro país a reconhecer Israel. Mas nesses dois casos a gratidão recai sobre a UNIÃO SOVIÉTICA, não sobre a Rússia, que muitos judeus azquenazes ainda associam a políticas e valores anti-judeus.

Não surpreende, pois que ambos, os “Anglos” e as elites judaicas nos EUA alimentem horror quase instintivo, e muito medo, da Rússia, sobretudo se vista como ressurgente ou antiamericana. De fato, não erram, nessa percepção: a Rússia, sim, está definitivamente, sim, ressurgindo; e a vasta maioria da opinião pública russa é, sim, veementemente antiamericana, pelo menos no sentido em que “EUA” signifique o modelo civilizacional ou o sistema econômico dos EUA.

O sentimento antiamericano na Rússia

O sentimento sobre os EUA passou por mudança dramática, depois da queda da União Soviética. Nos anos 1980s, os EUA não eram apenas “populares”: estavam absolutamente “na moda”. A juventude russa criou vários grupos de rock (alguns dos quais imensamente populares, e populares até hoje, como o grupo DDT de São Petersburgo), roupas e fast food à moda dos EUA eram os sonhos de todos os adolescentes russos, e muitos intelectuais pensavam sinceramente os EUA como “líder do mundo livre”. Evidentemente, a propaganda de estado da URSS sempre desejou apresentar os EUA como país imperialista agressivo, mas o esforço deu em nada: naquele momento a maioria dos russos gostava muito dos EUA. Um dos grupos pop mais populares dos anos 1990s (o Nautilus Pompilius) tinha uma canção (Goodbye America) que dizia (vídeo –som- e letra traduzida a seguir[NTs]):


Adeus EUA, oh
Onde jamais estive,
Adeus para sempre!
Pegue seu banjo
E toque na minha despedida
la-la-la-la-la-la, la-la-la-la-la-la
Seus jeans gastos
Ficaram apertados demais para mim
Nos ensinaram por tempo demais
A amar seus frutos proibidos.

Apesar de algumas exceções a essa regra, acho que, no início dos anos 1990s quase todo o povo russo, especialmente os mais jovens, haviam engolido toda a propaganda norte-americana, isca, anzol e vara. A Rússia, naquele momento era desanimadoramente pró-EUA.

O colapso catastrófico da URSS em 1991 e o apoio total, incondicional que o ocidente deu a Yeltsin e aos seus oligarcas mudou tudo isso. Em vez de tentar ajudar a Rússia, os EUA e o ocidente usaram toda e qualquer ocasião que encontraram para enfraquecer a Rússia no plano externo (envolvendo toda a Europa Oriental na OTAN, apesar de terem prometido que não o fariam). E, internamente, o ocidente apoiou os oligarcas judeus que estavam, literalmente, saqueando para fora da Rússia toda a riqueza russa, como vampiros sugando uma jugular; e o ocidente, simultaneamente, estimulou todas as formas imagináveis de separatismo.

Ao final dos anos 1990s, as palavras “democrata” e “liberal” já eram palavrões. Uma piada do final dos anos 1990 é bom exemplo desse sentimento generalizado:

Um novo professor chega à classe:
– Meu nome é Abram Davidovich, e sou liberal. Agora, cada um de vocês levante-se e se apresente, como eu fiz.
– Meu nome é Masha, e sou liberal.
– Meu nome é Petia, e sou liberal.
– Meu nome é Joãozinho, e sou stalinista.
– Joãozinho! Por que você é stalinista?!
– Minha mamãe é stalinista, meu papai é stalinista, meus amiguinhos são stalinistas e eu também sou stalinista.
– Mas, Joãozinho, se sua mãe fosse puta, seu pai viciado em cocaína, e seus amigos, homossexuais... Você seria o quê?!
– Aí, sim, eu seria liberal.

Observem que, na piada, “liberalismo” e “judeus” já aparecem associados: o nome Abram Davidovich é nome tipicamente judeu. Observem também a inclusão de “homossexuais” entre a puta e o viciado em cocaína, e lembrem dessa piada sempre que avaliarem a típica reação dos russos à campanha anti-Rússia orquestrada por organizações ocidentais de homossexuais.

