3/11/2012, Abdel Bari Atwan, (ár.), Al-Quds Al-Arabi; e 12/1/2012 (esp.),
Rebelión, trad. do árabe, J. Sadaka)
Traduzido pelo pessoal da Vila
Vudu
Abdel Bari Atwan nasceu em Gaza. Vive em Londres
desde 1979. Foi editor do diário Al-Quds
al-Arabi, que se publica em Londres, em árabe, desde 1989. É autor de The Secret History of al-Qaida e de Country of Words, de
memórias.
Observação
da redecastorphoto:
Este artigo foi escrito pouco antes da apresentação do pedido da Palestina à ONU
como estado observador.
O
voto contra, de EUA, Grã-Bretanha e Alemanha, ao pedido que os palestinos
apresentaremos à Assembleia Geral da ONU, para que a Palestina seja reconhecida
como Estado observador não membro, não é só atitude vergonhosa, que revela
degeneração moral e ética: também é atitude de hostilidade contra os árabes e
muçulmanos.
É
difícil para nós entender as razões pelas quais esses países opõem-se ao pedido
dos palestinos, se se considera os reiterados chamamentos que fazem ao diálogo,
contra a violência e pelo respeito às normas do Direito Internacional. Esses
países que prometeram apoiar a criação de um verdadeiro Estado palestino mostram
suas reais intenções ao se oporem à concessão de status de Estado observador, sem direitos concretos
e como medida, de fato, mais, simbólica.
O
atual governo dos EUA, governo de Obama, que iniciou o primeiro mandato
comprometendo-se a criar um verdadeiro Estado palestino, não se limitou, dessa
vez, a pressionar fortemente o presidente Mahmud Abbas para que renuncie ao
pedido oficial, ameaçando, até, pôr fim à ajuda que dá aos palestinos. Foi mais
longe: escreveu a vários governantes europeus, pedindo-lhes que votem contra o
pedido dos palestinos e, inclusive, que usem sua influência para obter que
outros países façam o mesmo.
Ignoramos
as causas desse rancor contra os palestinos, submetidos à fome e a um bloqueio
total, privados dos mais elementares direitos humanos, com a cumplicidade dos
EUA, que ainda se apresentam como grande defensor da democracia e da justiça em
todo o mundo.
O
que fizemos, os palestinos, contra os EUA, para merecer tanto ódio, tanto
rancor? Nenhum exército palestino jamais invadiu os EUA, jamais ocupou
território norte-americano.
Mas,
cúmulo dos cúmulos, é a posição da Grã-Bretanha e seu atual governo, manifestada
pelo ministro do Exterior, William Hague, que anunciou ao Parlamento que seu
governo poderia apoiar o pedido dos palestinos, com duas condições: que os
palestinos se comprometam a jamais recorrer ao Tribunal Penal Internacional para
denunciar os crimes de guerra de Israel; e que voltem às negociações sem
condições prévias.
William Hague |
William
Hague, palestinófobo, que se integrou ao
lobby israelense ainda
adolescente, aos 16 anos, apresenta-se, com essas “condições”, como um dos
personagens mais cínicos da história contemporânea: com moral dupla e
hipocrisia, tenta impor “condições” prévias aos palestinos, em troca do
reconhecimento fictício de um Estado; e, ao mesmo tempo, pede que voltemos à
mesa de negociações sem condiciones previas. Difícil imaginar desfaçatez mais
completa.
A
Grã-Bretanha, país que desempenhou papel fundamental na entrega da Palestina
como presente ao sionismo, deveria sentir-se culpada pela tragédia dos
palestinos. Seria de esperar que confessasse e buscasse redenção para suas
culpas, que indenizasse os palestinos, vítimas de crime histórico – como fizeram
muitas potências colonialistas.
Os
palestinos, ao apresentar seu pedido à Assembleia Geral da ONU, para que nos
reconheçam como Estado observador, não precisamos do voto da Grã-Bretanha, nem
do voto dos EUA, nem, sequer, do voto da Alemanha. Já temos os 135 votos mínimos
necessários, suficientes para a aprovação.
Mas
não esqueceremos a oposição desses países e de outros que nos deram as costas,
quando mais os palestinos precisávamos deles, nesse momento histórico crucial.
Esses
países não conhecem os princípios da justiça universal, nem valores humanos
básicos. Alinharam-se à ilegalidade, à repressão, ao bloqueio, ao roubo de
terras, à tirania da colonização, apoiando a agressão, os crimes de guerra, o
assassinato de crianças, a destruição de casas, derrubadas sobre famílias
inteiras.
Para
tentar justificar o alinhamento ao sionismo, alegam que o Estado palestino será
criado mediante negociações e acordos. Então, cabe perguntar: e onde estão as
tais ditas “negociações”? Quem é o responsável pelo fracasso de todas as
negociações, além de Israel?
O
presidente Abbas negocia há mais de 20 anos. Israel infligiu-lhe todos os tipos
de humilhação. E onde está o estado palestino que tantos dizem apoiar?
Pessoalmente,
não sou entusiasta desse movimento diplomático e seus ganhos modestos: um Estado
fictício. Porque sou claramente consciente de que só se respeitam direitos
internacionais quando beneficiam Israel e os EUA. Mas já que o presidente Abbas
decidiu-se por essa via, temos de reconhecer que, no mínimo, sobreviveu às
pressões de EUA e Israel; e que voltou a pôr o problema palestino no centro da
atenção mundial, depois de marginalizado por árabes, antes de marginalizado
também por outros.
Mahmoud Abbas |
O
reconhecimento internacional da Palestina, que acontecerá hoje, e a mudança no
voto de países como Espanha, França e Portugal, jamais teriam sido possíveis sem
a heroica resistência na Faixa de Gaza e sua resposta dissuasiva à agressão,
agora que, pela primeira vez, a Resistência atingiu Telavive. Essa Resistência
custou-nos a vida de 170 palestinos, dessa vez; muitos dos quais, como sempre,
crianças.
O
povo palestino continuará a gritar contra o muro da hipocrisia ocidental e
contra a injustiça universal, até alcançar seus objetivos: até recuperarmos
todos os territórios que nos foram usurpados. E obrigaremos países como os EUA
ou a Grã-Bretanha, alinhados com nosso inimigo, a pedir desculpas e a pagar as
correspondentes indenizações. Quanto a Israel e seu regime de apartheid, o
castigo será maior, resultado de seus crimes horrendos.
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