O efeito político desses sentimentos é bem evidente: nas últimas eleições, nenhum partido político pró-ocidente obteve votos suficientes para eleger sequer um representante ao Parlamento. E, não! Não foi porque Putin tivesse proibido os partidos pró-Ocidente (como vários propagandistas gostam de crer). Há atualmente 57 partidos políticos na Rússia, e alguns poucos são pró-ocidentes. O fato real e inegável é que a porcentagem de russos que manifestam simpatia pelos EUA e pela OTAN/União Europeia não chega a 5%. Pode-se também dizê-lo de outro modo: todos, absolutamente todos os partidos políticos representados no Parlamento russo são profundamente antiamericanos, até o muito moderado “Just Russia”.

Sentimentos anti-Rússia nos EUA?

Se se considera o ininterrupto fogo de artilharia de propaganda anti-Rússia nos veículos da imprensa-empresa ocidental, vale a pena examinar para saber se há ou não sentimentos anti-Rússia no ocidente. É difícil avaliar objetivamente, mas, como nascido na Europa Ocidental e residente por um total de 15 anos nos EUA, posso dizer que sentimentos anti-Rússia no ocidente são raros, praticamente inexistentes. Nos EUA, sempre houve forte sentimento de anticomunismo – que persiste até hoje –, mas, seja lá como for, a maioria dos norte-americanos consegue estabelecer a diferença entre uma ideologia política que eles absolutamente não compreendem (mas detestam, mesmo assim) e o povo que, no passado, esteve associado àquela ideologia.

Os “políticos” norte-americanos, é claro, na expressiva maioria, odeiam a Rússia, mas entre os norte-americanos poucos são os que nutrem sentimentos de oposição ou de temor contra a Rússia ou o povo russo. Para mim, isso se explica por uma combinação de vários fatores.

Em primeiro lugar, dado que cada vez mais pessoas no ocidente vão-se dando conta de que não vivem em democracia, mas numa plutocracia dos 1% mais ricos, todos tendem a ver com olhos mais céticos a propaganda oficial (foi exatamente o que também aconteceu entre os russos, nos anos 1980s). Além disso, cada vez mais e mais pessoas no ocidente opõem-se à ordem imperial plutocrática que as empobrece e desempodera e as converte em servos das corporações; essas pessoas tendem a ser simpáticas à Rússia e a Putin, que “enfrentam os bastardos em Washington”. Mas, num plano mais fundamental, há o fato de que, numa bizarra virada histórica, a Rússia de hoje defende os valores ocidentais de ontem: a lei internacional, o pluralismo, a liberdade de expressão, os direitos sociais, o anti-imperialismo, oposição à intervenção militar contra estados soberanos, rejeição da guerra como meio para resolver disputas, etc..

No caso da guerra na Síria, a posição da Rússia foi absolutamente consistente e coerente, sempre na defesa da lei internacional; essa firmeza impressionou muita gente nos EUA e na Europa, e já se ouvem cada vez mais elogios a Putin, vindos de gente que, antes, nutria contra ele as mais terríveis suspeitas e profundas desconfianças.

A Rússia, é claro, não é uma utopia, nem alguma espécie de sociedade perfeita, longe disso; mas o país tomou a decisão fundamental de tornar-se país *normal*, exatamente o antônimo de ser império global, e qualquer país normal aceita defender os princípios do “ocidente de ontem”, não só a Rússia. De fato, a Rússia é muito não-excepcional, na compreensão pragmática de que defender esses princípios não é questão de algum idealismo simplório, mas um objetivo político firmemente realista. No ocidente, os governantes e sua imprensa-empresa adestrada dizem aos povos que Putin é o perfeito mal, ex-ditador da KGB, grande ameaça para os EUA e seus aliados. Mas desde que as pessoas possam ouvir o que Putin realmente diz, poucos são os que não se percebem em perfeito acordo de opiniões com ele.

Numa outra engraçada virada histórica, assim como a população soviética procurava a BBC, a Voice of America ou a Radio Liberty para obter notícias e informação, hoje, cada dia mais gente no ocidente assiste aos programas de Russia Today, Press TV ou Telesur para obter informação mais confiável. Daí a reação de pânico de Walter Isaacson, Presidente do Comitê de Presidentes de Redes de Comunicação [orig. Chairman of the Broadcasting Board of Governors] comissão que supervisiona a mídia norte-americana dirigida para audiências estrangeiras:

Walter Isaacson
Não podemos nos deixar ultrapassar e descartar por nossos inimigos, na luta pela comunicação. Já há Russia Today, a Press TV do Irã, a TeleSUR da Venezuela e, claro, a China também está lançando seu canal internacional de notícias, 24 horas no ar, com correspondentes em todo o mundo.

Gente como Isaacson sabem que estão lenta e inexoravelmente perdendo a batalha informacional pelo controle da cabeça e dos pensamentos do grande público.

E agora, com todo esse affair Snowden, a Rússia vai-se convertendo em porto seguro para tantos ativistas políticos que precisam salvar-se da ira do Tio Sam. Rápido exame pela Internet, ajuda a ver que a cada dia mais pessoas falam de Putin como “líder do mundo livre”, e há, até, quem já esteja recolhendo assinaturas pelo planeta, para exigir que Obama transfira a Putin o prêmio Nobel que recebeu. Fato é que muitos que, como eu, realmente combatemos contra o sistema soviético, estamos gostando muito de ver esse giro de 180 graus, em relação à posição mundial nos anos 1980s.

Elites ocidentais – ainda paralisadas, catatônicas, na Guerra Fria

O mundo mudou radicalmente nos últimos 20 anos, mas as elites ocidentais nunca mudaram e não mudam. Obrigadas a encarar uma realidade que as frustra, essas elites buscam desesperadamente re-combater a Guerra Fria, na esperança de re-vencer.

Assim, afinal, se explica o ciclo infinito de repetição de campanhas de propaganda para denegrir a Rússia, de que falei no início desse postado. Tentam apresentar a Rússia como alguma espécie de nova União Soviética, com minorias oprimidas, encarceradas ou dissidentes assassinados, com pouca ou nenhuma liberdade de expressão, mídia monolítica controlada pelo governo, e aparelho sempre presente de vigilância contra os cidadãos.

O problema é que essa leitura aparece com 20 anos de atraso, as acusações não convencem a opinião pública ocidental e têm tração zero dentro da Rússia. Na verdade, as tentativas para interferir em assuntos internos da Rússia têm sido sempre tão mal feitas, tão ridículas, que têm tido efeito de tiro saído pela culatra. Primeiro, as tentativas patéticas em que o ocidente se empenhou para criar uma revolução “colorida” nas ruas de Moscou, até as tentativas contraproducentes para criar algum (qualquer) tipo de crise em torno dos direitos humanos na Rússia – e cada passo empreendido pela máquina de propaganda ocidental só fez reforçar a posição de Vladimir Putin e de seus “Soberanistas Eurasianos”, contra a facção dos “Integracionistas Atlanticistas” que há dentro do Kremlin.

Houve um simbolismo pungente, profundo, na mais recente reunião dos 21 países reunidos na Cooperação Econômica do Pacífico Asiático [orig. Asia-Pacific Economic Cooperation, APEC], em Bali. Obama teve de cancelar sua viagem por causa da crise do orçamento nos EUA; e Putin recebeu a homenagem musicalmente horrível, mas politicamente muito significativa, de um “Parabéns a você”, de aniversário, cantado em coro por todos os presidentes dos países do Pacífico na região. Pode-se imaginar a fúria, na Casa Branca, ao verem os “aliados” do Pacífico, a cantar serenatas de aniversário para Putin!

Conclusão: “Estamos em todos os lugares”

Em uma de suas mais belas canções, David Rovics [1] canta os seguintes versos (We Are Everywhere), que quero registrar na íntegra (vídeo a seguir) porque se aplicam direta e completamente à situação atual:


When I say the hungry should have food
I speak for many
When I say no one should have seven homes
While some don't have any
Though I may find myself stranded in some strange place
With naught but a vapid stare
I remember the world and I know
We are everywhere

When I say the time for the rich, it will come
Let me count the ways
Victories or hints of the future
Havana, Caracas, Chiapas, Buenos Aires
How many people are wanting and waiting
And fighting for their share
They hide in their ivory towers
But we are everywhere

Religions and prisons and races
Borders and nations
FBI agents and congressmen
And corporate radio stations
They try to keep us apart, but we find each other
And the rulers are always aware
That they're a tiny minority
And we are everywhere

With every bomb that they drop, every home they destroy
Every land they invade
Comes a new generation from under the rubble
Saying “we are not afraid”
They will pretend we are few
But with each child that a billion mothers bear
Comes the next demonstration
That we are everywhere.

Esses versos são bela expressão da esperança que deve inspirar todos os que nos opomos ao Império EUA-sionista: estamos em todos os lugares, literalmente.

De um lado, estão o 1%, os imperialistas Anglos e os sionistas-neoconservadores; do outro lado, estamos o resto do planeta e, potencialmente também 99% do povo dos EUA. Se é verdade que nesse ponto do tempo Putin e seus Soberanistas Eurasianos são o grupo mais forte e mais bem organizado dessa resistência planetária contra o Império, também é verdade que não estão no centro da luta e nem são cruciais na luta. Sim, sim, a Rússia pode desempenhar e desempenhará esse papel, mas como PAÍS NORMAL dentre outros PAÍSES NORMAIS, alguns pequenos e economicamente fracos, como o Equador; outros gigantescos e muito poderosos, como a China. Mas até o pequeno Equador foi enorme, gigante, quando garantiu refúgio a Julian Assange (e a China apequenou-se, ao pedir que Snowden, por favor, se escafedesse). Quer dizer: o Equador não é pequeno.

Seria ingênuo esperar que esse processo de “desimperialização” dos EUA possa acontecer sem violência. Os impérios francês e britânico só vieram abaixo depois do morticínio da 2ª Guerra Mundial; e os impérios nazista e japonês foram arrasados sob montanhas de bombas. O colapso do império soviético gerou comparativamente menos mortes, e a violência não aconteceu dentro, mas na periferia dos sovietes. Na Rússia, o número de mortos na miniguerra civil de 1993 contava-se aos milhares, não aos milhões. E, graças à grande bondade de Deus, nenhuma bomba atômica foi jamais detonada por agente da Rússia, em lugar algum.

Assim sendo, o que acontecerá quando o Império EUA-sionista-neoconservador afinal desabar, em colapso, sob o próprio peso? Ninguém sabe com certeza, mas pode-se pelo menos esperar que, assim como não apareceu qualquer grande força para salvar o Império Soviético em 1991-1993, tampouco há de aparecer alguma grande força interessada em salvar o Império Norte-americano. Como David Rovic diz tão bem, a grande fraqueza dos 1% que comandam o império EUA-sionista é que “eles são pequena minoria, e nós estamos em todos os lugares”.

Nos últimos 20 anos, os EUA e a Rússia seguiram rotas diametralmente opostas, e, ao que parece, trocaram os papéis. Esse pas-de-deux está agora chegando a alguma espécie de fim. Circunstâncias objetivas puseram os dois países em oposição, mas, isso, só por causa da natureza do regime em Washington DC.

Os líderes russos podem bem repetir as palavras do rapper britânico Lowkey e declarar “I’m not anti-America, America is anti-me!” [Não sou antiAmérica, a América é que é anti-eu (vídeo a seguir)] e podem facilmente ser acolhidos pelos 99% dos norte-americanos que, saibam disso ou não, são também vítimas do Império EUA-sionista-neoconservador.


Enquanto isso, a gigantesca barreira de propaganda anti-Rússia continuará sem refresco, simplesmente porque parece ter-se convertido numa forma de psicoterapia para uma plutocracia ocidental que não vê saída e consome-se em pânico. E, como em todos os casos precedentes, essa propaganda não terá efeito algum.

Espero que, na próxima vez que começar o falatório sobre seja lá o que inventem depois da atual campanha “ecológica” da ONG Greenpeace, todos vocês relembrem o que leram aqui.

[assina] The Saker

_______________________________

Nota dos tradutores

[1] Tradução de We Are Everywhere

Quando digo que os famintos devem poder comer
Falo pelos muitos
Quando digo que ninguém deve ter sete casas
se outros não têm nenhuma
Ainda que eu esteja preso numa cidade estranha
sem nada e ninguém além de um olhar sem vida
Ainda assim lembro do mundo e sei
Que nós estamos em todos os lugares

Quando digo que a hora dos ricos não demora a chegar
São muitas as vias, as vitórias, as pistas do futuro
Havana, Caracas, Chiapas, Buenos Aires
Quantas e quantas pessoas querem e esperam
e lutam pelo seu quinhão
Eles se escondem em suas torres de marfim
Mas nós estamos em todos os lugares

Religiões e prisões e raças
fronteiras e nações
Agentes do FBI e deputados e senadores
e rádios e televisões-empresas
Só querem nos segregar, nos separar
Mas sempre nos reencontramos uns os outros
E os que mandam sempre sabem bem
que eles são poucos, poucos, uma ínfima minoria
E que nós estamos em todos os lugares

Com cada bomba lançada
cada lar que põem abaixo
cada terra que ocupam
Uma nova geração nasce debaixo das ruínas
e diz “Não temos medo”
Vão mentir que somos poucos
Mas cada um filho que um bilhão de mães amamentam
dirão na próxima manifestação de rua
Que estamos em todos os lugares.


[Tradução de trabalho, sem valor literário, só para ajudar a ler]   

5 comentários:

  1. Trecho que eu extrai da primeira parte do artigo...

    Rápido exame do passado recente basta para mostrar que a empresa-imprensa ocidental dedica-se empenhada e sustentadamente numa campanha estratégica para identificar e explorar qualquer pressuposta fragilidade no “escudo político” russo, e para pintar a Rússia como se fosse país mesquinho, não democrático e autoritário ou, em outras palavras, grave ameaça para o ocidente. Basta listar alguns episódios da campanha de difamação da Rússia (na ordem em que me ocorrem agora):

    · Berezovsky apresentado como empresário “processado”
    · Politkovskaya “assassinada pelos assassinos da KGB”
    · Khodorkovsky na cadeia, por seu amor à “liberdade”
    · A “agressão” da Rússia contra a Georgia
    · As guerras “genocidas” dos russos contra o povo checheno
    · “Pussy Riot” [Agito das Bucetas] como “prisioneiras de consciência”
    · Litvinenko “assassinado por Putin”
    · Homossexuais russos “perseguidos” e “maltratados” pelo estado
    · Magnitsky e, na sequência, a “Lei Magnitsky”
    · Snowden como “traidor escondido na Rússia”
    · “Eleições roubadas” para a Duma e para a presidência
    · A “Revolução Branca” na praça Bolotnaya
    · O “novo Sakharov” (Alexei Navalnyi)
    · O “apoio da Rússia” a “Assad, o “açougueiro (químico) de Bagdá”
    · A constante “intervenção dos russos” em assuntos da Ucrânia
    · O “total controle”, pelo Kremlin, sobre a mídia russa

    O blog do Nassif, supostamente "progressista", tem contribuído muito nesta campanha de difamação, já tendo publicado dezenas de artigos sobre a suposta "perseguição" aos gays na Rússia.

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    1. Prezado Rodolfo
      É mais do que claro que à imprensa-empresa interessa uma espécie de continuação da guerra-fria... Aqui na AL ainda não a substituíram pelo "terrorismo internacional". Estão tentando com o advento dos chamados "black-blocs" e "Anonymous", neoterroristas de direita que se dizem de esquerda. Foi assim no Egito... Esperam (os EUA e nossas elites) conseguir o mesmo por aqui...
      A campanha pró-EUA na imprensa-empresa "main stream" é orquestrada a dólares generosamente distribuídos pelas multinacionais através de comerciais superfaturados desde na 2ª guerra. Mas nem os blogs dos "jornalistas de esquerda" tocam nesse assunto. Motivo: querem participar do "bolo"... E alguns até participam com algumas migalhas distribuídas pelas multinacionais brasileiras.
      Não é de estranhar o blog do Nassif; afinal trata-se de um portal "democrático" e aberto a "discussões"...
      Eu mesmo já participei de uma sessão do Brasilianas em Santos. Ele convidou uma tal de Gorete ou Maria Gorete, nem me lembro... Que afirmou que o Marco Regulatório do Petróleo aprovado no Congresso Nacional era INCONSTITUCIONAL! Diante de tamanha impropriedade preferi me retirar... Isso sem falar do INCOMPETENTE prefeitinho de Santos que está esperando as decisões da Petrobras para preparar a cidade e sua infraestrutura para os "efeitos" do PRÉ-SAL. Foi um show de ignorâncias, incompetências e impropriedades. Teve uma parte útil, quando se falou do porto e suas limitações na área de logística, calado, transportes, armazenagem, alfândega, estacionamento, etc..
      Na parte de política internacional, realmente, o portal do Nassif é muito fraco. Tem uns caras por lá que vez ou outra até copiam/colam (e dão o crédito) coisas aqui do bloguinho, mas de maneira geral seguem a imprensa-empresa "main stream" nessa área. Agora estamos enviando as postagens diretamente da Vila Vudu para o portal, mas sem comentários nem ilustrações. Funciona.
      É o famoso jogo do contente... Pensa-se pouco pra felicidade geral, mas vamos tentando colocar um pouco de realidade e informação suprindo o inexistente jornalismo internacional brasileiro.
      Abraço

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  2. Caro Castor, seu blog é uma referencia para mim, sempre que posso indico a amigos e conhecidos, principalmente pelo foco em geopolítica, assunto que, seguindo a sua linha de raciocínio sobre os supostos "blogs de esquerda" ou "progressistas", é tratado de forma superficial por estes mesmos blogs, tem comentarista nestes blogs que se auto intitula de esquerda e progressista mas acha que a Russia, assunto deste post, não tem mais nenhum papel relevante nas questões de geopolítica, a mídia empresa ou difama a Russia, a demoniza, ou a trata como nação de segunda, falida e irrelevante, e alguns blogs e comentaristas de esquerda, infelizmente repetem estes absurdos.
    Ótimo saber deste episódio da sua participação no Brasilianas, muito esclarecedor, então eu não estou exagerando nas minhas colocações sobre o tratamento à Russia no blog do Nassif.
    Muito bom você ter publicado o texto do Geab sobre a desamericanização do mundo( já tinha lido no Resistir.info), lembra que eu comentei no post do Paul Craig Roberts sobre a necessidade de se expor a fraqueza e a podridão do império, a mídia empresa continua vendendo o peixe da "recuperação" da economia americana, outro ponto que, infelizmente alguns blogs de esquerda já citados acima seguem a mesma linha da imprensa empresa, alias, diz-se que nosso governo torce pela continuidade de da flexibilização quantitativa pelo FED.
    Seu blog não transige nem flerta com a idéia da "inevitabilidade" da globalização nem se acomoda com a linha de apenas "administrar" o neo liberalismo conseguindo algumas migalhas para o povo, parabéns também por postar os artigos do Adriano Benayon, o Azenha também postou no blog dele.
    Alem do seu blog, sempre leio o Resistir.info, o Diario Liberdade, o GlobalResearch e o Azenha(menos ruim do que o Nassif).

    Abraços,
    Rodolfo.

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    1. Prezado Rodolfo
      Decidi não postar/aprovar seu último comentário enviado para a postagem http://goo.gl/vrA7Wv. Ele vale um artigo. Espero que vc o escreva para que no publiquemos.
      Abração

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  3. Eu já postei no Blog do Nassif artigos aqui do Redecastorphoto, sempre dando o credito, mas acho que de uns dez o Nassif subiu apenas um para post.

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